Salomon estava mentindo. Eu sou um ótimo julgador de caráter, e vejo quando uma pessoa esconde alguma coisa, principalmente as que conseguem esconder isso tão bem em uma fachada resplandecente e plena.
Frederick é Frederick, não achava que ele seria derrotado tão facilmente por uma mulher. Uma MULHER!
Jesus Cristo, como ele sofreu com sua perda.
Sigo Salomon até seu local de trabalho longe das vistas de todos. Por mais que Frederick o protegesse, alguns eram contra pelas coisas que ele era envolvido. Já escutei coisas demais sobre isso, heresia, bruxaria... Entre tantos outros nomes.
Ele estava ficando velho, já era velho, mas parece que de uns tempos para cá ele envelheceu mais, em um estalar de dedos.
Ele escondia algo. Sentia isso, mas agora o que, eu me pergunto.
- Salomon.
Dando um pulo, ele se vira com as mãos em seu peito. – Alexander! Não assuste um velho desse jeito!
Sorrio cinicamente. – Certo... – aponto com a cabeça a porta que ele estava destrancando. – Entre, precisamos conversar.
Ele assente e abre lentamente. O sigo e por fim, fecho a porta quando passo.
Salomon apoia as mãos em sua coluna como se estivesse se alongando, e pequenos estalos ressoam dela. Com um suspiro de alívio, ele me encara.
- E então, o que precisa falar comigo?
- É algo muito sério. – começo.
Ele arregala os olhos e dá uma tossidela. – Quão sério seria isso? – diz receoso.
- É um pouco pessoal, mas envolve outra pessoa. Uma que amo muito.
Salomon fica lívido. – Alexander... Nunca pensei que viria falar de tais assuntos comigo, já que a família de seu pai nunca sofreu com isso...
- Espera, o que?
- Bom... Sempre tem uma primeira vez, não é? Espera, eu já o acho.
- Salomon, você está fugindo do assunto. – minha paciência estava se esgotando.
Ele remexe em seus pertences, alguns vidros e pequenos potes. E sorri triunfante para o recipiente.
- Achei!
Olho para o que ele está segurando.
- Raiz de mandrágora.
Continuo receoso e não acreditando nessa baboseira toda, mas insisto, por Frederick.
- Como isso vai salvar Frederick?
Ele estaca. – O que?
Aponto para o recipiente. – Como algo tão pequeno fará com que Frederick veja Melisende novamente?
Salomon passa de pálido para escarlate. – Aah... Meu jovem, pensei que... Nossa! Que coisa, não? Pensei que estava com... – ele indica o recipiente para mim e balança em minha frente – Problemas.
- Problemas? – digo incrédulo.
Ele tosse. – Bom... Você disse que era pessoal e envolvia outra pessoa, achei que você estava com problemas... Mais sérios.
Apoio minhas mãos em minha cintura.
- Que tipo de problemas achou que eu tinha?
Ele tosse novamente e repete o gesto em minha direção, só que mais para baixo.
Raiva explode em meu corpo. – Achou que eu era impotente?
Ele ofega. – Oh! Eu sei, eu sei. Foi um pensamento horroroso e precipitado, não farei novamente.
Suspiro cansado. – É Frederick, sei que achou o que ele tanto procura.
Seus olhos quase caem de seu rosto. – Senhor...
Balanço a cabeça. – Não minta para mim, Salomon.
Ele esfrega a testa, aparentando mais cansaço ainda. – Sim, eu encontrei.
Meu corpo relaxa. – E?
Salomon pega uma das cadeiras que estava próxima a ele, e senta pesadamente. – Olha, quando se recebe esse dom, tem benefícios e malefícios. Você já conhece os benefícios – ele indica sua saleta com vários frascos e anotações – Mas os malefícios... São ruins, Alexander. Tenho algumas dádivas que preferia não ter.
- Quais são elas? – meu corpo fica tenso.
- De poder ver o futuro.
Rio incrédulo. – Você só pode estar brincando.
Seu rosto estava sério e mais cansado ainda.
- Eu preciso dar o que achei para Frederick no momento certo, na hora certa. Se não terá graves consequências.
- E quando será isso?
Ele suspira. – Ainda não sei. Mas sei de algo.
- O que é?
- Ele te levará junto.
- Como?
- Não me olhe assim, Alexander. Você pediu, eu estou lhe dando.
Começo a negar com a cabeça e indo em direção as escadas. Seus passos logo me seguem e surpreendentemente, ele me joga na parede mais próxima.
- Preste atenção, filho! Ele te levará junto e a única coisa que sei disso, é que você acordará primeiro.
