Melissa
Que belíssima apresentação! As garotas arrasaram no palco, porém, Valentina com certeza foi a que mais se destacou entre todas, não por ser a protagonista, mas por seu talento nato e pelo brilho natural que possui. Ela parece entrar em outro mundo quando começa a dançar.
Eu também tentei praticar ballet aos dez anos de idade, no entanto, desisti depois de duas semanas. Não conseguia me manter quieta e calada enquanto tentava executar aqueles movimentos delicados ou ficar nas pontas dos pés. Sempre caia com o traseiro no chão e ficava toda dolorida. Não que esse hábito tenha sido excluído de minha vida depois de abandonar o mundo da dança.
Quando as cortinas vermelhas do palco fecham, olho para Jeremy e é impossível não rir de sua cara de idiota apaixonado.
"A baba está escorrendo. Não te empresto meus lenços porque são bem caros." Ele me olha sem deixar o sorriso bobo abandonar o seu rosto. "Seu caso é mais sério do que eu pensei. Está parecendo minha irmã Alicia quando está lendo algum romancezinho de época ou babando nas fotos que o Isaac posta no Facebook."
"Sua situação com o babaca do Fernández não é diferente minha amiga." Não consigo entender porque Jeremy e Murilo não se dão bem. Estão sempre trocando farpas e olhares estranhos. Espero que com o tempo eles consigam se entender, porque não quero ter que escolher entre um e outro, até porque não vou abrir mão de almoços em família quando me casar. "Cuidado para a cabeça não explodir de tanto pensar. Seus poucos neurônios não suportam muita tensão."
"Eu sei que me ama e não consegue viver sem mim." Beijo seu rosto e a marca do meu batom rosa fica em sua pele.
"Eu amo tanto que tenho vontade de enfiar sua cabeça em uma piscina." Ele esfrega a bochecha e faz careta. "Droga, Melissa!"
"Para de reclamar e vamos procurar o camarim da sua linda bailarina." Levanto-me e quando ele faz o mesmo, seguro em seu braço para que eu não caia por causa dos meus saltos. "Deveria ter trago um buquê de rosas e um bolo de abacaxi."
"Quem gosta de bolo de abacaxi é você." Ele aponta o óbvio e dou-lhe meu melhor sorriso. "Vou convidá-la para ir ao cinema."
"Muito cliché. Prefiro um jantar a luz de velas, com um bom vinho e uma comida bem saborosa." Jeremy é tão bobinho, coitado. Ainda bem que ele me tem para lhe dar boas dicas de conquista, principalmente quando envolve uma garota bem sensível, que transpira romantismo por todos os poros.
"Que coincidência encontrá-los por aqui." Forço um sorriso para Stephany e Bruce, nossos insuportáveis e fofoqueiros colegas de trabalho. Passam mais tempo cuidando da vida dos outros do que das próprias, principalmente da minha.
"Minhas primas se apresentaram." Respondo com a educação que meu pai me ensinou, porque se eu fosse escutar as dicas de mamãe, eu ignoraria esses dois parasitas.
"Nossa irmã caçula dança ballet. Elisabeth é a melhor bailarina que conheço." Stephany empina o nariz plastificado e mira Jeremy com um olhar cheio de cobiça, que me causa náuseas. "Oi, Jeremy. Cada dia mais lindo e gostoso. Quando vai aceitar sair comigo?" Ela passa as longas unhas vermelhas no peito de Jeremy. "Poderíamos tirar um final de semana para estudar a anatomia humana."
"Jeremy não tem péssimo gosto, querida. Então, tire suas patas de cima dele." Empurro sua mão.
"E quem é você sua anã de jardim para me dizer o que fazer?" Bruce segura o braço da irmã gêmea.
Por sorte só estamos nós nesse corredor e não temos uma platéia para abrilhantar o ego dessa girafa de cabelos escuros.
"Eu sou a namorada desse belo monumento de 1,80 de altura." Stephany gargalha cheia de maldade e me mede de cima a baixo.
Movida pelo desejo de arrancar esse sorriso de naja da cara plastificada dessa girafa, viro-me para Jeremy, fico nas pontas dos saltos e colo nossas bocas. Belisco com força o seu braço e ele corresponde ao beijo sem língua. Ai, que nojo! Beijar Jeremy deve ser a coisa mais sem graça do universo; não entendo o porquê daquelas mulheres com quem ele já saiu serem loucas por ele.
Afasto-me e me seguro para não passar a mão na boca. Sorrio da surpresa e da raiva estampadas na cara da piranha girafa.
"Então vocês estão mesmo namorando. Eu já desconfiava porque sempre andam juntos e são motivos de conversas pelos corredores do hospital." Sua fala é cheia de inveja e meu sorriso aumenta.
"Preferimos privacidade. Não gostamos de nos expor." Seguro a mão de Jeremy, que força um sorriso. "Não é amor?"
"Sim, querida. Por isso pedimos que não comentem isso com ninguém por enquanto." Jeremy me lança um olhar de aviso, mas não desmancho meu sorriso.
