Essa é a história de um gato.

By FlavioRiama

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Um garoto nipo-brasileiro viveu sua infância no Japão. Mas um incidente em sua escola muda isso. Agora ele de... More

Capítulo 1 - Feliz

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By FlavioRiama

"O-KI-TE. O-KI-TE. O-KI-TE. O-KI-TE."

Argh, lá vamos nós. Um novo dia está chamando, eu acho. Estamos numa sexta-feira, de manhã. E, como sempre, acordo com o barulho do meu relógio barulhento. Comprei ele numa lojinha perto de casa. É divertido; seu formato lembra um gatinho. Se eu fizesse uma lista com todas as minhas coisas favoritas, essa estaria em quinto lugar. Eu absolutamente adoro..... exceto às sextas-feiras de manhã. Tento resistir à tentação de me aconchegar embaixo das minhas cobertas só por mais alguns minutos. Mas odeio a sensação de acordar sem escovar os dentes. Então, lá vai eu. Embriagado de sono, porém persistente. E assim inicia o meu dia.

Meu nome é Akio Nekoyama. Apesar do nome, nasci no Brasil, fato que todos acham bem inusitado por aqui. Não sei ao certo, eu já estou bem acostumado com isso. 'Aqui' seria Osaka. Pois é, sou praticamente o "japinha". Todos os meus amigos internacionais na internet dizem que morar no Japão é a melhor coisa que eu deveria me orgulhar. Mas sei lá, acho que não me sinto verdadeiramente em casa neste país. Às vezes acho que eu não queria estar aqui. Às vezes acho que eu não queria estar em lugar algum. Eu só... não sei.

O quê? Menos papo, mais ação, não é? É, desculpe-me. Não estou acostumado em ser o protagonista, sabe, isso é muita pressão para mim. A verdade seja dita, eu sou apenas um ser vivo simples e chato. A parte mais interessante sobre mim provavelmente é apenas que eu vivo no país que todos os meus amigos na internet sonham em conhecer. Esta manhã, como de costume, o cheiro de cogumelos é a primeira coisa que eu sinto ao sair da cama. Cogumelos fazem parte da dieta dos meus pais, então nossa casa... Ei! Não ria! Eu vivo com meus pais ainda, eu só tenho 13 anos. Sim, isso mesmo. Eu sou bem jovem. O problema é que, mesmo que eu tecnicamente more com os meus pais, eles praticamente nunca estão aqui. Normalmente eu tenho contato com eles à noite mas normalmente eu parece até que eu moro sozinho. Honestamente, eles parecem que me veem como um tipo de bicho de estimação que tudo o que precisa é de comida. Isso é uma merda, mas não se preocupe. Já estou acostumado. Vivo dessa forma já há alguns anos.

Começo a organizar os livros que devo levar à escola hoje enquanto como um cereal como meu café da manhã. É, às vezes sinto falta do Brasil. Quando eu estava lá, eu vivia com meu avô e minha avó. Eles nunca permitiam que eu me sentisse só dentro de casa. Aprendi a falar japonês com eles antes de vir para cá. Eles me ensinaram que minha família inteira é de japoneses que imigraram do Japão para o Brasil enquanto meus pais ainda eram crianças. Esse provavelmente é o motivo dos meus pais nunca terem se sentido em casa no Brasil. Então na primeira oportunidade que meus pais tiveram de ir para o Japão, eles agarraram e me levaram com eles.

