Pleasure

By sunfllowerr

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Era uma mulher, seu marido e sua bela amante... Eram inúmeros prazeres. Uma amante, duas mulheres, um único s... More

Por Prazer
Elite e Poder
Exército Mental
Real e Imaginário.
Cavalo de Troia
Uma Mulher Perigosa
Eu amo o jeito que você mente.
O Mundo de Elena
A Esposa Perfeita
Que o paraíso não tenha fim.
Sob a Lua
Aquela Mulher
Seguindo o Jogo.
Sedas e Diamantes
Reconheça-se.
Karla Camila
Elena Cruz
Gregos e Troianos
Duas Metades
Helena de Troia
Sentir Amor.
Fogo Congelante
Caixa de Pandora
Inesquecível
Entre o querer e o precisar.
Limerância
Digna de um Oscar.
Afrodite
Terceiras Intenções
Corrente Sanguínea
Xeque-mate
Destino
Por Amor

A Isca

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By sunfllowerr

Primeiramente: FORA TEMER.

Segundamente: I GUESS... CAMILA FERRARA IS BACK.

As informações acima dispensam qualquer nota inicial, então desfrutem do ~tombo~ capítulo, e quem puder, acho essencial que escute a música indicada em uma cena. (Ps.: ela já esta adicionada na playlist da fic, a qual o link se encontra bem na descrição do meu perfil)

Pois então, nos vemos, enjoy! \o


...


– Você disse que viria à noite. – Comentou Lauren, desgostosa – O que diabos está fazendo aqui neste horário?

– É fim de semana, as coisas se amenizaram na Companhia, e você passou dois dias apenas fisicamente sentada naquela cadeira. – Respondeu Ferrara com calculada firmeza na voz – Eu presumi que algo havia acontecido, e talvez... Pelo clima que encontrei quando cheguei, eu estivesse certo.

Lauren bufou, dando as costas para Ferrara uma vez mais. Não queria outra maçante discussão. Queria falar com Camila, fazer planos com Camila. Os planos para ficarem juntas não era mais uma hipótese, um meio de chantagem ou de negociação. Era real. Elas estavam envolvidas até o pescoço. Elas estavam e Lauren achava ótimo assim.

– Eu disse que estaria atento e eu estou. A única condição que estabeleci para o meu silêncio foi a de que você me mantivesse informado sobre o que acontecia. Mas pelo o que eu percebo aqui, muito mais do que você me contou aconteceu ou vem acontecendo.

– Agora seriamente não é hora para esta discussão. – Passou as mãos sobre os cabelos, suspirando sonoramente. – As coisas estão como deveriam estar. Eu tenho o controle sobre esta situação. – Virou-se novamente, mirando Ferrara com determinação.

– Eu te conheço desde que éramos dois universitários inexperientes e você não passava de uma menina acanhada... Posso garantir-lhe que você não me parece estar no controle de situação alguma. O que está acontecendo, Lauren? O que você descobriu nos últimos dias? Pelo amor de Deus, eu tenho o direito de saber!

Eu não descobri nada! – Ferrara afrouxou a gravata que levava no pescoço, abrindo os botões do paletó ao dar-se conta do real calor daquela manhã. – Esse é o real motivo da minha irritação... Não descobrir nada! – Mentiu, tratando de parecer o mais convincente possível. – Esta mulher é um poço de segredos e mistérios! Não consigo arrancar nada dela, nenhuma única maldita verdade, nenhuma droga de confissão. Já investiguei sua vida desde o dia de seu nascimento e não encontro nenhuma brecha, nenhuma falha, nada, exatamente nada! Não há ligações telefônicas para outra pessoa, não há troca de e-mails, ela não tem nenhum contato, não fala com outras pessoas! Seu ciclo de amizades se resume a uma amiga de longa data que não sabe nada além do que eu sei!

Ferrara sentou-se na cadeira ao lado da mesa ainda posta do café inacabado. Sua expressão era séria, o rosto antes corado começando a ficar pálido.

– Talvez seja hora de deixarmos a polícia investigar esse assunto. – Ponderou Ferrara

– Se isso vir a público será um escândalo! Tony, raciocine, temos compromissos, temos contratos a honrar, uma imagem absolutamente ligada a Companhia, as consequências disso vir a público serão absurdas... Esta mulher DEVERIA estar morta!