- Acordar?
- Preste atenção! Quando você acordar, vai fazer isso...
E relata exatamente o que fazer quando isso acontecer. Quando eu não sei, mas terei que estar preparado.
******
A primeira coisa que vejo em minha frente são:
1 – uma cascata de cabelos lisos e negros em minha frente;
2 – eles estavam molhados, e
3 – um par de olhos castanhos esverdeados nunca vistos.
Ergo de maneira bruta e acabo chocando minha cabeça com a moça em cima de mim.
- OUTCH! Meu Deus! Que cabeça dura!
- JENNIFER! Onde estava com a cabeça? Não mexa com meus pacientes, nunca mais! Está me ouvindo?
Noto que há mais uma mulher, uma loira, com curvas generosas, o contrário da morena, que era mais baixa e magra demais para o meu gosto. Elas estavam discutindo uma com a outra, a loira agarrando o pulso da morena.
As duas estavam me dando dor de cabeça.
Olho ao meu redor, vendo um cômodo branco, limpo, quase sem mobiliário, sem adornos ou tapeçarias nas paredes. Era extremamente silencioso, somente com uns bipes estranhos em algum lugar.
Vejo em meu pulso alguns fios transparentes e levo um susto. Minhas roupas. Onde estavam?
Esse tecido, com esse tom claro... Observo debaixo dos lençóis.
Estranho...
Um relâmpago ilumina a sala e procuro por Frederick.
Estava ao meu lado, em uma cama semelhante a minha. Era macia, branca... Tudo aqui era branco.
Arranco esses fios de meu braço e saio da cama.
- EI! O que pensa que está fazendo?
Olho para a loira que aparentemente parou de discutir com a outra. Seu rosto preocupado e suas mãos agitando em minha direção.
- Você acabou de sair de um coma, Senhor Bogdan. Não pode sair assim de repente. Tente sentar um pouco que eu vou chamar seu médico.
Ela corre para fora do cômodo, não antes de sussurrar algo para a morena que não parava de me encarar. Seus passos vão ecoando até não se ouvir mais, e vejo como a morena fica desconfortável sozinha comigo. E com Frederick.
- Preciso ver Fredercik.
Ela arregala os olhos.
- Moço do céu... Já pensou em trabalhar no TeleSexo?
Ergo uma sobrancelha, desconhecendo a palavra.
- Como?
Ela estava escarlate, com as mãos tampando a bocca. – MeuDeusdocéu eu falei isso mesmo. – ela olha para o teto – Pode me levar agora, Senhor! Não me deixe aqui não!
Em resposta, um trovão alto estala no céu.
- É... – diz ela desanimada – Acho que essa é minha resposta. – e ri sozinha. Que mulher estranha.
Tento me erguer novamente e ela agarra meus ombros, me forçando para baixo.
- Não pode sair! Escutou a Lu e recebi ordens, não deve sair desta cama. Já fiz besteira e levei um sermão que muitos...
Empurro seus braços finos para o lado.
Ela me dá um chute na canela.
- O que é isso? – pergunto irritado.
- Homem teimoso! Pior que os Neandertais, e olha que eles eram inteligentes quase 200 000 anos atrás e...
Eu agarro seus ombros com firmeza. – Senhora, eu preciso ver meu irmão. Agora.
Ela pisca uma, duas vezes e franze a testa. – É Senhorita pra você seu bruta montes! – ela dá leves tapas em mim – Você não parece que acabou de sair de um coma, já que está me segurando tão forte!
Solto seu magro ombro e me levanto. – Vou vê-lo agora, tente me impedir.
*********
Mas que merda de homem!
Minha paciência estava no LIMITE, e se ele continuar assim, eu vou dar um soco.
- Se você der um passo, eu dou um chute nas suas bolas.
Ele ri. RI!
Foi a gota d'água.
Ele se ergue e meu joelho voa para cima, acertando-o entre as pernas.
Gemendo e cobrindo suas partes, ele cai de joelho.
Aponto um dedo na cara dele. – Te falei que ia fazer isso!
Ele rosna e voa em minha direção, não deu tempo nem de dar um grito antes de atingir com tudo no chão. Seu peso esmagava meus pulmões.
- HOMEM DOS INFERNOS! Qual é a sua??
- Você fala coisas que não entendo, veste roupas que não estou familiarizado.... – ele prende meus pulsos acima da minha cabeça. Santo Jesus, essa barba dele. Alguém precisa me segurar (que não seja esse homem em cima de mim) senão eu lamberia essa barba!
