Entre Perdas e Ganhos | LIVRO...

By lettiautora

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DEGUSTAÇÃO | DISPONÍVEL NA AMAZON | Série: Entre Amores: Família Volkiov. LIVRO 1 - Entre Perdas e Ganhos (Iv... More

• NOTAS INICIAIS
• SINOPSE
CAPÍTULO • 01 (Degustação)
CAPÍTULO • 02 (Degustação)
CAPÍTULO • 03 (Degustação)
CAPÍTULO • 04 (Degustação)
CAPÍTULO • 05 (Degustação)
CAPÍTULO • 06 (Degustação)
CAPÍTULO • 08 (Degustação)
CAPÍTULO • 09 (Degustação)
CAPÍTULO • 10 (Degustação)
DISPONÍVEL NA AMAZON

CAPÍTULO • 07 (Degustação)

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CAPÍTULO 07

IVAN

POR LONGOS MINUTOS, encaro a tela do celular. Não acredito que realmente liguei para Lara e ainda fiz um convite para que almoçasse comigo. Não acredito que ela recusou sem pensar duas vezes. Achei que minha ideia de propor uma trégua encerraria com o clima constrangedor, mas parece que só piorei a situação.

Jogo o aparelho em cima do sofá, meu humor não está dos melhores. Dormir uma boa noite de sono completa é uma experiência que já não faz mais parte da minha realidade, mas a última noite em particular foi diferente. Antes, era a tristeza constante e o medo invisível do passado que me faziam perambular pela madrugada, imaginando a vida que eu poderia ter tido ou relembrando o dia em que Petrova se foi. Dessa vez, porém, todas as vezes que tentei fechar os olhos, o rosto amedrontado de Lara diante de mim revirava emoções inomináveis e enchia minha cabeça com suposições descabidas.

Nunca dei motivos para que temesse uma agressão, dei? Não, fui invasivo e agi como um idiota, mas nunca expressei falsos indícios de que a machucaria. Agredir uma mulher é abominável, um crime do pior tipo. Talvez por pensar assim que a reação de Lara tenha mexido tanto comigo.

Preciso parar de pensar nisso ou terei um colapso. Céus!

Termino de arrumar os papéis de contratação do novo dirigente para a sucursal de Nova Iorque. Agora que decidi não retornar por tempo indeterminado, voltarei a administrar assuntos do executivo financeiro ao lado de Vladimir. Não preciso mais ocupar meu tempo livre com academia e reflexões infrutíferas.

Roman administra a implementação dos nossos projetos, garantindo que as obras e empreendimentos continuem funcionando. De nós quatro, é o único que não escolheu sua formação com base nas expectativas empresariais que acompanham nosso sobrenome; Roman é um espírito livre que prefere lidar com pessoas reais, planejar um projeto do zero e assistir quando ele se ergue, tijolo por tijolo.

Mas o verdadeiro segredo por trás do nosso sucesso é Andrei, o escudo da família. Vladimir pode ser o responsável por nos manter no topo, mas é o jovem advogado que impede nossos muros de serem bombardeados. Todo o setor judicial se encontra sob sua supervisão e não sei como conseguiríamos dar andamento aos negócios sem ele.

Passa das duas horas da tarde quando finalmente concluo os últimos preparativos. O trabalho é pesado, temos a responsabilidade de garantir qualidade de vida a todos os nossos funcionários, formação adequada e salário justo. Não é qualquer pessoa que pode substituir um Volkiov dentro da nossa própria empresa.

Levanto da grande cadeira executiva e suspiro, cansado demais para procurar mais serviço incompleto. Minha cabeça lateja, protestando contra a sobrecarga, então atravesso toda a sala e abro a porta para ir embora.

O andar executivo possui apenas quatro salas, uma para cada irmão, mas Vladimir fica o tempo todo no andar presidencial, cuidando dos assuntos mais complexos ou coordenando reunião atrás de reunião.

Antes de alcançar o elevador, no entanto, vejo Andrei sentado atrás de sua grande mesa em seu próprio escritório. Não trocamos nenhuma palavra desde o ocorrido no restaurante e me sinto no dever de conversar com ele. Quando me vê entrar, assume um semblante sério e cruza os braços. Meu irmão mais novo agora é um homem, preciso me lembrar disso o tempo todo.

