Cicatrizes - Fanfiction Crepú...

By apolinds

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Um mês após o confronto com os Volturi, Bella e Edward finalmente pensaram que poderiam viver o seu "felizes... More

Prólogo - Levada
Capítulo I - Prelúdio
Capítulo II - Desperta
Capítulo III - Filhos da Terra
Capítulo IV - A História de Nessie
Capítulo V - Doce e Amarga Esperança
Capítulo VI - Obrigada
Capítulo VII - Primeira Queima
Capítulo VIII - Demônios
Capítulo IX - Ouro e Rubi
Capítulo X - O Canto do Lobo
Capítulo XI - Pertencer
Capítulo XII - O Que o Destino Reserva
Capítulo XIII - Desavenças
Capítulo XIV - Meu
Capítulo XV - Companheiros
Capítulo XVI - As Primeiras Peças do Quebra-Cabeça
Capítulo XVII - Vanessa, Não Renesmee
Capítulo XVIII - Almas que se Reconhecem
Capítulo XIX - Ferida Aberta
Capítulo XX - Abrace a Dor
Capítulo XXI - Reis Caídos
Capítulo XXII - Em Meio aos Mortos
Capítulo XXIV - Resolução
Capítulo XXV - Teu, Meu, Nosso Sangue
Capítulo XXVI - As Correntes Caem

Capítulo XXIII - Sangue, Terra e Folhas ao Vento

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By apolinds



A primeira coisa que Nessie soube era que o chão estava tremendo. Com a visão embaçada pela queda e o sangue caindo em profusão de um corte na testa, ela viu vultos pretos se aproximando. Adrenalina passou por ela. Alguém estava ali e não era Jacob.

Lutando contra a tontura, puxou a perna lentamente para frente e apalpou a lateral de uma das botas. Um suspiro de alívio saiu de seus lábios ao sentir o punho frio da adaga contra os dedos. Ela puxou e segurou firmemente o cabo enquanto notava a sombra de pés caminhando em sua direção. Era tudo disforme. Ness via apenas figuras embaçadas sobre um fundo laranja. O som de botas tornou-se mais alto, mas não mais alto que uma voz masculina.

— Peguem o filhote de demônio! — dizia a voz. Nessie fez mentalmente uma careta. Sabia que o filhote demônio era ela.

— E o rapaz? — questionou outra voz masculina, essa rouca como quem fuma demais.

— Aimée o quer. Pegue-o também. Ele não durará muito. — respondeu o primeiro homem.

Ness não reconhecia aquela voz. Só que isso não importava. Aquelas pessoas eram seguidores do mestre e estavam indo levá-la para ele enquanto que Jacob estava prestes a ter um dos piores fins existentes. Atordoada, ela tentou se levantar.

A primeira tentativa a fez automaticamente ciente dos ferimentos causados pela explosão. Ela tinha um ferro passando por sua coxa direita e se não estivesse errada o pulso esquerdo havia sido torcido com a queda bruta.

— Merda — xingou fracamente, apalpando a lateral de sua coxa. Sua mão tocou a ponta do ferro e ela literalmente viu estrelas.

— Olha isso, chefe. A monstrinha está tentando se levantar — zombou um homem. Nessie se encheu de raiva. Ela iria mostrar o monstro que era.

— Anda logo, seu paspalho. Não temos muito tempo antes que a proteção que pus caia e os humanos descubram o acidente. — disse aquele que parecia ser o líder. Algo no que ele disse chamou atenção de Ness, mas ela não entendia o que era.

Um uivo estourou no ar. Nessie levantou a cabeça e procurou automaticamente por Jacob, apavorada que tivessem o ferido gravemente.

— Não toquem nela! Deixem-na em paz! — rugia Jacob. Ness o encontrou nesse momento e viu dois homens enormes indo em sua direção. Os homens vestiam roupas negras de motoqueiro, carregando correntes e facões atados no cinto das calças de couro.

Um olhar nas longas costas de um dos homens e ela notou o símbolo do mestre desenhado na jaqueta. Uma coroa dourada envolvida por um dragão comendo o próprio rabo.

A mente de Nessie oscilou com a visão. Uma nova memória saltou e tentou se mesclar com a realidade. A tentativa quase rachou seu crânio em dois. Tão atordoada na dor não viu quando um humano veio ao seu encontro e a ergueu no ar. Ness gritou de dor e afronta. Aquilo simplesmente não podia estar acontecendo.

— Nessie! — urrou Jacob para ela. — Soltem ela!

— Calado, animal! Bichos como você não tem direito de falar — gritou a primeira voz.

Jacob rosnou.

— Quem são vocês? Quem, porra, é você? — ele gritou.

— Não que isso seja da sua conta, mas me chamo Evon. Estou aqui a pedido do meu senhor. Ele perdeu seu animal de estimação e o quer de volta.

— Nessie não é um animal, seu doente! Solte-nos agora!

Silêncio! — berrou Evon e houve um estampido que causou um silêncio fúnebre ao redor. — É por isso que odeio me relacionar com criaturas vis como você. Tão pobre de entendimento. Nem ao menos compreende uma ordem quando esta é exigida.

Um grunhido ameaçador flutuou no ar. Evon riu desagradavelmente.

— Seus grunhidos e rosnados não me assustam, besta feroz! É uma pena que Aimée queira-o tanto. Tenho certeza, no entanto, que ela não me decepcionará.

Gelo encheu a veias de Nessie ao compreender o prazer homicida na voz de Evon. Ele era como Amy. Ela não se lembrava de já tê-lo conhecido, embora só por sua voz sentisse que deveria estar grata por isto. Alguma coisa naquele homem não estava certa. Ness sentia a maldade dele saindo em ondas e manchando o ar.

Ela não estava indo ser entregue numa bandeja de prata sem lutar. Usando das suas reservas de força ela tentou se soltar dos braços que a seguravam. Ela grunhiu e rosnou para o homem a apertando em seus braços fortes e lutou pela libertação.

— Tsc, tsc. A senhorita não vai a nenhum lugar. Seja um bom bichinho e comporte-se — mandou o homem em seu ouvido. Ness moveu a cabeça, irritada, e foi de encontro a um pescoço gordo e barbudo.

— Largue-me seu nojento. Vou matá-lo —ela rosnou, sacudindo-se. Por algum milagre a faca ainda estava em sua mão. Ela só precisava de uma boa posição para atacá-lo.

— Quieta, aberração, se não quiser que eu quebre seus dentes — O humano apertou sua coxa ferida.

Ness ofegou. O ferro entrou ainda mais na carne, rompendo algum ligamento dentro dela que a fez ver o triplo. A dor que veio a seguir a fez entrar em frenesi e desligar suas vias psíquicas. Cada luz brilhante e emoção vivida apagaram-se dentro dela. Nessie entrou em fúria fria e foi essa fúria que a fez enfiar as unhas da mão livre no rosto do homem.

O humano gritou, largando-a. Ness caiu no chão agachada. Com a mão segurando a adaga e a outra liberta, ela passou a mão pelo ferro na perna e puxou para fora. O sangue esguichou como uma mangueira com água. A híbrida simplesmente ignorou, a dor e o ardor muito longe naquele momento.

— O que você está fazendo, Robin? Pegue a mestiça. PEGUE-A JÁ — berrou Evon. Ness o esnobou. Seus olhos estavam fixos no homem com o rosto retalhado por suas unhas, sangrando profusamente.

— Ela me arranhou! — gritou o tal Robin, seu rosto avermelhando-se de raiva. — Sua vadia!

— Uma vadia, de fato — sorriu friamente. — E essa vadia vai mostrar o porquê de não mexer com ela.

Num salto que arrancou suspiros de todos presentes, Ness atacou o humano, levando-o ao chão. Cinco outros humanos vieram para cima dela, agarrando-a por trás. Nessie gritou com uma banshee, cortando fora uma mão que e agarrou pela cintura com sua adaga. Automaticamente foi solta. Robin, que sangrava por conta de suas unhas, correu para ela. Ness riu com a fúria assassina do humano.

— Venha, porco. Venha para o abate! Vamos ver quem é o animal aqui — ronronou, equilibrando-se precariamente na perna boa.

Robin pegou a arma que havia em seu cinto e apontou para sua cabeça. Nessie não esperou que ele atirasse. Antes mesmo que a arma disparasse ela voou para outra direção. De repente ela estava nas costas de Robin, o pulso torcido virando brutalmente o pescoço do homem enquanto seus dentes alongados e pontiagudos mordia violentamente a veia pulsante sob a pele.

O sangue espirrou para todos os lados. Ness se fartou da violência e do sangue manchado por bebida alcóolica. Robin se sacudia com seus puxões, gritando palavrões e pedindo socorro. Nessie riu mentalmente pelo desespero do humano, bebendo até que sentisse se revigorar. Bebendo até seus ferimentos internos se fecharem e a vida encher suas veias com o melhor vinho que poderia existir.

As pernas de Robin vacilaram e ele despencou no chão. Ela foi com ele, movendo-se para não ser esmagada pelo peso. O coração de Robin enfraqueceu, pouco a pouco, até que não havia mais nenhum batimento e só o corpo de um morto.

Ajoelhada no asfalto, Ness afastou-se da jugular e apreciou a força crescendo em suas veias. Resquícios de sangue desciam por sua boca até o queixo, perdendo-se rumo abaixo. Seus dentes raspavam o lábio inferior e os seus olhos para quem presenciavam a cena estavam dilatados e cinco vezes mais escuros.

Não houve remorso no que fez. Seus olhos encontraram os de Jacob, preso entre dois homens, e ela viu o horror ali, um horror que ela sempre soube que estaria quando ele a visse realmente em cena. Não muito longe dele estava Evon, um homem muito alto, cabelos negros e olhos azuis pálidos que por alguma razão lembrou-lhe alguém. Ela sorriu para ele e sentiu um prazer delirante quando viu a hesitação, como se não esperasse a violência vindo de uma garota tão pequena e de aparência "inocente".

— Diga ao mestre que sou dona de mim mesma e que ninguém irá me controlar — ela falou e erguendo a adaga, Nessie começou a matar qualquer um que via pela frente.

Eram muitos. Pelo menos uns dez homens fora Evon. Ness tinha a vantagem de ser mais rápida e pequena, por isso era fácil abaixar e cortá-los nas pernas ou então pular em seus pescoços e estraçalhá-los como uma boneca de pano.

Um rugido que abalou seus ouvidos sensíveis chamou sua atenção. Olhou de relance atrás de si e ficou violentamente satisfeita ao ver um Jacob em forma de lobo mastigando o braço de um loiro robusto como se fosse um pedaço de bife. Ela viu os trapos do que era a roupa de Jake no chão e o brilho do par de sua adaga abandonada.

Evon pareceu notar a estranha adaga esculpida. Por um alucinado segundo ela teve certeza que viu reconhecimento no rosto rígido. Ele olhava a lâmina como se ela fosse o Santo Graal.

Terminando de decapitar o ruivo que acabara de lhe dar um soco, ela correu em direção a Evon que estava se agachando para pegar a adaga.

— Nem ouse tocar nisto! — ela gritou, assustando-o.

Evon deu-lhe um olhar de estranho prazer.

— Você é uma caixinha de surpresas, senhorita — ele comentou. — Poderia me dizer onde encontro mais deste belo instrumento? — pergunto indicando a adaga em sua mão.

Ness apertou o punho da adaga com os dedos. Seu instinto lhe disse para não responder esta pergunta. Seu lado assassino e cético queria saber a razão da pergunta.

— Por que a curiosidade? Curioso de saber as propriedades da arma que irá matá-lo? — sorriu sinistramente.

Evon deu de ombros.

— Algo como isso. Ela me lembra muito a arma dos meus antepassados. Sinto-me curioso. — disse educadamente.

Ela parou. Antepassados?

Um brilho passou por Evon quando notou sua hesitação. Nessie grunhiu, repreendendo-se. Seja o que fosse aquele homem ele estava tentando distrai-la e Ness não ia cometer esse erro.

— Deixe de conversa. — ela falou e correu para a adaga no chão. Evon ainda tentou chegar primeiro, mas Ness tinha seu lado sobrenatural a favor e conseguiu chegar a tempo.

Agora com as duas irmãs em cada mão, ela girou-as e cercou Evon perigosamente.

Evon, no entanto, tinha outras ideias.

— As coisas não precisam ser assim, menina. Nós certamente podemos fazer um acordo? — perguntou ele, olhando-a fixamente.

— Eu não faço acordos com gente que me trata feito lixo — rosnou. — Você vai morrer! Aqui e agora!

O olhar de Evon endureceu.

— Lamento que não possa concordar com esta opção. — Seus olhos se tornaram inesperadamente em branco — Ignis.

Nessie se sobressaltou quando um círculo de fogo cercou a forma de Evon. As chamas eram púrpuras e subiram violentamente por um segundo. No outro ela desapareceu, tal como Evon, deixando-a sozinha no meio da destruição e morte.

Atordoada com o que acabara de ver, Ness virou-se para ver o que ocorria atrás dela. Jacob estava arrancando o coração de um humano. Logo atrás dele vinha um homem parrudo, com incrível força, segurando um machado de ferro fundido. Com um rosnado ela correu para o homem e deu-lhe um pontapé no queixo. O humano desabou desacordado.

— Está morto? — perguntou uma voz enrouquecida.

Ela olhou brevemente para a forma nua de Jacob e voltou para o humano estatelado no chão.

— Não — respondeu friamente. — Vamos levá-lo conosco para interrogá-lo.

— Acha que ele sabe de algo? — Jacob perguntou.

— Duvido muito, mas quero saber sobre este Evon. Não me lembro dele.

— Ele é um bruxo? Vi que ele desapareceu no meio daquele fogo.

Ela balançou a cabeça.

— Não sei. Helena disse-me que era a única de uma raça inteira após a tomada dos Volturi. A não ser que exista um tipo diferente de seres mágicos, Helena está então terrivelmente errada e seu povo ainda vive.

— Como ela poderia não saber? Ela é mais velha que todos os Cullen juntos.

— Ela e Henry se isolaram há muito tempo. Duvido que ela tenha parado para pesquisar sobre sobreviventes daquela noite. Ela esteve preocupada por muito tempo com Henry.

Jacob suspirou.

— O que nós fazemos agora? Não temos carro, não temos celular e nem calças! — o último item pareceu irritar Jacob além da conta.

— Eu... Eu posso levar vocês! — disse uma nova voz, fraca e tímida.

Ness virou. Parada ali, no meio de tantos mortos, estava Penny. O abrupto aparecimento dela religou as emoções de Ness e seu primeiro sentimento foi pânico seguido de raiva.

— Penny! O que estava fazendo aqui? — perguntou sufocada.

Penny esfregou as mãos juntas.

— Eu... hum... Bem, segui você. — disse corando. — Sinto muito. — falou num tom mais baixo.

Ness achou que ia enfartar.

— Sente muito? Sente muito? — balbuciou, então gritou. — Você poderia ter sido morta, humana estúpida! Eu disse para esquecer aquela noite! Tem noção do que poderiam ter feito com você? Reconhece a droga do perigo que passou ao me seguir até aqui? O que raios passou por sua cabeça?

— Eu sei, tá legal? — Penny gritou — Sério, me desculpa. Mas em minha defesa a culpa é totalmente sua! Custava vir comigo e conversar com minha avó? Droga, Vanessa. Acha mesmo que queria estar aqui, no meio de corpos decapitados, conversando com uma assassina mirim ao lado de um homem nu que se transforma em um cão enorme?

— Tivesse pensado nisso antes de ser um ser humano burro e seguido pessoas que claramente não querem falar com você!

Penny se enfezou com suas palavras.

— Jesus Cristo, você é um monstro. Que Deus tenha dó de sua alma porque ela está em frangalhos! — ela berrou.

Nessie avermelhou-se.

— Agora que você percebeu? Se eu fosse você corria quando há tempo, Penélope, porque estou prestes a secar seu corpo maldito e largá-lo na beira da estrada!

— Nessie! — estalou Jacob ao seu lado. Ness fechou a boca, furiosa. Penny a fuzilava com os olhos e ela fuzilava de volta.

Ela não podia acreditar. Depois de tudo o que passara agora tinha que lidar com uma testemunha humana que acabara de vê-la se transformar num anjo da morte e Jacob em Cérbero — o cão do inferno.

Sim, era tudo o que precisava.

— Você vem conosco! — falou por fim. — Não fale e nem faça perguntas idiotas.

Os olhos de Penny se ampliaram e ela ficou pálida.

— P-para onde irá me levar? Eu não fiz nada. Foi você que matou toda essa gente — disse frenética.

— Ninguém mandou se meter em assuntos que não são da sua conta — Ness falou irritada. —Agora cale a droga da boca antes que faça isso por você.

— Mas... — Penny tentou argumentar, mas o olhar de morte de Nessie a calou na hora.

— Onde está seu carro? — ela perguntou, aproximando-se. Penny se encolheu quando chegou perto, os olhos atentos a cada movimento seu.

— Na rua debaixo. Escondi-me atrás daquela árvore — apontou para um robusto carvalho relativamente novo alguns metros longe.

Uma veia pulsou na testa de Ness.

— Tão perto. Tão malditamente perto da morte — murmurou sob a respiração. Penny fez careta.

— Não adianta irritar-se com isso, Ness. Nós precisamos ir e eu realmente preciso de uma roupa. — disse Jacob desconfortável.

Os olhos de Penny analisaram Jacob de cima a baixo e uma luz maliciosa subjugou o medo dela.

— Você está ótimo assim — falou com uma risadinha. Nessie revirou os olhos.

Mesmo na escuridão ela viu o rubor nas bochechas altas do lobo. Disfarçadamente ele tentou se por atrás de sua forma menor. Com um suspiro cansado ela se posicionou na frente de Jacob e tapou sua nudez chocante dos olhos ávidos de Penny.

— Nós vamos embora e deixaremos esse monte de corpos aqui? — Penny perguntou franzindo a testa.

— Droga, tinha esquecido esse detalhe — reclamou, assoprando uma mecha de cabelo para fora dos olhos.

— Como esqueceu quase uma dúzia de mortos? — perguntou Jacob ligeiramente irritado.

— Você acha mesmo que vou ligar para um bando de imbecis necrosando quando o carro do meu namorado explodiu, a comida que encomendei foi para os ares, meu corpo está fodido pelos socos que levei e meu cabelo está sujo de sangue? E não vamos esquecer a testemunha humana que nós temos, Jacob. Esse com certeza é um dos menores problemas, não é mesmo?

Jacob não respondeu. Talvez porque ela estava rosnando loucamente quando terminou de falar. Bufando ela olhou ao redor e se perguntou o que porra que iria fazer, pois infelizmente Penny tinha razão. Ela não podia simplesmente ignorar todos aqueles pedaços retalhados no meio da estrada que parecia o resultado de um apocalipse zumbi.

— Não parece uma cena agradável!

Nessie gritou apontando a arma para o homem que apareceu repentinamente ao seu lado. Jacob rosnou atrás dela e Penny berrou. Ness parou apenas segundos antes de apunhalar o peito do vampiro loiro sorrindo. Seu coração engasgou uma batida e depois voltou a soar como um tambor desenfreado.

— Matthew! — disse perplexa. — O que está fazendo aqui?

Os olhos vermelhos do vampiro enrugaram nos cantos.

— Ver como anda minha aprendiz — respondeu num tom zombeteiro. — Não está feliz em me ver?

— Você está de brincadeira comigo? — ela guinchou, sentindo a pressão subir novamente — Onze homens vieram até mim tentando me matar e só agora você aparece?

O humor enfraquece em Matthew.

— Eu não podia me expor, Nessie — disse suavemente. — Evon é o novo queridinho do mestre. Ele teria adorado contar ao mestre que sou um traidor.

— E o que um dos principais soldados do mestre está fazendo com o inimigo? — ela perguntou ácida.

— Traindo — disse Matthew com um sorriso amargurado. — Vim ajudá-la, Ness.

Agora? Seis meses longe daquela maldita casa e só agora você resolveu me ajudar? — ela rosnou.

— Estou impressionado. — Matthew comentou — Você tornou-se excepcionalmente emotiva desde que fugiu.

— Não graças a você! — cuspiu. — Diga, a verdade, Matthew. Por que está aqui?

— O mestre não está feliz, Ness. Ele não está nada feliz. Sua fúria chegou a níveis inimagináveis. Ele está recrutando qualquer um que tenha capacidade para recuperá-la. Mais... Ele está nesse exato momento ordenando seus soldados a matarem dúzias de famílias em torno de Rochester.

O coração de Ness gelou.

— Mas por quê? Por que ele está fazendo isso? — perguntou com os lábios repentinamente secos.

— Ele sabe que você está recebendo ajuda. Por que acha que Evon veio buscá-la e não Aimée?

— Sei lá. Vai ver ela estava torturando outra criança desavisada — disse amargamente.

Matthew riu sem humor.

— É bem pior que isso, Nessie. Aimée está liderando vampiros recém-criados. Eles estão matando tudo o que vê pela frente para então denunciar tudo aos Volturi.

— O quê? — Jacob e Nessie berraram.

— Vá logo direto ao ponto, sanguessuga! — rosnou Jacob. — Como essa bola de neve chegou aos Volturi?

— O mestre sabe que Ness está sobre os cuidados de um vampiro — respondeu Matthew com o cenho franzido — Também sabe que os Cullen está aqui. O foco, no entanto, é o vampiro que está escondendo Nessie. O mestre quer prejudicá-lo, prendê-lo por estar em seu caminho.

— E matando humanos indiscriminadamente colocaria um alvo do tamanho do mundo nas costas de Henry — Nessie falou com temor. — Com uma denúncia proposital em relação a Henry e o fato que até dado momento eu era uma mestiça desaparecida...

— Os Volturi pensarão que Henry é um nômade que a sequestrou e a está usando para conseguir alimento — completou Jacob friamente.

