Butterfly

By FleurDeDruitt

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Fleur, uma garota de dezesseis anos com um passado obscuro e vergonhoso, acaba cruzando seu caminho com o Con... More

Prólogo: Na teia da Aranha

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By FleurDeDruitt

   O som dos passos apressados sobre as folhas secas e galhos quebrados parecia sumir, enquanto a chuva aumentava sua intensidade. O vestido de tecido grosso começava a ficar ensopado, dificultando a corrida. A garota corria como se sua vida dependesse disso, e dependia, na verdade.

   Por um momento, naquela mata fechada e úmida, tropeçou em seu vestido, caindo e rolando morro abaixo, onde daria em uma estrada. Sua perna ardia e as lágrimas começavam a brotar de seus olhos. Os latidos dos cães não eram mais ouvidos por si, apenas relinchos insistentes.

   Usou um pouco de força para enxergar a visão embaçada de algo luminoso em sua frente. As únicas coisas que conseguia distinguir eram cavalos e um cocheiro. Sua respiração estava entrecortada, e sentia-se cansada demais para fazer algo. Então apenas desmaiou.

   Seus olhos se abriram devagar, e então finalmente conseguiu visualizar algo. Um teto branco, decorado com pequenos e delicados desenhos. Seus olhos se arregalaram, dando-se conta da grandiosidade do ambiente. Rapidamente sentou-se, sentindo sua garganta seca. Seu corpo repousava sobre uma cama grande, de seda. Vestia apenas uma camisola, deixando-a mais leve.

   Não pode ser, pensou. Ele deve ter me encontrado e...

   Seus pensamentos foram interrompidos quando visualizou uma mulher de pele morena, longos cabelos trançados platinados e olhos violetas, sair pela porta do quarto, deixando-a ainda mais confusa.

— O-Onde estou? — Perguntou a si mesma, olhando o quarto. Tirou o lençol de cima de si e levantou-se, sentindo a ardência de antes da perna. Havia um corte, porém não sangrava, como se tivesse sido cuidado há um tempo. Andou com dificuldade até a janela do quarto, tentando olhar algo do lado de fora. Porém, o temporal não permitia. — Ele não pode ter me achado...não pode. — Dizia a si mesma, com medo. Nem percebeu quando a porta foi novamente aberta.

— Ele quem? — Virou-se rapidamente, encarando a pessoa que havia entrado no cômodo. Era um garoto jovem, porém, aparentava ser mais velho do que ela. Vestia uma roupa um tanto extravagante e usava botas. Os fios loiros em sua cabeça contrastavam com seus intensos olhos azuis. Deu um sorriso ladino. — Vejo que acordou.

— Q...Quem é você? — Perguntou, dando um passo para trás, encostando-se na janela. Agradeceu aos céus por aquela camisola cobrir seu braço até o cotovelo e por sua barra ir até os joelhos. — Como me achou?

   O loiro pareceu medí-la de cima a baixo, como se quisesse disseca-la aos poucos. Sua expressão mudou para um sorriso. — Não foi difícil sabe, você caiu na frente da minha carruagem. O que foi um tanto quanto rude. — Começou a andar na direção da menina, que mantinha seu olhar fixo ao do garoto. Estava com medo, muito medo. Mas tinha que admitir que ele era bonito, e tinha um olhar hipnotizante. Quando se deu conta, estavam a uma distância mínima. — Você tem belos olhos.

   Comentou, fazendo com que ela arfasse com a audácia do garoto. Sentia seu sangue subir às bochechas, ficando corada. Ele riu.

— Eu...— Tentou formular alguma frase, mas simplesmente não conseguia. — tenho que ir embora.

— Você não vai a lugar algum. — Disse, mudando a expressão rapidamente. O sorriso encantador que ela havia presenciado antes, se transformou em uma carranca. — Eu te achei. Você é minha.

— Eu não sou uma coisa, milorde. — Falou. — Não pode me tratar como tal.

