Stolen (L.S Version)

By waslarries

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Louis é um adolescente normal esperando para pegar um voo no aeroporto de Bangkok com seus pais. Ao se afasta... More

olá
capítulo 1
capítulo 2
capítulo 3
capítulo 4
capítulo 5
capítulo 6
capítulo 7
capítulo 8
capítulo 9
capítulo 10
capítulo 12
capítulo 13

capítulo 11

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By waslarries

Uma frialdade rósea me acordou. Alvorado.

Senti a falta do seu calor antes mesmo de abrir os olhos, e descobri que você não estava mais ali.

Senti falta do seu calor. Estendi o braço: o lugar que você ocupara ainda estava morno. Talvez você não tivesse saído há muito tempo. O contorno do seu corpo estava estampado na areia. Passei os dedos pela depressão onde sua cabeça repousara, depois pelos seus ombros largos, suas costas e suas pernas. A areia estava firme e compacta no lugar onde você deitara. Restos de pintura tinham manchado algumas partes dela.

Apertei mais os cobertores no corpo, barrando o gélido frescor da manhã. Mas o dia já estava muito claro. Minhas pálpebras adquiriam uma tonalidade laranja quando eu as fechava. Então me sentei. Estava coberto de areia.

Devia ter ventado durante a noite. Engraçado, eu nem sentira nada.

Espanei a areia. Vi uma linha feita com pedras indo até um trecho de areia mais fofa, alguns metros adiante. Segui as pedras. No final da linha havia algumas palavras escritas na areia.

Saí pra pegar uma cobra. Vejo você depois. Com amor, harry b

Eu me ajoelhei e apaguei o "b". Depois o escrevi de novo. Você não me parecia o tipo de cara que escreveria um "b" na areia, significando um beijo.

Senti um frio no estômago quando pensei no assunto, mas dessa vez não foi de medo.

Fiquei de pé. Meu corpo estava frio e precisava se movimentar. Olhei para a casa, mas não tive vontade de ir até lá. Não ainda.

O que eu realmente precisava era sentir seus braços firmes e quentes de novo em torno de mim. Precisava muito do seu calor.

Abracei a mim mesmo, friccionando os dedos nos braços, para cima e para baixo. Acho que as pessoas são como insetos às vezes, atraídas pelo calor. Uma espécie de ânsia por raios infravermelhos. Meus olhos vasculharam a paisagem, procurando calor humano. De um humano, em particular. Pestanejei e esfreguei os olhos.

Eu estava sendo idiota. Mas não conseguia agir diferente. Eu queria, e ao mesmo tempo não
queria, estar perto de você. Não fazia sentido. Sem realmente pensar no assunto, comecei a caminhar na direção dos Separados.

Parei ao lado da camela. Ela estava sentada e sonolenta. Estendi a mão e a afaguei entre os olhos. Suas pestanas roçaram meu pulso. Eu me sentei ao lado dela, me aconcheguei em sua pele morna e contemplei o nascer do sol, em tons róseos e acinzentados.

A manhã estava perfeita, tranquila. Vindos de muito longe, ouvi os guinchos de um bando de pássaros que chegavam aos Separados para seu banho matinal. Tirei as botas, mergulhei os dedos dos pés na areia e os esfreguei nos grãos. Tentei ficar imóvel por alguns momentos, recostada na camela, observando o amanhecer. Mas queria encontrar você.

Descalço, andando nas pontas dos pés, evitando cuidadosamente as plantas espinhosas e as pedras pontudas, comecei a me dirigir aos Separados. De repente, vi pegadas frescas na areia. As suas. Coloquei o pé dentro de uma delas; seu pé envolveu totalmente o meu.

Suas pegadas contornavam os rochedos. Comecei a fazer o mesmo, lentamente, passando os dedos nas pedras e plantas que me ladeavam. Senti a superfície das rochas passar de lisa para áspera. Toquei os sulcos que havia na superfície de uma delas. Eram as marcas de um antigo riacho. Um pássaro preto grasnou para mim do alto de uma árvore; um aviso áspero, que quebrou o silêncio. Talvez ele estivesse alertando os companheiros sobre a minha
presença, um desastrado ser humano entrando aos tropeços em seu território.

Caminhei até me deparar com um ressalto rochoso que se projetava dos Separados. Não consegui enxergar o que havia no outro lado. Mas vi uma série de pedras grandes e lisas que subiam por sua extremidade, formando um caminho que parecia contorná- lo. Apoiei o braço no paredão lateral, para obter equilíbrio, comecei a pular de uma pedra para outra.