O horror de toda a possibilidade não poderia ser sequer descrita. Se Ness achou que sentira medo, nada se comparava a sensação daquela hora. Henry estava em perigo. Se os Volturi o encontrasse ela não queria nem imaginar o horrível confronto entre o trio e o Filho da Terra. Conhecendo como ela conhecia Henry, ela sabia que ele dificilmente deixaria Aro o acusá-lo. E se por um infortúnio eles quisessem o exilá-lo seu vampiro iria matar quem quer que fosse.

A lei vampírica não valia para Henry. Nunca valeria.

— Henry não é vampiro para se brincar, Matth. O mestre não sabe no que está se metendo. — murmurou.

— Se ele sabe ou não, isso não importa. Ele quer retaliação. Você está muito perto de desvendar seus segredos. Segredos que ele queria que viessem à tona ao seu modo.

— E pondo os Volturi em Rochester irá resolver algo? — ela criticou — Só irá colocar um alvo na própria cabeça.

— Você deveria preocupar-se consigo mesma do que com os outros. Se Aro põe as mãos em você... Uma inspeção dele e tudo cairá por terra. — Matthew passou a mão pelos cachos dourados.

— Você poderia contar a verdade, seu fodido. Não finja que não sabe os planos do mestre.

— Mas eu não sei. Não a parte importante. —o vampiro argumentou. — O mestre desconfia de mim, Amy desconfia de mim. N-não posso voltar, Nessie. Não depois do que vi esta noite.

— E o que você quer de mim? — ela questionou, segurando as duas lâminas com firmeza. — Precisa que eu o ajude a acabar com sua existência insignificante?

Matthew a olhou com tristeza. Ness encarou o vampiro que a capturou, ensinou a lutar e a suportar as dores constantes. O homem que invalidou todas as tentativas da irmã de maculá-la. Que a libertou de forma arrependida sem querer nada em troca.

Ela odiava isso, mas entendia porque Matthew era como era. Ela não conhecia o seu passado como humano, contudo tinha uma certeza enraizada dentro dela que dizia que tinha sido tão amarga quando a dela fora nos últimos três anos. Os dois se entendiam neste ponto. Mesmo que não fosse verbalizado, suas dores se encontravam no meio do caminho.

— Ah merda — reclamou desistente. — Vamos lá. Como nós nos livramos dos corpos?

Um sorriso enferrujado transformou o rosto de Matthew. Ela se perguntou quanto tempo fazia que ele não sorria desta forma e se ele estava sentindo a mesma emoção que ela sentiu quando riu sem pudor nos braços de Henry. Ela devolveu o sorriso com um compreensivo e melancólico.

Houve uma estranha irmandade no momento.

— Nós devemos enterrar os corpos. — ele falou — O cemitério é logo ali e tenho certeza que encontraremos tudo o que precisamos para escondê-los. Já a explosão nós limparemos o que não for necessário e faremos com que os outros pense que algum morador de rua queimou um carro velho.

Nessie concordou.

— Certo. Vamos fazer isso logo então. Mas primeiro — ela olhou para a carranca de Jacob olhando para Matthew — Há alguma chance de você ter algo para ele vestir? Não quero que ele seja preso por estar andando nu por ai.

Matthew olhou a forma despida de Jacob com um olhar plano. O peito de Jake vibrou contra ela. Nessie tentou veemente não pensar no fato dele estar pelado atrás dela.

— Há uma mochila atrás da lata de lixo cinco casas a frente. Trouxe para o caso de precisar mudar. Há calças lá, mas talvez fiquem justas — Matthew arqueou as sobrancelhas — Seu amigo é muito mais forte do que eu.

— Estou tentando não focar nisso — murmurou. — Bom, vocês fiquem aqui e ajudem Matthew. Eu vou buscar a mochila.

Penny não gostou nada da ideia.

— Espera, o quê? O que quer dizer ajudar? Eu não vou abrir covas e enterrar os corpos que você mutilou — Seu rosto estava branco feito cal.

Nessie deu-lhe um olhar feio.

— Você vai ficar aqui e vai ajudar. É isso ou um morrer empalada. Escolha!

— V-vou ajudar. Vou ajudar. — Penny falou rapidamente, aproximando-se aos passos trôpegos até Matthew.

As narinas de Matthew inflaram com a aproximação. Ele inclinou a cabeça em direção a garota e aspirou seu perfume. Penny se sobressaltou com o ruído e olhou boquiaberta para ele.

— O que está fazendo?— ela guinchou amedrontada.

O vermelho da íris de Matthew escurecem ao preto ébano.

— Seu cheiro — disse numa voz profunda. — É delicioso.

Penny pareceu que ia desmaiar. Nessie bufou.

— Acalme suas presas com tesão, Matthew. Nós temos uma tarefa a fazer — ela o lembrou.

Matthew ainda olhava para Penélope quando se virou para a orla de corpos apodrecendo. Penny tremia como uma folha ao vento ao observar o vampiro jogar corpos e mais corpos sobre o ombro.

— Ele não vai feri-la — Nessie tentou acalmá-la. — Ele deve estar apenas com fome.

— Ele disse que meu cheiro era delicioso. — balbuciou Penny. — Meu cheiro. Quem garante que ele não vai cravar os dentes em mim quando estiver distraída como você fez com aquele grandalhão que te agarrou?

Ness fez careta. Não esperava que ela tivesse visto tudo o que tinha ocorrido. O fato de ela ter estado ali por um bom tempo congelou suas vias sanguíneas.

— Jacob irá impedir. Ele é super contra beber direto da fonte, por isso não se preocupe. Ele vai protegê-la.

Penny deu-lhe um olhar exasperado.

Ness ignorou o olhar enfezado do quileute e foi atrás da mochila que Matthew falou. Cinco minutos depois ela estava de volta e Jacob vestido numa calça social muito justa que não deixou nada para imaginação. Sua mente não tão inocente fez esforços para focar no rosto de Jake e não na braguilha mal fechada.

Que Henry não soubesse disso. Amém.

Mesmo exaustos, eles pularam novamente o portão do cemitério e enterram os corpos numa parte onde a terra era batida e os túmulos praticamente inexistentes. Penny choramingou vez ou outra com medo de serem pegos enquanto balbuciava o quão injusto era ela estar ali ajudando criaturas sobrenaturais esconderem cadáveres de assassinos psicopatas.

Nessie não tinha nem fôlego para reclamar mais. Ela estava suja, fedendo e totalmente exausta. Tudo o que queria era deitar numa superfície confortável e não sair mais de lá. Mais ou menos uma hora mais tarde os corpos finalmente estavam todos enterrados e o cenário da explosão refeito.

— Pegue o que restou da placa do carro — disse Matthew baixinho. — Nós não queremos que ele seja rastreado.

Ness arrancou o que restava da placa numeral meio retorcida. Matthew pegou de sua mão e esmagou a placa numa bola e então mais um pouco até que tudo não se passava de pequenos pedaços confusos de metal.

— Vamos embora agora? — perguntou Penny com um olhar cansado.

— Sim — respondeu com um suspiro.

— Graças a Deus — agradeceu Jacob, estalando o pescoço.

Nessie reparou que ele tinha uma nova cicatriz no peito. Era uma linha longa avermelhada. Jacob a viu reparando, mas não disse ou fez nada para esconder.

— Vamos lá. Temos que ir antes que alguém apareça. — Matthew falou.

Penny entregou as chaves para Nessie contragosto. Como ela era a única que poderia entrar na proteção de Helena era correto que ela dirigisse até a mansão Reese.

