Perfeitamente Quebrados

By LucasBrasilS03

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[Vencedor do Wattys 2017] Capa by @anniectorres Uma infância traumatizante, uma adolescência a ser esquecid... More

Prólogo
Professor Pedro
Bruna
Quando o amor acaba
O grande dia
O início do meu fim
Eu e ele
Estou aqui
Problemas
Que horas são?
Família Garcez
*PERSONAGENS*
Reunião de pais
Segredo
Amigos
Olá Anônimo
Café da manhã
Convite
AVISO
Vende-se
O Baile - Parte I
O Baile - Parte II
AGRADECIMENTOS
Um Presente de Natal
NÃO É CAPÍTULO
Booktrailer! *Leia*
Casa de praia
*AVISO* Grupo Whats
*MAIS AVISOS*
Desespero
Acorde!
*ENTREVISTA*
Jantar
Até mais
OBRIGADO
Lar doce lar
Sentiu minha falta?
Wattys 2017
Um Novo Tempo
A gente se vê
Eu voltei
Batman e Alfred
À Luta!
LEIA
Irmãos
Teo

"Relembrar é Sofrer"

720 93 31
By LucasBrasilS03

P.s: OBRIGADOO PELOS 20K GALERA! Vocês são demais como sempre, e por favor, eu imploro, me desculpem pelo sumiço! Em certos momentos da história eu travo sem ideia nenhuma de como continuar e leva um tempo até me inspirar hahahaha enfim, boa leitura a todos!

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Uma semana se passou desde que as aulas voltaram. Tanto para mim quanto para Miguel, que tem amado a escola.

Voltei infelizmente (ou felizmente) a minha feliz e infeliz rotina de sempre.

Tudo o que posso fazer é sentir saudades daqueles nossos dias na praia. Me pergunto como deve estar Naomi.

Sam com certeza deve saber.

Agora era noite e eu estava assistindo Grey's Anatomy na sala. Sempre dizendo a mim mesmo que iria dormir depois do próximo episódio, mas esse último episódio parecia nunca chegar.

Levantei para ir até a cozinha pegar um copo de água quando pra minha surpresa ouço o som da campainha.

Desconfiado, vou até a porta e a abro.

—Posso entrar? — Larissa pergunta logo assim que me vê.

—Er... Pode, claro. Vem, entra. — abro passagem para ela e fecho a porta atrás de nós. —Aconteceu algo? Você parece séria.

—É sobre a adoção.

—O que tem ela?

—Você sabe o que tem ela. Foi por isso que você saiu do meu escritório daquele jeito naquele dia. Você tá preocupado com sua ficha médica oras.

Então era isso que ela tava pensando. Me forcei a sorrir.

—É...

—Bom, você disse que podíamos conversar fora do meu escritório e eu concordo, então se não estiver muito ocupado... Aqui estou eu. — ela sorriu.

—O que exatamente eu devo falar?

—Tudo.

Tudo é muito, pensei.

—Larissa, eu...

—Olha, eu sei que você quer essa adoção o mais rápido possível e eu quero ajudar, mas não posso ajudar se você não deixar. O primeiro passo pra isso é você abrir o jogo comigo. E eu abrir o jogo com você: não sei se suas chances são boas. — falou jogando um balde de água fria em mim.

—Por que? — foi tudo que consegui pensar em falar.

—Você tentou suicídio há menos de um ano e frequentou sessões psiquiátricas até poucos meses atrás. Para eles você vai ser considerado no mínimo alguém instável e inapto.

Droga, eu desejava que ela fosse menos direta nesse momento.

—E o que vamos fazer? — abaixei a vista ao chão.

—Nós vamos tratar de garantir que todo o resto está perfeito primeiro só depois nós tratamos dessa questão.

Engoli em seco.

—E se esse não for o único problema? — perguntei já me preparando para o pior.

Larissa me olhou séria e sem entender.

—O que você quer dizer Pedro?

Expirei e sentei no sofá esperando ela fazer o mesmo.

—Eu não sei se tô pronto pra falar sobre isso.

—Sobre o quê Pedro?

—A verdade é que eu cometi alguns erros durante minha vida.

—Normal, quem nunca? — ela riu. —Eles não vão te culpar por ter cruzado uma avenida com o sinal vermelho seu bobo.

—Não Larissa. É muito mais que isso. Eu... Não sou tão santo assim como você imagina.

Seu sorriso se desfez de seu rosto ao ver que eu falava sério.

—Então... O que você fez?

