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Da RodrigoBlacksmith

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Altro

Nenhum mundo é o suficiente
Reencarnações
O homem do apocalipse
Respostas
Poder
No mundo Real
Entre uma encarnação e outra
Libertação
A missão
Os Caçadores de demônios
Kai Zen
Redenção
Fim
Revelações

Viagem ao inferno

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Da RodrigoBlacksmith



Enquanto Eduardo ia ter com sua família, o Caçador resolveu terminar o trabalho pendente de reunir uma equipe. Ainda um componente era necessário para transformar aquele num grupo de elite, pois como ensinou Sun Tzu, em - A Arte da Guerra: conheça teu inimigo como a ti mesmo. O espírito benigno se direcionou para uma casa de candomblé e assim que ele entrou, os tambores já famigerados do local pararam de rufar e todos olharam para ele, até mesmo os encarnados com "poderes sobrenaturais".

O Caçador pensou em quanto tempo fazia que não colocava os pés num local como aquele. Figuras de santos e estátuas espalhadas por todos os lados. Ensinamentos de diversas doutrinas se misturavam ali. O cheiro de incenso era forte e a pintura do local era de uma cor escura meio macabra para um local religioso. Começou a lembrar, quando encarnado, ainda uma jovem criança, que sua mãe sempre o levava em diversos locais como este. Talvez no fundo ela sabia que deveria treiná-lo para algo maior no futuro. Mesmo jovem, nunca ficou espantado com aquele ambiente. Achava tudo natural e apenas tinha dúvidas e porquês intermináveis que nunca eram respondidos.

Suas lembranças logo sumiram da mente, ao sentir uma presença hostil no local, os olhares dos protetores espirituais dali pulverizaram-no, então o Caçador disse:

- Calma pessoal, vim apenas conversar!

De repente, ele foi surpreendido por uma figura já conhecida. Era o mesmo Exú que havia enfrentado junto de Eduardo, na festa onde treinava o jovem para lutar contra vampiros espirituais. Continuava o mesmo capoeirista com máscara de caveira, apavorante como sempre.

- Como ousas entrar em minha casa? Moleque desrespeitoso!

Pra variar, ele partiu pra cima do invasor antes de ouvir qualquer resposta. O Caçador bloqueou como pode, além de esquivar de uns três ou quatro golpes. Ele saltou quando seu oponente chegou a dar uma rasteira, procurando evitar uma queda. De repente, Exú tentou um famigerado golpe da capoeira, o "beija-flor". O Caçador aproveitou que seu inimigo estava com uma das mãos no chão, enquanto lançava o pé do lado oposto em sua direção, e se lembrando de um filme que havia assistido enquanto encarnado, chutou aquela mão de apoio de seu agressor. Ele estatelou-se no chão e levantou furiosamente. O Caçador respondeu com ar de pretensão:

- Ei amigo. Andei treinando um bocado desde o nosso último encontro. Podemos passar o dia inteiro aqui fazendo isto.

- Onde você aprendeu esses movimentos, garoto?

- Num filme que assisti quando eu estava encarnado! - respondeu o Caçador com um sorriso maroto.

Naquele momento, Exú estava convencido. Até ali ele acreditava que aquela guerra não era dele. Mas seu oponente fez seus olhos abrirem e ele resolveu ouvir o que seu "inimigo" tinha para dizer. Após um longo debate, ficou definido: Exú seria o guia que levaria a equipe até os confins do abismo, numa missão perigosíssima para recuperar uma alma perdida. Desafios são sempre bem apreciados por espíritos lutadores.

O Caçador e Exú se encaminharam até o Centro Espírita onde tudo iria ter início: Caminhos de Chico Xavier. Alguns dias se passaram para Eduardo retornar. Ele estava meio triste e quando perguntaram, ele disse apenas que aquele não era o momento correto para falarem disto e que eles deviam se concentrar na missão. Professor Carlos, Marcelo e Nakata, que agora era um iniciado de todo aquele ensinamento místico, seriam a ponte do grupo no mundo material.

- Cuidado para não terem o períspirito de vocês alquebrado. Se sofrerem um ferimento muito grave, vocês correm o risco de chegar ao estágio ovoide de involução. Daí apenas reencarnações emergenciais para recuperação serão possíveis de trazerem vocês de volta! - alertou Marcelo.

