Narrador
"A coragem é um caso de amor com o desconhecido"
- Osho
Sofie estranhou o comportamento de Noah. Estavam voltando do parque, ele não comentou nada, nem sequer deu uma palavra. Enquanto andavam de mãos dadas, Sofie se dá os ombros, achando que ele deveria estar pensando sobre suas responsabilidades com a alcateia.
— Noah? - Chamou ele olhando em seu rosto. Ele chutou uma pedrinha do chão.
— Não vai me responder? — Nada.
— Está bravo comigo? — Ele não falou nada, estava pensativo, sua dor não voltará, porém, fora substituída por uma raiva incontrolada, fazendo com que ele achasse sua voz irritante. Realmente estava com vontade de voar no pescoço de Sofie e quebrá-lo.
Seu coração estava parando. Sua alma perdendo seu brilho. Seu lado negro estava renascendo, tomando conta dos seus atos, da sua razão. Esse desejo negro viera mais forte, e dessa vez estava ganhando a batalha interna contra sua parte boa, sua parte Lycan, a única parte que não machucaria Sofie, se o fizesse teria certeza que morreria de tristeza, ou se mataria de culpa.
Só que seu lado negro não tinha sentimentos, não tinha emoções. Só quando ele matava, quando ele provava o gosto do sangue. Tudo o que ele quer é sangue. Sua força e determinação junto com sua agilidade e compulsão seria uma bomba relógio e quando acionada poderia causar um estrago irreparável.
Sofie desistiu de fazê-lo falar, assim que ele começara a apertar sua mão. Seus quatro dedos estavam entre o espaço do dedo polegar e o indicador, seu polegar apertava o osso metacarpo¹.
Eles já não caminhavam mais. Estavam parados na metade do caminho. Ela urrou seu corpo, se agitou, se agoniou. Jogou-se no chão quando sentiu o osso do seu dedo auricular² se descolando do carpo de sua mão, atravessando o espaço do dedo anular³.
Por mais que ela tentasse, não conseguia gritar. Estava com medo, raiva e confusa, mais o medo envolvia todo o seu coração, e Noah gostava de sentir o que causava em sua presa, que não reconhecia mais, nem sua voz, nem seu cheiro.
Sua carne não era mais quente, não havia mais sangue em seu corpo, seu organismo o sugou. Seu coração que antes, sempre que via Sofie acelerava tanto que a medicina não compreenderia, agora não bate mais, estava congelado no tempo, assim como sua alma.
— N-No-Ah? — Gaguejou. Ela sentia o gosto salgado das suas lágrimas em seus lábios. — Por favor! — gritou.
Finalmente ela conseguiu, colocou para fora a agonia que sentia, mais a dor... A dor ainda estava lá, não só na sua mão e no seu antebraço, agora, era seu braço inteiro. Ela sentia a dor passando por seus ossos, causando um tremor no seu esqueleto.
A dor que percorria como um veneno até sua cabeça. Deixando-lhe zonza. Sua visão embaçada. Sua cabeça pesada como se estivesse caído de uma escada de cara no chão.
Quando as ondas sonoras vieram pelo vento até os ouvidos de Noah. Ele parou imediatamente o que estava fazendo. Olhou para Sofie deitada inconsciente, fraca e com medo. Sua blusa molhada de sangue. Ele não acreditou no que fez.
Quando ia toca-la, sentiu cada osso do seu corpo quebrar, uma dor devastadora tomou conta de si. Sua coluna se partiu ao meio, sua fíbula* quebrou assim como o resto dos seus 203* ossos.
Sue lobo tomou conta do seu corpo e da sua mente e estava com raiva do lado obscuro de Noah. Agora estava descontrolado, deixando tudo para trás, até Sofie. Ele tinha que protegê-la dele mesmo. Tinha que protegê-la de seu lado ruim.
¹Osso metacarpo: O metacarpo, que constitui o esqueleto da palma da mão, é formado por cinco ossos metacarpianos.
²Auricular: Ou mindinho.
³Anular: Ou anelar.
*Fíbula: perónio ou perônio é um osso longo da perna no corpo humano, possui predominância na largura e na espessura.
*203 ossos: São 206, mais contando com a coluna e a Fíbula, são 3 ossos á menos.
1°REVISÃO: 22/10/2020