Floresta do Sul

By InTheClows

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• Livro I • Segundo livro já disponível: Colina do Sul. Chloe Lidell. Desde a barriga foi destinada a algo gr... More

Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXIII
Agradecimentos
Informações sobre o livro II
Curiosidades FS
Aviso extremamente importante
NOVIDADES DO LIVRO EM PAPEL
Aviso (leiam todos, inclusive os que ainda nao terminaram de ler, por favor)
Atualização Completa e Colina do Sul
Ainda há alguém aqui?
Por todos vocês

Capítulo XVIII

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By InTheClows

Descemos a colina em silêncio quando não havia mais sinal de inimigos. Peguei as flores que havia largado no chão para salvar Rhys e adentramos a floresta antes que ficasse mais escuro. Eu andava com destreza, desviando dos obstáculos da floresta. Ninguém olharia para mim agora e diria que um dia corri ali, de salto, caindo e me machucando, com medo, indefesa.

Eu estava orgulhosa de mim mesma, da pessoa que me transformei porque eu quisera me transformar.

No final, nunca servi para ficar presa no orfanato ou no castelo mesmo. Eu não podia, e não queria ser o molde e a imagem perfeita. Preparando festas, recebendo convidados, me portando como uma dama, preparando discursos calorosos. Eu não queria ser aquilo. Eu gostei de ter algum poder, de causar medo, de lutar, de se renderem a mim. Todos eles, o Castelo, o príncipe, o rei, todos eles me deixaram aqui para morrer. E posso ter contado com a sorte, por Rhys não me matar, por ninguém mais me ferir, mas agora eu conseguira me defender.

As últimas palavras de Rhys para os Legionários ficavam dançando em minha mente, embora eu tentasse me convencer que fora apenas para continuar preservando minha identidade. Aperto a máscara ao redor do rosto.

– Achei que fosse matar todos eles. – Rhys comenta depois de dez minutos de caminhada silenciosa. O céu começava a ficar escuro em alguns pontos.

– Ainda não estou pronta para tal coisa. – Eu não queria matar ninguém. Eu não estava feliz por ter tido essa chance, mas sim por conseguir me salvar e salvar a Rhys. Por saber que eu não era tão indefesa quanto antes.

– Você me salvou. – Ele constata, arqueando as sobrancelhas, a expressão ainda surpresa.

– Eu sei. – Sorrio enquanto pulo um galho. – Era difícil imaginar que a garota que caiu e bateu a cabeça em uma árvore faria isso, não é? – Penso por um minuto. – Você tinha razão, Rhys. Tudo tem consequências aqui.

– Não estou surpreso por você ter conseguido, eu sempre soube que você era forte, estou surpreso porque você voltou por mim, mesmo depois de tudo que fiz. – Ele me lança um olhar sincero e um sorriso que faz meu peito inflar. – Mas eu sempre soube que você era forte e inteligente. Desde o dia em que tentou fugir de mim, no palácio, na primeira vez que a vi. – Ele sorri de novo e meus joelhos vacilam por um segundo. – Com seus saltos assassinos, com sua correria com eles, com sua esperança. Ou quando adentrou a floresta noturna com uma lanterna de brinquedo. Você nunca deixou de lutar, em momento algum, e você pode estar melhor agora, mas você sempre foi forte.

Meus olhos lacrimejaram sem minha permissão, emocionada.

Tão tola... Eu fora tão tola ao me contentar com um pedido de desculpas simples e um forçado você é linda de Caleb. Eu me agarrei àquele simples elogio como se fosse o suficiente para me fazer ser outra pessoa, apenas porque nunca havia escutado algo que realmente importasse como o que Rhys dissera.

Mas eu não era mais aquela garota de quase três meses atrás.

— Obrigada. — Sussurrei em meio a caminhada.

Não falamos mais palavra alguma, alerta a sinais de inimigo e nos guiando apenas pela luz da lua. A escuridão era bem-vinda para ajudar a nos mantermos escondidos até os portões de Nevra.

Apenas quando já estava subindo os degraus da varanda de casa, ansiando descanso, Rhys segurou meu pulso, me fazendo o encarar.

— Eu também teria voltado por você.

***

Acordei cedo na manhã seguinte.

Tomei um banho rápido e vesti uma regata branca, calças pretas acompanhando a cor da bota que alcançava o início dos joelhos, e o casaco azul marinho, quase preto.

Me demorei um pouco fazendo uma trança lateral, e quando desci, todos já deviam estar lá dentro. Do lado de fora já podia ouvir as risadas, o falatório, pareciam.

Abri a porta entrando devagar. Todos os olhares se voltaram para mim imediatamente, acompanhado de um silêncio constrangedor. Corei por completo, congelada no lugar, com a mão na porta e metade do corpo ainda para fora.

Então, quase ao mesmo tempo, eles abriram sorrisos largos e gritaram meu nome. Acho que corei ainda mais. Não fazia ideia do que estava acontecendo ali, mas quando Patrick – ou Peter – chegou perto de mim, segurando meu cotovelo, me conduzindo para que eu entrasse, deixei que ele me guiasse até a cabeceira da mesa enquanto as pessoas ainda gritavam para mim, sorrindo. Tratei de abrir um sorriso agradecido, mesmo sem saber o que estava acontecendo exatamente.