   Repentinamente sentiu um forte aperto em seu braço, fazendo-a grunhir de dor. — Você não tem que escolher nada. Caiu em frente à minha carruagem como um trapo velho, e me fez trazê-la até minha mansão. Acha que tem algum direito de me responder?

   Ela pensou em rebater, dizendo que sua liberdade não estava a venda. Pensou em tentar fugir, até pular da janela, se conseguisse quebrar o vidro, mas desistiu de todas as ideias. Aquele garoto aparentava ter um sério desvio de personalidade, e seu olhar era predatório e dissimulado. O que a fez tremer de medo.

— Não — Sussurrou. — Me desculpe...

   Seu olhar suavizou aos poucos, e ela agradeceu mentalmente quando ele a soltou. Ela encarava o chão, tentando não demonstrar o pavor que sentia. Ele então bateu as mãos, dando uma risada. Ela o encarou, confusa, como se ele fosse algum louco.

— Qual o seu nome?

— F-Fleur, milorde. — Tentou soar calma.

— Não precisa de formalidades. — Ele abanou a mão, torcendo a boca. — Pode me chamar apenas de Alois.

— Está bem, Alois.

   Alois a mirava com intensidade, como se, caso, piscasse uma única vez, ela fosse desaparecer diante de seus olhos. Ele não mentira quando elogiou seus olhos, afinal, eram mesmo belos. Grandes e castanhos. Os seus eram azuis como o gelo, e sujos, como em outrora haviam lhe dito.

   Aqueles olhos castanhos e expressivos eram como os de Luka, e ele iria mantê-los por perto.

   Moveu uma das mãos até os cabelos de Fleur, pegando uma mecha loura entre os dedos esguios. Ela pareceu surpresa, mas apenas continuou olhando para ele. — Pobrezinha, — Comentou. — está mesmo um pano velho. — Soltou repentidamente seu cabelo e andou até o meio do quarto. — Hannah!

   A mulher de antes entrou no cômodo, chamando a atenção de Fleur. Pôde vê-la melhor. Sua pele era morena, dourada. O único olho descoberto era de um violeta lindo, e seu cabelo era trançado, da cor platina. Era linda aos olhos da menina. Vestia uma roupa clássica de empregada, e mantinha um olhar melancólico na face.

— Sim, your highness? — Fez uma reverência diante de Alois.

— Dê um banho em Fleur, ela será nossa convidada. Quero-a limpa e cheirosa. — A menina sentiu seu rosto formigar, ao ouvir tais palaveas saírem da boca do loiro. — Do contrário, já sabe.

   Suas últimas palavras foram firmes e frias, fazendo Fleur sentir pena da mulher.

— Sim, your highness.

   O loiro saiu do quarto, e Hannah fechou a porta. Virou-se para a menina e forçou um sorriso. — Não se preocupe. Eu pus esta camisola em você. Creio que não conseguiria respirar muito bem com ela, e a cama ficaria ensopada.

   Assentiu para ela, agradecendo. Hannah não parecia ser uma mulher de muitas palavras, afinal, a única coisa que fez depois daquilo foi guiar Fleur até o banheiro e ajudá-la a se despir. Hesitante, a menina deixou que a empregada erguesse sua camisola, deixando seu corpo exposto para si.

   Os hematomas e algumas cicatrizes eram visíveis para a mais velha, que apenas tentou ignorar aquilo e aquecer a água. Após isso, Fleur entrou na banheira e deixou que Hannah lavasse seus cabelos. Estavam sujos, com algumas folhas.

— O...Obrigada pelo curativo. — Disse, não tendo resposta da mulher atrás de si. Queria perguntar a ela sobre o curativo que usava no olho, mas achava que seria um tanto quanto indelicado se o fizesse.

   Depois de estar devidamente limpa, a empregada ajudou a secá-la, bem, apenas os cabelos. Aliás, Fleur tinha longos cabelos loiros que iam até suas costas. Gostava deles pois escondiam bem seus machucados.