"Não se preocupem." Bruce segura o braço da irmã e começam a se afastar. "Parabéns pelo namoro. Nos vemos no hospital."
Quando eles somem de vista, afasto-me de Jeremy e faço minha melhor cara do Gato de Botas do filme do Shrek. Não funciona é óbvio, já que apenas o tio Damon, o tio Klaus e meus irmãos não resistem a esse meu charme.
"O que foi aquilo?" Jeremy grunhe de braços cruzados, tentando me intimidar com seus músculos definidos pela camisa social azul que ele usa. "Você ficou maluca, Melissa Salvatore!? Nessa hora todo mundo já deve estar comentado sobre essa... loucura."
"Não surta, Jeremy." Bato em seu ombro e ganho uma revirada de olhos. "Isso servirá para espantar esses urubus que ficam nos cercando. E olha pelo lado positivo: agora namora uma loira natural, maravilhosamente linda e inteligente."
Ele arqueia as sobrancelhas em descrença e descruza os bracos apenas para bagunçar ainda mais os cabelos castanhos.
"Espero que isso não me traga problemas, Melissa. Só espero."
Desde que cheguei, sou completamente ignorada por Murilo. Suas respostas são secas e ele não larga aquele livro de forma alguma.
"Pode diminuir o volume da TV, Melissa?" Ele pede sem me olhar e finjo que não o escuto. "Você é surda por acaso?"
Escuto a cadeira ser arrastada e pisadas fortes contra o piso. Murilo pega o controle sobre a mesinha e desliga a televisão. Seus olhos escuros e frios se voltam para mim e não entendo a razão de tanto mau-humor.
"Que história é esse de namoro com o Gilbert?" Encolho-me diante de sua raiva e Murilo se afasta respirando fundo várias vezes. "Você beijou aquele imbecil, Melissa?"
"Não significou nada. É só uma brincadeira para que nos deixem em paz." Murilo cruza os braços e sua mandíbula está contraída. Sua raiva é palpável e respiro fundo antes de levantar e me aproximar dele. "Eu não sinto nada além de amor fraternal pelo Jeremy, que aliás, é completamente apaixonado pela afilhada de meus pais. Só fiz e inventei essa mentirinha para calar a boca daquela fofoqueira da Stephany." Fico nas pontas dos pés e passo meus braços pelo pescoço de Murilo. "Eu amo você. É o homem da minha vida. O único com quem desejo casar e ter dois casais de filhos."
"Eu não gosto nada dessa sua amizade com o Gilbert. Tenho medo que um dia veja que ele é melhor que eu, e me troque por ele." Seus braços fortes me envolvem e Murilo me encara sério. "Eu não sei o que fez comigo, mas nunca senti por mulher alguma o que sinto por você. Esses ciúmes absurdos, o medo de perdê-la, a saudade quando estamos longe."
"E eu fico feliz que sinta isso só por mim." Puxo sua cabeça para baixo e encosto nossos lábios. "Não precisa ter ciúmes porque o meu coração é somente seu e nenhum outro homem ocupará o lugar que lhe pertence."
"Assim eu espero, Melissa."
Murilo acaricia minha boca com a sua antes de sugar lentamente meu lábio inferior, arrancando-me um suspiro baixo. Sua língua se encontra com a minha e iniciamos um longo beijo, que me enche de desejo.
A boca quente deixa a minha e planta uma trilha de beijos por meu queixo e pescoço. Ele abre o zíper do meu vestido e em um piscar de olhos estou apenas de roupa íntima. Puxo a camisa que ele usa e Murilo se afasta para tirá-la e faz o mesmo com a calça.
Ele me puxa para seus braços e sua boca volta a atacar a minha. Estou tão envolvida por seus toques e carícias, que apenas sei que estamos no quarto, quando deito no colchão macio e o corpo de Murilo cobre o meu.
Fecho os olhos quando nos tornamos apenas um, sentindo-me completa por estar com o homem da minha vida.
Cada movimento, carícia, palavras sussurradas e beijos de Murilo acendem todas as terminações nervosas de meu corpo e de meu coração.
"Eu... amo... você, baby." Ele diz entre gemidos e acelera os movimentos. "Inferno! Eu a amo!"
"Eu... também te amo!" Aperto as pernas em torno de Murilo quando sinto o conhecido calor me percorrer por inteiro, deixando-me completamente fora de órbita.
Um sorriso se desenha em minha boca e abraço Murilo quando seu corpo grande e suado desaba sobre o meu.
Porque eu sei que é amor
Eu não peço nada em troca
Porque eu sei que é amor
Eu não peço nenhuma prova
Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui agora
Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir embora
Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
Eu peço somente
O que eu puder dar
Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
Eu peço somente
O que eu puder dar
Porque eu sei que é amor
Sei que cada palavra importa
Porque eu sei que é amor
Sei que só há uma resposta
Mesmo sem porquê eu te trago aqui
O amor está aqui comigo
Mesmo sem porquê eu te levo assim
O amor está em mim mais vivo
(Titãs)
Esse aí é o Murilo Fernández: