Lua cheia…
Ela vem durante todo o mês, mas Katharyna não lembra-se da última. Provavelmente estava inconveniente. Mas a penúltima… com certeza ela lembra.
Tentou sacrificar-se para salvar seu povo. É que diz e é o que todos acreditam. Mas não…
Não mais aguentava viver uma vida inútil. Sempre regras e normas contra ela; uma mulher. A neta da bruxa…
Kathe Demarttel. Sua avó é quem protegia sua pureza e impedia casamentos arranjados. Mas tudo chegava ao seu limite. Katharyna passou a ser exigida como esposa.
Foi quando eles vieram…
Na lua cheia onde ela preferia morrer a continuar viva de forma tão abusiva. Sua alma não suportava a vida.
E agora, daqui a cinco dias, uma nova lua cheia irá surgir.
Tempo passou-se desde que o Supremo quebrou seu nariz. Ainda dói, mas está recuperada. A substância verde cremosa que as curandeiras depositaram sobre sua pele ajudaram a conter o sangramento e a acelerar o processo de cura. Mas Katharyna evita a todo custo tocá-lo.
Pela manhã, foi tirado as folhas do local que ainda permanece levemente avermelhado. Parece que estava resfriada.
E talvez estivesse. O frio vem aumentado. Ela detesta frio. Mas naquele dia, o sol havia saído e brilhava afora.
Dias ficando quieta e comportada a deixou inquieta quando o castelo ganhou movimentação. Escravas andavam de um lado para o outro. O barulho constante a deixa tentada a espiar.
Imagina que as mulheres estejam zangadas por não poderem dormir. Mas ao abrir a porta e passar a cabeça por ela, as viu acordada e bem ativa. Estavam compactuando com toda a barulheira.
— Ei! — Katharyna não resistiu ao chamar uma das humanas que andava pelo lugar. Ela carregava com sigo uma cortina vermelha completamente rasgada e virou-se para quem a chamava. — O que está acontecendo?
— A limpeza do castelo, minha senhora. — Uma das escravas a chama com urgência. — Com licença.
Limpeza do castelo…
Realmente lembra-se do castelo sujo, algo que a fazia querer revirar os olhos visto que ela tem ser obrigada a entrar em uma banheira cheia de água todo dia. Contudo, algo a mais chama sua atenção. Os lhycans mantém atividade durante a noite. Ainda é dia.
Katharyna entra no quarto e fica escutando os estrondos e barulhos. Ela escuta ordens e sons de móveis quebrados. Parece mais que o castelo está sendo vandalizado do que limpado.
Assim, quando o ápice do dia chega, Katharyna não resiste e passa pela porta do modo mais sorrateiro que consegue. E logo ela se vê dentro de uma feira. Escravos vem e vão de todos os lados. Com eles, carregam desde quadros quebrados, mesas, cadeiras, madeiras e pedras.
Ela logo percebe que sua presença é ignorada. É fácil distinguir os escravos dos guardas. Os humanos são muito menos intimidade com a magreza e o fedor do que os lhycans.
O cheiro humano sempre foi assim?
E ambos os ignoram. A humana é a única que não é escrava e tem permissão para perambular livremente pelo local.
E assim faz.
Ela desce a escada pelos andares abaixo reparando que tudo está sendo tirado do castelo. Como se estivessem sendo vendido. Quadros da realeza e até mesmo cortina. Móveis grandes são quebrados. Os pequenos são retirados.
Entre um ou outro andar, Katharyna descansa. Repara que não foi impedida de ir tão longe. É como uma mosca em meio a uma feira. Ela não sabia onde estava quando continuou a descer.
Katharyna pode andar apenas onde há iluminação. Todo o castelo está iluminado.
Porém isso permite a ela ver o que a escuridão escondia.
Sangue…
Katharyna andou até encontrar sangue. Paredes manchadas, órgãos espalhado pelo chão e corpos em decomposição. Moscas permanecem no lugar e o cheiro a enoja.
Seu estômago se contorce e ela sente-se tonta. Imediatamente ela vira-se para não vomitar.
— Katharyna? — Uma voz familiar chama sua atenção.
É Lúcios. Um dos filhos do líder de sua aldeia. Seu maior pretendente a casamento e, por tanto, seu noivo.
Katharyna o encara.
O homem que deve estar entre seus 34 anos está sujo de sangue. Está sem camisa e tem todos seus músculos expostos onde permite a mulher compará-lo com o Alpha.
Lúcios é alto. Não tão alto quanto o Supremo, mas é alto. Era um caçador de sua aldeia e tem físico definido embora estivesse levemente acima do peso. Devido o trabalho escravo parece ter ganhado mais corpo, contudo, o cheiro é repugnante.
É tanto que Katharyna afasta-se quando ele se aproxima.
Há pêlos no topo de seu peito e descem pelos seus músculos até encontrar o cós da calça. E estão sujos.
— Ah! Desculpe pelo meu estado. Sabe? Trabalho de homem. — Ele eleva o braço até o cabelo longo e amarrado. Katharyna observa a sua axila. Também há pelo. Nada incomum, mas está suada e o vento vindo da janela leva o odor até suas narinas. Ela prende a respiração. — Onde você estava? Está bem?
Ele tenta aproximar-se. Katharyna afasta-se. Repara em seu braço. Talvez as veias de sua mão até o antebraço seja a única coisa que lembra o Alpha. De resto, é completamente oposto.
— E-Estou. — Ela olha seu rosto. Cabelos e olhos castanhos escuros. Sem barba e linhas severas de expressão. Grandes olheiras e um queixo afinado. Nem de longe é tão bonito quanto o Supremo. — E-Eu sou mantida aqui.
— Pelo rei? — Katharyna acessante, apreensiva.
Seu coração congela ao relembrar que ele sabe de tudo no castelo. Ela percebe que ninguém chamou Lúcios de volta ao trabalho e instintivamente afasta-se.
— Não se preocupe, Katharyna. Vou tirar-la daqui. Só precisamos… — Antes que ele diga mais alguma coisa, ela corre.
Ouve-o chama-la a distância e olha para trás. Um guarda o colocou de volta em seu lugar para remover os corpos do lugar. O mesmo homem a encara e como todos os outros, ignora.
Não…
Não é possível que tenham permitido ele falar com ela. Ele sabe de tudo.
Katharyna já estava no térreo e reparou nisso quando chegou no jardim. O sol quente esquentou sua pele e ardeu seus olhos. Ela sentiu-se tonta e totalmente cega. Levou sua mão até seus olhos e tentou simular uma sombra.
Desse modo chegou até os portões. Lá, esbarrou-se num escravista com chicote. O mesmo a empurra e levanta o açoite. Katharyna vai ao chão assustada
— O que faz fora de seu posto, sua… — Ele se Interrompe. Encara o castelo e fica quieto. Logo, vira-se para os demais guardas e profere palavras em seu idioma materno. Palavras que nem em sonhos Katharyna conseguiria entender.
E como todos os outros, ignora a presença da humana. Com o coração na boca, ela rasteja para longe dele e logo corre para longe do castelo.
Ela passa pela cidade onde escravos são açoitados, mulheres são estupradas a vista e crianças são devoradas completamente atordoada. Ela tropeça e cai em uma poça de sangue. Uma cabeça humana permanece embaixo dela sendo devorada por vermes. É inevitável não observar aquele volume de criaturas brancas devorando a bochecha. Katharyna grita.
E logo volta a correr. A cena a sua frente a deixa atordoada. Ela corre até suas pernas doerem e implorar por descanso. Mas não para. E assim adentra a floresta seguindo muito além da trilha.
Ela tropeça, faz menção de cair várias vezes. Sente seu peito arder e a falta de ar. Seus músculos implora por descaso mas ela não para.
Ela atravessa as árvores e os arbustos até sua perna perder completamente o equilíbrio e a gravidade puxa-la ao chão de uma clareira florida.
Seu peito dói. Ela o aperta com falta de ar. Lágrimas saem de seus olhos e completamente desesperada ela tenta respirar. Mas a dor aguda ainda continua.
Seu corpo inteiro treme e o gosto ácido permanece na sua boca. A dor do peito continua a aumentar, mais e mais.
É o início de um ataque cardíaco.
Ela tosse em busca de fôlego. Mas seu coração bate rápido de mais. Sua pulsação sobe e a dor fica cada vez mais aguda.
Sua visão vai ficando turva. Ela não mais conseguia respirar e, para piorar, fica nervosa com a cena a sua frente.
Uma movimentação a frente parece o rastro de esperança. Mas ao fazer barulho, Katharyna percebe ser um predador. Um urso pardo. O animal estava alimentando-se do cadáver de uma criança. Ela estava aberta e seus órgãos internos arrancados. Mas quando o olhos do urso caiu sobre ela…
Pelos céus!
Ele levantou-se apoiando em suas patas traseiras. Katharyna geme com a dor no peito. E sua expressão itinga o predador a atacar.
Maldita hora que foi sair do quarto!
O predador corre em sua direção.