Espero que me convide para sentar, mas esse convite nunca chega, então decido criar coragem e esclarecer as coisas antes que esse equívoco interfira na nossa relação.

— Precisamos conversar — digo. Aproximando-me mais um pouco, aguardo um pronunciamento dele.

— Sim, precisamos. Senta logo, a gente fica meio ridículo agindo dessa forma.

Sorrio, meu irmão não tem meias palavras. Sempre diz tudo o que pensa, munido do mais absoluto senso de ética. Não esperava menos do nosso advogado. Rapidamente, acomodo-me de frente para ele com os braços apoiados sobre a mesa de vidro.

Enquanto meu escritório tende para uma decoração rústica, Andrei prefere a iluminação translúcida do vidro mesclado com os tons brancos dos outros móveis. Tudo nele é transparente. Tudo... menos quando o assunto é Lara e eu nunca entendi por quê.

— Desculpe. — Começo, assumindo meus erros. — Pode parecer que não estou levando essa história de matrimônio com a seriedade que deveria, mas sei que não é brincadeira. Não é sobre mim ou por causa do passado.

— Você é o seu passado, Ivan. — Titubeia, seus ombros balançam com a exasperação. — Me desculpa, mas nos últimos cinco anos você pediu para que respeitássemos a sua dor, que ficássemos longe. E agora você volta e quer se casar com Lara? Depois de tudo?

— É uma coisa que eu devo a vocês, ou eu deveria ter deixado um dos meus três irmãos se casar com ela? O que isso faria com a nossa família? Eu tenho coisas para resolver, assuntos inacabados, e Lara é uma dessas coisas. Já prejudiquei vocês demais. No fundo, acho que aceitei esse acordo para descobrir se sou o cretino que pareço ser.

— Eu não acredito nisso — confessa calmamente, o olhar cauteloso parece me analisar. — Você se lembra do que disse no dia em que foi embora? Pois eu me lembro muito bem! Disse que nunca perdoaria Lara.

— E não perdoei — confesso, esgotado demais para rodear com palavras. — Mas o problema é que não quero perdoar. Quando eu olho para ela sinto uma raiva de tudo. Do mundo. E, ao mesmo tempo, é como se eu quisesse sentir isso. Como se eu não pudesse perdoar, porque sem esse rancor não vai sobrar mais nada.

— Ivan, escuta bem o que eu vou dizer. Não pretendo impedir, não tenho esse poder e nem esse direito. Se a Lara aceitou isso, quem sou eu para fazer qualquer coisa? Você é meu irmão, mas ela não merece se machucar, não depois de tudo o que já passou.

— O que você quer dizer com isso? — questiono. Parece evidente que meu irmão sabe de alguma coisa, algo que eu nem desconfio.

Andrei reluta por algum tempo e balança a perna debaixo da mesa, uma mania que aparece sempre quando ele fica nervoso ou apreensivo. É como se lutasse uma guerra interna, todo esse suspense me deixa com medo. No fim, abaixa a cabeça.

— Só tente não ser um cretino o tempo todo. Eu entendo como deve ser difícil, mas você não estava lá naquela noite, foi uma confusão. É muito fácil culpar apenas uma pessoa quando a gente não conhece a história toda.

— Andrei — interrompo. — Não importa o que digam, no dia em que minha noiva morreu ela me pediu para ligar no celular da Lara. Disse que as duas estavam brigando e que vocês estavam no andar de baixo. Eu liguei, pedi para ela que se acalmasse, implorei e chorei enquanto estava preso no meio da estrada. Eu me lembro dos soluços das duas, do desespero que me consumiu quando a bateria acabou e a notícia chegou poucas horas depois. Lara não me deu ouvidos, ela só queria a irmã longe. Se não fosse por isso...

— As duas brigaram sim, nós ouvimos uma parte — Andrei confessa. Já tivemos essa conversa uma vez, quando me contaram os detalhes que eu não sabia, mas naquela época eu estava cego de raiva, não queria pensar em mais nada a não ser na minha dor. — Mas nunca descobrimos o motivo, sempre pensei que você soubesse.

Nego com a cabeça. Eu jamais soube o que causou a briga entre elas, sempre supus que fosse mais uma das intermináveis rebeldias de Lara, uma discussão fútil. Mas será mesmo? Vale a pena revirar esse passado? Será que eu quero isso?

— O que você sabe, Andrei? — interrogo, percebendo que preciso da história toda, como se essa fosse uma necessidade despertada dentro de mim após um longo período de dormência. — Por que essa história agora? Você tem alguma coisa para me contar?

— Porque você vai se casar com a minha melhor amiga, Ivan. Como eu disse, tente não se colocar no centro do mundo o tempo todo. — Ele balança a cabeça, os punhos se fecham e ele suspira, quando volta a falar, sua voz é quase um sussurro: — Naquela madrugada...

Duas batidas na porta interrompem o diálogo. Olhamos juntos na direção da entrada e Roman nos sorri com sua constante despreocupação.

— As donzelas fizeram as pazes? — brinca, encostado no batente da porta e uma jaqueta de couro pendurada no ombro.

— Já fez as pazes com o investidor italiano? — Andrei rebate, sempre certeiro.

Seja lá o que pretendia dizer, vai ficar para outro momento. Não deve ser nada tão grave ou revelador, ou Andrei teria me contado antes. Talvez seja melhor não reabrir feridas cujas cicatrizes ainda são frágeis.

— Não exatamente. — Roman revira os olhos, mas seus punhos se fecham e a rebeldia não passa despercebida. — Donatelo é um sujeito interessante, mas o problema não é bem ele e sim a irmã gêmea. Aparentemente, ela me odeia. Como pode isso? A mulher nunca viu a minha cara!

— A sua cara cheia de machucados por causa dos socos que você trocou com o irmão dela, você quer dizer? — Entro na conversa, deixando de lado o assunto pesado sobre a madrugada de cinco anos.

Um passo por vez.

— Detalhes — Roman resmunga. — A propósito, vocês já viram ela alguma vez? Porque a mulher não faz o tipo social, ainda não descobri nenhuma fotografia dos dois juntos. De qualquer forma, estive investigando sobre a família deles e talvez não seja um bom negócio apostarmos em um investimento agora. Os pais deixaram muitas dívidas, há rumores de que estejam falindo.

— Falindo? — Andrei fica surpreso, assim como eu. — Antes de Donatelo assumir a presidência eram a empresa de hotelaria que mais crescia na Itália.

— Vocês podem até não acreditar em mim, mas ele mereceu os socos que dei nele. O cara é um idiota. Já a irmã, eu não sei. Parece muito inteligente e determinada, tem uma fama sólida sobre suas capacidades, mas para mim soa como um disfarce. O lobo na pele do cordeiro talvez não passe de um cordeiro na pele do lobo.

— Então desistimos dos Giamatteo? — pergunto para Andrei, ele entende mais sobre os riscos contratuais.

— Sim, vamos esperar, é muito arriscado. — Meu irmão mais novo reflete um pouco. Olha para mim e diz: — Daqui vinte dias o contrato de unificação ficará pronto e teremos acesso aos investidores de Mikhail. Acho que ele mantém negócios com uma vinícola importante da Itália, talvez possamos tentar uma proposta.

Concordo com a cabeça, um pouco incomodado. Agora que começamos a fazer planos com esse matrimônio me sinto desconfortável, com um pouco de raiva, como se uma parte de mim não quisesse mais ninguém envolvido. É bizarro e assustador.

Ficamos conversando sobre assuntos da empresa; uma reunião surge nesse meio tempo e me arrependo de não ter ido embora quando tive a chance. Já começa a anoitecer quando, enfim, saio do prédio.

A vontade de ir para casa é nula. Tatiana vai me metralhar com perguntas sobre Lara e eu, principalmente depois de todas as nossas fotos e teorias sobre o relacionamento que foram publicadas nos jornais de distribuição online. Já ignorei três de suas ligações. Com certeza ela está uma fera.

Dispenso o motorista e chamo um táxi, assim minha mãe não descobre meu paradeiro. É mais cômodo pagar por um quarto e comprar uma roupa qualquer para o compromisso de amanhã e depois voltar para casa preparado para a chuva de perguntas.

Outra vez, assim que deito a cabeça no travesseiro, minha mente é inundada por lembranças de Lara. No dia em que liguei para ela pedindo que se acalmasse, naquela noite em que tudo mudou para sempre, experimentei o maior dos medos. Quase não me lembro da conversa com Petrova, mas Lara estava fora de si no outro lado da linha. Chorava e brigava, queria a irmã longe. Queria todos longe.

A questão é, por que ela estava assim?

