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Meus olhos encheram de lágrimas. Eles estão sorrindo um para o outro.
Ele parece feliz.
Saio correndo antes que ele possa notar que estou ali.
Pego o celular e enquanto corro de volta para casa, ligo pro meu melhor amigo.
"Joonie? Eu o vi..."
"E aí?"
"Ele estava com a Nayeon, sorrindo e todo fofo. Eu acho que ela é a pessoa misteriosa! Eu me sinto tão mal, tão fodido!"
"O jogo virou... Eu estou meio ocupado agora, hm... Te ligo mais tarde?" Namjoon está com a respiração diferente, já imagino o motivo.
"Está me trocando por sexo?!" Guincho com ele.
"Falando assim até parece que sou um péssimo amigo! Você iria preferir foder com o Jimin também se fosse eu te ligando choran-MERDA!" Ouço um gemido, bufo.
"Merda, você tem razão. Vá se foder, te amo." E desligo.
Chego em casa e, por incrível que pareça, minha mãe está na cozinha assando um bolo. Ela nunca para em casa, vive no trabalho ou em festas depois que meu pai a deixou e levou minhas irmãs.
"Mãe? Você em casa? Assando um bolo?" Tento falar calmamente para minha voz não soar triste de quem estava quase chorando.
"Eu senti sua falta... Errei por ter me ausentado da sua vida, você me perdoa?" Ela me abraça.
Eu e minha mãe mantínhamos a relação desse jeito: Não tínhamos relação. Não conversávamos, mal a via e ela não sabe nada sobre mim, já esqueceu até meu aniversário, e quando a lembrei, apenas bufou e saiu para beber com suas "amigas".
Vê-la querendo começar algo comigo do zero, pedindo desculpas, me deixou mais mal ainda. A abracei de volta e comecei a chorar feito um bebê.
"Eu perdoo..." Sussurro.
"Não chora meu amor, por favor!" Ela segura meus ombros e me encara.
"Eu me sinto sozinho, mãe..."
"Por quê? Venha, deixarei o bolo assando, vamos conversar! Quero tentar ser sua amiga, eu... Eu quero ter algo com você, ok? Uma relação de mãe e filho saudável. Cansei de ser péssima, oh meu Deus, me perdoe..." Ela me puxou até o sofá e sentamos lado a lado.
"Eu já disse que perdoo. E... Eu estou apaixonado, mãe. Mas não é recíproco e essa pessoa já tem alguém... E, não sei, mas dói tanto!" Eu estava soluçando.
"Quem, meu querido? Quem tem o seu coração?"
"Você vai me odiar..." E se ela for homofóbica? Eu nem ao menos sei!
"Jamais!" Ela me abraça forte. "Eu estou aqui agora, yeah? Eu te amo filho, não pense que isso iria mudar por algum motivo!" Acaricia meus cabelos. Tão bom, eu poderia acabar dormindo se não tivesse tão chateado.
"Ele se chama Jimin." Ela solta o abraço e fica me olhando. O medo toma conta do meu olhar. Minha mãe segura minha bochecha e a acaricia, puxa meu rosto e dá um beijo na minha testa.
"Um garoto? Achou que eu iria deixar de te amar por isso? Filho, gostar de alguém do mesmo sexo não é errado! Errado é ele não gostar de você de volta, oras!" Ela dá uma risada e eu sorrio. Talvez eu goste dessa nova mãe.
"Obrigado. Acha que devo falar com ele?" Pergunto, me acalmando aos poucos.
"Sim. Mas vai com calma, ok? Você disse que ele tem alguém... Há alguma chance dele gostar de você?"
"Eu não faço ideia. Já nos beijamos..." Vou me abster de comentários sobre um certo boquete.
"Oh! E?"
"E nada." Dei um sorriso de canto, triste. "Vou falar com ele amanhã."
"Isso!" ela dá um tapinha na minha perna. "O BOLO!" Sai correndo até a cozinha e um cheiro de queimado vem de lá.
[...]
Primeira coisa que fiz ao chegar na escola: Andar até a nossa mesa.
E, para minha surpresa, Jimin está lá, sentado e lendo um novo livro. Eu já li esse!
"O menino do pijama listrado é lindo. Eu li em um dia, por incrível que pareça! Chorei no filme, não me julgue." Sentei na sua frente.
Fui ignorado completamente.