O grupo, composto por Eduardo em projeção astral, o Caçador e Exú se teletransportou para regiões umbralinas. Lá eles se encontraram com Débora, a curandeira. Eduardo estranhou, pois ao invés de ver uma velha senhora como descrito por seu mentor, na sua frente prostrava-se uma moça jovem, de cabelos loiros dourados, olhos azuis e pele branca como a neve. O Caçador, percebendo o olhar intrigado de Eddie, respondeu:

- Quando mortos, a imagem que apresentamos é aquela que mais gostávamos em vida. Pare de babar e concentre-se na missão! Ela ainda é a vovozinha que quer cuidar de todos.

- Dante Alighieri era um médium poderosíssimo e em nada estava louco. Havia muita sapiência na forma como ele descrevera o inferno em sua obra: A divina comédia. Estou aqui justamente para protegê-los. Principalmente de vocês mesmos. - informou Débora.

A partir dali o grupo teve que caminhar como se estivessem encarnados. O teletransporte chamaria uma atenção desnecessária, e nem todos ali poderiam realizar tal façanha naquele ambiente tenebroso. Na entrada do inferno, o grupo viu Carontes, o barqueiro. Este era uma criatura esquelética metade homem, metade barco, que levou o grupo até o outro lado do rio Aqueronte, o rio dos mortos, por uma tarifa básica de duas peças de ouro por cabeça, pagas por Débora no início da travessia. Logo após descerem do barco, os quatro viram um portão gigantesco. Dormindo calmamente, estava uma outra criatura enorme, o famigerado cão de três cabeças conhecido na literatura fantástica mundana como Cérberus, o cão infernal, protetor dos portões do submundo. Débora começou a cantarolar. Sua canção era capaz de acalmar o coração do mais endiabrado dos homens, fazendo tanto aquele cachorro gigante permanecer em sono, quanto o grupo se sentir mais motivado.

- Vamos atravessar enquanto ela mantem a criatura adormecida. Não sei se seria boa ideia enfrentarmos tamanha fera. - falou Exú.

A travessia, ao contrário de que muitos poderiam pensar, transcorreu sem percalços. Eduardo já começara a louvar a escolha daquela "senhora" para a equipe. Lutar contra seres humanoides é uma coisa, já monstros deformados abissais... Ele nem saberia como agir para início de conversa.

Mais algum tempo de caminhada pelo chão desértico e avermelhado daquele lugar, eles chegaram numa construção gigantesca com letras que Eduardo não conhecia o significado. A única coisa que ele conseguia discernir era que aquela construção lembrava a faculdade onde ele havia se formado em seu curso de direito.

- Vocês estão muito longe de casa, insetos. - aquela era uma voz apavorante que surgiu de dentro da construção, pertencente a uma criatura em forma de sombras. Da cabeça do ser, era possível ver chifres brotando como de um touro, enquanto ele continuava com suas palavras. - OVÓIDES, passamos de oito a oitenta em instantes... Não há involução? Porque existem momentos que somos anjos e outros, somos vermes? A evolução pode dar saltos... Entretanto você sempre pode voltar para o abismo de onde veio! Olhem pela janela e vejam o vale dos esquecidos, onde os ovóides, criaturas plasmáticas parecidas com uma poça de lama viva que um dia foram humanos, esperam a chegada bíblica do Cristo para retorná-los à vida! Aí se encontra a verdadeira morte para os "mortos". Ali será a casa de vocês se não retornarem!

- Este é Minos! Demônio juiz do tribunal dos mortos. O inferno é feito de várias camadas e é ele quem decide quem vai para cada camada infernal daqui do abismo. - explicou Exú.

Eduardo olhou bem para o demônio e depois para Exú, dizendo:

- Exú, o jeito que você fala não combina contigo cara. Você fala todo certinho. Como a gente se engana. Sempre imaginei você todo turrão e falando errado ou sei lá. Já o Zé Ruela aí da frente, agora já saquei tudo. De início eu fiquei meio assustado, mas agora me lembrei que isto tudo é puro teatro. Vocês, criaturas das trevas, nada mais são do que espíritos iguais a gente. Assim como a tiazinha aqui se disfarçou de modelo da novela das oito. - neste momento, Eduardo apontava para Débora, que apresentou não gostar muito do comentário. - Você também é apenas uma pessoa. O que impede a gente de passar batido aqui e te ignorar?