— Direi ao mestre que já está pronta. — Hannah falou, após terminar de fechar os botões na parte de trás do vestido leve para dormir. Antes que se afastasse, Fleur segurou seu braço.

— Por favor, não o chame. — Pediu. Então recebeu um olhar tristonho da empregada. — Eu não me sinto bem com ele.

— Sinto muito.

   E então se retirou, com um breve aceno de cabeça. A menina suspirou, tendo em mente que não aguentaria mais isso. Precisava escapar, e rápido. Pensou em pular da janela, mas quando a abriu, uma forte brisa de vento entrou no quarto, apagando as velas que estavam nele. Ah, ótimo, pensou. Grande gênio você, Fleur.

   A menina nunca foi muito fã do escuro, e aquele quarto não ajudava muito. Resolveu então sair do cômodo, indo até o corredor que ainda tinha castiçais nas paredes. O corredor era extenso, com papel de parede em vermelho e dourado. Fleur podia ver algumas teias perto do teto, o que a fez arrepiar-se de medo. Se havia algo que temia, eram insetos. Principalmente aranhas.

   Do nada, ao se aproximar de uma das janelas que davam aos jardins, um forte vento entrou. E as velas de apagaram em cadeia. O vento uivava, e os galhos de árvores refletidas pela luz da lua criavam sombras medonhas nos corredores. Fleur suspirou e continuou andando, teria que encontrar uma saída.

   Pular não era uma opção. Estava no quarto andar e uma queda na grama poderia ser mortal, ou no mínimo resultaria em ossos quebrados. Por isso continuou sua busca pela escada.

   De repente, um grito esganiçado foi ouvido por si. Estacou no lugar, tendo em mente de que estava próximo. Alois? Perguntou-se mentalmente. Resolveu seguir o som, afinal, não tinha muitas opções.

   Quando finalmente chegou à uma porta enorme, pôde ouvir um choro. Abriu as estruturas, vendo um corpo ajoelhado no meio do enorme salão. Os trovões e relâmpagos o fazia tremer e abraçar ainda mais o corpo trêmulo. Apesar de estar escuro, os flashes de luz que adentravam o local foram o suficiente para Fleur se dar conta de que era Alois.

— Alois...— Chamou baixo, tendo sua voz silenciada por um alto trovão. — Alois! — Chamou mais alto.

— Fleur, é você? — A garota se surpreendeu ao ver aquela cena. O garoto que antes parecia tão amedrontador e sádico, agora estava se comportando como uma criança medrosa.

— Sim, sou eu. O que voc-- — As palavras morreram em sua boca quando sentiu os braços do loiro contornarem suas pernas, agarrando-as. Com o susto, acabou caindo de joelhos, apoiando as mãos nos ombros do loiro. — Hey, A-Alois!

   Ele a abraçava com força, como se sua vida dependesse daquilo. — Faça parar...— Algumas lágrimas escapavam dos olhos azuis. — Claude!

   E como mágica, um clarão iluminou o salão. As velas estavam novamente acesas, e na mesma porta da qual Fleur usou para entrar, um mordomo muito bem trajado estava parado. Encarando-os. — Your Highness. — Disse, ajeitando os óculos.

   Repentinamente o loiro soltou-se de Fleur, deixando-a ali, estática no chão. Ela olhou na direção que ele havia ido, e o encontrou abraçando o mordomo, que parecia totalmente indiferente quanto ao garoto.

— Ah, Claude, muito obrigado! — Disse, com uma cara sentida. — Eu não sei o que seria de mim sem você.

   Fleur franziu o cenho, desacreditada da cena que acabara de presenciar. Na verdade, estava embasbacada de tudo o que aconteceu desde que acordou nesse lugar. Queria dizer algo, mas não sabia o quê.

— Fleur, o que está fazendo no chão?— O loiro disse em um tom zombeteiro, colocando a língua para fora. — Não é um tapete.

