Stefan preferiu ficar em silêncio escutando a conversa totalmente desproporcional entre Damon e Melissa.
Era até estranho ver seu irmão - que antes tinha pouca afinidade por crianças - totalmente apaixonado pela sobrinha, ao ponto de lhe presentear com bonecos do Homem de Ferro, Batman, Homem Aranha e outros super heróis, que Melissa fazia questão de colocar algum acessório feminino.
"Mel, já disse que eles são machos. Não podem usar vestidos." Damon resmungou depois de engolir um pedaço de bolo. O Salvatore estava quase morando na casa de Stefan após a sobrinha passar a viver com o irmão caçula.
Tinha se encantado por aquela coisinha loira de olhos azuis e sapeca. Tão pequena, delicada e indefesa. Acostumado a ver inúmeros casos grotescos na vara da infância, tinha prometido a si mesmo que nunca deixaria Melissa desamparada e nem correndo qualquer tipo de risco que colocasse sua integridade física e mental em risco. Já que tinha seu sangue, ela era tão sua quanto de Stefan. Tinha até esquematizado estratégias para afastar todos os garotos que se aproximassem dela.
"Então eu quero uma bonequinha da Mulher Maravilha e mais uma Barbie." Mel bateu palmas, mas depois seus olhos encheram de água e a voz chorosa. "Eu quero uma bonequinha loira igual a mamãe. Estou com saudades da mamãe."
Damon olhou para o irmão, que após um suspiro, pegou a filha e a sentou em seu colo. Afastou os cabelos grudados na testa dela e deu um beijo. Apesar de muito inteligente, era apenas uma criança e não compreendia o significado da morte, ainda mais da pessoa que lhe era a mais importante do mundo. Tinham se passado cinco semanas após a morte de Valerie; Melissa sempre chorava na hora de dormir e quando repentinamente lembrava da mãe.
Agradecia muito a seus pais e Damon por todo o apoio e amor que davam a Mel. Elena também estava se dando muito bem com a menina, quando estavam juntas, Mel nem ao menos se lembrava do pai ou de qualquer outra pessoa, pois ficava mais interessadas em brincar com Elena, que fazia inúmeros vestidos tanto para as Barbies quanto para os super heróis.
"Sua mãe foi morar lá no céu. Ela é a estrela mais brilhante que existe lá em cima." Mel o mirava com seus grandes olhos azuis marejados. "Mesmo que não a veja, Valerie sempre estará pertinho de você, aqui dentro do seu coração."
"O senhor também sempre estará no meu coração." Mel esfregou o nariz com as mãos.
"E eu?" Damon pegou a menina e a jogou para cima, fazendo-a gritar de medo e alegria.
"Você também tio. E o vovô Giuseppe, a vovó Lily, a Elena e o Jeremy." Damon fez careta ao ouvir o último nome. Não gostava nenhum pouco da amizade da sobrinha com o mini-cunhado de Stefan. "Me põe no chão tio, vou buscar minha boneca lá no quarto."
"Deve ficar de olho nessa amizade. O garoto já é fogo. Com oito anos já decidiu que vai casar com a filha do Kai." Damon falou quando a menina já não estava mais na sala. "Mel já tem cinco anos e um casamento fica mais fácil."
"Não viaja, Damon." Stefan revirou os olhos se perguntando como aguentaria Damon e Kai quando as meninas começassem a crescer. Pelo visto seria o único sensato naquele grupo de ciumentos crônicos. "São apenas crianças."
"Eu com oito anos já tinha dado meu primeiro beijo e com doze perdido a virgindade com uma gostosa de dezoito anos."
Stefan ainda se perguntava como poderia ser irmão de alguém completamente diferente de si. Enquanto era movido a sentimentos, Damon era do tipo físico, que aproveitava as oportunidades que surgiam. Não foram poucas às vezes em que o flagrou se pegando com alguma garota nos eventos que aconteciam em casa. Nem mesmo as amigas solteiras de sua mãe escapavam. Se dona Lilian Salvatore algum dia descobrisse sobre isso, arrancaria o bem mais precioso de Damon.
"O que é vir... vir...gindade, papai?" Mel segurava uma bolsa rosa cheia de bonecos e os olhava com curiosidade.
"É uma coisa muito importante que meninas carregam dentro da calcinha." Damon começou a falar e Stefan rezou para que não dissesse besteira. "Não pode deixar ninguém mexer e nem mostrá-la. Ninguém. E se alguém tentar mexer na sua calcinha pra roubar sua virgindade..." Damon se abaixou para poder olhar a sobrinha nos olhos. "Deve dizer imediatamente ao papai e ao tio Damon. Promete que fará isso?"
