Capítulo 44
De manhã pediu o café enquanto Camila ainda dormia.
- É, esse remédio te derrubou mesmo, meu amor... – olhava para ela completamente apagada na cama. De bruços, os cabelos espalhados pelo travesseiro, vestia apenas calcinha.
Ficou em cima dela e beijou-lhe a nuca, massageou levemente com uma das mãos. Cheirou seus cabelos para chamá-la bem baixinho.
- Querida, acorde. – deu outro beijo na nuca. – O dia está lindo.
Camila respirou fundo, puxou o braço de Lauren e beijou sua mão. Virou-se ainda sob o corpo da morena e deixou que ela se encaixasse entre suas pernas, só aí abriu os olhos e se deparou com o mais lindo verde.
- Bom dia. – sorriu de forma meiga.
- Oi lindinha, como está o pulso?
- Dói ainda, mas bem menos que ontem. – olhou para o braço. – Esse protetor está ajudando, assim não forço.
- Me sinto culpada, acho que fui eu quem te causou isso. – beijou a mão machucada. – Te puxei com força ontem. Sou uma besta enjambrada.
- Não foi amor. – riu. – Nem sei o que significa enjambrada, mas você não é.
- Significa ser sem jeito e bruta.
- Nunca! Você é delicada... – beijou o queixo. – Carinhosa... – outro beijo na ponta do nariz. – E extremamente cuidadosa comigo, além de mãos precisas. – piscou o olho e sorriu.
- Isso eu posso dizer que tenho mesmo. – não foi nada modesta. – Tem um suco maravilhoso de morango com guaraná nos esperando e um pãozinho quentinho com queijo brie que você gosta.
- Hum... – a chef fechou os olhos e respirou como se aspirasse o cheiro da comida. – Tenho muita fome, ontem o jantar... ei, como eu saí de lá? – perguntou totalmente confusa.
Lauren deu uma risada alta se divertindo com a carinha de Camila.
- Você dormiu amor. – saiu de cima dela e lhe estendeu a mão para ajudar a se levantar. – Jantamos, ficamos conversando e você desmaiou. Te trouxe no colo de lá aqui.
- Jura? Ô amor, que peso. – vestiu um hobby.
- Imagina, você é super leve.
Lauren passou o braço em volta da cintura dela e foram para a varanda comer.
Desceram para encontrar com as meninas e foram caminhar na praia. Lucia debaixo de muito protetor solar e um boné. Camila também se precaveu e fez questão passar o protetor em Lauren também.
- Não é porque moramos no Rio que não precisa de protetor. Você é muito branquinha e além disso o sol faz mal essa hora.
- Tá bom querida, já me conformei em andar toda melada desse negócio. – resmungou.
- Depois eu tiro tudo. – cochichou no ouvido dela.
- Ui. – sorriu à declaração.
- Está melhorando o pulso, Camila? – Lucia perguntou.
- Sim, acho que à noite já não devo precisar.
- Ah que bom, assim aproveita melhor a viagem.
Lauren lembrou que à noite as duas tinham outros planos. Veronica era mais morena e nem precisou de tanto filtro solar, por conta disso não despreocupava de Lucia. Sempre checava para ver se não precisava passar novamente. Caminharam pela orla, tomaram água de coco, suco e quase no meio da tarde é que resolveram almoçar. Lauren quis dar um mergulho e deixou as três conversando. Camila a admirava correndo pela areia e mergulhando na onda.
- Me diz, como se conheceram? – Vero perguntou.
- A primeira vez foi na inauguração de um restaurante. Foi antipatia à primeira vista. Ela me chamou de cozinheira. – fez uma careta e riu depois.
As duas caíram na gargalhada.
- Parece a cara dela fazer isso.
- Depois nos encontramos por acaso algumas vezes, coisas do destino. – Camila discorreu o assunto, contou tudo com detalhes fazendo as duas rirem das trapalhadas dela e de Lauren – Por fim ela me convenceu de que era o amor da minha vida.
- E é? – Lucia perguntou.
- Completamente. Sou louca por ela, não sei mais viver sem a presença de Lauren. Eu sempre dizia que os opostos se distraem e não atraem, mas tive que dar o braço a torcer. Ela é a pessoa mais diferente que conheço. Nos completamos em diferenças. – sorriu.