Preciso descobrir. Eu não devia ter fugido, sofrido sozinho por tanto tempo. Ao lado da minha família as coisas parecem se esclarecer, meus sentimentos vão se acalmando aos poucos. Por tantos anos achei que só havia lugar para o ódio e o ressentimento.

Mas agora... Eu não sei.

É isso que vou fazer: descobrir a história completa. Não tenho como saber quais resultados alcançarei, pode ser que no fim nada mude, pode ser que meu amargor aumente ainda mais. Mesmo assim, os riscos não são nada se comparados ao desconforto no meio do meu peito. Uma sensação claustrofóbica de que a resposta está perto e que não vou gostar nem um pouco quando a encontrar.

* * *

Assim que abro os olhos pela manhã, o sol já brilha alto no céu. Não sei por quanto tempo Lara rondou meus pensamentos antes de me entregar ao sono, mas esteve presente em meus sonhos. Sonhos em que ela fugia para longe, com medo e sozinha. Sonhos ruins.

Depois de tomar café, desço até o saguão para me informar sobre alguma loja de roupas nas redondezas. Por sorte, em frente ao hotel encontro uma variedade infinita de comércios. Meu celular vibra com mais uma ligação de Tatiana. Ela vai me matar, tenho certeza. Talvez fosse melhor eu me mudar para o quarto do hotel para sempre.

A hora de partir chega depressa. O clube que Aleksander me convidou para almoçar é o mais caro da cidade, porém o ambiente despojado e o objetivo da socialização permitem um estilo mais casual. Bermuda jeans, camisa de botão, óculos escuros. Ótimo. Ligo para o motorista trazer o carro, mas dispenso seus serviços. Assim que ele chega, entrego uma quantia em dinheiro para voltar de táxi, sem maiores explicações. Não conheço a maioria dos funcionários da mansão, mas minha mãe sabe o nome de cada um. Obviamente, são seus espiões.

No horário combinado, dirijo até o clube. É um belo lugar, a renda deve ser muito boa. Minha mente executiva faz planos sobre pesquisar a respeito do mercado de lazer. Conversarei com Vladimir a respeito depois.

Entrego um convite na entrada e dois funcionários sorridentes me guiam por entre os ambientes, até uma área reservada ao redor da piscina. Muitas pessoas se espalham por cadeiras e poltronas, com drinques requintados nas mãos. Mulheres bonitas com vestidos esvoaçantes andam de um lado para o outro e algumas me direcionam olhares inflamados e provocantes.

— Ivan! — Aleksander se aproxima de mim ostentando uma alegria de dar inveja. A gente se conhece desde a faculdade e ele continua despreocupado como sempre. — Finalmente.

— Aleksander, meu amigo — cumprimento com um abraço. — Obrigado pelo convite.

— Se não te convidasse você nunca viria me ver — dramatiza. — Vem, vamos pegar uma bebida para você. Tenho que te apresentar minha futura namorada.

— Vai fazer um pedido? Sabe que ela pode não aceitar — zombo, mas duvido que qualquer mulher não aceitaria. Além de ser uma ótima pessoa, ele ainda trabalha na empresa do pai e faz alguns serviços extras como modelo fotográfico.

— Se ela disser não, então vou pedir outra vez e outra, até aceitar. É para isso que o homem foi criado, meu amigo! Para rastejarmos por nossas mulheres.

Vamos abrindo caminho no meio das pessoas. Realmente, ele convocou uma plateia. Cumprimento velhos conhecidos, parceiros de negócios, todos muito interessados no meu retorno. Aleksander, com seu cabelo louro escuro, caminha como uma divindade no Olimpo.

— Ali está ela. — Meu amigo aponta.

Vejo uma moça pequena, delicada como porcelana. Tem o cabelo brilhante na luz do dia e sorri parecendo muito constrangida enquanto conversa com duas pessoas, um homem e uma mulher. Não reconheço os dois pois estão ocultados por uma pilastra.

— Parece uma ótima pessoa — digo com sinceridade; não pela aparência, mas ela tem um semblante honesto, jovial e humilde.

— Vou apresentar vocês.

Damos a volta para chegar até o pequeno grupo. Primeiro avisto o homem que conversa animadamente com as duas, sua mão está apoiada no ombro da outra mulher e ele exibe um sorriso babão, típico de garotos que não podem ver um corpo bonito que vão logo investindo.

Mas a mulher ao lado dele, com aquelas costas nuas e aquele pescoço todo chamativo...