"Prometo." Mel assentiu como se tivesse feito uma grande descoberta. "Posso falar isso pra Elena? Ela é minha amiguinha e deve guardar a virgindade também já que é menina."
Damon gargalhou alto e abriu a boca para dizer alguma besteira, mas o som de um celular o fez calar.
Stefan atendeu a ligação e pelo o rosto tenso e fechado, Damon soube que não era coisa boa.
"E as câmeras de segurança? Já avisaram ao Kai? Certo, estou indo a delegacia me informar sobre o Steven." Colocou o celular no bolso e pediu a Melissa que fosse buscar o casaco porque passaria o dia com o avô.
"O que houve?" Damon perguntou.
"Um dos seguranças de Kai foi encontrado morto na garagem da empresa. As câmeras de segurança inexplicavelmente deixaram de funcionar na hora."
"Isso está ficando mais perigoso do que imaginávamos." Damon pegou as bolsas da sobrinha e olhou preocupado para o irmão. "Eu levo a Mel para a casa dos nossos pais. Lá ela estará completamente segura. Mas e quanto a você, não deveria andar com seguranças também?"
"O alvo não sou eu, Damon. Sabe muito bem disso."
(...)
Chegar na empresa e encontrá-la cheia de policiais foi uma surpresa totalmente desagradável.
O assassinato misterioso de Steven tinha sido mais uma prova que não era qualquer um que queria o atingir. Apostava todas as fichas que Steven teria descoberto o culpado por todos os atentados e por isso tinha se tornado sua vítima.
O que mais deixava Kai com sede de justiça, era saber que naquela hora, a esposa grávida de Steven estaria sofrendo horrores. Conhecia a história do casal, do quanto lutaram para estarem juntos, de como a família dela a renegou por se envolver com um homem que trabalhava como gari para sobreviver.
O conheceu quando Steven lhe devolveu sua carteira com todos os seus documentos e mais de três mil dólares. Tinha perdido na tarde anterior quando saía de um restaurante e lhe foi devolvida sem nada faltar. Tentou recompensar Steven de alguma forma, mas ele não aceitou.
"Só fiz minha obrigação. Não foi nada demais."
Kai não desistiu e puxou assunto com o jovem, que não deveria ser muito mais velho que ele. Ouviu atentamente sua história de vida e ficou tocado ao escutá-lo falar da esposa e de tudo o que passaram: humilhações, ameaças da parte da família dela, que fez de tudo para que ele perdesse o emprego em uma escola de informática em que trabalhava, na tentativa de separá-los. Bianca, então, foi expulsa de casa e deserdada. Steven com a ajuda de um amigo conseguiu uma vaga de gari em uma empresa que prestava serviços à prefeitura e Bianca em uma lanchonete.
Kai ficou tocado com a história e pediu ao pai que conseguisse uma vaga na empresa para Steven. Com sua honestidade e humildade, ganhou a confiança de Williams Parker e com seus conhecimentos sobre informática, Steven rapidamente se tornou responsável por desenvolver todos os programas da empresa, desde os de contabilidade aos de segurança.
E logo agora que Bianca e ele estavam esperando o primeiro filho, vinha um desgraçado e destruía uma família.
Quando pusesse as mãos nesse infeliz, teria o prazer de fazê-lo padecer na pior penitenciária dos Estados Unidos.
"Stefan já saiu da delegacia e agora está no IML." Damon desligou o celular e o olhou. "Não estamos lidando com um amador."
"Acha que não sei disso?" Kai bagunçou ainda mais os cabelos. Frustração e raiva o descrevia naquele momento. Ficar no escuro, temendo que algo acontecesse com sua família era desesperador.
A porta de sua sala foi aberta e ficou em pé ao ver Malcolm entrar com a camisa suja de sangue e Amara completamente sem cor atrás dele.
"Cadê a Bonnie?" Perguntou rezando para ouvir que ela estava em casa sã e salva. Mas quando Malcolm o olhou desolado e com os olhos cheios de culpa, sentiu como se arrancassem um pedaço de seu coração. "O que aconteceu? Fala de uma vez, droga! Cadê a minha mulher?"
Damon amparou Malcolm e o ajudou a sentar em uma cadeira. O segurança segurava o braço direito e pela sua expressão, estava sentindo uma dor horrível. Não sabia como tinha dado conta de chegar ali devido a grande quantidade de sangue perdida.
"Sofremos uma emboscada. Três carros nos cercaram e mais de oito bandidos nos atacaram." A voz de Malcolm era baixa e cheia de raiva. "Alexander, Paul e Will foram mortos sem chance de defesa. Eu só escapei por causa do colete a prova de balas e porque fingi estar morto. Eles levaram a senhorita Bonnie. Sinto muito por ter falhado."