—Eu cometi alguns erros durante minha vida. Especificamente, depois da morte da minha mãe, quando eu era adolescente.

Larissa ficou em silêncio esperando que eu continuasse. E não vi outra opção. Era realmente agora, não teria outra oportunidade nem a coragem que sentia agora.

—Eu me envolvi com algumas amizades erradas. Alguns garotos do orfanato, que conheciam outros das ruas que... Bom, você sabe, é um ciclo.

—Não, eu não sei, mas continua.

—Depois que os tios adotaram o Sam e eu fiquei sozinho, eu virei presa fácil dentro daquele lugar sabe. Nesses lugares existem dois tipos de gente: os individuais que não falam com ninguém e os rebeldes, revoltados com a vida pelo simples fato de serem órfãos. Porém, eu não culpo esses, afinal sei como é agir como um idiota para ter a atenção que você não teve dos pais. Bom, até então eu era um dos que não falava com ninguém. Sam era uma anomalia, que estava sempre sendo legal com todos e ao mesmo tempo seguindo cada regra, agindo sempre direito e inocentemente. Quando ele foi embora... Eu não tinha mais porquê não me juntar com os outros. Ele me acostumou a ter a companhia de um amigo, eu que era totalmente isolado. Então quando ele foi embora...

—Você já estava acostumado e precisou procurar novas companhias... — completou Larissa.

—Isso. — respondi. —E eu encontrei. Alguns adolescentes que sempre estiveram no orfanato com a gente e outros que eram recém chegados. Todos conhecidos por serem problemáticos.

—Ainda não vi o porquê disso ser preocupante.

—Nós já não andavámos muito certo e vivíamos aprontando, fugindo da polícia, etc. Um bando de delinquentes. O problema começou quando um dia eles começaram a bolar um "abastecimento". Sabe como é, um bando de adolescentes sem grana alguma, em busca de se ver livre e independente daquele lugar, da comida daquele lugar, da cama, de tudo...

—Espera. Um "abastecimento"?

—Sim... — suspirei. —Um termo mais suave para o que na prática eu chamaria de assalto.

—Ah...

—Então, todos do grupo iam participar. Desde garotos de 13 anos até os mais velhos de 17. Prometeram que no final estaríamos todos longe dali com grana suficiente para sobreviver.

—E você acreditou?

—E eu acreditei. De certa forma, eu entendo porque eles eram assim. Enfim, o líder, o mais velho do grupo que estava prestes a fazer 18 anos e nunca fora adotado se via prestes a ter que sair do lugar, pra viver a mercê de nada. Acho que no fundo o plano todo se resumia em ele conseguir dinheiro pro que vinha a seguir em sua vida. De qualquer jeito, todos nós nos metemos nisso. A princípio o plano era simples e cada um tinha um papel. Em uma madrugada nós sairíamos depois do toque de recolher e iríamos até o mercado que ficava perto do orfanato. Era bem movimentado, o mais movimentado do bairro aliás, funcionava 24h então nesse horário estaria apenas o dono ali e provavelmente alguns poucos funcionários, as ruas estariam desertas e poderíamos agir. Ele, o líder, iria se encarregar de distrair o gerente enquanto outros ficariam vigiando do orfanato pra garantir que não sentiriam nossa falta. Outros iriam ficar do lado de fora pro plano de distração e eu mais alguns faríamos a limpa dentro do mercado.

Larissa ouvia tudo atenciosamente, sem perder uma informação sequer.

—Tava tudo dando certo. Os cuidadores do orfanato não estavam por perto, a rua estava deserta como planejado, e Kyle conseguiu distrair o dono para fora da loja. Eu e meu grupo entramos então, e começamos a pegar tudo de mais caro, também coisas básicas ao dia a dia, e no fim limpamos os caixas. O que ninguém esperava era que...

—O que Pedro!?

