Me lembro muito bem de como é morrer. Sua visão some, seu coração falha, seus pulmões se encolhem te deixando sem ar e quanto mais você tentar arrumar uma forma de respirar mais ar te falta.
Para mim morrer com uma espada no peito que não foi dirigida diretamente para mim nos braços do amor da minha vida foi pior ainda. Não era eu que estava morrendo naquele momento e sim Nicolay. Seus olhos. Seus lindos olhos azul e verde cheios de lágrimas e sofrimento implorando para eu ficar foi a pior coisa que tive que aguentar quando parti, gostaria de ter ficado, gostaria de ter dito que tudo ficaria bem mas estava fora do meu controle eu estava morrendo não tinha muito o que fazer.
Agora estou eu aqui escondida no meio dos meus suditos observando o desfile da família real. E lá está ela linda e forte ao lado do marido e dos filhos, está tão grande, tão adulta. Olhá-la e não poder me aproximar me dói, é a primeira vez que a vejo depois de anos, a última vez que a vi era um bebê, frágil, pequena e delicada.
Do outro lado está ele todo charmoso o tempo não foi um problema para ele. Seus olhos em direção a nossa filha é apaixonante. Do seu lado está Isabella sua mulher. Isabella que me desculpe mas depois de tanto tempo ainda consigo sentir minhas pernas tremerem e meu coração acelerar, sinto minha boca ficar seca e sinto vontade de chorar, as lembranças aparecem e elas vem como um furacão.
Você deve estar se perguntando por quê ainda estou viva ou por quê não voltei para minha família?
Dalva foi a mulher que me encontrou, meu anjo da guarda que os deuses me deram para ter a oportunidade de uma segunda chance. Ela disse que vozes a cercava todas as noites pedindo para me procurar. Dalva diz que não se lembra muito, ela apenas me conta que me achou e que sua missão era cuidar de mim. Como? Quando? Onde? Eu não sei mas Dalva deu um jeito.
Até dias atrás eu não me lembrava de absolutamente nada. Não me lembrava de Nicolay muito menos de Alinna, nem de Leonidas ou de Kedra, Helena e Catarina. Minha mente era um vazio, um vazio constante, sem nada para me agarrar a vida novamente. Se não fosse Dalva talvez eu tivesse morrido mais uma vez mas ela não desistiu de mim nenhum dia se quer.
Quando me lembrei fiquei sabendo da morte de Leonidas e esta realidade nova da minha vida de verdade bateu em mim como um trem. Todas as noites eu tive pesadelos. Pesadelos por não estar perto de minha filha, por não estar perto de meu marido, pesadelos por ser morta no auge do meu poder e da minha força e da minha vida. Tudo estava começando, tudo estava se encaixando seria eu, Nicolay e minha bonequinha contra o mundo mas a maldita ligação que o infeliz do Leonidas fez destruiu minha vida. Então resolvi voltar ao passado pelo menos para dar um "oi" ou um "tchau" ou pelo menos para ver as pessoas que amo e depois seguir o meu destino miserável mas não foi bem assim que aconteceu. Porque é impossível um coração apaixonado não reconhecer outro.