Mas ela não está. – Ergueu-se de uma só vez, encarando Lauren face à face. – PELO AMOR DE DEUS, ELA NÃO ESTÁ! Ela está viva, está corada, e não se recorda de um período inteiro de sua vida! Nós sabemos que é ela, Lauren, você sabe que é ela. Nada de histórias mirabolantes! Nada de gêmeas idênticas separadas por um destino malvado. Esta mulher é a minha esposa... Bem... – deixou a frase morrer no ar.

– O que você quer dizer?

– Você não pode me dobrar mais, Lauren. Diga-me exatamente o que aquele anel de diamantes no dedo dela significa! Ande, fale-me a verdade que está estampada em sua face!

– Pedi-la em casamento foi necessário! – Ela confessou.

– O que? Necessário? – Perguntou ironicamente. – Ela não se lembra de você, Lauren! Não sabe que está sendo enganada e que será deixada muito tempo antes que seus sonhos coloridos e matrimoniais com a rainha encantada se realizem! – Negou com a cabeça. – Sabe Deus o que aconteceu com essa mulher! Você passou dos limites. Você sabe disso. Você não está usando a razão! Isso está além do seu alcance!

– Ela segue sendo minha esposa. Você não pode casar-se com quem já é casada. Se ninguém a alertou disso, estou aqui para o fazer.

– Karla está morta! Santo Deus! Você só pode se fazer de surdo, além de um condenado cego!

– Não... Ela não está morta, não quando respira o mesmo oxigênio e habita o mesmo solo que eu!

– Não seja estúpido. – Lauren ergueu sua voz.

– Eu não sou estúpido! E posso te assegurar que nesse instante enxergo a situação com muito mais clareza do que você. Nós precisamos agir.

Nós não vamos à polícia.

Seu tom de voz arrogante foi claro o suficiente, Ferrara ergueu os olhos.

– Seus sentimentos estão atrapalhando o seu julgamento.

Que Diabos você está falando? Você? Logo você falando sobre sentimentos atrapalharem julgamentos? Faz poucas semanas e você estava enlouquecido por encontrá-la nessa ilha em meus braços! Não aja como se a pura e fria racionalidade fizesse parte da sua vida desde que esteve metido na cama com a Dinah. A polícia não vai ajudar. Isso está muito além da polícia. Isto está muito além do que você pode imaginar.

E o que você vai fazer? E se o vazio de informações que a leva até a verdade sobre o que aconteceu com ela persistir durante vários anos? O que você fazer? Vai se casar com ela? Mudar para o Caribe? Viver nesse hotel? Vai abandonar a sua empresa? A sua vida? Vai enganá-la? Ter uma família para depois destruir o...

Ferrara deixou de falar, observando instantaneamente a face de Lauren passar de corada pela raiva à pálida pela eminência de tantas constatações que lhe causavam ondas incontroláveis em seu interior, certamente. Negou com a cabeça, demorando muito mais do que o aceitável para acreditar no que via.

Você já fez isso de todas as maneiras. – Sentou-se a beirada da cama, as sobrancelhas franzidas, os lábios quase trêmulos por sentir novamente aquela dor inexplicável e aparentemente incurável. – Sim. Você já o fez. – Ele mesmo respondeu, pois a expressão da mulher a sua frente já lhe respondia tudo o que precisava saber. – Vão se casar em sério... – Mordeu os lábios por alguns segundos, os olhos tornando-se avermelhados pelas lágrimas que se formavam. – Você fez de propósito?

Lauren sentou-se na cadeira antes ocupada por Ferrara, se inclinado para frente ao apoiar os cotovelos nos joelhos, as mãos sobre os cabelos.

Eu não posso perdê-la. – Negou com a cabeça, erguendo seu rosto para mirar Ferrara com toda a sinceridade que lhe devia. – Eu não posso perder essa mulher novamente. – Concluiu, e algo em sua expressão mudou a própria expressão de Ferrara. – Acho que minhas emoções estão descontroladas. – Respirou profundamente, a garganta se fechando. – Eu não consigo pensar, eu não consigo dormir, eu não quero comer... Eu pensei que iria sufocar nos últimos dois dias. Eu não quero ir para o trabalho, não suporto estar em minha própria casa... – Mordeu seus lábios trêmulos, negando com a cabeça ao perceber que as palavras lhe faltavam. – Eu não sei o que está acontecendo. Às vezes, eu olho para ela e não posso respirar... Então ela diz "Lauren, eu amo você" e eu... Pelo amor de Deus, eu sei que estou desejando com todas as minhas forças que ela esteja falando a verdade. – Ferrara desviou seus olhos por alguns instantes.

Era o suficiente.

Sim... Certamente era o suficiente.

– As consequências do seu jogo serão irreversíveis, Lauren. Há corações em jogo. – Levantou-se, observando da janela ainda aberta da varanda a beleza daquele mar. – Você não está preparada para isso. – Sua voz tornou-se mais baixa, a dor em seu coração se amenizando conforme os segundos passavam. – Se você nem mesmo pode reconhecer o amor em suas palavras, como pode ser uma esposa de verdade? – Lauren engoliu a seco, baixando sua cabeça. – Pode calcular a gravidade desta situação?

Silêncio.

Mas eu sabia... – Ele sorriu tristemente. – Eu sabia que ela era quem você havia escolhido.

Eu não escolhi ninguém. – Ela ergueu-se, a sinceridade de seus sentimentos sempre tão bem escondidos impregnada em seus olhos avermelhados. – Se eu pudesse voltar e...

Não minta para mim. Não minta para você. O que te motiva não é o desejo pela verdade, Lauren. Você a ama. Essa é a sua motivação.

Você está enganado. – Ela arqueou sua sobrancelha, cerrando seus punhos, notando sua respiração ofegante. O nó em sua garganta se fez ainda mais intenso. Ferrara negou com a cabeça, procurando desesperadamente uma explicação para o que sentia naquele momento. – Você está enganado. – Piscou repetidas vezes, afastando as lágrimas de seus olhos, erguendo a cabeça de forma arrogante e familiar.

– Quem está sendo hipócrita agora?

...

– Você está bem?

Ariana ergueu seu olhar, protegendo com a mão os olhos da grande claridade, visualizando Camila de pé, ao seu lado. Estava sentada sobre a areia em uma parte mais reservada da praia, ao lado do hotel, e não a sua frente aonde se fazia a grande movimentação. Afastou-se para o lado, dando espaço para que Camila se sentasse embaixo da sombra que o guarda sol branco com o logotipo do hotel lhes proporcionava. Estava fugindo dela e justamente ela havia a encontrado ali.

– Estava apreciando meu raro momento de paz. – Mirou Camila e então sorriu. – Você está bonita demais para sentar-se na areia comigo. – Camila deu com os ombros.

– Ferrara está no hotel.

– Sim, seu sei. – Ariana Suspirou. – Não pude te avisar. Eu não sabia que ele chegaria, as coisas estão complicadas nos últimos dias. – Camila molhou os lábios secos com a língua, respirando profundamente. Era bom esconder-se ali. Qualquer coisa era melhor do que enfrentar Ferrara.

– Ele me pareceu bem.

– Mas ele não está... Ninguém está! – Silêncio.

As sobrancelhas de Camila se franziram imediatamente. Abriu os olhos, surpresa por aquela exasperação repentina e inesperada. Seus olhos mergulharam nos olhos de Ariana, encontrando naquele forte castanho muito mais do que apreensão e ansiedade. Molhou seus lábios com a língua, respirando profundamente antes de perguntar:

– O que está acontecendo? – Camila indagou-a. Ariana desviou seu olhar, erguendo-se da areia, limpando-se em movimentos rápidos e contidos. Camila também se ergueu, seguindo-a com o seu olhar, não se preocupando em livrar-se da areia em sua roupa. – Ariana? Estou lhe perguntando o que está acontecendo, porque claramente algo está acontecendo. Robert desconfia de algo? Vocês tiveram uma nova discussão? Há algo mais que eu precise saber além do que nós... – Deixou de falar, os lábios ainda abertos na frase inacabada. Seu coração deu um salto ao perceber os olhos cristalinos pelas lágrimas da mulher à sua frente. A incrível sensação de perda alastrou-se por todo o seu corpo e foi com grande dificuldade que voltou a inspirar o ar para os seus pulmões. O sol se escondeu como se anunciasse a tempestade por vir. Sentiu-se fria e o tempo se fez propositalmente lento, ressaltando todas aquelas milhares de sensações tanto físicas como mentais.

