Henry
Já faz quase uma semana que não á vejo e estou começando a enlouquecer. Minha vida só se resume ao trabalho, acho que nunca fui tão produtivo quanto estou sendo agora. Não consigo mais dormir direito, os lençóis já não tem o perfume dela e nada do que eu faça, pode mudar o passado. Não imaginei que uma garota de boquinha inteligente, pudesse virar minha vida de cabeça para baixo. Escuto algumas batidas na porta e logo Théo entra.
- Cara, você esta horrível. - Diz enquanto se senta.
- Nem sei como agradecer. - Rebato cansado.
- O negocio é o seguinte, não aguento mais ver você nessa situação. Todos os dias você passa por aquela porta parecendo um zumbi, trabalha como se fosse o super homem e vai para casa como um derrotado. Então ou você me fala o que esta acontecendo, ou eu chuto o seu traseiro. - Théo me encara serio e eu sei que nada do que eu disser para tentar me safar, vai resolver.
- Alice, é isso que esta acontecendo.
- Não entendi. - Me olha confuso.
- Ela não quer me ver nem pintado de ouro.
- Continuo sem entender. O que aconteceu com ela?
Sem um pingo de paciência, conto ao meu amigo tudo que aconteceu entre nós, deixando de fora apenas a parte do sexo. Théo me encara como se sentado a sua frente, estivesse um alienígena.
- Fala pra mim que é apenas uma brincadeira de mal gosto. - É a primeira coisa que sai da sua boca depois de incontáveis segundos de silencio.
- Eu queria que fosse.
- Henry, isso é serio? - Pergunta mais uma vez.
- Sim.
- Eu não acredito.
- Nem eu.
- Você esta apaixonado! - Grita sorrindo mais que o coringa.
- O que? NÃO! - Pulo da cadeira o encarando furioso.
- Isso explica tudo!
- Eu já disse que não!
- Você não dorme, não come, só pensa em trabalho e esta um trapo! É claro que esta apaixonado. - Seu sorriso quase rasga seu rosto ao meio.
- Se você repetir isso mais uma vez, vou ser obrigado a quebrar sua cara. - Advirto nervoso.
- Ei! Relaxa, seu segredo esta bem guardado. - Ele nem se abala pela minha ameaça.
- Cara, você não tem amor na sua vida.
- O quê você vai fazer pra consertar essa situação com ela?
- Nada.
- Vai desistir assim tão fácil?
- Ela não me quer Theodore. - Admitir isso me causa uma estranha dor no peito.
- É claro que quer. Não sei o que ela viu nessa sua cara feia, mais aposto que te quer.
- Eu já tomei minha decisão, estou deixando ela em paz.
- Você não pode! Eu quero sobrinhos! - Dessa vez ele foi longe de mais.
- Você esta se ouvindo?
- Deixa comigo, eu vou te ajudar.
- Théo... me prometa que não vai fazer nada. - Aponto o indicador em sua direção o olhando serio.
- Eu preciso ir...
- Théo.
- Tudo bem, não vou fazer nada. - Levanta as mãos em rendição.
- Obrigado.
- Não me agradeça seu idiota.
Depois desse pequeno momento, mudamos de assunto e a conversa fluiu sem mais problemas. Quando Théo finalmente saiu da minha sala, pude me concentrar nos documentos que precisavam ser analisados. Esse é o único momento em que consigo pensar em algo que não seja a Alice. Mas minha paz não durou muito, uma hora depois novas batidas na porta chamaram a minha atenção.
- Entre.
- Com licença. - Meu corpo todo se arrepia ao escutar sua voz doce.
- Alice?
- Eu tinha que conversar sobre o projeto. - Explica ficando lindamente corada.
- É claro, sente-se.
Aponto as poltronas e ela se senta graciosamente. Passo a devora-la com os olhos, Alice parece cansada e olheiras escuras confirmam minhas suspeitas.
- Você esta bem? - Não consigo me controlar, preciso saber o que houve com ela.
- Não. - Sua voz é quase inaudível e meu corpo todo se retesa.
- O que aconteceu? - Pergunto me levantando e abaixando ao seu lado.
- Eu sinto muito... - Agora lágrimas escorrem pelo seu rosto.
- Alice não chora, fala comigo. - Tento enxugar suas lágrimas ficando cada vez mais preocupado.
- Eu... sinto...
- Sente o que? Esta com dor? - Tento encontrar algum machucado em seu corpo.
- Não...
- Então fala pra mim Alice, o que você sente?
- Eu sinto... sua falta.
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Alice
Tento me concentrar pela décima vez, minha cabeça parece que vai explodir. Essa semana tem sido um verdadeiro inferno. Eu sinto falta dele e a culpa é toda minha. Tive tanto medo dele acabar me machucando, que me afastei da pior forma possível. Henry foi tão gentil e carinhoso, cuidou de mim, esteve ao meu lado quando eu mais precisei e na primeira vez que discutimos, joguei tudo para o alto e dei as costas.
- Atrapalho? - Volto a realidade com um susto. - Desculpa.
- Tu... tudo bem. - Coloco a mão no peito, tentando controlar as batidas frenéticas do meu coração.
- Se lembra de mim?
- Sim. Em que posso ajudar senhor King? - Pergunto fitando o homem á minha frente.
- Meu Deus Alice, não sou tão velho assim. Me chame apenas de Théo ou 'Gostosão' se preferir. - Me lança uma piscadela marota e é impossível não sorrir.
- Tudo bem, o que posso fazer por você Théo?
- Que bom que perguntou! - Théo se senta na beirada da minha mesa e passa a me encarar serio. - Henry me contou sobre vocês.
- O que!? - Praticamente engasgo com as palavras.
- Não vim aqui para fazer julgamentos Alice, só quero conversar. Sei que meu amigo pode parecer cabeça dura as vezes, ou quase sempre. Mas Henry e assim, não há nada que possamos fazer para mudar isso. O importante é que nunca conheci ninguém tão dedicado e preocupado quanto ele.
- Eu sei...
- Então deve saber que ele esta na fossa.
- Como...?
- Acabei de sair da sala dele e nunca o vi tão destruído como agora. E só de olhar para você, sei que está do mesmo jeito.
- Tem sido dias difíceis.
- Pra vocês dois.
- Eu tenho medo Théo... - Acabo admitindo.
- Ele também. Só para por um segundo e pensa se os momentos que passaram juntos, realmente não valem a pena.
- Vale.
- Então sabe o que precisa fazer.
- É... acho que eu sei.
- É assim que se fala! Se ele te magoar, me fala e eu vou pessoalmente quebrar a cara feia dele. - Sorrio com seu comentário.
- Obrigada Théo.
- Eu tenho uma irmã e faria qualquer coisa por ela. Na verdade faria qualquer coisa pelo Henry e pelo Thony também. Você faz parte dessa família agora, então é meu dever cuidar de você. - Ele me surpreende ao me abraçar apertado. - Ah! Só mais um detalhe, eu nunca estive aqui. Tudo bem?
- Nem sei o seu nome senhor "Gostosão". - Théo solta uma gargalhada gostosa e começa a andar.
- Gostei de você Alice. - Diz antes de sumir pelo corredor.
Penso em tudo que ele falou e vejo o quanto esta certo. Esta na hora de acabar com essa palhaçada e ficar com quem eu gosto. Respiro fundo, aliso as pregas imaginárias da minha saia e começo a andar até sua sala.