Não me TOC [COMPLETO]

By MadduNyah

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Adams Sales é um renomado modelo da grande São Paulo, filho de um dos principais nomes da indústria da moda... More

Aviso de Gatilho - CVV [Importante]
Capítulo 1 - Não me VEJA
Capítulo 2 - Não me LEMBRE
Capítulo 3 - Não me DESCUBRA
Capítulo 4 - Não me ESQUEÇA
Capítulo 5 - Não me AME
Capítulo 6 - Não me CONTE
I - Divórcio (Especial de 5k)
Capítulo 7 - Não me DEIXE
Capítulo 8 - Não me ABANDONE
Capítulo 9 - Não me CHAME
Capítulo 10 - Não me QUESTIONE
Capítulo 11 - Não me SALVE
Capítulo 12 - Não me ALEGRE
Capítulo 13 - Não me PROTEJA
II - Matrimônio
Capítulo 14 - Não me ESCONDA
Capítulo 15 - Não me OLHE
Capítulo 17 - Não me PARABENIZE
Capítulo 18 - Não me ASSOMBRE
Capítulo 19 - Não me DIGA
Capítulo 20 (Parte 1) - Não me CULPE
Capítulo 20 (Parte 2) - Não nos CULPE
Extra de 11K!
Capítulo 21 (FINAL) - Não me TOQUE
Agradecimentos
LIVRO FÍSICO - Apenas viva sem Mim + DESCONTO
Olá, eu sou a Madu! + FÍSICO

Capítulo 16 - Não me JULGUE

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By MadduNyah


AVISO DE (que talvez não tenha) GATILHO.
O capítulo a seguir está relativamente leve.
O aviso acima é só para vocês relembrarem que "Não me TOC" ainda lida com transtornos psicológicos.

Obrigada pela atenção,
Boa Leitura!

-------------

Observou-se no espelho.

Há quanto tempo estava em pé na frente daquele reflexo distorcido?

Os traços, que um dia foram tão familiares, pareciam ser de outra pessoa, como se pertencessem a um passado distante — mesmo que tenha ocorrido há poucos meses. Caso lhe pedissem para recitar o que enxergava, sentiria dificuldade em definir com palavras e acabaria por optar pelo termo "inexistente". O que já foi reconfortante, soava apenas cansativo. Os mimos da adolescência que levava consigo na esperança de retornar a ser quem foi um dia não faziam mais tanto sentido.

Era como se apenas de não ter caminho de volta, permanecesse observando um mapa.

Ninguém deveria viver em uma prisão feita de memórias, lembranças e de passado. Se existia algo que sabia — e sabia de diversas coisas, inclusive, chegou a ser a melhor aluna de sua classe diversas vezes — , esse algo era que se é preciso cortar alguns laços antigos para se construir novos, é preciso destruir tudo que lhe prende, todas as amarras, é preciso desmontar velhos conceitos para se reconstruir como uma nova pessoa.

Quando tudo parece perder o sentido, é preciso começar do zero.

Um dia, quando mais nova, pintou o cabelo para se relembrar dos seus desejos, em meio a todas aquelas pessoas diferentes, queria poder se destacar em algo e ao mesmo tempo permanecer a mesma, o tom rosa lhe caia bem. Compaixão, ternura, feminilidade, empatia. Características que sempre foram suas e, mesmo o termo feminilidade — agora, já tão antiquado — , parecia simpático na época. Achava interessante a sua capacidade de permanecer com os atributos impostos pela sociedade e ao mesmo tempo manter os que impôs para si, não queria que sua força fosse apagada pela sua imagem ou vice-versa. Queria ser bonita e capaz, inteligente e interessante, não queria abdicar de nenhum de seus lados — entre vaidade e capacidade, tinha decidido escolher os dois.

Por mais difícil que tudo isso fosse.

Quem sabe foi esse o motivo de manter a cor por tanto tempo, para relembrá-la de todo o esforço que fez para chegar até onde chegou. Para relembrá-la que, independente do que a vida tinha feito, ainda carregava consigo a ternura, carregava o desejo de não deixar de ser quem um dia foi, mesmo que em forma de cor.

Por que aquele seu rosto, que por muito tempo lhe fora agradável, parecia tão ridículo?

Por que não conseguia sentir o mesmo afeto de antes por tudo aquilo? Por que estava cercada de tantas dúvidas? Não era um modo de agir, falar ou pintar o cabelo que a definiria como uma boa ou uma má mãe, então, por que estava tão receosa?

