Dois Anos Antes
Lembro que no último ano do Ensino Médio foi terrível pra mim. Diferentemente dos anos anteriores, mudamos quatro vezes de cidade. O que significa? Eu mudei quatro vezes de escola.
A quarta mudança foi em Setembro. Ou seja, quase fim do ano, por sorte encontrei vaga naquela escola.
Meu primeiro dia de aula foi horrível. A professora e a diretora entraram junto comigo na sala de aula.
Diretora: Fernando?
Eu: Sim?
Diretora: Por favor, sente-se aqui na frente. Você vai precisar de uma atenção especial.
Nem preciso dizer que todos os olhares da sala estavam em mim. Preciso?
Diretora: O ano está quase acabando e você precisa melhorar suas notas, se não quiser repetir de ano ou ficar de recuperação. (escuto risos)
Professora: Seja bem-vindo a nossa escola. Sou a professora Marlene. E muito me surpreende você ter se mudado quase no fim do ano. Sua família não podia esperar para se mudar?
"Claro que não!"
Diretora: Eu observei o histórico dele, é a quarta vez que mudou de escola esse ano. Qual o problema com você?
Eu: Não tenho problema algum. É por causa do trabalho do meu pai.
"Não me pergunte o que ele faz. Não me pergunte! Que tal começar a aula?" -Gritei internamente.
Diretora: Suas notas das escolas anteriores, ficaram baixas. Essa mudança constante faz com que seja prejudicial para você. O que seu pai faz? Não tem como te deixar com um parente?
Eu: Não.
Professora: O que seu pai faz?
Eu: Ele é pastor.
Diretora: Entendi. Passe uma atividade para eles, Marlene. Temos uma reunião importante agora. (saiu da sala)
Professora: Turma, façam as atividades das páginas 110 e 112. Pode ser em grupo de no máximo quatro pessoas. Se comportem.
(saiu da sala)
Erik: Então ele é filho de ladrão. Filhinho de pastor.
Paulo: Amém irmão. Amém.
Erik: Glória. Paguem seus dízimos e ofertas. Me dêem dinheiro para comprar um carro novo, uma casa na praia, roupas de caras... Amém?
Paulo: Amém. E todos dizem...
Classe: Amém. (risos)
Começaram a zombar de mim, e eu não sou de ficar quieto.
Pablo: Seu ladrãozinho.
Partir pra cima de um deles e os outros tentavam me segurar.
Classe: Briga, briga, briga!
Miguel: Parem com isso. Deixem o filho do pastor em paz.
Eu: Meu nome é Fernando. Fernando!
Diretora: Todos vocês na minha sala, agora!
Não me arrependo de ter ido pra cima deles.
Diretora: Se comportem. Porque da próxima vez... Suspensão para todos.
Ela ligou para minha mãe. Ao chegar em casa, meu pai me deu uma bronca. Confesso que não queria voltar pra escola, porém me obrigaram.
Henrique: O que está acontecendo com você, Fernando? Que mal testemunho deu a seus colegas!
Eu: Eu não iria ficar quieto ouvindo insultos.
Henrique: Não quero saber. Você está de castigo. Casa, igreja e escola. Entendeu?
Naquela semana nem fui à igreja, fiquei irritado com meu pai. Como ele não pôde ficar do meu lado? Isso é muito injusto.
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