O carro infelizmente não chegava nem aos pés do Mercedes do Henry, mas daria para o gasto. Ela fez Matth vir na frente, pois Penny estava morrendo de medo dele e Jacob poderia matá-lo no banco de trás se ficassem tão perto um do outro.

Já o humano que ela tinha golpeado ela amarrou os braços e as pernas com as correntes que seus comparsas tinham trazido consigo e o amordaçou com os retalhos do que era a camisa de Jacob. Para prevenir que ele não acordasse, Nessie bateu em sua cabeça com força mais uma vez e o prendeu no porta-malas.

Penny a olhou num misto de medo e assombro.

— Você é realmente perigosa, não é?

— Sem sombras de dúvidas.

Ness pegou a estrada e pisou no acelerador. As cenas do que rolou naquele dia iam e vinham em sua mente. A única coisa boa naquele episódio de matadouro fora que se fartara de sangue. Seu estômago estava até estufado de tanto que bebera.

Que dia. Pelo visto ela realmente não iria ter um pingo de paz. O mestre estava jogando com todas as cartas que possuía e estava chamando Nessie para brincar com ele. O problema era que Ness não estava a fim de jogar, especialmente quando suas próprias cartas consistiam nas pessoas que ela se importava.

Ela ainda estava preocupada com o que Matthew dissera. A vinda dos Volturi era tudo o que Nessie não queria. Ela rezava para que Aro não desse muita atenção e mandasse qualquer um dos outros soldados dele. Ela certamente poderia lidar com Jane ou Felix. Não tinha certeza em relação à Demitre, pois o vampiro era um rastreador formidável que poderia encontrar qualquer pessoa na qual ele já teve contato.

Então havia Alec com seu dom de privação sensorial. Numa luta onde Helena não estaria por perto, Ness estaria à mercê da habilidade de Alec. Poderia ser restringida de todos os seus sentidos e seria impossível lutar contra ele.

A única pessoa que Nessie tinha certeza que poderia ter uma conversa franca seria com Marcus. Ela o tinha o observado há muito tempo e descoberto coisas que ela duvidava que o vampiro sabia. Se Ness fosse alguém que quisesse causar uma guerra vampírica ela provavelmente contaria a Marcus tudo o que sabia.

Mas só depois que matasse Chelsea. Aquela vampira era um problema em seu caminho.

Tantas informações... Tanta coisa que Nessie sabia e não podia usufruir sem ter que arcar com as consequências de suas escolhas...

Marcus não ficaria nada feliz com Aro. Ela imaginou o vampiro apático enchendo-se de raiva e o estrago que faria se fosse solto das garras psíquicas de Chelsea...

...Chelsea que era mantida satisfeita por Corin, que era mantida leal aos Volturi por conta da habilidade de Chelsea que ligava toda a guarda Volturi numa lealdade fraudada...

E que mantinha Marcus vivendo uma vida sem cor quando tudo o que ele mais desejava era morrer para estar ao lado da companheira já falecida.

Aro não entendia nada. Não compreendia o que era lealdade. Não entendia o que era amor e irmandade. Não sabia e provavelmente nunca descobriria o significado de morrer por alguém.

Nessie morreria por Henry. Mataria por ele. Mas ela não se perdoaria se seu vampiro morresse por sua causa. Pior, se ele fosse sentenciado ao isolamento.

Não havia nada pior do que a privação de sangue e companhia. A morte seria uma escolha mais amigável ao fim de tudo.

Suspirando, ela olhou de relance para Matthew. Merda, ia ser tão complicado explicar a presença dele em casa. Como se não bastasse ter que se preocupar com Royce King ainda tinha que defender um vampiro odiado por toda sua família.

Maravilhoso.

— Gostaria avisar que há um clã inteiro querendo sua cabeça, uma bruxa poderosa e um vampiro milenar com uma raia viciosa e ciumenta. — Nessie foi logo avisando ao vampiro.

— Nenhuma novidade nisso — ele disse sem humor e então falou. — É verdade?

— O que?

— Sobre a bruxa. Ela existe mesmo?

Ela apertou o volante.

— Como você sabe? — rebateu a pergunta.

Matthew encolheu os ombros.

— Evon sentiu a magia no ar, embora ele tenha dito que não reconhece a assinatura e nem saiba rastreá-la até sua fonte.

— Verdade? — a voz dela tremeu. — Bom. Esse Evon... Ele é forte?

— Comparado a um vampiro? — perguntou Matthew, cético. — Não, não assim. Se fosse ele teria a matado num piscar de olhos. Tudo que sei é que a energia dele não dura muito e que há um traço de mácula nela.

— Mácula? — repetiu. Matthew balançou a cabeça.

— Sim. Não sei se Amy ou o próprio mestre consegue sentir isso, mas quando vejo Evon usando magia é como se uma camada de óleo permeasse o ar. Ele cheira a enxofre. — um pequeno vinco apareceu na testa masculina.

— Enxofre... — Ness sussurrou. — Não sei o que pode ser. Helena, no entanto, deverá explicar isso. — suspirou — Ela não vai ficar nada feliz.

— Ninguém irá — disse Jacob no banco de trás. — Ou acha que seus pais vão levar tudo numa boa você levar um dos seus sequestradores para casa?

— Ah, não enche, Jacob. Já tenho tanto para pensar e você vem com essa agora — disse de saco cheio.

— Espero que tenha pensado bem como vai apresentar seu amiguinho, Renesmee, pois não acho que restará algo dele para contar história.

Ela grunhiu para Jake, sem a mínima vontade de prolongar a conversa.

Aquela ia ser uma longa noite.

Henry estava mais uma vez num estado quase feral. As dez bolas anti-stress que Helena lhe dera havia se transformado num punhado de espuma jogado no chão. Sua pele formigava em todos os lugares não usuais e tinha aquele profundo pressentimento que algo não ia bem. Apenas duas horas atrás ele sentira como se fosse golpeado no peito. A fúria homicida que o pegou tinha sido tão tóxica que de alguma forma ele sabia que a emoção não era dele.

Agora Helena o mantinha preso dentro de casa com tentáculos de magia que o amarravam ao sofá.

— Você precisa se acalmar — ela disse com a testa franzida.

Raiva cresceu nele mais uma vez.

— Me acalmar? — rosnou. — Qual é a parte que digo que sinto que algo está errado você não entende?

— Nessie sabe se cuidar. Ela sabe que não deve ficar muito tempo na rua — Helena argumentou.

— Ela deveria ter chegado há horas! — ele vociferou. — Horas, Helena. Eu vou espancar aquela bunda magra quando a vir.

Edward o olhou furioso.

— Não fale assim da minha filha — ele rosnou.

— Cale a porra da boca, seu vampiro babaca — Henry disse enfezado. As luzes da casa piscavam loucamente.

Helena olhou irritada para os dois.

— Chega, vocês dois. Não tem por que brigarem desta forma. Todos nós estamos preocupados. E Henry, pare de piscar as luzes. Odeio isso!

— Se aquele cão não proteger Nessie, pode acreditar, estou indo usar seus ossos como sinos de vento — ele reclamou, olhando sombriamente para a lareira acesa.

Lilian bufou.

— É mais fácil Ness protegê-lo do que ao contrário — ela disse sarcasticamente.

— Jacob é muito habilidoso — Bella defendeu o amigo, seu tom ligeiramente ofendido.

— É claro. Talvez seja por isso que ela foi sequestrada — falou Henry, cruel. — Ninguém é melhor que Nessie. Se ela precisar matar, ela vai. Vamos apenas esperar que seu amigo não congele quando vir seu tipo de luta.