A frialdade delas sob os meus pés era agradável. Algumas florezinhas brancas, que lembravam margaridas desleixadas, emergiam das fissuras. Quando eu já tinha quase contornado a projeção rochosa, ouvi movimentos no outro lado. Alguns grunhidos. Depois, silêncio.

Só poderia ser você. Fiz uma pausa, me apoiando na rocha, com a respiração subitamente acelerada. Eu deveria passar para o outro lado e me mostrar? Deveria ficar parado ali, escutando? Eu apurava os ouvidos para escutar você. Ouvi um leve farfalhar de folhas. Uma imprecação abafada. Depois, silêncio de novo. Então me colei ao paredão e comecei a contornar o rochedo.

— Lou?

Sua voz me assustou tanto que eu quase caí. Mas me segurei e consegui passar para o outro lado. Você estava de pé, olhando para mim, com os braços estendidos.

Por um segundo, pensei que você estivesse esperando por mim nessa posição, pronto para me abraçar; para me aninhar e me encher de beijos como fizera na noite passada. O sol estava batendo em cheio no seu peito, fazendo sua pele brilhar. Ainda havia restos de pintura grudados nela e nos seus cabelos.

Senti vontade de correr na sua direção, mas algo em seus olhos me
manteve à distância.

Onde estão suas botas? — você sussurrou.

Franzi a testa. Então me lembrei.

— A cobra.

Você assentiu com a cabeça.

— Eu estava quase pegando ela quando ouvi você chegar. Eu não estava esperando que você me seguisse. — Você me olhava com olhos afetuosos, curiosos, e um leve sorriso. — Tudo bem — você sussurrou novamente. — Essa cobra não é agressiva. Ela não quer picar você. Basta você ficar imóvel... Fique aí e não venha para a areia, está bem?

— É mesmo? — minha voz estava trêmula. Tossi, para não parecer nervoso. — Não é melhor eu voltar para a casa?

— Não, é melhor você ficar parado. A cobra está por perto; não quero que ela se distraia com seus movimentos.

Você me olhou de alto a baixo.

— Sente naquela pedra ali e fique imóvel. Vou continuar a procurar por ela. — Você tirou uma mecha de cabelos de cima dos olhos. — Não se preocupe, Lou. Eu já peguei centenas dessas camaradinhas antes.

Fiz o que você pediu e me sentei cuidadosamente na pedra.

Você começou a andar devagar, se movendo como um caranguejo. Estendia um pé para a frente e só depois movia o resto do corpo.

— O que você está fazendo?

— Essa cobra se esconde. Se enterra na areia para não ser vista. Ela é cautelosa e esperta. Nem precisa caçar, a presa é que vem ao encontro dela.

Quando você chegou mais perto de mim, a ponta de uma cauda se ergueu entre uma pilha de folhas secas em frente à pedra onde eu estava. Comecei a recuar.

— Ela está aqui — sussurrei.

— Não se mexa.

meu corpo se contraiu, querendo  mais do que nunca correr em direção à casa.

Olhei para a ponta da cauda. Em torno do amontoado de folhas, havia um trecho de areia macia. A cobra estava embaixo dessa areia. Você se curvou um pouco e, de olhos fixos na área à minha frente, veio em minha direção como um ninja.

— Tudo bem, ela está olhando para mim — você disse. — Ela sabe que a ameaça sou eu.

Você caminhou devagar e chegou a menos de meio metro do pequeno monte de areia. Foi quando a cobra ergueu a cabeça, espanando a camuflagem.

Fiquei sem ar.

Ela era do tamanho do meu braço e tinha a cor da areia, intercalada com finas faixas amarelas. De cabeça levantada, vigiava seus movimentos. Você se imobilizou e a observou... Cada um na expectativa do que o outro iria fazer.

— Tome cuidado — sussurrei.

Minhas palavras fizeram você relancear os olhos para mim. A cobra percebeu. E escolheu este momento para fugir.

Por infelicidade a rota de fuga passava pela pedra onde eu estava  e ela deslizou rapidamente na minha direção.

Sua grande cabeça era triangular e achatada, e sua língua entrava e saía da boca. Com a cobra olhando para mim, você se arriscou a dar dois passos na direção dela. A cobra sentiu suas vibrações e se virou, movendo a língua sem parar, tentando identificar a ameaça. Quando encontrou você, levantou o corpo, pronta para dar o bote. Você parou, com os braços estendidos. Havia apenas um passo entre ela e você.

Um movimento e ela atacaria. Ela balançou um pouco o corpo, observando você. Você estava pronto para agir.

Mas a cobra surpreendeu a nós dois: deu meia-volta e se afastou de você. Rapidamente, veio se arrastando ao meu encontro.

Você avançou e a segurou pela ponta da cauda. Mas ela escorregou com facilidade por entre seus dedos e, serpenteando de um lado para outro, foi ganhando velocidade na areia.

— Ela está tentando escapar — você gritou, quando a cobra se aproximou de mim. — Não se mexa. Fique exatamente onde está. Ela só está com medo.

Mas não tive como evitar. A cobra estava a centímetros de mim, balançando a cabeça levemente e movendo a língua rosada.

Dei um pulo na direção do rochedo, tentando subir nele de qualquer jeito. Meu pé direito encontrou um ponto de apoio. Só que a cobra estava indo na mesma direção. Senti seu corpo
gordo e pesado deslizar sobre meu outro pé. Olhei para baixo e gritei.

Foi quando perdi o equilíbrio e meu pé deslizou pela face do rochedo. Tentei me agarrar à pedra, tentei impedir meu pé de escorregar mais. A cobra se arrastava na direção de uma fenda que havia abaixo. Mas não fui rápido o bastante.

Um segundo mais tarde, meu pé bateu com força sobre sua cauda. A cobra se virou para mim e abriu a boca em sinal de alerta, exibindo as enormes presas triangulares. Eu me dobrei para trás, tentando me afastar. Mas a cobra não gostou do meu movimento e investiu como um raio contra mim, enfiando os dentes na minha perna.

Depois desapareceu na fenda rochosa.

Num instante você estava ao meu lado.

— Ela picou você? — Você pegou minha perna e a virou de
lado. — Eu vi ela dar um bote.

Você segurou minha perna com cuidado e a tateou do joelho para baixo, até encontrar o que estava procurando. Pouco acima do tornozelo, havia pequenos arranhões, como se eu tivesse roçado numa planta espinhenta.

Você esfregou o polegar acima e ao redor dos arranhões. Então olhou para mim.

— Preciso da sua camisa — você disse.

— O quê? Para quê?

— Pode ser sua camisa ou meu short, você escolhe. Preciso impedir que o veneno suba pela sua perna.

Olhei para seus sérios olhos verdes.

— Use a camisa.

— Não se preocupe — você murmurou. — Eu sei o que fazer.
Eu tenho o antídoto.

Você tentou sorrir, mas seu sorriso não me pareceu lá muito sincero.

Fiquei olhando para você, ainda em choque, eu acho. Você se moveu mais para perto de mim e sentou ao meu lado, para que eu pudesse me apoiar em você.

— Vamos lá, a camisa.

Segurei a camisa e a retirei por sobre a cabeça. Você a arrancou da minha mão. Cruzei os braços na frente da minha barriga, mas você não olhou nem uma vez para o meu corpo.

Encontrou um graveto longo e reto, e o pressionou contra a minha batata da perna.

— Segure esse galho aí — você disse. 

Apertei o graveto contra a pele, enquanto você rasgava minha camisa ao meio e amarrava o tecido na minha perna, com bastante força.

— Não estou sentindo nada — eu disse. — Você tem certeza que ela me picou?

— Picou. — Você franziu a testa. — Mas talvez não tenha liberado nenhum veneno. Vamos esperar que não, certo? Mas se alguém tivesse pisado em mim com tanta força... —

Você não conseguiu terminar a frase e, mais uma vez, deu aquele sorriso forçado. De repente ficou sério, segurou minha cabeça entre as mãos e afagou minha bochecha com o polegar.

— A partir de agora você vai ter que me contar tudo o que está sentindo... dor de cabeça, enjoo, dormência... qualquer coisa fora do normal. Isso é importante.

Havia gotas de suor na sua testa. Estendi a mão e as limpei.

— Tudo bem — eu disse. — Mas estou me sentindo bem agora.

— Ótimo. — Você segurou minha mão.

— Mas você precisa ficar calmo e não se mexer muito. Mesmo que o veneno não tenha entrado, você precisa permanecer relaxado.

Assenti. Mas não gostei da seriedade da sua voz. Dei uma olhada na minha perna enfaixada. Achei que estivesse começando a sentir uma dormência perto do tornozelo. Fechei os olhos e tentei não entrar em pânico.