Mas que caralho!

Outro vestido com um recorte enorme na parte de trás, a única diferença é que esse é mais austero, leve e florido. Muito mais provocante e perturbador. Era só o que me faltava.

A pretendente de Aleksander é a primeira a nos ver e, pelo modo como arregala os olhos, sabe quem eu sou e da minha ligação com Lara. Isso está ficando cada vez mais interessante, penso. Minha vontade é arrancar a mão do sujeito e jogar dentro de uma jaula lotada com leões famintos, especialmente quando começa a deslizar perto do pescoço dela.

Talvez seja o tal de Iago. Se os dois tiverem alguma relação, serei obrigado a desistir do casamento.

— Dema, querida, quero que conheça um amigo.

Os três se viram e eu fico com os olhos fixos em Lara, quero captar suas reações. A região da sua clavícula começa a adquirir aquele tom rosado, o rosto cheio de espanto. Ela entreabre os lábios, a voz perdida.

— Lara, meu bem — falo sem conseguir me conter. Temos um acordo, em breve vamos assinar um contrato, o mínimo que devemos um ao outro é respeito.

— Ivan. — Sua voz é de espanto e alívio, tudo ao mesmo tempo. Ela se recupera bem rápido do susto e eu fico intrigado. — Querido.

Somos péssimos atores, isso é bem evidente. Mas sinto um alívio quando ela se afasta do homem e vem na minha direção. Seus braços envolvem o meu pescoço e ela inclina na ponta dos pés para me beijar o rosto, demorando-se no contato dos seus lábios com a minha pele acima do maxilar.

— Tudo bem por aqui? — Olho em seus olhos, procurando uma explicação para aquela cena esquisita.

— Claro, estava falando agora mesmo sobre você. Esse é Serguei, um cliente de Mikhail, e essa é Dema, uma amiga muito especial — explica, mas eu não tenho a menor vontade de conversar com ele. — Esse é Ivan Volkiov, meu namorado.

Oi?

Lara continua abraça a mim, sorridente. Eu me limito a lançar um olhar desafiador para Serguei, mas o homem já está murcho como uma flor no inverno. Se ele tinha planos de conquistar Lara, eles acabaram de escorrer entre os dedos.

— E esse sou eu, Aleksander — diz meu amigo em tom de brincadeira.

— Bom, vou deixar os casais conversarem em paz. — Serguei retira uma azeitona fincada no palito de dentro da taça e bebe o restante do conteúdo. Lara faz uma expressão de nojo ao meu lado.

— Até que enfim — Dema exclama quando ele já se afastou o suficiente para não sermos ouvidos. Aleksander a abraça pelos ombros. — Que cara insuportável, eu já estava pronta para fingir um desmaio!

Dema pode até parecer calma e delicada, mas sua voz é tempestuosa e sincera. Vejo o carinho que tem por Lara, pois, quando fala, tem os olhos pousados especialmente na mulher envolvida pelos meus braços.

— Expliquei cem vezes que sou comprometida, mas ele não queria acreditar. Como soube que eu estava aqui? — Lara olha para mim. Tão perto assim, olhando-me de baixo, longe da família e de curiosos, ela parece outra pessoa.

Se parece com ela mesma.

— Não sabia — confesso. — Aleksander me convidou para almoçar.

— Então foi por isso que me ligou? — A gargalhada das duas me faz relaxar um pouco. — Me convidou para um almoço que eu já estava convidada e eu neguei por ter sido convidada para o mesmo almoço.

Confuso, essa é a palavra. Sinto-me confuso e perdido. Das outras vezes, eu ficava provocando Lara para fazê-la perder o controle, como se pudesse revelar sua personalidade real. Mas isso aqui é diferente, desperta em mim o desejo de descobrir ainda mais a verdade, e começo a duvidar das certezas que cultivaram o ódio dentro de mim por tanto tempo.

— Coincidência — comento. Ao longe, Serguei nos observa ao lado de duas mulheres. Encontrou novos alvos, mas continua com os olhos em nós. — Por que não cortou as investidas dele se estava tão incomodada?

— É cliente de Mikhail, eu disse — responde distraidamente como se fizesse todo sentindo.

Ela sequer desconfia como isso só me inunda com mais dúvidas, e as dúvidas são traiçoeiras, podem nos levar direto para um beco sem saída.

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