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Taehyung estava desacordado há duas horas. O médico disse que a dor tinha sido demais para que ele aguentasse acordado, e assim que chegou ao hospital, trataram de sedá-lo imediatamente.
Aquela notícia perfurou o coração de Jimin como se fosse um tiro. A bala estava alojada.
O anzol estava cutucando suas costas de novo, e ele não achava que ia conseguir se livrar dele tão fácil.
Os pais de Tae viajavam para Daecheon e já deviam estar chegando. Sua mãe, a Sra. Park, tinha ficado em casa com Damon, pois ela ainda não tinha habilidade motora o suficiente para ficar muito tempo de pé - ou mesmo andando, então seu pai pediu que ela não se precipitasse.
Mas para Jimin, aquela frase ainda doía.
Por que precipitar? Taehyung, seu melhor amigo, estava gravemente ferido. Sua mãe o conhecia desde sempre. Não era nada precipitado, era consideração!
Yoongi, porém, não saía de seu lado. Ele não dizia nada, não se mexia muito, mal o olhava nos olhos por muito tempo. Mas todas essas coisas que ele não fazia, o Park sabia que ele queria fazer. Quando acontecia de se encararem, dava para notar a aflição do moreno e o quanto estava tenso. E era o suficiente.
O Sr. Park, por outro lado, estava mais nervoso do que preocupado. A quantidade de vezes em que ele culpou Tae por andar com Draco tarde da noite fazia o rosa querer vomitar.
- Para de chorar, filho. Ele vai ficar bem, ele só caiu.
Yoongi levantou a cabeça. Seus olhos semi-cerrados encararam o Sr. Park diretamente, negros como a noite, frios como geleiras, ameaçadores como se fossem disparar laser. Jimin engoliu o choro, pousando a mão na coxa do rapaz discretamente, olhando em seus olhos, procurando pelo Yoongi de antes, que estava o passando segurança. Ninguém precisava de desentendimentos agora, muito menos entre duas pessoas que ele gostava.
Sob o olhar repentinamente mais afetuoso do moreno, Jimin ruía.
Taehyung era o seu forte, a sua muralha. Jimin não era forte por si só, e ver a sua força reduzida a um mero corpo desacordado destruía suas esperanças. Ninguém disse que Tae ia morrer, mas a perna dele estava claramente muito ruim, ao ponto da pele ter cedido, do osso ter saltado e quebrado, e de Taehyung ter ficado tão assustado que seus olhos pareciam prestes a cair do rosto.
Eles se conheciam desde pequenos. Não havia um dia de tristeza na vida daquele garoto, e o rosa tinha se acostumado com o Tae invencível, o Tae inabalável. Vê-lo machucado o drenava. Lembrar do quanto ele chorou de desespero partia seu cérebro em mil pedaços inúteis, porque o rosa logo se lembrava do quão impotente ficou na hora. Não havia nada que pudesse fazer pelo seu amigo de vida.
De uma coisa, o baixinho tinha absoluta certeza. Se fosse ele pisoteado por um cavalo, Taehyung moveria o céu e a terra para não fazê-lo sofrer.
Jimin se odiava por ser a causa disso. Se ao menos Tae não tivesse vindo acompanhá-lo...
- Não faça isso, Jimin. - Yoongi abaixou a cabeça novamente, olhando para os pés. As cadeiras desconfortáveis do hospital machucavam suas costas, mas ainda não era hora de levantar. - Não se culpe.
O rosa não sabia que tinha dito seus pensamentos em voz alta até então.
Os pais de Tae chegaram aflitos. A Sra. Kim correu para os braços de Jimin, apertando-o, acariciando-o, dizendo que tudo ia ficar bem. Mas parecia que ela quem queria ser consolada, então ele tentou muito manter a calma e apenas assentir. O Sr. Kim não olhava muito para ninguém. Ele sempre foi um homem calmo, zen e bem humorado, mas naquele dia, no seu lugar, estava um outro Sr. Kim.
O choro ficou preso na garganta. O Park foi largado assim que o médico se aproximou, falando alguma coisa sobre ter sido informado que os pais do paciente tinham chego e mais irrelevâncias que o rosa não prestou a mínima atenção. Yoongi, ao seu lado, apoiou a mão na base do seu quadril, pedindo calma.