- Sei que é injusto, mas pra provar nosso argumento, podemos todos nós quatro simplesmente cair na porrada com ele... - complementou o Caçador.

Minos mudou completamente seu semblante de uma hora para outra. Aquele aspecto assustador alterou-se para uma fisionomia amedrontada, enquanto dizia quase que gaguejando:

- Se-senhores. Vamos com calma! Vamos combinar o seguinte. Eu dou passagem livre para vocês diretamente para a Cidade do Inferno, sem precisar passar pelo Mar das Inúmeras Faces. Vocês serão transportados diretamente para uma grande taverna infernal. Lá basta procurar pela Succubus e ela os ajudará.

Segundo o guia Exú, o Mar das Inúmeras Faces era algo que realmente seria dispensável do grupo visitar naquele tour infernal. Obviamente o grupo aceitou sem pestanejar. A Cidade do Inferno era como uma gigantesca metrópole da Terra, mergulhada eternamente em noite. A sujeira e a poluição visual tomavam conta dos olhos de todos, sem falar em criaturas cabisbaixas que lembravam muito os jovens drogados que Eduardo sempre se deparou ao atravessar o centro de São Paulo. Ao entrarem na taverna infernal, uma linda moça de cabelos avermelhados e corpo escultural aproximou-se do Caçador. O Caçador iniciou um papo caloroso com ela, enquanto outras moças trouxeram drinques para o restante do grupo. Succubus, já com os braços envolta do ombro do Caçador, disse para todos:

- Negar a bebida é uma ofensa grave aqui senhores. Eu recomendo que vocês bebam, daí poderei ajuda-los.

Débora foi contra, entretanto o Caçador, Eddie e Exú beberam quase que instantaneamente após as palavras da moça de cabelos vermelhos. Era como se eles estivessem enfeitiçados pela beleza daquela criatura. Olhares enraivecidos de todos os lados convenceram a curandeira a beber também. Débora sentiu-se zonza, cambaleou um pouco e tudo ficou preto diante de seus olhos. Ela foi a última a apagar, sendo que todos os outros já estavam estatelados no chão.

*

Um homem de terno, barbas perfeitamente desenhadas, com um certo estilo metrossexual foi a primeira coisa que o grupo avistou ao abrirem os olhos. Logo que todos já estavam despertos, ele começou a falar:

- Sejam bem vindos meus convidados. Perdoem-me se a recepção não foi como vocês esperavam, ocorre que não temos uma boa política para visitantes não anunciados, como vocês. Sei porque vieram. Por causa desta bela jovem que aqui se encontra. - encolhida no canto escuro da sala, estava a moça que Eduardo viu em seus sonhos, Amanda. A pequena tremia como se sentisse frio e ignorava o restante das pessoas no ambiente. - Em outros momentos eu ficaria incomodado com a presença de vocês. Porém hoje é dia de comemoração, afinal de contas, o mundo, como vocês o conhecem, está chegando ao fim. A data limite é vinte de julho de dois mil e dezenove!

- Eu não acredito nessa palhaçada toda de fim do mundo. Quantas vezes já foi previsto o fim? Aliás, dada as dimensões de tempo e espaço do universo, somos grãos de areia perdidos em tudo isto, o que faz de nós tão especiais para que o mundo acabe justamente agora? E antes de eu desencarnar já existia estudos dizendo que aquele tal de Nibiru 2012 e inversões dos polos terrestres era balela... Os maias tinham outras datas definidas para o fim do mundo! - respondeu o Caçador descrente.