Rhys contornou a mesa e naquele momento me desliguei de todo o barulho e fiquei alheia a tudo que estava acontecendo ali. Ele caminhou como um gato sorrateiro, elegante até o último fio de cabelo. Seu sorriso era amplo e lindo como a cachoeira que havíamos visitado, enquanto andava olhando para mim, passando atrás de cada pessoa, e assisti aquilo em câmera lenta. Ele estava absurdamente encantador em um casaco de couro, os cabelos brancos como a neve bagunçados, o olhar confiante e orgulhoso. Tive que me segurar na mesa para não cair quando ele parou ao meu lado, pegou minha mão e beijou o dorso, fazendo todos gritarem ainda mais.

– Todos estão agradecendo por ter me salvado. – Rhys diz baixinho perto do meu ouvido ao notar meu olhar confuso. Sua respiração em minha orelha, meu pescoço; estavam me deixando louca.

– Você contou para eles? — Pergunto, mantendo o sorriso no rosto para eles.

– É claro que contei.

– Por quê? – Ele me lança um daqueles olhares intensos que me arrepiavam da cabeça aos pés.

– Porque quero que saibam, que vejam, que você é forte, que vejam o que eu vi em você desde o primeiro dia.

E com isso ele me deixou sem palavras. Rhys me conduziu para me sentar ao seu lado. As pessoas se acalmaram e todos começamos a saborear o banquete que Selena e Laurien haviam feito. Lancei uma piscadela para elas do outro lado da mesa, em agradecimento. Todos os olhares ameaçadores e rudes que sempre haviam ali, tinham sumido. Todos me olhavam com surpresa, agradecimento e orgulho estampado no rosto.

Fiquei surpresa por Rhys tê-los contado, e com detalhes, pelo que comentavam. Ele não se importou se pensariam que ele fora fraco, não se importou se pensariam que ele foi um líder descuidado e que foi pego. Não que tivesse sido, mas eu sabia bem como podiam esperar perfeição de alguém, de como poderiam tê-lo criticado. Ele não se importou por mim.

Milhares de perguntas vieram e ficamos ali até o almoço, quando todos ajudamos e fizemos um banquete ainda melhor que o café da manhã. Eu estava feliz, imensamente feliz. Aquele momento, em que todos se tornaram amigos, em que todos nos aventuramos no fogão fazendo uma bela bagunça, e rimos juntos, como... uma família.

***

Acordei ao alvorecer. Não havia conseguido treinar muito na madrugada anterior, então acordei antes do sol e me levantei disposta para o treino. Me posicionei na sala, diante da almofada de areia que havia enchido e pendurado no teto, com um prego velho e enferrujado que encontrei na parede do quarto vazio da casa.

Uma vez tinha visto Peter treinar. Ele socava alguma coisa parecida. Então, naquela mesma semana, quando Rhys e eu ainda estávamos distantes, eu fiz meu próprio saco de pancadas. E agora repetia os poucos movimentos que o vi fazer.

Um soco com a direita, outro com a esquerda, rápido.

Um-dois. Um-dois.

Costumava ficar repassando lembranças enquanto fazia isso. Tornava a dor nos músculos e nos punhos enfaixados de tiras que cortei de um lençol antigo; mais amena. Meus dedos se estralavam com o esforço, com a força, mas eu ignorava a dor e regulava a respiração.

Respirar, socar, um-dois, desviar. Respirar, socar, um-dois, desviar.

Me lembro quando estava no orfanato e recebi algumas básicas aulas de luta, que me salvaram no dia do ataque. Gina estava lá, mas ela, assim como as outras garotas, se recusou a tentar lutar. Jovem Flent, o garoto chato e irritante que ficara pouco mais de três meses, que Gina comparou com o príncipe, certa vez, pelo telefone, quando eu estava perto de ir para o Castelo; estava lá. Eu treinei uma semana, o básico. Treinei apenas o desvio, a agilidade, e a força de todo meu corpo que teria de usar. Flent e eu fomos elegidos os que mais se sobressaíram nos treinos, no aprendizado. Então nós dois subimos no ringue improvisado no saguão do orfanato.

Miranda nunca quis que eu lutasse ou treinasse, mas eu, daquela vez, não obedeci. E quando Flent e eu subimos no ringue, ele me olhou com devida cautela, receio e... bom, me pareceu tristeza. Ele me irritava, a mim e a Gina, em cada canto daquele orfanato, mas na hora que tivemos de enfrentar um ao outro, fisicamente, ele recuou. E eu interpretei errado. Eu estava tão nervosa naquele dia, havia discutido com Miranda, porque ela achava que eu iria me machucar, apanhar; ela não acreditava em mim. E quando ele recuou, eu achei que ele também não acreditasse. Que estivesse com pena.