Estudo no Academia Yoakenoyama, então normalmente tenho que acordar cedo para ir às aulas matutinas da escola. Ela é uma escola particular, uma decisão que foi muito importante para os meus pais. Eu não ligo, ela é mais próxima de casa do que a escola pública mais próxima. Apenas uma linha reta de cinco quarteirões entre a academia e a minha casa. O que é ótimo porque, embora não haja um perigo muito grande de neve, ultimamente está fazendo muito frio. Exceto o ponto onde passo ao lado de uma estação de trem próxima à escola, onde os estudantes que vivem mais afastados da escola populam as ruas, minha caminhada tende a ser bem solitária. Sempre a mesma rotina. Gosto de ouvir música no caminho da escola, normalmente são só músicas de Vocaloid. Ultimamente tenho ficado bem viciado nelas. Pensando nisso, acho que isso me faz um pouco mais feliz que meu relógio de gatinho, o que me faz acreditar que seria o item número quatro da minha lista de coisas favoritas. Eu sei bem que os cantores de Vocaloid não são reais, mas... As músicas deles são. Nunca senti antes a mesma emoção que tenho ao ouvir músicas de Vocaloid. Não é apenas o som delas, as músicas que ouço têm letras incríveis. Fazem-me sentir confortável. Costumo ouvir música bem alta, daí toda vez que me aproximo de um colega da escola, me sinto forçado a diminuir o volume e escuta-los.

Meus avós se esforçaram bastante e eu acho que eles eram ótimos professores, mas meu japonês ainda não é muito bom. Eu só nunca estive realmente muito interessado o bastante para prestar atenção. Posso entender geralmente o que as pessoas dizem, mas geralmente acabo ficando perdido. Na escola, a representante de turma me ajuda bastante, mas ela não parece realmente me notar muito. Eu não ligo muito, ela me ajuda quando peço à ela e isso é o que importa. Hoje ela está indo para a escola acompanhada de sua melhor amiga, Yamamoto-kun. Ela é bem alta e tem um cabelo curto e loiro. Sempre achei ela um tanto intimidadora, para ser honesto, e não acho que sou o único que se sente desse jeito. A representante, Ayumi Satou, não tem uma aparência que chame muito atenção tanto quanto sua amiga, mas acho que ela é mais bonita. Ela está sempre sorrindo, suas bochechas levemente avermelhadas. Assim como a maioria dos outros estudantes, ela tem o cabelo preto, mas é bem longo e sedoso. Seus olhos são negros e profundos como dois poços sem fundo. Acabo me aproximando e ficando bem atrás delas enquanto caminhamos para a entrada da escola.

– Ayumi! – a Yamamoto grita bem animada – a minha mãe disse que a gente pode passar lá em casa depois da aula de hoje!

– Legal! Então a gente passa lá hoje! – ela responde. – E-espera. Ah não! Prometi ao Nekoyama-san que eu iria ajudar ele a estudar para a prova de matemática da semana que vem!

– Droga! Esqueci que você tem que ajudar o Nekoyama-san todas as quartas e sextas. Ele é tão irritante! Por que ele não pode só voltar para aquela merda de país de onde ele veio e nos deixar em paz? Ele fica só desperdiçando o seu tempo, te obrigando a ensinar as matérias que ele deveria já ter aprendido sozinho. Ele é tão preguiçoso!

As duas riem, porém Ayumi não tão alto quanto sua amiga.

– Qual é, Momoko. – ela rebate – ele não é tão ruim assim. Desde que eu me tornei a representante da turma, é o meu dever ajudar todos os nossos colegas. Mesmo que eles sejam horríveis estudando. – as duas riem novamente.

Mesmo que eu nunca admita isso, me dói profundamente ouvir alguém falar algo assim de mim. Ela nem sequer verificou se eu estava por perto antes de dizer essas coisas ásperas sobre mim. Como se ela nem se importasse se eu ouvisse.

Apenas suspiro e aumento o volume do meu iPod.

★★★

Alguns minutos depois, e estou sentado diante do pódio do professor. Em minha carteira, junto com os outros 40 alunos que estudam em minha sala. Está um pouco cheio, mas esta é uma escola popular afinal. Normalmente eu vou direto para a minha carteira assim que chego em minha sala. Antes do início da aula, as vozes dos alunos tomam conta da sala durante as conversas. Mas eu não tenho nenhum amigo em minha turma para eu me socializar. Acho que devo ser estranho demais para eles; eles tendem a manter distância de mim e a zombar de mim se eu me aproximo deles. Então eu apenas observo a grande janela, localizada em um lugar estratégico da sala para que a sala de aula fique iluminada, enquanto eu ouço minha música. Segurando cada segundo extra de escape dessa realidade enquanto posso, antes que a professora chegue e eu tenha que tirar meus fones de ouvido. Não dura muito tempo e a professora chega. Pelo menos hoje temos aula com a professora Fujioka, eu realmente gosto dela. Assim que a aula começa, abro uma nova folha em branco do meu caderno e preparo o meu pulso para começar a fazer anotações. Anoto tudo o que não entendo durante as aulas para que a representante de turma possa me ajudar mais tarde. Normalmente tem bastante coisa para ela me explicar.

Argh. Não estou com vontade nenhuma de prestar atenção na aula de hoje. Até porque, o que mais posso fazer? Mesmo que eu me esforce muito para aprender, sempre é muito difícil para mim. Entretanto, poderia ser pior. A senhorita Fujioka é a minha professora favorita, e provavelmente a única que realmente fala comigo, além dos meus amigos da internet. Ela é bem rigorosa, mas tenta o seu melhor para apoiar os alunos que ela sabe que se esforçam. O fato que eu consiga aprender alguma coisa nessa merda de escola é tudo graças a ela. Acho que ela me entende um pouco. Que sabe como é isso. Ela está sempre pegando no meu pé para continuar tentando e foi a pessoa que pediu para que a Ayumi começasse a me ajudar com os estudos como um papel em sua função de representante de turma, já que eu sou o único da turma que não consegue acompanhar as aulas como todos os outros.

– Nekoyama-san. Por favor, leia o próximo parágrafo.

A professora Fujioka me escolheu para ler alto para a turma, mas meus pensamentos estavam bem distantes da aula. Estou totalmente perdido do ponto que minha turma está do livro didático. Ela me encara diretamente por cima de seus óculos. Antigamente eu achava ela bem intimidadora, mas me acostumei ao jeito dela quando comecei a conhece-la melhor. Tenho certeza que estou na página correta; estava distraidamente passando de página toda vez que notava que os meus colegas mudavam de página. Rangendo meus dentes, escolho uma parte aleatória e começo a ler. A senhora Fujioka me interrompe. É o parágrafo anterior. Ouço algumas risadinhas do fundo da sala, me deixando completamente vermelho. Mas poderia ser pior. Se eu tivesse escolhido um parágrafo muito distante do correto, ela iria me repreender e eu odeio desaponta-la.

Depois de uma eternidade, as aulas matinais encerram e todos os alunos se arrumam para ir almoçar e jogar juntos. Eu sempre almoço na minha própria carteira, onde é mais quieto. Hoje durante o almoço, ouço o som da longa saia negra da professora Fujioka se aproximando de mim. Levanto minha cabeça e vejo um sorriso caloroso em sua face que normalmente possui um semblante severo.

– Nekoyama-san! Vejo que você está melhorando bastante em seus estudos.

– Obrigado, senhora Fujioka. – respondo – mas acho que ainda não é o bastante. Mas estou realmente tentando o meu melhor.

Ela pega algo do bolso de seu elegante casaco preto, segurando-o para mim.

– Aqui, este é um amuleto da sorte que eu trouxe para você. – ela gesticula para que eu pegue, e eu tentativamente estendo meu braço para que ela possa colocá-lo na minha palma da minha mão.

Ela me deu uma linda escultura de um gatinho preto. É tão fofo! O gatinho até tem um sorrisinho. Meu coração se derrete, e eu sinto um calor forte dentro de meu peito.

– O-obrigado... – balbucio ao dizer – Mas... Por quê, senhora Fujioka?

– Eu vejo que você está tentando o seu melhor ultimamente, Nekoyama-san! Não costumo fazer coisas desse tipo, mas acho que você merece.

Não consigo evitar que uma gota de uma lágrima escorra pela minha bochecha. Eu tusso, tentando esfregar as costas da minha mão em meu rosto antes que ela perceba.

– Muito obrigado, professora Fujioka.

– Além disso, eu quero que você seja o representante da turma do próximo semestre. Você está ciente de que aqui na Academia Yoakenoyama, somos nós, os professores, que escolhemos os representantes da turma, né? Você está fazendo um ótimo trabalho. É verdade que você está atrás do resto da turma em seus estudos, mas está em desvantagem e acredito que, apesar das notas mais baixas, você está tentando mais do que qualquer outro aluno. É dessa ética de trabalho que é o significado dessa escola.

Por um momento, estou atordoado demais para falar alguma coisa.

– O... representante da turma? – Eu digo. Nunca me imaginei como o representante. Principalmente porque sou muito impopular. – Sra. Fujioka, isso é uma honra! Muito obrigado!

– Ótimo! Já está decidido. Continue estudando bastante, Nekoyama-san. – Ela dá meia volta com um sorriso confiante em seu rosto antes de sair da sala.

Por um bom tempo, eu fico sem palavras. Eu não consigo acreditar que a professora Fujioka me escolheu para ser o próximo representante da turma. Ela é sempre tão gentil comigo. Ela foi a primeira professora a perceber que eu não consigo fazer amigos, principalmente porque os estudantes acham que eu sou idiota. Desde então ela se tornou cada vez mais e mais rigorosa comigo em suas aulas, mas eu notava que o apoio dela estava me ajudando a acompanhar. Às vezes, parece que ela é a única pessoa que já tentou me ajudar sem nada em troca. Ela é como uma mãe para mim. Sabe esses momentos em que eu posso passar o tempo conversando com ela? Esses são momentos são o número três da minha lista.

★ ★ ★

Hoje a Ayumi parece estar com muita pressa enquanto me ajuda com os estudos. Ela não parece estar realmente prestando muita atenção no que ensina, em certos momentos ela começou a explicar a mesma coisa repetidas vezes, para então ir para ainda outra explicação sem ao menos parar para perguntar se eu já entendo a matéria. Eu entendo o dever agora, mas sou tímido demais para tentar para-la. Sei que ela está com pressa por causa da Yamamoto-kun. Ela quer passar o tempo com a amiga dela. O que mais eu poderia fazer?

Logo que ela termina suas explicações, ela se apressa para ir ao encontro da Yamamoto. Decido ficar para continuar estudando mais. Não é justo fazer a representante me ajudar tanto, preciso trabalhar mais duro. Acredito que tenho ido muito bem com os meus estudos, mas começo a me sentir bem sonolento. E a próxima coisa que eu me lembro é da bibliotecária da escola gentilmente me acordando para avisar que a biblioteca está fechando. Olho para a janela e suspiro. A escola toda já está fechando e posso avistar os últimos retardatários saindo. Parece que todas as atividades de clube escolar acabaram. Dirijo-me ao meu armário para trocar os meus sapatos, me apressando um pouco já que a escola está começando a ficar bem escura. Encaixo o meu pé esquerdo em meu sapato e ao mesmo tempo eu dou um grito bem alto de dor assim que coloco o pé no chão.

Arranco o meu sapato imediatamente. Meu pé está sangrando muito, percebo que alguém colocou tachinhas bem afiadas dentro de meu sapato. Elas estão encravadas profundamente em meu calcanhar. Posso sentir o sangue escorrer e minha vista embaçando. Me sento no chão e não consigo evitar de começar a chorar enquanto meu pé continua a escorrer um sangue negro pelo concreto. Hesito, mas começo a arrancar as tachinhas de meu calcanhar uma por uma. Não consigo mais ouvir ninguém, está tudo tão escuro. Me sinto só. Estou um pouco assustado.

Repentinamente, escuto um barulho alto, e me assusto ao ver uma figura escura se aproximar. Me sinto um pouco idiota quando um de nossos professores, o Sr. Satou, aparece. Ele aparenta estar bem preocupado. Acho que ele ouviu o meu grito de dor, e me encontrar dessa forma, sentado ali coberto de sangue, deve ser uma visão e tanto.

– Nekoyama-san! O que aconteceu? – ele pergunta enquanto se aproxima.

– Não... Não é nada. Sério! – respondo, com vergonha.

– Não ouse me dizer que isso não é nada, Nekoyama-san! – ele responde, me olhando de forma bem preocupada. Ele me leva à enfermaria.

Fico surpreso ao ver que a enfermeira ainda está aqui, se arrumando, até que eu me recordo que ela sempre é uma das últimas pessoas a deixar o colégio para caso algum aluno dos times esportivos acabe se ferindo durante os treinos. Ela se prepara para desinfetar meu pé, que começa a queimar pra caralho.

– Muito bem. – ela diz. – Nekoyama Akio-san, não é? Se sente melhor? Como está a dor?

– Eu estou bem.

– Tem certeza? Você parece pálido.

– Sim – insisto. – Eu estou bem.

Ela franze a testa, com uma preocupação bem aparente, antes de se oferecer para me levar em casa. Duvido que eu consiga caminhar até em casa, então eu aceito, me sentindo extremamente envergonhado. Assim que ela me deixa em casa, ela me faz prometer pegar leve no final de semana para que o meu pé fique melhor para voltar às aulas na segunda-feira.

Vou pra dentro de casa, indo calmamente para o meu quarto, me atirando na cama. Meu pai surge na porta do meu quarto. Meu pai e minha mãe trabalham o dia inteiro, mas ele sempre é o primeiro a chegar em casa. Ele me olha de uma forma bem preocupada enquanto me vê deitado em minha cama, me sentindo acabado. Normalmente ele apenas me ignora, mas esse olhar preocupado significa muito para mim. Mas por alguma razão, não consigo nem ao menos sorrir? É não vai ser hoje. De qualquer forma, meus pais percebendo a minha existência é quase que uma das melhores coisas da minha vida. Número dois da minha lista, ficando apenas atrás de... uma outra coisa.

★ ★ ★

Não consigo nem imaginar quem poderia ter colocado as tachinhas em meu sapato. Deixei os meus sapatos na entrada de casa quando eu entrei em casa, então eu decidi que eu deveria limpa-los logo antes que as manchas de sangue fiquem muito impregnadas neles. Com um pouco de dificuldade, me levanto da cama e ando de forma insegura até a entrada. Pelo caminho, eu passo pela sala de estar. Meu pai e minha mãe estão em casa hoje. Minha mãe segura o telefone direto em seu ouvido, com um olhar preocupado, e o meu pai está sentado no sofá, parecendo estar bem pensativo. Seus olhos vão ao meu encontro e ele me percebe ali andando de forma toda desengonçada.

– Akio! Onde pensa que você vai? Volte para o seu quarto.

– Desculpe pai. Eu já vou voltar para o meu quarto, eu quero apenas cuidar de uma coisa primeiro. – pego o meu sapato esquerdo e vasculho dentro dele para ver se há mais algumas tachinhas lá dentro... Mas espere! O que é aquilo? Tem um pedaço de papel amassado lá dentro do sapato. Eu pego o pedaço de papel e jogo o sapato no chão, me apressando para voltar ao meu quarto. Antes que eu possa deixar a sala de estar, minha mãe me interrompe.

– Akio. Precisamos conversar. – minha mãe diz, abaixando o telefone.

– Eu fiz alguma coisa errada?

Os dois trocam um olhar, logo então ela continua.

– Esse incidente com as tachinhas é muito sério. Decidimos conversar com os seus avós sobre isso, e eles nos fizeram uma oferta. E seu pai e eu aceitamos.

– Uma oferta?

– Você vai voltar para o Brasil. E vai voltar a morar com seus avós; estamos transferindo a sua custódia para eles.

Na hora assim, eu não consegui entender exatamente o que está acontecendo. Isso é muita informação para a minha cabeça. Meus olhos arregalam.

– O que... O que você quer dizer, mãe?

– Não é complicado, Akio. É o melhor para você. Agora, por favor, volte para o seu quarto. Você precisa descansar. Seu pai e eu iremos fazer os preparativos do seu retorno. – meu coração começa a marretar forte em meu peito, e meu corpo fica totalmente frio como o gelo. Eu só.. Eu não entendo...

– Sim... Tudo bem, mãe. – Eu cambaleio de volta ao meu quarto, fechando a porta e deitando a minha cabeça contra a porta, respirando bem forte.

Depois de um tempo, me jogo na cama. Me sinto entorpecido. De repente, me lembro do pedaço de papel amarrotado que estava em minha mão. Cuidadosamente abro ele.

"NINGUÉM QUER VOCÊ AQUI. APENAS MORRA."

Lágrimas começam a descer em meu rosto. Eu não me importo em limpa-las. Apenas fico ali deitado. Acho que reconheço a caligrafia. Lembra a caligrafia da Yamamoto. Ela sempre me odiou por ficar tomando do tempo da melhor amiga dela. Irritado, eu faço uma bola com o papel e jogo bem forte no chão. Em seguida, me enrolo em meu colchão. Não posso evitar essa vontade de chorar que queima bem forte de dentro do meu peito, então pego a minha almofada e afundo o meu rosto nela. Sinto vontade de gritar, mas só o pensamento de deixar os meus pais perceberem que estou chorando me faz ficar enojado. Luto para me recompor, contra as lágrimas que descem pelo meu rosto. Contra minha respiração ofegante, e a dor em meu peito.

Depois de um tempo, começo a me acalmar. Não me sinto melhor, apenas.... exausto. Muito cansado e emocionalmente acabado de tanto chorar. Agarro o meu celular que está embaixo da minha cama. Tem apenas uma pessoa a qual posso sempre me reconfortar. Uma pessoa que sempre me escuta. Chikachika149. O nome verdadeiro dela é Ichika Fujita. Não nos conhecemos por exatamente muito tempo, mas ela sempre esteve à minha disposição para conversar comigo. Toda vez que converso com ela, ela me faz eu sentir que tudo vai estar bem, não importa o quê. Ela é a única pessoa que pode me fazer sorrir. Ela mora em uma cidade próxima, e nós nos encontramos algumas vezes. Ela concordou em ser a minha namorada. Sem sombra de dúvidas, é ela. O topo da minha lista. A indisputável, a alegria número um da minha vida.

★ ★ ★

Nekonekoyama777: Ichika... vc tá aí?

Chikachika149: Yooo!! Ficou na escola até mais tarde de novo?

Nekonekoyama777: Heh! Pse.. ><"

Chikachika149: Eeeei que que tá acontecendo?? Tipo vc normalmente é bem animado e humorado. Mas hoje você tá beeeem esquisito u3u Tá escondendo algo de mim, né? >:c

Nekonekoyama777: N

Nekonekoyama777: Só...

Nekonekoyama777: Meh.. vc sabe.

Nekonekoyama777: Escola.

Chikachika149: #FirstWorldProblems lol

Nekonekoyama777: Na verdade... sabe, tem sim algo que eu queria te contar.

Chikachika149: Eita. Lá vamos nós! Kkkk Fala logo, bobão.

Nekonekoyama777: Bem... Alguém na escola colocou tachinhas no meu sapato.

Chikachika149: ....

Chikachika149: MDS! Isso é horrível! Vc tá bem, lindinho? :'(

Nekonekoyama777: Sim.

Nekonekoyama777: Todo mundo me odeia onde quer que eu vá então acho que o melhor seria se eu morresse logo.

Chikachika149: ....

Chikachika149: mano

Chikachika149: Para.

Chikachika149: Por favor...

Chikachika149: Você sabe como eu me sinto quando você fala desse jeito. Não sabe?

Nekonekoyama777: .....

Chikachika149: ... Eu te amo.

Nekonekoyama777: Tbm te amo

Nekonekoyama777: Te amo mais que qualquer coisa...

Chikachika149: Então por favor n fala mais coisas assim.

Chikachika149: Por favor.

Chikachika149: ..Ok?

Nekonekoyama777: Tá..

Chikachika149: Promete?

Nekonekoyama777: Ss você sabe que eu nunca minto pra você.

Chikachika149: Hihihi ^u^ E isso é o que eu mais amo em você~

Nekonekoyama777: Heh..

Nekonekoyama777: Vlw.

Chikachika149: Pelo quê?

Nekonekoyama777: Bem... Por sempre me fazer sorrir. Não sei o que faria sem você.

Chikachika149: Ohh... Seu bobão! =^U^=

Nekonekoyama777: Tem também mais uma coisa que eu preciso te contar e... bem eu sei que vai..

Nekonekoyama777: Te deixar...

Nekonekoyama777: Triste.

Nekonekoyama777: E eu não quero te deixar triste!

Nekonekoyama777: Você sabe que eu nunca vou querer te machucar...

Chikachika149: O que houve, Aki? :/

Nekonekoyama777: Meus pais. Eles deram minha custódia para os meus avós.

Chikachika149: O que isso quer dizer?

Nekonekoyama777: Vou ter que morar com eles.

Chikachika149: Eles moram no Japão, né?

Nekonekoyama777: Eu já te contei antes. Não se lembra?

Nekonekoyama777: Eles moram no Brasil.

Nekonekoyama777: Então eu vou deixar o Japão e vou morar com meus avós no Brasil ano que vem...

Chikachika149: KKKK seu monstro! Para de me zoar, Aki!

Chikachika149: Quase me pegou! XD

Nekonekoyama777: Suspiro....

Nekonekoyama777: Não estou zoando...

Nekonekoyama777: Queria estar na real...

Nekonekoyama777: ....

Nekonekoyama777: Você tá aí?

Chikachika149: Dscp eu tava ocupada.

Nekonekoyama777: Tudo bem...

Chikachika149: Olha...

Chikachika149: Você sabe o que isso quer dizer, né?

Nekonekoyama777: Do que você tá falando?

Chikachika149: Pse

Chikachika149: Isso não vai rolar, não quero um relacionamento a distância.

Nekonekoyama777: ......

Nekonekoyama777: ....O que você quer dizer?

Nekonekoyama777: ...............

Chikachika149: Heh

Chikachika149: Não é óbvio?

Nekonekoyama777: .....Acho que... não. Por favor, me explique....

★ ★ ★ 

Aqui estou. Deitado na cama. Achei que eu já tinha chorado o bastante essa noite, mas.... Minhas mãos estão tremendo novamente. Pior do que antes. Eu só.. Não aguento mais isso. É muito para mim! Isso dói. Isso dói... muito! Sinto como se meu peito estivesse sendo rasgado pelas mãos de Ichika enquanto ela começa a arrancar cada um de meus órgãos vitais enquanto ela me faz esperar pela sua resposta. Então, finalmente, vejo os pontinhos se mexendo. Ela está digitando. Meu estômago se embrulha e...

Minha visão se embaça e meu corpo fica fraco. Sinto como se tivesse tomado um soco bem forte na barriga e eu agora estou caindo, Sendo sugado para dentro desse abismo aberto pelo meu peito. Depois de um certo momento, começo a chorar descontroladamente, que nem uma criancinha. A dor... é insuportável. Visceral.

A resposta é um simples e frio "acabou".

Entre minhas mãos trêmulas e minha visão embaçada, mal consigo digitar a minha resposta.


"Tudo bem."

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