— Henry... — advertiu Helena.

— Estou dizendo a verdade apenas. — Ergueu as mãos em rendição.

— Você é um arrogante! — exclamou Alice com desprezo.

Henry olhou debochado.

— Nenhuma novidade aqui, querida. Faça-me o favor e fique em silêncio!

DOMINIC — gritou Helena.

Henry parou. Virou-se para a irmã e se encolheu ligeiramente contra o sofá. Helena estava furiosa, os olhos de um verde profundo e completamente felinos. As pupilas contraíram, tornando-se filetes verticais cheios de raiva.

— Sinto muito? — rapidamente fez uma tentativa de desculpas. Helena grunhiu.

— Não é para mim que você tem que se desculpar, idiota. — ela sibilou. — Trate de melhorar esse humor.

— Estou preocupado! Como quer que eu fique de bom humor quando não sei o que aconteceu com Nessie? — perguntou de cara feia.

— Não me interessa. Você não é o único preocupado. Acha mesmo que não quero sair para encontrá-la?

— Bem! E o que nós estamos fazendo aqui ainda?

— Nessie pediu para ficarmos aqui. O restante de sua família está para vir e nós não temos ideia se um deles é o que ela precisa matar. E está óbvio para mim que Ness não passou todo esse tempo na biblioteca. Ela deve ter descoberto alguma coisa.

— Onde você acha que ela pode estar? — Lilian questionou, puxando Helena para sentar-se com ela na poltrona.

Henry sorriu de lado com o rubor nas bochechas da irmã. Lilian sentou-se na poltrona e a pôs em seu colo. Um olhar satisfeito passou no rosto das duas enquanto Lilian cheirava profundamente o pescoço de Helena.

— Não tenho ideia — Helena falou com um suspiro feliz, esticando a cabeça para dar livre acesso a Lilian. — Mas deve ter tido alguma coisa que chamou a atenção dela.

— O suficiente para passar por cima das minhas ordens — Henry resmungou, conhecendo bem a companheira que tinha.

— Você sabe como Nessie é, irmão. Ela não costuma obedecer cegamente — disse Helena.

— Jacob deve ter tentado trazê-la de volta — falou Bella baixinho. — Ele teria tentado convencê-la.

— Pode ser. Mas Nessie tem suas próprias táticas de convencimento. — falou Helena.

— Ela provavelmente teria deixado Jacob para trás se ele não concordasse — comentou Lilian, beijando a pele bronzeada de Helena.

Henry riu meio irritado meio divertido com a ideia.

— Ou então o ameaçaria cortar alguma parte de sua anatomia.

Ele e Helena trocaram sorrisos cúmplices. Sabiam que era bem provável vindo de Nessie.

Céus, sentia falta da ruiva.

Helena deve ter percebido sua repentina melancolia, pois deu-lhe um olhar compreensivo.

— Ela vai voltar. Tenha um pouco de fé na sua companheira — falou gentil.

Ele suspirou.

— Sinto falta dela. — admitiu triste.

— Nós sabemos — sorriu Lilian.

Ele desviou os olhos quando percebeu que todos o encarava. Seus olhos ficaram fixos na porta, aguardando, esperando a hora que Nessie e o cachorro apareceriam.

Um rosnado suave chamou sua atenção e encontrou Tohrment no topo da escada olhando desconfiado para os vampiros reunidos na sala. Desde que chegaram o leopardo se recusara a descer. Ele estava extremamente defensivo.

Henry olhou indignado para o gato.

— O que você está fazendo com meu sapato, bola de pelos? — perguntou furioso.

Tohrment tinha um sapato meio mastigado entre as mandíbulas e parecia não se importar nem um pouco com sua raiva.

Lilian engasgou uma risada.

— Acho que ele está um pouco entediado — disse ela.

— Ele pode ficar entediado bem longe do meu closet — Henry vociferou e olhou para o leopardo despreocupado. — Pare de comer minhas coisas! — rugiu.

Tohrment se arrepiou inteiro e soltou o sapato meio comido para poder rugir de volta para ele. Henry saltou para caçá-lo, mas parou no ato quando o ruído de carro chegou aos seus ouvidos sensíveis.

Todos congelaram por um único segundo antes de começarem a se mover. Henry foi o primeiro chegar à porta. Ele a escancarou e correu para fora.

A primeira emoção que o bateu foi alívio. Olhar Vanessa afrouxou alguma coisa dentro dele. Os dois se encararam e ele viu o mesmo tipo de alívio nos olhos castanhos.

— Henry — ela suspirou e correu até ele.

Henry sequer pensava corretamente. Ele a pegou no meio do caminho, buscando por sua boca quando ela passou os braços em torno de seu pescoço. O beijo foi bruto, forte e carregado de sentimentos diversos.

Foi nessa hora que ele sentiu o cheiro de sangue e morte exalando de cada poro dela.

— O que aconteceu com vocês? — ouviu Helena perguntar horrorizada.

Henry libertou Nessie. Ao abrir os olhos ele pôde reparar melhor nela. A híbrida estava suja dos pés a cabeça de sangue e terra. Ele procurou por Jacob e constatou que o transmorfo estava tão ruim quanto Vanessa. Usava somente uma calça social que claramente não era dele. Não calçava tênis ou utilizava uma camisa. O cabelo escuro estava desgrenhado e ele tinha uma longa cicatriz recém curada no peito.

Henry olhou para o carro do qual os dois tinham saído e sentiu suas entranhas gelarem. Não era seu carro. Não era seu carro e se não estivesse louco podia cheirar três pessoas diferentes dentro do veículo.

— Onde está meu carro? — perguntou para a híbrida em seus braços.

Nessie engoliu visivelmente.

— Hum... uh... Explodiu?! — disse hesitante.

— O quê? — berraram todos ao mesmo tempo.

— Como isso foi acontecer? — perguntou uma Bella chocada.

— Nós fomos emboscados — contou Jacob. — Nós estávamos no cemitério e...

— Cemitério? EU DISSE PARA VOCÊ IR E VOLTAR DA BIBLIOTECA — Henry rugiu, olhando aborrecido para Nessie.

— Eu tinha uma pista, Henry. Acha mesmo que ia perder a oportunidade? — criticou Nessie, desvencilhando dos seus braços.

Ele a deixou ir, mas apenas porque sentia que estava prestes a cometer um homicídio.

— Como foi que explodiram o carro? — perguntou Lilian curiosa.

— Nos seguiram até lá — disse Ness de cara feia. — A culpa foi minha. Deveria ter prestado atenção. Então quando nós estávamos vindo embora o carro explodiu.

— E o que aconteceu? — quis saber Helena preocupada. — Está ferida? Precisa que a olhe?

— Estou bem, Helena. Só cansada — Nessie olhou a todos. — Os capangas do mestre vieram atrás de nós.

— Ness... — Henry sufocou. Ele olhou feio para Helena. Sabia que algo tinha estado errado.

Helena fechou o semblante.

— Sinto muito, okay? Achei que ela ficaria bem.

— O quê? O que aconteceu? — Ness perguntou olhando da irmã para ele.

— Henry teve uma explosão de raiva algumas horas atrás. Mas não parecia ele — disse Helena cautelosamente.

Ness olhou assombrada para Henry.

— Você sentiu minhas emoções? — perguntou surpreendida.

— Acho que sim — disse mal humorado. — Estava louco para matar alguém.

— Era como eu estava — ela falou atordoada. — Eles iam me levar para o mestre e Jacob para Aimée. Não podia deixar que vivessem.

— Você matou todos — constatou Helena.

— É claro — disse sombriamente. — Eles teriam me transformado em polpa se os deixassem me levar.

— Mas por que Henry sentiu sua raiva? — perguntou Esme confusa.

— Nós estamos conectados — Nessie respondeu inexpressiva. — Quando resolvi entrar para o clã, Henry quis que o ritual fosse como era feito no tempo dele. Então eu o fiz. Tomei o sangue dele e ele o meu.

— Mas há mais nisso que apenas a conexão alfa e soldado — explicou Helena. — Acredito que mesmo transformado em vampiro, a parte felina de Henry não se tornou completamente adormecida. Ele agiu muitas vezes como Filho da Terra quando não deveria.

— O que isso tem a ver? — questionou Edward impaciente.

— Os Filhos da Terra se acoplam de maneira um pouco diferente dos vampiros — Helena falou — Quando encontramos nossos companheiros precisamos conectar nossas mentes pela eternidade.

— Como? — perguntou Alice.

Helena corou um pouco.

— Através do sexo e de uma mordida — respondeu sem graça. — Quando estamos numa intimidade como esta nossas barreiras emocionais são frágeis. Torna-se muito mais que carnal. Nossas mentes e almas se unem e criam um vínculo inquebrável.

Esme olhou boquiaberta para Helena e então para Lilian.

— Vocês estão conectadas mentalmente? — ela perguntou diretamente para Lilian.

Lily assentiu e inclinou a cabeça para o lado, revelando a mordida cicatrizada que recebera no pescoço.

— É algo totalmente diferente do que imaginei que seria — ela admitiu. — Há essa consciência no fundo da minha mente que se sente parte, mas ao mesmo tempo não. É um pedacinho que quando dou a devida atenção cheira e se sente como Helena.

— Então, como companheiros Henry pode sentir Nessie? — deduziu Bella.

— Não ainda — Nessie falou — Alguém está sendo chato sobre isso — completou, olhando desagradada para Henry.

Ele lhe devolveu o olhar.

— Você ainda parece jovem — rosnou.

Nessie bufou.

— Dezesseis anos! É bom o suficiente — reclamou cruzando os braços.

— Tenho vinte e um anos fisicamente — Henry rebateu. — Não é bom o suficiente.

— A culpa é minha por acaso? — Ness perguntou ofendida.

Henry balançou a cabeça, exasperado.

— Sem sexo para você! E você está desviando do assunto!

— Acho que todos já compreenderam que nosso elo está se fortalecendo mesmo sem termos acasalado. — ela falou irritada. — Podemos focar no que é importante?

— Como no quê? No fato que sinto dois humanos e um vampiro dentro do carro? — vociferou.

A expressão de Nessie mudou rapidamente para cautela. Ela olhou para Jacob em busca de ajuda, mas o lobo só fez uma careta e desviou o olhar. Ela cerrou os olhos para ele.

— Traidor — sussurrou.

— Explique-se, Vanessa — mandou, olhando sério para a pequena híbrida.

Nessie mostrou os dentes para ele e chutou o chão.

— Bem, sabe a noite em que passei na cidade? — ela perguntou baixinho.

— Estou tentando não lembrar — Henry disse com um grunhido.

— Eu posso ter matado um humano num beco escuro... — Ness começou.

— Isso eu sei. Senti o cheiro de suas roupas. — ele grunhiu.

— Também posso ter feito isso na frente de uma testemunha humana — finalizou a híbrida quase inaudível, olhando para qualquer lugar menos para ele.

Se vampiros enfartassem provavelmente ele estaria morto.

— Você não apagou a mente dela? — ele balbuciou.

— Hum. Não. — respondeu Nessie.

— E como é que ela te encontrou novamente numa cidade enorme como essa? — perguntou com os olhos escurecendo.

— Jacob e eu fomos comer algo num Starbucks e coincidentemente ela era a garçonete. Mas isso não é o mais complicado.

— O que é então? — perguntou Helena e foi surpreendente ouvir o tom de ameaça em sua voz.

— Ela me seguiu até cemitério quando não quis conversar. E... Assistiu a mim drenando um humano e outras coisas mais...

— Tipo eu, me transformando. — completou Jacob desconfortável.

— Oh, meus deuses! — Helena gemeu, segurando a cabeça. — O que mais aconteceu, pois pela sua cara só pode ter ocorrido uma tragédia.

Ness mordeu o lábio.

— Eu posso ter trazido um dos soldados do mestre no porta-malas. — Balançou-se para frente e para trás. — E Matthew.

Tanto ele quanto Helena endureceram.

— Matthew? O Matthew que a ajudou a sair do cativeiro, mas não teve a porra da capacidade de chamar seus pais para liberá-la antes que a torturassem física e psicologicamente? — Henry perguntou num tom perigoso.

— Esse mesmo! — disse Jacob.

— JACOB! — gritou Nessie.

O flash do vulto de Bella passou por eles e ele presenciou com certo prazer macabro a vampira arrancar a porta do carro e puxar o vampiro de lá de dentro. Um grito feminino soou na noite misturado com o de Nessie quando Bella jogou Matthew vários metros longe em direção as árvores.

O vampiro loiro e atlético ficou em pé no segundo seguinte, fitando a figura magra de Bella vir em sua direção.

— Você levou minha filha, seu bastardo! — vociferou Bella. — Vou matar você.

— Oh, porra! Nada disso. — gritou Nessie, correndo para se por entre Matthew e a mãe.

— VANESSA! — ele, Lilian e Helena guincharam.

— Saía já daí, sua louca — Henry falou furioso.

— Não! — teimou Nessie. — Matthew não é como a irmã dele. Eu disse a vocês. Ele não é como Aimée.

— Mas ele te levou! — indignou-se Bella. — Foi ele o responsável de três anos de dor e sofrimento.

Nessie negou.

— O responsável disso foi o mestre! Ele sim é o culpado. Matthew me ensinou a sobreviver. Ensinou-me a lutar. — ela olhou a todos de forma pedinte. — Por favor. Ele não é nosso inimigo.

— Fale por você! — disse Jacob amargurado.

— Nós acabamos de enterrar dez corpos de homens que queriam nos sequestrar e você está preocupado com a integridade de um homem que eu sei que não irá me levar de volta para aquele inferno? — Ness falou encolerizada. — Eu acredito em Matthew. Acredito sim. Porque você não estava lá, Jacob. Você não me tirou na beira da morte inúmeras vezes.

— Como nós podemos confiar? Como podemos acreditar que este vampiro é digno de confiança? — perguntou Edward, desprezo saindo dele em ondas ao observar a forma silenciosa de Matthew.

Os olhos de Nessie se encheram d'água e ela olhou diretamente para Henry. Havia medo lá. Um medo totalmente novo que ele nunca vira ela nutrir.

— O mestre orquestrou um golpe — ela sussurrou. — Nesse exato momento Aimée e outros diversos vampiros estão assassinando famílias inocentes sem nenhum tipo de pudor. E ao fim desta noite um vampiro do mestre irá até a Itália e irá descrever Henry diante dos Volturi como o provocador destas mortes e o meu sequestrador.

Não... — ofegou Helena, pondo uma mão contra os lábios.

Henry ficou com raiva. Ele podia ser um vampiro, mas sua alma sempre seria a de um Filho da Terra. Se Aro viesse até ele e tentasse matá-lo, então os dois mediriam forças porque ele não estava indo se deixar cair.