- Quando conheci Lucia a primeira coisa que me falaram foi da nossa diferença de idade.
Camila olhou pra Veronica parecendo não entender.
- Pode não parecer, mas sou quinze anos mais velha que ela.
- Jura?
- Verdade. – Lucia concordou.
- É que tenho pele de bebê. – brincou a outra. – Todo mundo dizia que a Lucy iria me dar trabalho, por ser mais nova, que uma hora ia cansar e quatro anos de namoro se passaram. Cá estamos casadas em lua de mel.
- As pessoas têm mania de interferir na vida dos outros com opiniões próprias. Sempre achei que opinião a gente só dá quando solicitado. – Camila falou. – Vocês namoraram quatro anos?
- E a distancia. Ela no Sul e eu no Espírito Santo.
- Eu namoro há pouco tempo, vai fazer um ano agora.
- E já casou? – as duas perguntaram ao mesmo tempo e rindo.
- Pois é... esse lance de que casais gays casam rápido é verdade. – riu. – Mas não me arrependo. Não casamos no papel, simplesmente estamos morando juntas. Ela ainda tem o apartamento dela. Se mudou pro meu porque preciso de uma cozinha maior.
- Lauren faz tudo que você quer, não? – Vero falou.
- Faz. – Camila olhou para ela nadando e sorriu timidamente. – É por isso que sou dela.
- Ah que bonitinha! Vocês duas são lindas juntas. O casal mais bonito que já vi nesses meus anos de sapatice. – Vero brincou. – Não pela beleza física, mas pelo carinho e servidão que uma tem com a outra.
- Servidão? – Camila a olhou intrigada.
- É, são cúmplices e se olham como se fossem entidades uma pra outra. Deve pensar que estou viajando, mas vejo assim.
Camila olhou novamente para o mar pensando naquelas palavras. O tempo havia passado e ela tinha se dado conta de que amor não era raro, mas um presente de Deus. E era grata por senti-lo, amar e ser amada era uma sensação indescritível. Lauren saiu da água sacudindo os cabelos e não teve quem não percebesse. Ela realmente chamava a atenção, os homens babavam e até algumas mulheres. O corpo molhado, o rosto sério, mas num meio sorriso, os cílios compridos, molhados, faziam seus olhos ficarem mais verdes. Camila percebeu os olhares de cobiça e se levantou para ir ao encontro dela, levando uma toalha nas mãos.
- Se enxuga querida. – entregou a toalha e deu um beijo demorado nela.
Para espanto das pessoas que acabaram despistando os olhares das duas. Voltaram de mãos dadas, Lauren passou rapidamente num chuveiro pra tirar a água salgada do mar e sentou em uma cadeira, onde Camila sentou em seu colo. Vero e Lucy estavam rindo e Lauren quis saber.
- Que foi gente?
- Estamos rindo da tua namorada enciumada. Você saindo da água, ela mais que depressa foi marcar território. – e recomeçou o riso.
- É amor? – Lauren olhou pra Camila querendo rir.
- Turista é cara de pau, olha mesmo, não tá nem aí se a esposa tá do lado.
- A dela ou a minha? – a morena ria.
- As duas!
- Ô gatinha, não fique brava. Nem percebi, vim olhando só pra você. – a abraçou. – Ela tem um ciúme velado às vezes, não é de comentar, só fica com essa carinha de brava. Eu já saio quebrando tudo se for preciso.
- É bem a sua cara. – Vero falou.
- Lauren não quebra nada, ao menos não na minha frente, mas fica brava mesmo. – riu a mineira.
Ainda conversaram a tarde toda, Camila gostava de estar perto das meninas. Não sabia se era o ambiente diferente, mas ao vê-las juntas conseguia acreditar que era possível ser um casal gay e viver na sociedade ao mesmo tempo. Aos poucos seus conflitos internos iam diminuindo. Falavam justamente sobre isso, as diferenças existiam por parte da sociedade, aceitá-las ou não dependia de cada um.
- Saber que tem pessoas com o mesmo problema, nos conforta. É um instinto do ser humano. – Veronica falou.
- Sentir-se melhor quando alguém está no mesmo barco. – Camila completou.