Por que a tesoura, que por muito tempo a assustou, parecia tão interessante?

Mulheres são moldadas pela sociedade para corresponder aos estereótipos padrões, independente do que tivesse feito em sua vida, permanecia sendo uma mulher nos olhos da sociedade. Não importava seus feitos, o que importava era como estava o casamento, como manter o cabelo sedoso e o porquê de suas unhas não estarem feitas.

Ser mulher é permanecer lutando para não se deixar ser modificada, todos os dias.

Só que lutar cansa.

Lutar em um ambiente hostil cansa mais ainda.

Em todos os lugares seria assim, é claro. Só que não sabia se tinha a mesma força das outras pessoas — das outras estilistas — e, ao mesmo tempo, não queria ser fraca a ponto de deixar se esvair. Queria ter seu estilo, sua forma de pensar, queria tentar e isso tudo parecia ser ainda mais complicado com o passar do tempo. O mercado de trabalho soava de forma rigorosa e ridícula, comporte-se como uma dama ou esteja fora dele.

Roupas, beleza, peso, tudo deveria ser padronizado. Detestava tanto aquelas coisas que já não se lembrava por que um dia quis entrar naquele rumo, apesar de que não sonhava com o termo arrependimento. Não, eram ossos do ofício, pequenas tristezas que deveria acatar e superar para alcançar o seu objetivo.

A moda era uma parte de si, trabalhar com aquilo era seu sonho e estava realizando-o — mesmo que aos poucos — , não tinha direito de reclamar. Um pouco mais de esforço, só mais um pouco, e poderia ter tanta liberdade quanto as suas superiores.

Ser tão respeitada e livre quanto sonhou ser.

Fechou os olhos. Não queria olhar para frente, não queria se ver.

É que não queria estragar a imagem daquela menina que um dia foi — não, sua antiga eu era bonita, interessante, sabia lidar com os problemas e achava as coisas bem mais simples. Não, sua antiga eu não estaria chorando de frente ao espelho por simplesmente não poder descolorir um cabelo para pintar de novo.

Ela já teria ido ao shopping, comprado alguma coisa e jogado no cabelo para manter a cor. Costumava ser mais esperta no passado, adultos costumam fazer tempestades em copos de água — adolescentes também, mas isso não vinha ao caso.

Ao mesmo tempo, adolescentes não precisavam se importar com todas as outras coisas — o julgamento sobre ser uma boa mãe nunca existiu na sua adolescência — , eles não ligam para o quão longe seus pés estão do chão e quem sabe seja por isso que consigam dar saltos tão altos.

Quem sabe seja por isso que conseguem voar.

Agora que pensava sobre o que tinha conquistado até então, notou que quase tudo foi por mérito da personalidade sonhadora que possuiu um dia, não fosse por seu passado, nunca teria alcançado coisas como: o estágio na Sales, a bolsa de estudos em Paris ou Luan.

Nunca teria chegado a lugar nenhum.

Adolescentes não pensam se algo é impossível ou trará consequências, são impulsivos, apenas fazem e deixam que o tempo entregue o que tiver que entregar. Julgamentos dos adultos? Isso era a típica coisa da qual eles costumavam rir e escrever algum texto da internet sobre se aceitar como é. Adolescentes podem ser cruéis e terem mentes de adultos, claro, já tinha sido uma, só que não era algo que os definisse. Ou, pelo menos, não definiu a sua fase.

Preferia acreditar que isso era uma regra e não um privilégio.

E com isso, queria dizer o fato de que estava, quase sempre, mais preocupada em ser aceita no seu grupinho do que pelo mundo em geral — talvez fosse por isso que tudo ficasse mais difícil à medida que os anos passavam. Adultos precisam agradar o seu grupinho, o mundo e, se sobrar tempo, veem o que podem fazer por si.

Ela era uma adulta agora.

Tudo bem que isso não significava que estava limitada, mas significava apenas assumir que, por mais que não se queira fazer algumas coisas e até se possa optar por não fazer, tinha a responsabilidade fazer o que é certo. E, algumas vezes, as opções menos agradáveis são as que devem ser tomadas.

Ser adulto é fazer algo que você não quer, que não te faz bem nem sorrir.

Porque alguém, algum dia, em algum momento, definiu que isso deveria ser feito.

Sentia falta da adolescente que mandaria esse alguém ir para um lugar tão horrível quanto o estado das suas mechas. Sabia que tinha que crescer, todos devem crescer um dia. Só não sabia definir o que era crescer ou como se fazia para atingir essa maturidade que todos diziam possuir.