Kai sentiu as pernas perderem as forças e caiu de joelhos no chão. Tinham levado sua Bonnie. Tinha mais uma vez falhado com ela. Prometera que a protegeria e não foi capaz de fazer isso.
Passou a mão no rosto ao sentir as lágrimas caírem.
Bonnie era seu norte. Sua bússola moral. Aquela que o ajudou a ser um homem melhor. Era a última pessoa que merecia sofrer por algo que nem ele mesmo entendia a razão.
Que nada acontecesse com ela, pois seria capaz de matar com as próprias mãos o culpado por lhe machucar.
"Não viu o rosto de nenhum deles?" Damon questionou.
"Estavam encapuzados e os carros sem placas." Malcolm gemeu.
"Precisa ir ao hospital ver esse ferimento. Agora cuidaremos de tudo e logo traremos Bonnie de volta."
Kai ouvia de longe a conversa ao seu redor, pensava somente no medo de Bonnie em estar nas mãos de bandidos cruéis e sanguinários.
"Levante-se desse chão, Kai! Aja como homem e me ajude a encontrar minha filha e trazê-la de volta para a minha neta, para a sua filha."
Silas entrou na sala acompanhado de um homem negro, alto e com aparência de um daqueles agentes secretos do FBI. Pela postura de Silas, Kai sabia que estava diante não somente de um pai preocupado com o sequestro da filha, mas também de um homem capaz de absolutamente tudo para salvar o seu bem mais precioso.
(...)
Abriu os olhos com dificuldade e sua cabeça rodou. Todo o seu corpo doía, principalmente os pulsos e os tornozelos por causa das cordas que a prendiam na cadeira. Tentou se soltar, no entanto, quanto mais se mexia mais forte o aperto ficava, aumentando a dor.
Observou o local em que estava. Era uma grande sala com as paredes cheias de espelhos, assim como o teto. Fechou os olhos quando sentiu uma forte tontura.
Onde estava?
Queria estar segura em casa com sua doce bebê, esperando Kai chegar do trabalho.
"A Bela Adormecida finalmente acordou." Abriu os olhos e não ficou surpresa ao ver Nora entrando na sala. Ela agora usava os cabelos bem curtos e loiros. Roupas escuras e coladas ao corpo. As únicas coisas que não tinham mudado eram o sorriso falso e os olhos cheios de maldade. "Não parece nenhum pouco surpresa em me ver. Sentiu minha falta? A última vez que nos vimos foi quando meu adorado primo te expulsou de casa como se você fosse uma vira-lata sarnenta. Dia memorável aquele não acha?"
Bonnie ficou em silêncio somente observando Nora se aproximar cada vez mais. O coração faltou sair do peito ao ver a navalha que ela segurava.
"Ficou muda de repente? Eu não gosto de ser ignorada e nem tenho paciência para quem não gosta de mim." Ela se abaixou ficando cara a cara com Bonnie. "Foi por isso que envenenei aquele maldito cachorro. Bicho mais nojento e asqueroso que conheci."
"Você matou o Hush." Bonnie fechou os olhos ao lembrar do doce labrador, por quem se apaixonou desde o primeiro olhar.
"Não me ignora, negrinha estúpida." Gemeu de dor quando seus cabelos foram puxados com força, forçando-a a levantar a cabeça. "Você acabou com os meus planos de me casar com Kai e me tornar a senhora Parker. Eu deveria matá-la agora mesmo, mas prefiro fazer meu primo sofrer. O que acha de mandarmos um pedaço da sua orelha para ele?"
"Para com isso, Nora. Por favor." Bonnie se encolheu quando a lâmina fria passou perto de sua orelha. Soltou um grito alto quando a lâmina cortou levemente sua bochecha direita. Mesmo sendo um corte superficial, a dor era grande. Sentiu o sangue escorrer por sua pele ao mesmo tempo que o sorriso de Nora crescia ainda mais.
"Não precisa se preocupar. Não vou arrancar nenhum pedaço seu." Nora jogou a cabeça de Bonnie para trás, guardou a navalha e mostrou o soco inglês na mão direita. "Só vou descontar um pouco da minha raiva em você. Se eu não posso ser feliz, vocês também não serão."
"Por que está fazendo isso, Nora? Está acabando com a sua vida."
"Minha vida já está acabada."
Bonnie gritou quando o metal foi de encontro ao seu rosto com toda a força. O corte abriu e mais sangue jorrou. Parecia que algum osso tinha se quebrado. A dor era tanta que fechou os olhos com força sentindo-se fraca.
(#SalvaaBonnieKaizinho) É só isso que pedimos.
Essa Nora é uma cadela louca. 😣😣