— Mantenha a perna bem reta e imóvel — você disse.

Cuidadosamente, você passou um braço por baixo dos meus joelhos e pousou o outro atrás das minhas costas. Depois ficou de pé, me levantando junto com você. Você me segurava com firmeza, me mantendo um pouco afastado do corpo para que eu ficasse o mais reto possível. Vi os músculos dos seus braços se contraírem com o esforço.

— Vou levar você para a casa — você disse.

Você caminhava depressa, mas com cuidado, avançando por entre as rochas e as triódias. Senti você estremecer quando pisou numa pilha de galhos.

— Não vou deixar nada acontecer com você — sussurrou.

Com a respiração cada vez mais ofegante, você atravessou rapidamente o cercado da camela. Seus músculos estremeciam com o esforço de me manter naquela posição. Fechei os olhos para
protegê-los do sol. Os raios eram muito brilhantes e penetrantes.

Virei o rosto para o seu peito e apertei a testa contra ele.

— Qual o problema? — você murmurou, parando de andar.

Senti as palavras ecoarem em seu peito.

— Estou começando a sentir dor de cabeça — murmurei também.

Você deu um leve suspiro e voltou a caminhar.

— Vou dar um jeito nisso — você disse. — Prometo que vou dar um jeito nisso. Mas não entre em pânico.

Eu não disse nada. Estava sentindo uma leve dor na perna e me concentrei nela.

Você empurrou a porta com as costas, entrou na cozinha e me pousou suavemente sobre a mesa. Depois desapareceu por alguns momentos. Ouvi você no corredor, abrindo o armário. A luz do sol que penetrava pela porta aberta era tão brilhante que me virei para o outro lado da cozinha. Você voltou com duas toalhas. Enrolou uma delas e a colocou embaixo da minha cabeça.

— Como está se sentindo?

— Meio esquisito.

— Esquisito como?

— Só esquisito. Não sei. Como se estivesse para pegar um resfriado ou coisa assim.

Você engoliu em seco.

— Alguma coisa mais? Dor em volta do tornozelo? Dormência?

Assenti com a cabeça.

— Um pouco.

Você verificou minha pulsação, encostou as costas da mão na minha testa e apalpou meu tornozelo. Depois, sacudiu a outra toalha e se inclinou sobre o meu peito, de testa franzida.

— Acho melhor trazer uma camiseta para você, não?

— O quê?

Com as bochechas ligeiramente ruborizadas, você gesticulou com a cabeça.

— Não quero que você se sinta desconfortável. — Você ergueu uma sobrancelha e forçou o sorriso novamente. — E eu também preciso me concentrar.

Você foi pegar a camiseta. Através da porta aberta, ouvi o guincho de uma ave de rapina, que devia estar circulando acima de nós, mas foi só. Apalpei o alto da perna. Até que ponto a picada teria sido grave?

Eu não conseguia saber se o seu tom brincalhão era porque você realmente não estava preocupado ou se era para disfarçar sua preocupação.

Você voltou logo e me deu uma camisa, me segurando enquanto eu a vestia para que eu não tivesse de mover muito a perna. Depois saiu e voltou com uma caixa de metal.

Abrindo a tampa da caixa, retirou um rolo de atadura e a enrolou sobre a camisa que já estava enrolada na minha perna. A atadura ficou bem
apertada.

— Não dá para acreditar como fui burro — você murmurou.

— Como assim?

— Eu deixei você ser picado, não foi?

Você colocou a caixa no chão e remexeu nela fazendo barulho. Curativos, ataduras e luvas de borracha caíram no chão enquanto você vasculhava dentro dela.

— Eu deveria ter capturado essa cobra há dias — continuou. — E deveria pelo menos ter tentado dessensibilizar você ao veneno dela. Mas é que eu nunca sou mordido por cobras e meio que
esperava... pensei que nós iríamos ter tempo para cuidar dessas coisas...

Você parou de falar quando encontrou o que estava procurando. Então retirou a mão de dentro da caixa. Sua mão estava fechada. Quando você a abriu, vi uma chave dentro dela.

Seus dedos pareciam estar tremendo. Seu rosto estava muito pálido, como quando você teve aquele pesadelo.

Senti uma súbita vontade de tocá-lo. Estiquei um pouco os dedos na sua direção e toquei seu rosto.

— Eu roubei antídotos de um laboratório de pesquisas — você explicou. — Você vai ficar bom.