Ninguém jamais entenderia.
Era o seu melhor amigo. E a cena em si já tinha sido horripilante o suficiente, dava calafrio só de lembrar.
- ... O Taehyung rompeu a tíbia. A pele do joelho está quebrado, e uma hemorragia interna já foi contida. Ele vai precisar passar por uma cirurgia, precisamos enviá-lo para Busan. Lá vocês terão um acompanhamento...
Yoongi o acariciou, subindo a mão pela sua coluna. O som da voz do médico ficava cada vez mais distante. O toque era tão simples, tão suave e tão eficaz, que Jimin olhou para ele agradecido. Os olhos chocolate brilhando, as lágrimas prestes a cair.
- Viu? - O Min sorriu mínimo, afastando os fios rosas no rosto do rapaz com o dedo. - Ele vai ficar bem.
O médico não conseguiu acalmá-lo, mas Yoon sim. Aquele sinal não podia ser ignorado. Aqueles olhos escuros e compreensivos, aquela postura firme e segura, aquelas mãos certeiras acalmando seu corpo e sua mente...
Tudo em Min Yoongi significava um mal sinal.
Naquele mesmo dia, ele e seu vizinho voltaram para a fazenda para jantar e voltar para Busan. Não havia clima algum, então foi tudo muito silencioso e triste. Enquanto isso, Tae seria removido do hospital e assim que ele chegasse em Busan Jimin estaria lá também.
Enquanto arrumava suas malas e as de Tae sob a luz da lua, uma velha mensagem de aniversário pipocou em sua cabeça, e Jimin sentou na cama bagunçada em que seu melhor amigo ia dormir naquela noite para pensar. Sacou o celular, abrindo uma mensagem marcada como favorita que Tae mandou pra ele.
"Eu escrevi uma carta longa para a lua
Ela não podia ser mais brilhante que você
Mas eu acendi uma vela
Num parque escuro
E um passarinho qualquer cantava
Onde você está?
Por que está chorando?
Somos os únicos aqui
Eu e você..."
Então Jimin abaixou o rosto. A mensagem parecia ter sido escrita para o futuro, para quando aquele momento chegasse. O celular em suas mãos tremelicava, o mundo derretia em preto em branco quando as lágrimas grossas começaram a transbordar.
O segundo pior dia de sua vida tinha espaço para a esperança, e ela veio de quem ele menos esperava. Yoongi abaixou o celular de suas mãos devagar, abraçando seu corpo com força, sussurrando palavras de conforto com uma rouquidão extra na voz.
Então a calma imperou sobre qualquer medo do anzol, da vida.
- Já passou. - Ele murmurou pela terceira vez, depois se afastou um pouco, apenas para morder os lábios e notar que era melhor se afastar inteiramente do rapaz de cabelos rosas. Seus impulsos o faziam ceder, Jimin era viciante, e ele não queria se viciar. - Ele vai ficar bem rapidinho, Park. Já sabemos disso.
E Jimin sabia que era a verdade.
Quando se dirigiram sem mais interações e em silêncio para o carro com as malas, Jimin percebeu algo brilhante perto da roda traseira do seu automóvel. Colocou a mochila de Tae num canto do espaço do porta malas e abaixou para pegar o objeto.
Uma ampola para animais de porte grande.
Uma ampola de adrenalina.
N/A: Close na letra de 4 o'clock que eu dei uma mudadinha. E eu, na verdade, escrevi ouvindo So far away. Suga biased é triste, não sejam. BRINKS, AMEM O MEU BOLINHO DE LIMÃO. O sofrimento eh real e o amor tbm.
Spoilerrrr.
"Yoongi sumiu por três dias, e quando apareceu, estava com outro rapaz. Jimin sabia que entre eles dois tinha sido muito intenso, então por que outro homem estava entrando em sua casa?
Talvez ele devesse ir lá para ver com seus próprios olhos bem de pertinho, e não mais pelo olho mágico.
Era isso. Ele iria descobrir quem era aquele brutamontes de cabelos rosas."