Iria cair, todos eles iriam, podia sentir.

Ariana cobriu os lábios com a mão, contendo silenciosa e arduamente seus soluços, deixando vazar por sua expressão o segredo escondido durante toda a semana. Respirou, tentou respirar, e ganhou a luta.

– O que está acontecendo? – Conteve sua própria respiração, cerrando os punhos em busca de controle. Ariana respirou profundamente, a mão descendo de seus lábios, os ombros novamente eretos, a postura firme. Precisava se controlar. Precisava ser corajosa, não havia mais como adiar.

Não é uma investigação... Não mais. – Limpou com fúria as lágrimas que escorriam por seu rosto, incapaz de acreditar que pudesse ter sido tão cega, tão convenientemente estúpida e desatenciosa. A raiva ardia em suas entranhas, a angústia e a culpa sufocavam-na como jamais antes haviam feito. A sensação de finalmente falar contribuía pouco para que aqueles sentimentos partissem. Aquilo era um pesadelo. Um interminável pesadelo.

– Do que você está falando?

Lauren... Não estamos aqui para investigá-la. Isto é uma absorção. Eles a querem deste lado do jogo, agora.

Camila absorveu aquela informação.

O gosto foi amargo, o tapa forte demais para que pudesse reagir no mesmo instante. Permaneceu em silêncio, sentindo e morrendo com as intermináveis explosões em sua mente. As poucas conexões ainda esquecidas se refizeram. Todas as pontes firmes, todas as lembranças vivas, brilhosas e coloridas como as labaredas que a queimavam viva. Sim... Fazia sentido. Na verdade, tudo fazia sentido. Piscou longa e dolorosamente e o mesmo sentimento que tomava Ariana também a tomou... Entre todas as coisas, aquela era a única na qual não havia pensando. Deu um passo para trás, os olhos sem nenhum indício de lágrimas ou sentimentos.

– Você está bem? – Ariana perguntou. Camila assentiu firmemente com a cabeça, respirando uma e outra vez, adquirindo um controle que não lhe pertencia.

– É o suficiente. – Murmurou, e os olhos de Ariana se arregalaram.

– Ainda é cedo, Camila... Nós... – Camila negou com a cabeça, a dureza em toda a sua expressão, a convicção e o determinismo erguendo sua postura, acelerando e então normalizando o fluxo de seus pensamentos em movimentos cíclicos e precisos.

– É o suficiente. Não é apenas a minha vida agora.

Não faça isso.

– Se você não teve coragem de livrar-se desse inferno, eu terei! Nós não somos marionetes, ninguém é... É o suficiente! Não só para mim, mas para todos nós.

– Eu poderia... – Camila voltou a interrompê-la, negando com a cabeça.

– Mantenha-se fora disso. Faça o que combinamos.

– É tarde demais... Para mim. – Emocionou-se sinceramente. – É tarde demais.

Não, não é... – Sorriu friamente, aproximando-se de Ariana para um forte e atrasado abraço. Ariana retribuiu o carinho, fechando seus olhos com força, as lágrimas escorrendo por seu rosto assustado e apreensivo. – Isso não é vida. – Camila murmurou e a emoção não lhe causava nada além de nojo e aversão pelo caminho que haviam tomado.

– Sofia também iria lhe pedir para esperar.

Sofia está morta. – Mirou-a nos olhos, afastando para partir. – Mas nós não estamos. Eu não estou.

...

Ainda era cedo para o almoço quando Robert entrou em seu grande escritório.

A sala, muito maior do que a destinada aos funcionários, seguia o padrão de decoração do restante do hotel. As grandes janelas iluminavam o ambiente com a luz natural do dia, as paredes, todas brancas, mantinham o lugar arejado do calor do Caribe. Poucos móveis traziam uma simplicidade que não deixava de ser elegante. Sorriu com desprazer ao sentar-se em sua cadeira... A sala combinava com o papel de homem controlado e competente.