- OK! OK! – grito – Fale com seu irmão, porra.
Ele me encara ao som do palavrão. Sorrio em resposta.
- O que, homem das cavernas? De onde você veio as mulheres não xingavam?
Ele franze os olhos. – Não.
Bufo. – Não? Ah, qual é?
Ele fica mais irritado.
- Buceta.
Ele grunhe.
- Merda, caralho...
Me largando no chão, ele se levanta irritado, e começo a rir.
- Frederick?
Que coisa... Uma hora irritado, outra preocupado. Ele estava estranho ainda, coitado.
E outra coisa mais bizarra acontece.
Ele sussurra algo para seu irmão em uma língua que não entendo. Por mais que eu estude história, não recordo todas as línguas que existe. Árabe? Germânico? Russo?
Latim? Parecia latim.
E quando esse gigante de homem termina seu recital em latim no pé do ouvido do irmão – o que eu não daria para estar no lugar do irmão – esse se senta.
- QUE?? Ah não... Não pode ser... Vocês dois – aponto para os dois belíssimos homens em minha frente – Estão de sacanagem com a minha cara. Pera, o que? Já sei! Vocês combinaram com a Luiza pra me sabotarem né? Só pode ser.
Mostro meus dedos do meio para eles. – Nem fodendo, ok?
- Jenna?
- O que? – berro.
E vejo Luiza na porta com dois enfermeiros me encarando.
Faço um muxoxo pela cara de brava dela. Chama a Ludimila que é hoje.
******
- Ele acordou.
Os enfermeiros de plantão me encararam embasbacados.
- Preciso da ajuda de vocês. Yasmin e Bruno, me ajudem.
Eles prontamente me seguem. Yasmin era minha prima, e que de algum jeito conseguiu o amor incondicional de meu pai. Seus pais não foram um dos melhores, e pode-se dizer que meu pai literalmente a criou como sua, a considero uma irmã também.
Corremos pelo corredor e só pude um escutar um NEM FODENDO de Jenna antes de encontrar a cena diante de mim. Os dois acordados e encarando Jenna em assombro. Até porque ela estava com os dedos do meio orgulhosamente erguidos para todos.
- Jenna?
- O que? – ela grita. Ela estava irritada. O que aconteceu aqui? Fecho a cara na hora, e ela murcha.
- Ele me provocou até o limite! E se você pensa que me engana com esses dois aqui, pode parar. Já descobri tudo!
Aceno para os dois em minhas costas e eles correm para os dois, acalmando-os e os ajeitando novamente na cama.
- Descobriu o que, Jen?
Ela ri. – Esse joguinho seu, em coma? Os dois? ATA!
Reviro os olhos. – Eles estavam sim, porque mentiria pra você?
Ela bufa. – Esse aqui – ela aponta para um dos irmãos que por acaso estava fuzilando ela com os olhos – Está de sacanagem com a minha cara., simplesmente pra mim não deu. – e ela apoia suas mãos na cintura.
- Você chutou minha canela, e sem falar que chutou meu...
Escancaro a boca. – Jennifer! Você além de beijar meu paciente, chutou ele?
Ela fica vermelha. – Ele me desafiou, e bom... Você sabe como fico quando me desfiam.
Reviro os olhos. – Inacreditável. Onde mais você chutou.
Ela fica ainda mais vermelha. – Olha, uma nuvem. – diz apontando pra uma das janelas.
- JENNA!
Ela pula e abaixa a cabeça. – Nosaco. – diz rapidamente.
- Oi?
- No. Saco.
Meus ombros desabam. – Você está brincando comigo.
Ela dá de ombros. – Ele mereceu.
Em resposta, Alexander grunhe. Aparentemente ele discordava.
Volto-me para o outro, que conversava tranquilamente com Bruno, fazendo todos os exercícios e movimentos que ele pedia. Nunca o tinha visto com os olhos abertos, e quando seus olhos se voltam para mim... Puta que pariu.
Dizer que ele é lindo é um eufemismo. Até que ele abre a boca.
- Luna? – diz ele em descrença.
Ótimo, pareço alguém familiar para ele.
Aqui vamos nós.
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Olá pessoas! Desculpa a demora, mês passado não deu pra escrever nada mesmo.
Vou soltar um spoiler!!
Nesse capítilo, vocês viram que tem personagem novo, um parente... E talvez teremos um spinoff dela!!
Comentem aí o que pode ser a história dela!
Já adianto que ela trabalhará como enfermeira pessoal de um homem que ela gostava na adolescência!
Beijinhoos
Izzy