—Assim que pegamos tudo, fomos para fora nos encontrar com o resto do grupo. Mas quando chegamos não encontramos Kyle nem os outros. Ao invés disso encontramos luzes da viatura por toda a rua. Alguns carros da polícia já estavam no orfanato que estava com suas luzes ligadas e outros estavam em frente ao mercado, exatamente na nossa frente. Fomos levados pra delegacia sem entender o que afinal de contas podia ter dado errado. Depois de prestar depoimento e passar por outras burocracias descobrimos que Kyle e o restante já estavam lá antes de nós. Aparentemente a distração não deu certo, o dono do lugar percebeu o que se passava e logo tentou correr de volta pra loja, mas Kyle não deixou e os dois entraram em um conflito. Porém o homem apesar de velho era bem maior que Kyle e assim pulou em cima dele, os outros tiraram o homem de cima dele e em um estouro de raiva... Kyle de alguma maneira sacou uma arma da qual nenhum de nós tinha conhecimento e atirou no homem. Um garoto de 14 anos, do grupo de Kyle, assustado, acionou a polícia assim que as coisas começaram a dar errado. Porém quando chegaram já havia um corpo como consequência de tudo isso. Eles desse grupo de distração foram levados como principais culpados e nós que estávamos dentro... Sofremos as consequências também é claro, mais leves, pois conseguimos convencer a todos no final que não fazíamos ideia de que Kyle estava armado e sequer faria uma coisa dessas. Confiscaram de volta tudo que roubamos, encontraram drogas e munição, provavelmente também de Kyle e por pouco eu e mais alguns poucos sortudos não fomos pro reformatório. Graças a tio Robert na verdade. Kyle no entanto foi, pois estava prestes a atingir maior idade e logo responderia por homicídio. E nós... Bem, fomos fichados, também fomos historiciados por alguns deslizes passados, que até então nunca tinham conseguido nos pegar. — ri em pensar ironia e tamanha desgraça que aquela noite rendeu. —E bom, vamos carregar marcas disso pra sempre.

Larissa ficou em silêncio, absorvendo tudo o que acabara de ouvir.

Fechei os olhos pensativo. Ainda era difícil pra mim lembrar disso. Acho que nenhum dos outros sabia (oi se preocupavam em saber), mas aquele homem tinha uma filhinha, que eu sempre via no mercado e também pelo bairro.

Na hora do incidente ela devia estar dormindo. Talvez seu pai que tivesse a colocado pra dormir, com uma história ou uma canção... E dormiu sem imaginar que acordaria órfã. E eu não imaginaria que seria parte culpado disso.

—Então tio Robert sabe disso? — ela perguntou.

—Sim. Sam descobriu o que havia acontecido, de algum jeito e implorou pro pai que me ajudasse. Foi assim que eu e tio Robert nos aproximamos. Sinceramente, depois disso eu não esperava que ele me recebesse em sua casa assim que eu fizesse 18, mas ele me recebeu.

—Entendo... — assentiu.

—Bom, esse é meu drama adolescente. Com certeza nem se compara aos seus, e você tem todo o direito de pensar seja lá o que estiver pensando de mim. Eu só quero... Sua ajuda pra conseguir vencer essa causa. Eu sei que eu também não ajudo, com todo esse histórico criminal e também de saúde mas eu também sei que você é uma das melhores advogadas que conheço. Então...por favor.

Ao terminar de falar apenas vi Larissa estender as mãos até meu rosto, para enxugar lágrimas que rolavam em meu rosto e que eu sequer percebera.

—Você errou. Mas incrivelmente você ainda é o homem mais íntegro que eu conheço. Confesso que vai ser difícil Pedro. Não quero te dar esperanças, porém... Eu também não quero que sua felicidade seja interrompida por um erro do seu passado, do seu eu do passado. Você mudou, você melhorou, e você e eu vamos provar isso se necessário ok? — disse ela com as mãos em meu rosto.

—Ok...

Ela me deu um forte abraço e depois continuamos deitados ali no sofá por alguns minutos. Larissa acabou caindo no sono e eu a carreguei até a cama de seu antigo quarto.

Fui para o meu pois já estava tarde. Desliguei as luzes e me deitei. Pensando em tudo.

Não pode ser possível que isso vai ser o suficiente pra impedir a adoção.

Eu realmente falei pra valer quando disse que acredito em Larissa, mas... Eu não sei se acredito em mim mesmo.

A história foi contada. Não havia mais segredos entre mim e minha "advogada". Estávamos finalmente a um passo de planejar como fazer isso.

Sei que Kyle que puxou o gatilho, mas até hoje eu sinto que de alguma forma eu também puxei.

Kyle... Será que ainda estaria na prisão?

Sem sono peguei o notebook e comecei a pesquisar. Joguei o incidente no google e procurei nas notícias pelo nome dele, pois não lembrava.

Depois de muito procurar e digitar, descobri seu nome e onde estava.

Kyle Dantas.
Data da morte: 23/05/2015
Causa: suicídio.

E assim fui dormir. Pensando que talvez devesse tê-lo visitado antes, porém sei que não posso viver me culpando por tudo.

Apenas penso que... Poderíamos ser irmãos de obituário hoje.

Que piada idiota e mórbida.

Enfim, eu podia ter ajudado. Ou não.


















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