  A garota entreabriu os lábios, tentando formular alguma frase. — Você que me puxou.

— Por que eu faria isso?

   Ela revirou os olhos, levantando-se. — Esqueça. — Passou a mão pelo vestido. — Estou indo para meu quarto. Vejo que o problema com as luzes já foi...resolvido.

   Olhou para o estranho homem de cabelos negros e olhos dourados. Estranho. Como ele conseguiu acender tudo tão rápido? Perguntava-se. Foi então que o loiro sorriu, com um sorriso largo.

— Sim. — Disse, cruzando os braços. — Vamos para meu quarto.

— O-O que? — Quase gritou, espantada. — Por quê?

— Porque eu quero. — Fechou a cara, deixando Fleur sem opções. Andou até ela e agarrou seu pulso. — Vamos.

   A menina era arrastada pelo loiro até os corredores, tendo aquele mordomo em seu encalço. Ele estava quieto, o que dava certo medo nela. Quando finalmente, e infelizmente, chegaram ao quarto, Fleur tentou parecer calma, parando perto da parede.

   Ouviu o loiro falar algo do lado de fora e então ele fechou a porta. Cantarolando, andou até a enorme cama e se sentou, olhando para Fleur, que parecia fugir de qualquer contato visual. Isso o irritava.

— Vamos. — Dizia, balançando as pernas para fora da cama. — Não vai me ajudar?

— Ajudar? — Perguntou, confusa. O loiro levou as mãos até o laço próximo ao pescoço e puxou uma ponta, desfazendo-o.

— Minhas roupas não sairão sozinhas de meu corpo, sabe? — Disse, com um sorriso malicioso no rosto. Ela sentiu seu rosto queimar e colocou um braço em frente ao corpo, em forma de defesa.

— E-Eu não irei despí-lo, milorde. — Falou, virando o rosto para o lado, enquanto o loiro começava a desabotoar seu colete. De repente, ele soltou uma risada alta, surpreendendo a menina.

— Você não sabe brincar, não é? — Fleur levantou seu olhar, encarando o lorde, que a encarava com uma expressão divertida. — Brin-ca-dei-ri-nha. — Disse, colocando a língua para fora da boca.

   Fleur sentiu seu rosto queimar. Pela forma que ele usava as palavras, ou por ser enganada de forma tão tola. Mas no fim, sentiu-se agradecida por aquilo não ser verdade. No final das contas, o loiro chamou Claude, que rapidamente entrou no cômodo, e ajudou Alois a se trocar. Fleur permaneceu de costas para eles o tempo todo, até o momento que viu o mordomo sair do quarto.

— Venha, Fleur. Já estou vestido. — A menina se virou, tendo a visão do loiro com uma longa camisola branca. Com passos curtos, andou até o outro lado da cama, e sentou-se, enquanto era observada pelo loiro.

   Rapidamente se cobriu com o cobertor, só então percebendo que iriam compartilhar o mesmo. E se ele...Cortou seus próprios pensamentos rapidamente, não queria pensar que ele poderia se aproveitar dela dessa forma. Não permitiria. Afinal, fugiu para ser livre.

   Deitou e virou-se para o lado oposto ao de Alois, rezando para que o outro dormisse rapidamente. Mas após alguns minutos, sentiu uma respiração próxima à sua nuca, e prendeu a respiração, ficando estática.

Você tem um cheiro bom, Fleur. É realmente como as flores. — Podia ouvir seus sussurros. — Você já deve estar dormindo mas...eu gostaria que você ficasse. Para sempre.

   Sentiu seu sangue gelar, sem entender as palavras do garoto. Ele era realmente estranho, bipolar e instável. Ora parecia um garoto mimado e arrogante, ora parecia um bebê carente, ora parecia um adulto galanteador. Ela não conseguia compreendê-lo e, no fundo, não queria.

   Mas ela sentiu que aquelas palavras eram sinceras, de algum modo.

  

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