As palavras do cunhado martelavam em sua cabeça:

Agora só tem que deixar a infantilidade de lado e abandonar essas mechas, não é?

Luan tinha brigado com o irmão, é claro, todavia o estrago já estava feito e todas as inseguranças que tentava esconder tinham sido libertas, ver a sogra comentando algo sobre como é ser mãe não ajudou em nada.

Alguns cortes não podem ser ignorados e, independentemente do quão metafóricos eles sejam, suas marcas permanecem visíveis na alma dos que os levam, obrigando estes a moldarem completamente quem são na esperança de minimizá-los — ou ignorálos — , na esperança de escondê-los.

Fugir do que se teme é uma opção tão temporária que não deveria ser ao menos considerada, principalmente, quando se é impossível. Não é possível esconder uma pessoa dela mesma. A mente é um lar que nunca pode ser abandonado — é um cativeiro.

Então, por que todos estão sempre tentando fugir? Por que todos estão sempre evitando se olhar no espelho? Isso não era algo infantil?

Por que ela mesma estava escolhendo se adaptar, em vez de enfrentar? De tentar o novo? Não era para isso que as pessoas viravam estilistas? Para tentar modificar o que um dia foi feito? Por que crescer parecia tão imaturo?

Adultos sabem o preço dos seus erros, por isso os evitam.

Se por um lado isso é bom, por outro é horrível.

Ninguém deveria viver com medo de errar.

Queria cortar o medo, os desejos, as expectativas, cortar aquela mulher insegura que agora era. Queria ser a junção dos melhores traços de sua adolescência e da maturidade que os anos haviam proporcionado. Só que não podia. Pelo menos, não enxergava um meio de poder.

No fim, cortou a parte de si que carregava em tons de rosa. Em vez de cortar quem era, cortou quem foi.

Pensava no porquê do verbo abdicar vir sempre seguido do termo doloroso.

Ainda tinha tempo de voltar atrás e simplesmente abandonar tudo, seguir as coisas da forma que queria e enfrentar o que tivesse que enfrentar, poderia se livrar de tudo aquilo, quem é que estava dizendo a ela que existia era algo impossível? Todos costumam fazer mudanças bruscas em períodos bruscos, todos desejam mudar algo em si mesmo e todos, em algum momento, acabam fazendo.

No fim, todos querem ficar livre dos medos e das angústias, livres de qualquer coisa.

Porém, todos tinham que admitir: ficar livre era assustador.

Porque dava a impressão de não saber exatamente com quem está, se está com alguém e se esse alguém é o outro ou ele mesmo, é começar do zero, e começar do zero sempre parece algo assustador.

É responsabilidade da decepção, das quedas, dos medos, das angústias e das dificuldades formar a personalidade daqueles que as possuem. Quando apagasse tudo aquilo, apagaria também a sua personalidade? Quando evitasse se decepcionar, também estaria evitando amadurecer? Talvez, o motivo das pessoas desejarem mudar sua aparência quando chegam na idade adulta é que fugir do reflexo era mais simples do que fugir da consciência.

É porque olhar para quem era e ver o que se tornou é algo constrangedor.

Agora, com tantas mudanças ocorrendo em sua vida, seria capaz de se manter em pé? O que havia restado de si? Ainda se lembraria de buscar a ternura? Poderia ser só um cabelo para a maioria das pessoas, mas ainda era o seu cabelo, ainda era o seu reflexo e aquilo tinha sido uma escolha sua. Sentir raiva daquilo que por tanto tempo a definiu significava sentir raiva de si? Significava arrependimento?

Não sabia.

Não poderia saber.

Ao cortar o cabelo naquela madrugada que já anunciava o dia 26, desejou — suplicou — que cada fio jogado no chão levasse uma lembrança junto, que isso significasse um fim na antiga Marina, tão impulsiva e indecisa.

Ao mesmo tempo que rogou aos céus para isso não ser mais um de seus erros, para não destruir tudo que batalhou tanto para construir — não destruir a si mesma e, caso isso viesse a ocorrer, que fosse capaz de juntar bloco por bloco.

Rogou por resiliência.

E que o salão abrisse ao amanhecer, precisava urgentemente igualar as pontas.


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Oi! Tudo bem?

Eu espero que estejam gostando da história. Não se esqueçam de comentar (e curtir, caso queiram) sobre suas opiniões, eu agradeceria se fosse possível.
Obrigada pela atenção.

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