Afrouxou a gravata e murmurou um palavrão ao perceber, muito depois do que naturalmente perceberia, que não estava sozinho naquela habitação.

  [PLAY – E.S Posthumus - Nineveh]

– Senhorita Elena? – Questionou-a, mirando-a de costas, no canto da sala que lhe fornecia a visão dos hóspedes na piscina. Passou os olhos pelo grande monitor colado à parede de frente para a sua mesa e percebeu que o sistema integrado de câmeras havia sido desligado. – Senhorita Elena? – Chamou-a novamente, erguendo-se de sua cadeira e bastaram alguns segundos para que notasse que a luz vermelha, que indicava a linha no telefone, também se encontrava desligada. Ela se virou e não precisou um único instante a mais para que Robert se desse conta do que acontecia.

– Elena é um belo nome. Mas nós dois sabemos... Que o meu nome não é Elena. – Aproximou-se, e a profundidade de seu olhar não poderia ter deixado Robert mais surpreso ou mais incrédulo. – Você está surpreso? – Sorriu friamente e a acidez do desprezo ardeu em seus olhos brilhantes pela ira. – Eu também estou. – Sussurrou, com a ironia presente em cada sílaba. – Eu estava na cama com a senhorita Lauren Jauregui e de repente... – Fez um estalo com os dedos, sentando-se no sofá há alguns poucos metros de distância de Robert. – Aquele fluxo interminável de lembranças desconectadas. Algumas delas reais, outras não... Oh sim, Robert querido. Nós dois sabemos que eu não sou a Elena.

Quando? – Foi o que a voz ainda calma de Robert lhe perguntou.

– Não é da sua conta. Mas eu tenho visto você brincar com as pessoas. Seu garoto malvado! Eu tenho visto você nos movendo como marionetes, contando mentiras, sendo o bom cara...

– Quem sabe disso?

– Eu faço as perguntas aqui. – Camila endureceu a expressão, mirando-o fixamente.

– Não seja estúpida, Camila. Quem sabe disso?

Depende. – Cruzou suas pernas com lentidão deliberada, tombando a cabeça para o lado em um sorriso fingido exatamente como a Camila Ferrara faria.

Camila Ferrara tomava sua forma e não precisava sequer de sedas e diamantes para aquilo.

– Esse pode ser o nosso segredinho ou... Não. – O mesmo sorriso perigoso bailava nos lábios dela.

Robert sentou-se em sua cadeira e, o som de sua respiração ofegante, audivelmente entrecortada, soava como música aos ouvidos de Camila.

– Como?

Camila negou com a cabeça.

Não iria responder merda alguma.

Era tudo ou nada.

Ela poderia cair, mas iria arrastá-los ao inferno com ela.

– Camila, seja sensata. Isso é muito mais grave do que podemos...

– Você sabe que eu não tenho nada a perder. Você me treinou, sabe o que eu seria capaz de fazer, por isto não me faça de idiota, não mais. Eu quero a verdade. Toda a verdade e eu quero agora.

– Você sabe que...

– Não. Você sabe. Eu não sei de nada.

– Até que ponto você se lembra?

– Tudo. Eu me lembro de tudo. – Robert se ergueu, caminhando de um lado para o outro da sala como um leão enjaulado. Arrancou o paletó jogando-o com violência sobre o notebook desligado.

– Isso não está acontecendo. – Respirou profundamente. – Isso não poderia estar acontecendo.

Mas está. Comece me explicando o que Lauren Jauregui está fazendo aqui. Comece me explicando por que diabos essa mulher foi colocada em minha vida quando eu servi de cobaia nesse maldito projeto justamente para esquecer-me de que em algum dia eu estive com ela. Comece me explicando o que fazemos nesse Hotel. Eu quero respostas, eu quero motivos, eu quero a verdade. Você tem brincando com a minha vida desde o momento em que entrou na vida de Ariana. Você tem jogado os seus dados sem se importar com as consequências de suas ações, mas agora eu lhe digo, Robert, que eu não perderia nada ao jogar toda essa merda no ventilador.

– Você nos mataria se fizesse isso.

Eu já estou morta, lembra-se?

O estridente barulho do punho de Robert chocando-se contra a tábua da mesa de madeira polida não a assustou. Nem mesmo piscou. Havia chegado o momento.