- Claro! E quem quer andar sozinho? Enfrentar todas as dificuldades de uma vida, ainda mais sendo “diferente”. – Lauren fez aspas com as mãos. – Penso que essa diferença está na nossa cabeça e não é fácil tirar. A sociedade impõe demais, tudo depende de onde e com quem você está.
- Não entendi. – Lucia olhou confusa.
- Camila era uma pessoa mais fechada, concentrava-se no trabalho, não queria ter um relacionamento. Tinha medo de se envolver, pois havia sofrido no passado com a rejeição dos pais e a traição de um amor. Ela não é uma pessoa amarga ou ranzinza, a vida a fez assim. – puxou a namorada mais pra perto. – Quando nos conhecemos ela era extremamente tímida e mesmo quando ficávamos sozinhas, ela tinha um certo pudor.
- Tinha vergonha e medo, achava que alguém iria ver e me julgar.
- Ficava sempre medindo as consequências, nada podia sair do planejado. Ai de mim se encostasse nela em público, levava um olhar fuzilante. – riu fazendo as outras rirem.
- E como as pessoas não desconfiavam? Quem conhece a sua agência e você, sabe das suas preferências... – Lucia falou.
- Quase não aparecíamos em público e quando isso acontecia, sempre tinha alguém junto. Ainda acho que algumas pessoas comentavam, mas nada que desse repercussão. Isso só aconteceu depois do incidente no programa.
- Por isso te suspenderam. – Vero não perguntou e sim constatou.
- Ahan. E eu me dei férias e estou aqui curtindo uma lua de mel maravilhosa ao lado da minha namorada e boas amigas que encontrei. – sorriu.
- Então vamos brindar! – Vero levantou o copo sendo seguida pelas demais. – Um brinde aos casais felizes seja de que forma são. O que importa é o amor!
Brindaram e continuaram o papo animado, rindo e contando casos da vida de cada uma. Quando começou a anoitecer Lauren manifestou a vontade de ir embora, tinha compromissos. Não queria fazer alarde, seria tudo uma surpresa para Camila. Vero percebeu certa ansiedade na morena e ao se levantarem comentou baixinho:
- Que pressa hein?
- Tenho planos.
- Espero que deem certo então.
- Vai dar. Siga um conselho meu, vá à recepção e peça para lhe indicarem uma noite romântica, leve Lucia para namorar. – piscou o olho e saiu.
Subiram cada casal para seu chalé e pensando que apenas tomariam banho, Camila perguntou.
- Amor, quer que eu encha a banheira pra você?
- Não, vamos tomar banho no chuveiro e descer, temos um jantar nos esperando.
A mineira olhou surpresa e num meio sorriso.
- Ah é?! Não sabia desse compromisso hoje à noite.
- Está livre senhorita? – a morena se aproximou.
- Pra você, sempre.
- Então vou levar minha princesa para um passeio romântico.
- O que devo vestir? É alguma coisa muito chique?
- Vista-se para sair pra jantar. Seremos só nós duas.
Tomaram banho e Camila colocou um vestido branco com o mesmo decote na frente e atrás, era justo até a cintura preso numa espécie de cinto e depois mais soltinho até os joelhos; não colocou sandálias de salto, pois Lauren tinha avisado que o jantar seria na praia.
- Salto e areia não combinam. Está bom com essa rasteirinha? – mostrou à namorada. – Pareço mais baixa. – fez um bico.
- Linda como sempre. – Lauren apareceu vestindo uma calça cargo branca também e uma blusa verde claro.
Ambas estavam mais bronzeadas e o branco lhes caía bem naquele momento.
- Me sinto mais morena. – Camila brincou.
- Está maravilhosa, vamos senão resolvo ficar por aqui mesmo. – sorriu com malícia.
Desceram no carrinho e pararam na recepção para que Lauren pudesse saber as coordenadas do local aonde iam. O funcionário explicou e elas saíram novamente no carrinho, andaram por uns dez minutos apenas e pararam numa espécie de porto. Havia um pequeno barco esperando e o funcionário foi dispensado, pois Lauren queria ir sozinha com Camila. Não teve dificuldade em remar, já que a água era calma e a tenda era bem próxima.
- Que lugar lindo. – Camila olhava em volta. – Vamos jantar aqui?
- Não só jantar... – e a encarou com um olhar sugestivo.