— Nós ficaremos bem! — falou calmamente, olhando para as mulheres de sua vida. — Não vai acontecer nada.

— Aro irá querer ler seus pensamentos, Henry — Nessie argumentou quando percebeu que ele não estava dando a devida importância. — Ele irá saber sobre Helena. Sobre os Filhos da Terra.

— Não. Não vai — contradisse Henry — Eu posso ter me transformado num frio, mas sempre serei um Filho da Terra. Sempre serei filho de meus pais. Os Volturi são nada para mim, Nessie. Não me importo com o que querem. Eu sou um alfa e a proteção do meu povo é a minha única preocupação.

A voz que saiu de Henry soou diferente. Suntuosa. Como na primeira vez que ele levara Nessie para caçar.

De repente as folhas das árvores se moveram de forma sobrenatural. A terra se ergueu lentamente do chão. As folhas secas de outono chiaram e o vento conversou com ele.

Olhou para Helena e a viu sorrindo para o ar. O ar parecia conversar com ela e a bruxa parecia entendê-lo. Linhas úmidas deslizou por seu rosto enquanto a ventania sacudiu seus cabelos e roupa. Henry olhou ao redor e viu os outros perplexos observarem Helena.

Um cheiro familiar chegou até ele. A ventania agora estava mais forte, cercando-o num rodopio elegante. Era como se a natureza quisesse falar com ele também, mas não pudesse por ele ter se transformado numa criatura da noite. Ela então estava tomando medidas, preparando-se para tomar forma.

E quando uma pontada cutucou seu coração morto, Henry soube o que iria acontecer.

Pouco a pouco, aquele montinho de terra e folhas criou um formato longínquo. Braços, pernas, tronco, cabeça... Um brilho perolado cintilou no ar. As folhas e as terras se reconfiguraram... e então, de algum jeito que Henry jamais saberia como, viu-se olhando para os traços inconfundíveis de alguém que ele nunca esperava ver de novo.

— Mamãe? — ele sussurrou.

A forma de folhas secas e terra sorriu para ele, flutuando no ar.

Meu menino... — a voz utópica cantou na noite. — Traz-me tanto orgulho.

Henry sufocou na dor, nas saudades que sentiu.

Mama... — disse triste, com lágrimas que não podia mais derramar. — Sinto muito. Não... Não pude salvá-la.

A figura de Niniane piscou aqueles olhos sem cor, esferas vazias que rodopiavam folhas amareladas.

Você honrou seu povo. Fez aquilo que podia. Não se culpe pelo passado, meu pequeno guerreiro. Não se culpe pelo que nunca teve controle.

— Sinto sua falta — ele sussurrou. — Sinto falta de você e do papai.

Nós nunca os abandonamos — disse Niniane. — Nunca. Estamos sempre com você e sua irmã.

A figura olhou para Helena e sorriu. Henry viu que Helena estava branca como cera, os olhos muito amplos enquanto chorava silenciosamente e fitava o espírito de sua mãe.

Minha curandeirazinha — Niniane murmurou carinhosamente — Você fez muito.

Mama — soluçou Helena, erguendo as pontas dos dedos para tocá-la. Ela, no entanto, parou no ato. O medo que tinha daquela estranha projeção desaparecer a impedir de tocar.

Não chore, meu bem. Vai ficar tudo bem. — a mãe a tranquilizou. — Tempos ruins virão para todos. Mas peço que não tenham medo. Sejam fortes para o que está por vir.

— E se nossa força não for o suficiente? — perguntou Helena chorosa. — E se não conseguirmos vencer o que virá?

Nem sempre tudo é sobre ganhar ou perder, filha minha. Às vezes são apenas aprendizados que chegam sobre situações perigosas.

— Por que só agora? Por que veio agora quando precisei tanto de você antes? — Helena chorou.

Porque não era o momento. Porque há coisas que devemos compreender sozinhas. E você foi ótima em todos os momentos, meu amor. Tanto que o destino foi gentil e lhe deu alguém para amar. — Niniane olhou para Lilian.

O cabelo de Lily se transformou um verde enjoativo quando os globos vazios do monte de terra e folha a perscrutaram. Ela ficou pálida e segurou a mão de Helena com força.

Os deuses acreditam que sua alma é pura, minha jovem — Niniane falou. — E é por sua alma ser tão limpada que te digo para não sofrer por antecipação. A verdade virá quando for à hora. Não temas.

— S-senhora? — disse Lilian confusa.

Niniane apenas sorriu sobrenaturalmente e não disse mais nada. A figura flutuou mais uma vez e então parou em frente a Nessie. Ness olhou tensa para a forma, sem saber o que dizer ou como agir, os punhos fechados ao lado do corpo e sua expressão insegura quando sua mãe a fitou.

Ah, a pequena escolhida do meu filho — falou Niniane num tom divertido. — Tenho visto seus feitos, criança. Vi a sua luta. — inclinou a cabeça. — Acredito que o destino não poderia ter escolhido alguém melhor. Teria sido encantador se tivesse nascido no tempo correto.

O q-que isso significa? — perguntou Ness hesitante.

Niniane sorriu mais uma vez.

Um dia você vai entender. Um dia... Quando for mais velha e mais madura... Ai sim compreenderá que até mesmo o destino faz confusões. Seja forte, Renesmee Cullen, pois as trevas irão testá-la.

Com essas palavras, uma forte ventania varreu o que era Niniane, derrubando as folhas e a terra, deixando apenas a sensação de magia antiga e de que mesmo invisíveis, seus antepassados ainda se encontravam ali.

O silêncio cresceu em todos, cortado apenas pelo som dos corações dos que ainda tinham sangue em suas veias.

Helena então começou a ofegar. Um soluço após o outro saiu de sua boca e ela passou a chorar copiosamente. Henry nunca tinha a visto chorar assim nos últimos séculos. A última vez que a vira naquele estado fora quando sentiram o vinculo familiar entre eles e os pais se romper. Mesmo ardendo pela transformação ele tinha ouvido os gritos de desamparo de Helena, a dor que não podia ser ignorada e se sentia no direito de ter uma voz.

Um relâmpago cortou o céu. Momentos mais tarde ouviu-se um trovão. Henry olhou para a noite e não se surpreendeu quando a chuva despencou sobre eles.

Helena continuava a chorar como se tivessem cortado um membro vital. Henry olhou para os próprios pés, sentindo-se vazio com nunca esteve. A vontade desesperada que queria em chorar não saia dele, todavia não podia.

Não podia porque não era mais humano. Não era mais um Filho da Terra, e por isso perdera o direito de suas lágrimas.

A chuva torrencial lavou a todos. O cabelo de Henry grudou na testa assim como as roupas. Ficou parado no mesmo lugar no que pareceu horas, perdido em seus pensamentos confusos.

Ele ouviu passos. Inesperadamente um par de mãos segurou seu rosto e o puxou para baixo.

Nessie olhou para ele. Houve uma mescla de emoções em seu rosto, mas a principal delas era uma que ele sempre iria usar como referência a sua companheira.

Força.

— Você não está sozinho — ela sussurrou. — Okay? Você não está sozinho.

Ela então o abraçou e Henry correspondeu, apertando o corpo minúsculo contra o seu com toda a certeza que Nessie era a mulher da sua vida e que ele poderia conquistar o mundo se ela permanecesse ao seu lado e nunca saísse.

Que os deuses fossem misericordiosos e permitissem que ele a mantivesse.

Por favor, por favor. Não a tirem de mim.

Por favor, me permitam amá-la.

E'

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