– Você foi declarada morta na noite de seu desligamento. Aquela mulher não existe mais. Sua certidão de óbito é falsa. Não há registros seus em nenhum banco de dados e não há nada que estabeleça uma ponte entre a Elena Cruz e a Camila Ferrara. Você concluiu o projeto para o qual foi designada e o acordo estabelecido entre nós seria o de que você se submeteria ao novo projeto circulante entre as redes secretas de todo o mundo. Reciclagem é o nome do projeto e você não precisa ser muito inteligente para entender do que realmente se trata. – Camila engoliu a saliva. Sim, ela sabia exatamente do que se tratava. Infelizmente sabia. – O trabalho que desenvolvemos não é para ser feito por qualquer pessoa... Há consequências. Os agentes passam por um processo rigoroso de testes antes de serem escolhidos. – Engoliu a seco. – Há uma série de requisitos checados antes de haver uma absorção.

– Absorção? – Robert assentiu de imediato.

– Chamamos de absorção quando selecionamos uma pessoa com potencial para exercer esse trabalho. Mas o que acontece é que o processo é longo... A demanda por agentes era maior do que a oferta, então se criou esse programa de Reciclagem. Resumidamente, ele acabaria com esse problema já que usaríamos sempre agentes que sabemos ter o potencial necessário para desenvolver um determinado projeto. – A náusea deixou-a momentaneamente tonta. – Não haveria as consequências...

– Você está falando sobre apagar a mente das pessoas quantas vezes fossem possíveis para que elas continuassem a exercer "seus trabalhos" com a perfeição de um iniciante? – O desprezo em sua voz era tocante.

– Não é uma criação minha, Camila.

Responda a minha pergunta.

Sim, basicamente seria isso. – Camila respirou profundamente, o frio suor instalando-se sobre todas as superfícies de seu corpo.

– Os agentes que participaram desse projeto estavam cientes do que você acabou de me contar?

– Alguns sim, outros não.

Eu não. – A latina concluiu, e Robert assentiu novamente.

– Você não.

– O que estamos fazendo aqui? – Ergueu sua sobrancelha e Robert demorou muito mais do que o necessário para responder àquela pergunta. – Não pense em mentir, eu posso saber quando uma pessoa está mentindo, especialmente você.

– Você sabe com o que está lidando. Se pensa que eu mando em alguma coisa está absolutamente enganada. Eu falava sério quando disse que sou apenas uma peça nesse jogo interminável. Minha vida se transformou em um inferno desde o maldito dia em que fui designado a escolher você. Você se arrepende de tudo o que fez, querida, mas tenha a certeza de que não existe um único homem nesse maldito mundo mais arrependido do que eu de ter entrado nessa miserável vida. – Ele respirou de forma ofegante. – Você não é a única enganada aqui, Camila. Você não é a única enganada aqui.

Camila se ergueu, encarando-o face a face.

– O que estamos fazendo aqui? – Ela confrontou.

– Uma absorção.

Camila fechou seus olhos por alguns segundos, seu medo tornando-se realidade.

– Eles querem a Jauregui e você é a isca para trazê-la.

Os dedos dela estalaram contra o rosto de Robert de forma inesperada. O tapa foi forte o suficiente para que a dor se alastrasse por toda face direita do rosto perfeitamente esculpido. Ele não cobriu a bochecha com a mão, apenas respirou profundamente antes de voltar a abrir os olhos e enxergar no rosto da mulher à sua frente a mesma expressão sufocante da manhã na qual o falso acidente havia acontecido.

Eu não escolho nada aqui. – Ele falou e seus olhos tornaram-se vermelhos, imediatamente cristalinos pelas lágrimas do esgotamento. – Se eu pudesse sair, eu sairia. Se eu pudesse voltar no tempo, eu voltaria. Eu destruí a sua vida, destruí a vida de Ariana e a minha também. Não há um único dia no qual eu não me arrependa de ter aceitado esse trabalho, não há um único dia no qual essa insatisfação não me arranque a pele, me deixando em carne viva. Minha mente está entrando em parafusos. Meus sentimentos estão descontrolados, mas eu tenho que me manter firme, caso contrário eu serei substituído e sabe lá Deus quem virá ao meu lugar nessa absorção. Se eu ainda suporto fazer isso é porque nos metemos nessa emboscada e não é só a minha vida ou a sua que está em jogo... Ariana está aqui, e ninguém tocará em um...