"Olha, Jimin-"
"Sai daqui." Sua voz soa mais rouca e grave que o normal, o que me assusta. Abaixo a cabeça.
"Por favor... Eu não quis dizer aquilo! Eu só não queria que Yoongi dissesse algo! Ele te odeia por você ter o dedurado, sabia?"
"Então tudo bem dizer que jamais seria meu amigo, mas Yoongi ficar contra você é uma coisa incrivelmente ruim?" Ele me olha. Esses olhos castanhos estão tão escuros e sem vida.
"Não é isso! Foi por impulso, eu-"
"Então eu peço, por impulso, que você vá tomar no cu bem longe daqui e suma." Aumenta a voz e eu me encolho.
"Eu não vou desistir de você. Eu não perco, lembra? Não vou perder você." Cruzei os braços. Ele riu.
"De uns dias pra cá você só tem perdido. Não me admiraria se me perdesse agora também, mas, oh! Você não irá me perder, e sabe porque? Só se perde o que você possui."
Eu não tenho uma resposta para isso. Ele me odeia tanto.
"Por que a Nayeon estava com você no parque ontem?" Mudei de assunto. Ele revirou os olhos e depois sorriu.
"Ela é minha namorada." Arregalei os olhos, levantei e bati na mesa com força, Jimin me olhou surpreso.
"O QUÊ?" Não vai chorar agora, Jungkook. Segura.
"Yeah. Eu a amo." Ele sorri. "Não sei como não reparei nela antes! Nayeon é incrível, têm os mesmo gostos que eu."
"Claro que tem, ELA GOSTA DE HOMEM!" Se controle, Jungkook.
"Vá se foder." Meu olho já está começando a doer por segurar as lágrimas.
"Merda..." Coloco a mão no rosto para esconder os riscos molhados que começam a cair e saio correndo.
J i m i n
Eu vi que Jungkook estava quase chorando. Eu posso estar bravo com ele, querendo o odiar e jogá-lo na frente de um trem, mas não posso mais negar que depois que nos aproximamos eu senti algumas coisas. Me senti seguro e completo. Não era mais uma enorme solidão, Jungkook estava ali.
Quando conversávamos sobre coisas idiotas eu me sentia realmente bem. Eu senti que ele iria ser um bom amigo, até o mesmo negar que isso algum dia iria acontecer. O fato me machucou, rasgou meu coração em pequenos pedaços. Quando finalmente pensei em deixar alguém entrar na minha vida, depois de tantos anos, algo assim acontece.
Jungkook acha mesmo que o aceitaria de volta tão fácil? Claro que não!
E Nayeon... Eu não a amo. Ela não faz eu me sentir menos sozinho, pelo ao contrário. Quando estou com ela, o que mais quero é ficar sozinho.
Eu aceitei seu pedido de namoro, sim, ela que me pediu depois de fazer sua declaração cheia de erros de concordâncias verbais, porque queria negar algo que começava a nascer em mim.
Um sentimento que até então era desconhecido. Qual é! Como alguém pode ficar apaixonado pela pessoa que odeia? Inacreditável, um tanto inaceitável.
Achei que algo assim seria impossível, até Jungkook chegar. É isso, acabei me apaixonando por ele ser tão Jungkook. Eu o odiava, abominava. Agora... Sinto sua falta. E depois que ele disse aquelas coisas sobre mim, eu vi algo: Ele gosta de mim.
E esse é o problema. Até quando iria gostar de mim? Desistiria no momento que soubesse dos meus problemas. E se eu aceitá-lo e me entregar ao sentimento que provavelmente tenho por ele? Vai doer mais ainda quando Jungkook for embora.
E disso eu tenho certeza: Jungkook vai me deixar um dia.
J u n g k o o k
Banheiros escolares ultimamente são meus lugares favoritos.
Não por gostar deles, eu só não os abandono. Estou aqui quase sempre, mas, claro, chorando. Eu costumava ser forte, destemido, uma naja. Agora só sou uma formiguinha indefesa.
Ok. É verídico: Jimin me odeia e está feliz com outra pessoa. Certo, vamos seguir em frente.
Eu não quero perder, eu não posso desistir, mas não vejo outra escolha. Se eu tentar insistir mais, posso piorar tudo, mais do que já piorei até agora.
Jimin está com a Nayeon, e Jungkook, como sempre, sozinho.
Disco um número esquecido na agenda telefônica.
"Alô?"
"Yoongi?"
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