- E você acharia mesmo que os espíritos superiores iriam deixar o pânico se instaurar no pequeno e ignorante mundinho de vocês que não entende o verdadeiro significado de tudo isto? Quando a informação da data correta saiu, os espíritos interviram! Afinal de contas, dois terços da população terrestre irão perecer da noite para o dia praticamente, os poucos que sobrarem formarão o novo mundo. A Terra não será mais um mundo de expiação e provas, será uma transformação para o novo paraíso. Lei da natureza, conforme meu velho amigo Darwin: ou você evolui ou morre. Na verdade minha felicidade está na vinda de vocês, já que estou interessado em evitar este fim! Existe uma guerra para ver quem ficará com a Terra, a única forma que os anjos de luz acharam para evitar que esta guerra não se estenda por mais outros bilhões de anos foi este! Nós não poderíamos nem ter esta conversa se não estivéssemos aqui no abismo, muito, muito embaixo, no fundo do poço, não poderíamos nem sequer ter esta conversa sem que os Anjos de Luz soubessem.

- E como você sabe disso seu Zé Mané? Já conversou com algum deles? Já conversou com o Espírito da Verdade que é dito como aquele que sabe tudo? - questionou o Caçador novamente.

- HAHAHAHA. ELE está inacessível. Os espíritos superiores colocaram-no numa prisão de segurança máxima. Sabiam que todos que fossem contra a destruição do planeta Terra iriam atrás dele. A ligação direta com o FILHO do CHEFE HUAHUAHUAHA. Eu sabia que vocês perguntariam dele para mim.

- Olha só! Você sabe mesmo quem ele é. Totalmente ignorante você não é. Mas ainda sei que você é o pai da mentira. - complementou Débora, causando espanto em todos.

- Seus vermes. Realmente sou conhecido por diversos nomes, este é um deles. Governei por milhares e milhares de anos o abismo e sei bem o que vocês querem saber. - a aparência do homem de terno mudou, sendo que chifres negros começaram a brotar como sombras de sua cabeça e seu corpo cresceu um tamanho considerável, chegando perto de quase três metros de altura. Ele se aproximou de Débora ajoelhando-se. Neste momento, a mesma cuspiu no rosto do demônio. Enfurecido, ele acertou um tapa no rosto da pobre senhorita jogando-a longe. Diante desta agressão, os três outros componentes do grupo pularam para cima dele num combate cósmico. Enquanto eles lutavam, o demônio continuou falando normalmente, explicando...

Após horas de combate e explicação, o senhor das trevas deu a informação de que a "prisão de segurança máxima" era na verdade uma encarnação em um corpo material completamente debilitado para conter seu verdadeiro poder. Cadeira de rodas, problemas mentais graves. O que se sabia era que ele estava numa instituição filantrópica, um centro de integração para pessoas especiais. Chegar nele parecia ser fácil, desde que descobrissem onde procurar, porém ele teria que estar dormindo para despertar o espírito ali contido naquele "corpo camuflado". Fora o fato que provavelmente os guarda-costas dele seriam espíritos elevadíssimos, que pulverizariam o perispírito de qualquer um apenas com o olhar, se fosse da vontade destes. Isso se não os mandassem ainda por cima para regiões tão baixas do abismo que demorariam alguns milhares de anos só pra sair de lá.

Exú e o Caçador já estavam caídos no chão com a força espiritual deles já esgotada diante dos golpes que receberam do mal em pessoa. Eduardo levou a maior surra de todas as suas vidas. Era como se a cada soco, sua carne fosse esmagada e seus ossos estraçalhados, mesmo sabendo que não possuía carne e ossos para serem dilacerados ali. Toda a fúria do senhor das trevas se traduziram naqueles momentos. Depois de certo tempo, a dor dos golpes já não incomodava mais. O que mais incomodava Eddie era a vergonha. Vergonha por ter ali outros dependendo de suas ações para salvá-los, entretanto nada podia fazer. Todos os outros estavam inconscientes, obsediados e jogados ao chão. A eternidade de Eduardo voltou como um flash. Inúmeras reencarnações passadas onde ele fora um ser quase tão cruel e brutal quanto aquele que era seu algoz. O jovem imaginou que merecia tamanha humilhação. Diante de todo aquele sofrimento, ele ainda lembrou-se das palavras de redenção, entrega da alma e coração nas mãos do senhor Jesus Cristo. Ele não podia simplesmente terminar ali, quando havia tanto em jogo. Assim, durante um breve instante que seu executor deu uma pausa, Eduardo sorriu. Um clarão correspondente à mil sóis tomou conta da sala...



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Em breve outro capítulo.

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Abraços para todos e boas vibrações!


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