Por que ela? – Robert se afastou, encostando-se à sua mesa, piscando repetidas vezes até que as lágrimas secassem em seus olhos.

– Sua personalidade, sua influência e o lugar que ocupa na cadeira da Companhia. Não precisaríamos inserir alguém no meio em que eles vivem, assim como fizemos com você... Nós já teríamos uma fonte direta de uma mulher que se encaixa perfeitamente no padrão de uma agente para esse tipo de trabalho. – Camila sorriu com desprazer. Como ela, Lauren não tinha uma família, nenhum laço que a ameaçasse, nenhum ponto fraco ao qual algum inimigo atacaria. Era fria, era racional, desprendida, solteira, influente e a lista interminável se seguia... Sim. Fazia sentido.

– Eu sou a isca? – Robert assentiu.

– Somente uma pessoa poderia fazer com que Lauren realmente fosse testada. – Camila fechou seus olhos. – Você. Ainda no projeto em que investigávamos aos dois, notamos que de alguma forma você exercia alguma influência sobre Lauren. Nenhuma mulher havia chegado aonde você chegou e quando você supostamente morreu, percebemos que nenhuma outra chegaria. Tinha que ser você, ou ela não se entregaria completamente. – Camila deu-lhe as costas, abrindo os olhos, mirando o teto na tentativa fracassada de conter suas lágrimas. – Nós sabíamos que ela tinha o perfil, mas uma situação como essa, não é para qualquer pessoa. Queríamos saber até aonde ela seria capaz de ir... – Camila ergueu sua mão, mostrando para Robert o diamante reluzente em seu dedo.

– E se ela não aceitasse? Eu quero dizer, haveria uma proposta, não é?

– Sim haveria. Ela teria duas opções. Aceitar a nossa proposta e poder viver em dois mundos diferentes, ou recusar e...

Me perder. – Completou em um sussurro. Robert concordou, voltando a sentar-se em sua cadeira. – Entre a lealdade com a sua Companhia e ficar comigo, Lauren não hesitará em partir.

Você tem certeza disso? – Camila engoliu o próprio soluço, respirando profundamente. – Vá para o seu quarto. Recomponha-se e então terminaremos essa conversa. Eu preciso saber o que fazer com esta situação... Eu preciso de um tempo.

Eu não confio em você.

– Então nós temos algo em comum, porque eu não confio em você também. – Permaneceram se encarando por longos segundos, interrompidos pela porta se fechando em um estalo quase inaudível.

– Então teremos que resolver essa situação... – Ariana disse em bom tom, não denunciando o quanto daquela conversa havia ouvido, mas ficava evidente que havia sido o suficiente.

Ela se aproximou de Robert, a cabeça erguida, o olhar firme dotado da força de uma mulher que havia perdido um coração ao longo daqueles anos. Parou de frente para Robert, apontando-lhe o dedo ao dizer com firmeza:

– Você tem aqui a oportunidade de limpar toda a merda na qual você nos arremessou quando entrou na minha vida. Eu juro por mim que se você nos ferrar, eu farei você cair até muito mais do que inferno.

Robert fechou seus olhos, suspirando longamente.

– Você está com ela. – Ariana assentiu. Ele voltou a abrir os olhos, mirando Camila. – Você mentiu.

– Não. Eu omiti. – Respondeu a latina com hostilidade.

– Alguém mais sabe sobre o que nós três sabemos? – Ariana e Camila se olharam rapidamente.

– Ainda não... Arrume um jeito de tirar Lauren dessa absorção. – Camila disse por fim, caminhando rumo à porta pela qual havia entrado.

– Eu não tenho...

Arrume um jeito de tirar Lauren dessa absorção, Robert, ou pelo amor dos deuses, eu abrirei a minha boca para o primeiro jornal que me prometer uma primeira página.

– Você não tem provas.

– Eu tenho. – Ariana finalizou e Camila deixou a sala.

Os olhos de Robert voltaram a mirar os de Ariana, frios, brilhantes pela característica raiva, arregalados pelo desprezo.

