O começo de tudo
O cheiro de fumaça faz o meu nariz e meus olhos arderem. Não consigo enxergar nada, mal consigo abrir os meus olhos por conta deles arderem tanto.
O zumbido no meu ouvido parece piorar.
Não consigo enxergar... não consigo ouvir...
Me forço a tentar enxergar, mas tudo o que consigo ver são vultos.
O que eu faço? Eu preciso encontrá-lo! Não deveríamos ter saído, não deveríamos...
preciso sair daqui, preciso encontrá-lo.
Acordo suada e ofegante
Foi um sonho, só um sonho. Um sonho que eu não sei o significado, mais um deles.
Levanto da minha pequena cama e caminho em direção à janela do meu quarto. Tantos sonhos, tantas perguntas...
Quem eu deveria encontrar?
Apesar de querer muito a resposta, não posso me dar esse luxo. Encaro o sol que aos poucos surge entre às nuvens. Ótimo, já está amanhecendo. Observo o muro, o divisor entre a cidade da luz e a cidade dos pecadores.
Como seria este lugar? Seria tão abominável assim?
Suspiro. Chega, já tenho dúvidas demais.
Percebo uma pequena movimentação no castelo, não consigo ver tão claramente assim. O castelo é um pouco longe da minha pequena casa, Mas acredito que o estupido do rei já deveria estar dando uma de suas milhares de ordens.
Sinto um suave cheiro de chá no ar, o que faz minha barriga roncar e acabo me lembrando que tenho que correr para fazer as coisas.
Corro para o banheiro para fazer minha higiene, mas antes mesmo que eu termine minha mãe me chama, ou melhor, me grita.
Desço a escada e a encontro na nossa pequena cozinha.
_aqui estou, perdoe-me por..._ela me interrompe
_sabe perfeitamente que o seu pai odeia quando acorda tarde_ela diz enquanto enxuga a louça.
Ótimo, ela está furiosa comigo.
_perdão, mas é que..._me interrompe novamente
_Não quero saber dos seus problemas_claro que não quer saber_ mas quero que você resolva os dessa casa_ela diz e se vira me encarando.
Por que eu me dou o trabalho de tentar me explicar?
_tudo bem, o que quer que eu faça?_pergunto me dando por vencida.
_estamos sem água, vá até o poço e retire água_aceno com a cabeça concordando e vou até o porão pegar um de nossos baldes.
Faz tempo que eu não desço aqui, não depois de...
_Rápido, Amélia!_escuto minha mãe gritar e afasto imediatamente meus pensamentos.
Pego um de nossos baldes e subo correndo, não tenho lembranças boas daqui. Vou direto em direção à porta para não ouvir mais um dos sermões da minha mãe, mas uma voz me impede de continuar meu caminho.
_esta tendo muita mordomia não é mesmo, Amélia?_escuto a voz do meu pai e travo em meu lugar de costas para ele.
Mais que merda!
Me viro para encara-lo. ele está como de costume em sua poltrona, como de costume também, não fazendo nada.
_sabe perfeitamente das suas obrigações nessa casa_ele diz e eu concordo com a cabeça_pois então faça elas direito_diz e eu concordo novamente.
_claro, pai. Licença_as palavras saem amargas da minha boca e assim então eu me retiro.
Encaro a rua, é uma tentativa falha em tentar andar. As ruas estão cheias de lama por conta da chuva que teve ontem. Seguro minha saia para não sujá-la, e na outra mão seguro o balde. Percebo outras mulheres tendo dificuldade em fazer seus serviços por conta da lama também, segurando também suas saias na tentativa de não suja-las.
_cidade da luz_murmuro_ tá mais para cidade da lama_digo e rio da minha piada idiota.
Rei imprestável! De vez em dar um jeito nessa merda, mas não, claro que não. ele está perfeitamente bem naquele trono esquentado pelo seu traseiro nojento.
Por que ligaria para todos nós aqui?
_Amélia!_saio dos meus pensamentos após escutar alguém me chamando e vejo Alicia.
Ela parece lutar contra a lama para chegar mais rápido, o que acaba fazendo eu dar uma pequena risada da sua situação.
_Não Ria, Amélia. É cruel_ela diz e eu seguro a risada e só então percebo que ela está vermelha. Seguro a Risada de novo.
Alicia revira os olhos e me pergunta:
_como você está? Não a vi mais, não depois da..._a interrompo
_Da morte da minha avó? Acho que isso já é uma resposta_digo e percebo seus olhos brilharem.
_perdoe-me Amélia, é que eu realmente fiquei preocupada com você_ela diz e põe sua mão em meu ombro.
_tudo bem, não quis ser grosseira_digo e ela da um pequeno sorriso.
_eu sei_ela diz
Alicia é uma das poucas pessoas que eu gosto aqui, minha avó era uma delas, mas morreu faz algumas semanas.
Enquanto caminhamos juntas em direção ao poço eu a observo. alicia é uma garota bonita, tem seus cabelos loiros escuros na altura do seu ombro e seus olhos cor de mel. Ela é realmente atraente.
já eu, sou bem esquisita.
_me sinto envergonhada quando você me observa desta forma_ela diz com um pequeno sorriso em seus lábios finos e delineados.
_eu sei, por isso faço isso_digo e ela rir envergonhada negando com a cabeça.
Realmente, muito atraente...
_sente a falta dela, né?_ela pergunta se referindo a minha avó e apenas concordo com a cabeça. E sem querer, acabo lembrando das palavras do meu pai no enterro dela.
"Pessoas são passageiras, Amélia. Quanto mais cedo você entender isso, vai sofrer menos e se tornar mais forte. Não chore por isso."
Como não chorar? Era a minha avó que estava ali, morta, diante dos meus olhos. Ela era tudo, ela me entendia, ela se importava comigo, diferente das duas pessoas que eu chamo de pais.
_Amélia? Desculpa por fazer você se lembrar_alicia diz com um olhar de arrependimento.
_tudo bem, Alicia_dou de ombros
Apesar das palavras cruéis do meu pai, entender isso realmente me deixou mais forte.
_pelo jeito vamos ter que esperar para pegar água_alicia diz e eu olho na direção em que ela está olhando.
Que ótimo, a uma fila de mulheres para pegar água. Reviro os olhos Diante da cena.
Resolvo ir em direção a uma pequena árvore na tentativa de encontrar descanso.
_seus pés já estão doendo?_Alicia me pergunta Enquanto caminha ao meu lado.
Sério que ela esqueceu o que eu faço?
_claro, por que não estariam?_pergunto a olhando.
_pensei que tinha saído da Rudá-ela diz e eu nego com a cabeça e logo em seguida me encosto na árvore_ precisa sair daquele lugar e encontrar alguém Amélia_ela diz e eu reviro os olhos.
Lá vem ela com esse assunto de novo
_Não preciso de ninguém, Alicia_digo e ela discorda com a cabeça se encostando na árvore ao meu lado.
_quando a pessoa certa aparecer na sua vida você se sentirá completa, as coisas farão mais sentido_ela diz e eu quase rio diante de suas palavras.
Isso é ridículo!
_entenda alicia, você só precisa de você mesma para se sentir completa_digo e logo me retiro.
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~Amélia~