Você foi até a pia e usou a chave para abrir a gaveta trancada que havia abaixo. Depois remexeu no conteúdo.

Suas costas me impediam de ver o que havia lá dentro. Você retirou alguns pequenos frascos de vidro e uma bolsa plástica cheia de um líquido claro. Colocou tudo sobre a bancada da pia. Em seguida pegou uma tira de borracha, uma coisa que parecia uma agulha e voltou para
perto de mim, deixando a gaveta aberta.

Então segurou meu braço e apertou algumas veias. Olhei para os frascos. Eram os mesmos que eu já tinha visto antes, espalhados à sua frente na mesa da cozinha.

— Você sabe o que está fazendo? — sussurrei.

— Claro. — Você esfregou a testa. — Você vai ficar bom. —De qualquer forma, aquela cobra não é tão perigosa.

— Até que ponto ela é perigosa?

— Vou dar um jeito. — Você amarrou a tira de borracha em volta do meu braço bem acima do lugar onde tinha apertado minhas veias.

— Olhe para o outro lado — você pediu.

Olhei para a gaveta aberta. Você abriu alguma coisa que produziu um estalo. Senti a picada da agulha, uma sacudida quando você prendeu a bolsa plástica... e alívio quando você desamarrou a tira de borracha. Depois, um súbito fluxo de sangue e soro percorrendo minhas veias.

— O que é isso? — perguntei, ainda olhando para a gaveta.

— Solução salina, que também peguei no laboratório de pesquisas. Misturei com o antídoto da víbora-da-morte. Deve começar a se espalhar pelas suas veias imediatamente, e você vai se sentir melhor.

Ao registrar suas palavras, virei a
cabeça para você.

Víbora-da-morte?

Você afagou meu rosto.

— O nome é pior que a mordida.

Olhei para o tubo enfiado em meu braço, observando o soro que, lentamente, saía da bolsa e entrava no meu corpo.

— Como você aprendeu a fazer isso?

Seus olhos se desviaram dos meus.

— Pratiquei em mim mesmo.

Você deu um tapinha na lateral da bolsa, verificando a rapidez do fluxo.

— E agora?

— Agora vamos esperar.

— Quanto tempo.

— Uns vinte minutos, não sei bem. Até a bolsa esvaziar.

— E depois?

— Depois vamos ver.

Você puxou uma das cadeiras da mesa, sentou ao meu lado e passou o dedo levemente na agulha espetada no meu braço.

— Eu vou melhorar depois disso? — perguntei acenando com a cabeça para a bolsa.

— Mais ou menos.

Uma vez mais vi suor na sua testa. E sua têmpora pulsando rapidamente.

— Você está preocupado — sussurrei. — Não está?

Você abanou a cabeça.

— Que nada — você arquejou. Sua boca estava petrificada em um sorriso. — Você vai ficar bom. Eu tenho outra bolsa dessas, caso seja necessário. Mas você vai ficar ótimo. Apenas relaxe e espere.

Mas seus olhos estavam irrequietos, e tremiam levemente nos cantos. Você soltou o ar dos pulmões, com deliberada lentidão, e pressionou os cantos dos olhos.

— O que vai acontecer comigo? — sussurrei. — O que você está escondendo?

Senti minha respiração acelerar e minha garganta apertar.

— Nada — você disse rapidamente. — Mas não entre em pânico, isso é a pior coisa que pode acontecer. Quando você entra em pânico, o sangue corre mais depressa e acelera a propagação do veneno. — Você massageou os músculos do meu pescoço. — Relaxe —murmurou.

Mas eu não conseguia me acalmar, não como deveria. Só conseguia pensar que iria morrer ali, numa mesa de cozinha, em meio a um bilhão de grãos de areia. Minha respiração se acelerou ainda mais.

Você pôs a mão na minha boca para me acalmar. Depois afagou meus cabelos.

— Não se preocupe, está tudo bem — você repetia sem parar.— Eu vou manter você saudável.

Fechei os olhos. Atrás das minhas pálpebras só havia trevas.

Talvez fosse tudo o que eu veria dentro em breve. Talvez a dormência que tomava conta da minha perna estivesse para dominar meu corpo, depois minha mente e depois seria o fim. Meu coração pararia de bater e uma dormência eterna assumira seu lugar. E eu iria para debaixo da areia, com areia por cima, por baixo e em volta de mim.

Agarrei com força as bordas da mesa,enterrando as unhas na madeira macia.