– Eu não nutro qualquer tipo de sentimento por você ou por este serviço. Está na hora de limpar esta porcaria.

– Eu posso tentar. Mas eu tenho a minha condição. – Ariana revirou os olhos – Você vem comigo quando conseguirmos sair. – Ela sorriu com ironia.

– Não.

– Por que não?

– Porque eu te desprezo. – Ele negou com a cabeça.

Porque você me ama. – Respondeu por ela e, momentaneamente, o silêncio pesou sobre ambos.

...

"Apenas continue caminhando"

Ela murmurou para si mesma, os pés em constante movimento, o barulho do repique dos saltos de encontro ao piso azucrinando seus ouvidos como se falecida Camila Ferrara lhe seguisse às gargalhadas, apontando-lhe o dedo, os quadris se movendo daquela forma sensual e coreografada, os lábios se movendo em sussurros venenosos que diziam que ela havia "avisado".

Sua respiração se tornou ainda mais ofegante, mordeu o lábio inferior, deixando o hotel pelos fundos, focando-se em seu interior enquanto contornava o hotel, saindo a uma distância significante da entrada movimentada. Acelerou seus passos, arrancando os sapatos dos pés, afastando os cabelos que insistiam em cair-lhe na cara.

Havia procurado por uma verdade e agora realmente havia a encontrado.

Desesperadamente procurou por uma solução. Enganou-se entre um passo e outro, convencendo-se de que não havia a encontrado quando na verdade sabia exatamente o que deveria fazer. Aquilo havia ido longe demais. Não era só a sua vida em jogo... Havia mais, havia Lauren, e por mais que seu íntimo soubesse que a morena jamais abandonaria o leal compromisso de dirigir a sua empresa para estar com ela, fazer Lauren escolher parecia um crime ainda maior que tantos outros que ela havia cometido.

"Eles querem a Jauregui e você é a isca para trazê-la."

Permitiu-se a derrubar as lágrimas que havia contido desde a chegada de Lauren. A sensibilidade aflorou por todo seu corpo feminino que respondia com intensidade aos comandos de seu coração e alma. Seu peito ardeu e aquela sensação de abandono ainda não sanada fez com que repentinamente parasse de caminhar. Chocou-se com alguém e antes que caísse na areia, sentiu-a segurá-la com firmeza pela cintura e pelo braço. Assustou-se e virou-se no mesmo instante. Mirou aqueles olhos e um segundo a mais daquela visão era muito mais do que podia suportar.

– Estou te chamando desde que saiu pelos fundos do hotel! – A respiração de Lauren se encontrava ofegante, o perfume mais íntimo do que nunca. Apertou-a contra seu corpo, o semblante preocupado, a voz contrastando com o silêncio da praia pouco movimentada.

Camila não disse nada. Não queria dizer nada. Sua mão subiu para tocá-la no rosto, no pescoço, nos lábios. Desejou não ser quem era e com todas as suas forças... Desejou que Lauren fosse como as outras mulheres.

Mas ela não era.

Não. Ela não era.

– Você está bem? – Lauren limpou-lhe as lágrimas com delicadeza, segurando-a pelo rosto com as duas mãos. Camila negou com a cabeça, os lábios trêmulos, a respiração entrecortada. Ela a beijou, rapidamente nos lábios, abraçando-a logo em seguida. Camila agarrou-se a ela, cruzando as pernas em seu quadril quando Lauren a ergueu do chão, segurando-a em seus braços. Mergulhou sua cabeça no pescoço dela, beijando-lhe a pele perfumada para então erguer sua cabeça enquanto partiam, vendo que se distanciavam de um Ferrara, que também ofegante, se encontrava parado a alguns metros de distância.

Seus olhares se cruzaram por alguns segundos.

– O que estamos fazendo? – A latina perguntou. Lauren beijou-a no ombro desnudo, mantendo sua caminhada.

– Roubando um tempo para nós duas.

...


Será que o jogo virou?

Bom, fico por aqui hoje. Que tenham uma ótima semana, e qualquer coisa:  @rafaellacabello no twitter.

Beijoxxx.

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"Você conseguiria se adaptar a perda de um dos seus cinco sentidos básicos? Lauren nunca pensou que passaria por isso em toda a sua vida. Quer d...