Então, começamos a lutar. Ele não golpeava, apenas se defendia enquanto me olhava assustado pela brutalidade de meus golpes. E eu fiquei com ainda mais raiva por ele não lutar. Eu gritei, gritei que lutasse comigo, que parasse de se defender, que simplesmente lutasse. Ele não me ouviu, ele me olhava como se nunca tivesse me visto, todos olhavam, porque ninguém acreditava em mim.

Então, continuei lutando com Flent, ele continuava apenas se defendendo. E mesmo diante dos olhares de todos no orfanato, eu fervi de raiva, de ódio. Por não acreditarem, por me subestimarem, por me acharem fraca e indefesa, por Flent não lutar. E juntando tudo isso com minha interpretação de ele ter recuado por também me achar fraca, eu lhe apliquei um golpe no rosto.

E quebrei seu nariz.

Sangue jorrou no ringue branco. Ele caiu segurando o nariz e eu parei. Vi o que havia feito. Vi o que eu me tornei naquela luta. Minhas mãos estavam sujas de sangue, sangue dele. Todos me olharam horrorizados, enquanto alguns socorriam o garoto caído. Não suportei olhar de novo para Flent e saí correndo, mesmo sob protestos de Miranda, me trancando no terraço. E chorei. Chorei muito, secando o sangue das mãos e arrancando as faixas.

Quando desci, duas horas depois, eles já haviam colocado o nariz dele no lugar e ele estava deitado em uma das camas, com um curativo no rosto. Eu não queria ver ele, o que eu havia feito, mas me obriguei a ir pedir desculpas. Ele sorriu para mim. Mesmo depois que eu quebrei seu nariz na frente de todos, Jovem Flent, o garoto insuportável, sorriu. E ele não brigou comigo. Ele disse que entendera, e me explicou que recuou simplesmente porque sabia que eu era mais habilidosa que ele, que mesmo que ele tivesse músculos, eu aprendera mais. E não lutou comigo porque não se perdoaria se me machucasse.

No dia seguinte o treinador levou ele para algum lugar que nunca me contaram onde era, sempre imaginei que fosse para o castelo, para ser guarda. Mas eu nunca me perdoei pelo que lhe fiz. E nunca mais lutei, e não quis mais lutar.

Até o dia em que precisei. E até perceber que eu só precisava me controlar.

Quando areia se espalhou pelo chão eu saí do devaneio, das lembranças, da raiva e da culpa. Olhei para minhas mãos. Elas estavam machucadas, sangrando. Eu bati com tanta força e concentração que rasguei o travesseiro, que me machuquei. Afastei todas aquelas sombras do passado e praguejei olhando a bagunça. O sol já estava totalmente alto, eu estava suada da cabeça aos pés, usando uma regata branca e calça de couro.

Deixei a bagunça de lado tomando um banho rápido e trocando de roupa. Enfaixei as mãos com tiras limpas, escondendo os machucados, e desci rápido para ajudar no café. Rhys foi um dos últimos a entrar, parecia sonolento, mas sorriu para mim. Sorri de volta sutilmente e me sentei no único lugar que sobrara, o único que deixaram para mim. Ao seu lado.

Ele pegou um pão na bandeja a nossa frente e tratei de fazer o mesmo. Estava faminta. Conversei com Peter e Patrick, algumas pessoas ainda me perguntavam sobre o episódio na colina. Rhys ficara calado durante todo o café da manhã, e esperou até todos saírem, exceto Selena e Laurien, então finalmente abriu a boca:

– Posso conversar com você? – Aquela era uma das frases que eu mais odiava.

Meu corpo ficou tenso e enrijecido na mesma hora. Eu odiava aquela frase porque era a que Miranda normalmente usava antes de dizer que iria me proibir de fazer alguma coisa..

– Eu preciso ajudar na cozinha. – Respondi mais grossa do que queria.

– Tudo bem, cuidamos de tudo, pode ir, Chloe. – Selena me lança uma piscadela. Sorrio fraco apesar da tensão. Se eu não gostasse dela, lhe amaldiçoaria mentalmente.

– Obrigada. – É tudo que digo e ela assente se virando para o balcão.

Saio com Rhys ao meu lado. Ele parecia um pouco tenso também. Caminhamos até nossa rua e nos sentamos na varanda de minha casa.

– Amanhã é a Festa de Inverno. – Não deixei que ele visse o alívio que tomou meu corpo. – Normalmente todos usamos nossas melhores roupas, é um dia especial.

— Bom... Acho que esse casaco é o melhor que tenho.

– As garotas já fizeram compras, e acho que... você também devia fazer as suas.

– Não sabia que haviam lojas na floresta. — Arqueei as sobrancelhas, surpresa.

– Enão tem. – Ele pareceu nervoso. – Mas se você quiser, se prometer não... euconfio em você, mas gostaria que prometesse que não tentaria... uma loucura.Enfim, se você quiser, eu posso te levar ao Reino, para comprar uma roupa paravocê, hoje á noite. – Ele conserta a postura enquanto meu corpo volta a ficartenso. – E com Reino, sim, eu quero dizer dentro dos muros.






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