— Calma — você murmurou me abraçando logo em seguida.

Eu já havia pensado na morte antes, diversas vezes. Mas a morte que eu imaginava, violenta e dolorosa, seria causada por você. Não seria essa morte letárgica e imperturbável.

— Você não vai morrer — você sussurrou. — Só precisa esperar. Eu estou aqui e sei como ajudar. Só não entre em pânico.

Você acariciou meu rosto.

— Amor, eu não vou deixar nada acontecer com você.

Você afastou as mechas de cabelo suadas que cobriam minha
testa.

— Você está com febre — murmurou.— Muita febre.

Cerca de metade do soro da bolsa já tinha entrado dentro de mim, mas eu ainda sentia uma dorzinha incômoda na extremidade da perna. Seria por causa da picada da cobra ou porque as ataduras estavam muito apertadas? Você verificou meu pulso novamente.

— Você está ficando enjoado? — perguntou.

— Na verdade, não.

— Alguma dor no estômago?

— Não.

Você colocou os dedos sobre a boca enquanto pensava. Depois olhou fixamente para minha perna enfaixada.

— Ainda está doendo aí?

— Sim.

Tive a impressão que a dorzinha incômoda já tinha chegado ao joelho, e subia vagarosamente pela minha coxa. Estendi a mão e toquei um lugar próximo ao ponto onde ela parecia estar.

— Está aqui — eu disse. — A dor está aqui.

Você fechou os olhos por um segundo. O canto de um deles ainda estava tremendo. Você pressionou aquela parte da minha perna e deslizou os dedos até o tornozelo.

— O veneno está viajando rápido — você sussurrou. Para você mesmo, eu acho. — Está tudo inchando. — Olhou para a bolsa de soro e a apertou para ver quanto ainda restava.

— Vou colocar o outro frasco.

Olhei você retirar o antídoto com a agulha e injetá-lo na bolsa. Você agitou a bolsa.

— Isso vai te dar um barato — você disse.

Você tentou sorrir, mas só conseguiu fazer uma careta.

— Esse é o último frasco, não é? — perguntei.

Você assentiu, com o rosto tenso.

— Deve bastar.

Você começou a limpar minha testa novamente, mas eu segurei sua mão. Acho que não queria me sentir sozinho naquela hora.

Não queria que você se sentisse sozinho também.

Seus olhos se arregalaram quando você sentiu meus dedos tocarem você. Percorreram meu rosto, minhas bochechas e minha boca, descendo pelo meu pescoço. Eu era o melhor panorama que você jamais teria.

O estado em que deixei você, naquele momento, fez com que eu me
sentisse eufórico.

— Você está tonto? — você perguntou.

— Um pouco. Parece que estou flutuando.

Comecei a apertar sua mão, desejando que parte da sua força se infiltrasse em mim. Você me encarou. Havia perguntas em seus olhos, e pensamentos por trás deles.

— A essa altura, o antídoto já deveria estar funcionando — você disse. — Não sei por que não está.

— Talvez leve tempo.

— Talvez.

Pude sentir a tensão nos seus dedos.

Você olhou para a bolsa de soro. Depois se levantou rapidamente e se postou ao lado da porta aberta.

Meus dedos esfriaram depois que você os largou. Pestanejei. Os contornos dos armários da cozinha estavam se esfumando. Tudo ficou ligeiramente desfocado. Eu me senti
flutuando numa névoa.

Você começou a andar de um lado para outro. Depois pegou os frascos vazios e começou a ler os rótulos, franzindo a testa.

— O que foi?

Você deu um suspiro. Um dos frascos se quebrou na sua mão.

— A única explicação que consigo encontrar é que o antídoto não está funcionando corretamente. O lugar em que eu guardei os frascos... minha preocupação é que estivesse muito quente.

— Isso significa o quê?

Você voltou para perto de mim, tropeçando na cadeira, e pousou a mão úmida no meu ombro. Seus olhos procuraram os meus.

— Significa que temos duas alternativas.

— Que alternativas?

— Ou ficamos aqui e enfrentamos a situação... eu tenho outras substâncias, naturais, que podem ajudar você. Ou então...

— O quê?

Você limpou a testa com o lado da mão.

Ou nós voltamos.

=

vocês tão animadas pra "miss you"? louis pagou aquele mico falando que é pra @, mas ninguém liga né, mores?!! o que importa é o hino.
meu twitter é @waslarries, me mandem uma dm lá pra gente bater um papo maroto kkkkjjj

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