Não me TOC [COMPLETO]

By MadduNyah

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Adams Sales é um renomado modelo da grande São Paulo, filho de um dos principais nomes da indústria da moda... More

Aviso de Gatilho - CVV [Importante]
Capítulo 1 - Não me VEJA
Capítulo 2 - Não me LEMBRE
Capítulo 3 - Não me DESCUBRA
Capítulo 4 - Não me ESQUEÇA
Capítulo 5 - Não me AME
Capítulo 6 - Não me CONTE
I - Divórcio (Especial de 5k)
Capítulo 7 - Não me DEIXE
Capítulo 8 - Não me ABANDONE
Capítulo 9 - Não me CHAME
Capítulo 11 - Não me SALVE
Capítulo 12 - Não me ALEGRE
Capítulo 13 - Não me PROTEJA
II - Matrimônio
Capítulo 14 - Não me ESCONDA
Capítulo 15 - Não me OLHE
Capítulo 16 - Não me JULGUE
Capítulo 17 - Não me PARABENIZE
Capítulo 18 - Não me ASSOMBRE
Capítulo 19 - Não me DIGA
Capítulo 20 (Parte 1) - Não me CULPE
Capítulo 20 (Parte 2) - Não nos CULPE
Extra de 11K!
Capítulo 21 (FINAL) - Não me TOQUE
Agradecimentos
LIVRO FÍSICO - Apenas viva sem Mim + DESCONTO
Olá, eu sou a Madu! + FÍSICO

Capítulo 10 - Não me QUESTIONE

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By MadduNyah

AVISO DE GATILHO.
O capítulo a seguir conta com uma desconstrução do conceito romântico entregue à maternidade, tal ato pode gerar crises ou desconforto, por isso, peço que leiam com cuidado e tenham consciência de seus limites.

Obrigada pela atenção,
Boa Leitura!

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Enjoou-se.

Para ser fiel a realidade, o sentimento de quem poderia vomitar a qualquer momento, junto com o cansaço acumulado — ocasionado pelas noites que já não conseguia dormir direito —, que entregava sempre a impressão de que estava prestes a cair de uma corda bamba, e toda a irritação que sentia por conta dos fatores mencionados acima — que se acumulavam com o passar dos dias —, definiam a sua vida recentemente.

Sentia-se cada vez mais estafada. Com a rapidez do passar dos dias, a gravidez avançava e pouco a pouco, a vida adulta começava a pesar em seus braços, ou melhor, em sua barriga.

Logo seria Natal. Luan estava feliz, ela dizia estar feliz, seus pais nunca estiveram tão brilhantes e até a mãe do esposo a parabenizou. Então, por que, de certa forma, ela não sentia honestidade na sua voz quando se afirmava feliz? O que era aquele sentimento que a consumia por dentro e por que ninguém a havia relatado sobre isso antes? Será que era a primeira grávida a ter aquilo? Não, não poderia ser a única. Aquilo nem ao menos fazia sentido!

Diversas mulheres engravidavam por dia, milhares, por que nenhuma delas tinha revelado nada sobre toda aquela confusão que florescia? Por que nenhuma a contou que a gravidez não era a primavera que todos prometeram que iria ser?

A maternidade deveria a tornar especial, fazê-la completa, deveria ser o passo principal na vida de uma mulher, aquilo que diferenciaria Marina das outras, que a tornava responsável. Então, por que a ideia de ser mãe não estava a fazendo se sentir melhor? Não estava tornando-a uma pessoa melhor? Todos os livros e todos que a cercavam definiam o ato de gerar uma vida como uma benção divina, mas a estilista estava cada vez mais perdida. Queria gritar que não era nada daquilo que a descreveram, na realidade, a gravidez era apenas um processo recheado de dúvidas, incertezas, temores e enjoos.

Temia.

Temia não ser uma boa mãe.

Temia não ser capaz de conciliar o trabalho e o filho. Temia que Luan não fosse capaz de manter a casa sozinho e todo o seu casamento começasse a ser resumido em pagar contas.

Temia tantas coisas que começava a pensar que toda sua vida seria resumida ao verbo temer.

Pensava que poderia ser apenas os hormônios da gravidez que começavam a agir e, com o tempo, tudo aquilo que ela estava sentindo iria sumir e ser substituído pela alegria imensurável que lhe foi prometida. Contudo, com o tempo, tudo que conseguia adquirir era uma série de preocupações que martelavam em sua cabeça e a faziam parar em diversos momentos do dia para se perguntar o que estava acontecendo consigo mesma.

Existia o trabalho, a casa que estava cada vez mais bagunçada — e que em breve teria que ser arrumada para dar espaço às coisas do bebê —, eram tantas as coisas que a perturbavam. Não poderia apenas jogar para cima de Luan e exigir que ele cuidasse de tudo, não poderia exigir que ele entendesse como ela se sentia vendo que, talvez, todos seus sonhos estivessem sendo arremessados do vigésimo andar. Ainda poderia continuar no ramo da moda quando fosse mãe? Todas que conheciam afirmaram que pararam de trabalhar pelo filho, para sentir o deleite da maternidade e que não se arrependiam, mas e se com ela tudo fosse diferente?

Ainda poderia ganhar o mundo, ter sua própria coleção em lojas famosas, fazer um desfile, entre outras coisas que um dia desejou? Por um curto momento, às vezes, se pegava pensando em seu próprio casamento.

Pensava se deveria ter esperado mais um pouco.

Quando anunciou o noivado, Adams se opôs firmemente, explicando que ninguém deveria pensar em casamento com tão pouco tempo de relacionamento. Na época, Marina ignorou o escândalo e os argumentos do amigo, tratando-o apenas como mais uma de suas inúmeras crises de ciúmes. Agora, à medida que o tempo passava, imaginava que talvez o modelo tivesse um pouco de lógica enquanto afirmava aquelas coisas.

Talvez o padrão de mulher moderna e destemida, que ganha o mundo e realiza todas suas metas pessoais, deixando para começar a pensar em ter filhos apenas depois dos 30, fosse menos incerto.

É claro, o casamento sempre esteve presente em seus planos, na adolescência costumava desenhar vestidos de noiva, enquanto imaginava os diferentes tipos de tecidos e caimentos que eles deveriam possuir. Quando passava pelas lojas de bebê, olhava e pensava no dia que poderia combinar os sapatos com a roupa — junto com o laço, caso fosse uma menina.

Porém, seria aquilo mais importante do que ela mesma? Existia a possibilidade de ter se precipitado?

Precipitação.

Odiava aquele termo, mas parecia ser o único capaz de definir suas ações.

Precipitou-se ao se casar, embora não se arrependesse — Luan era uma boa pessoa, um ótimo esposo e Marina sentia que o amava. Ele não se incomodou quando ela sugeriu pintar a fachada de rosa e até a ajudou, o rapaz sorriu todas as vezes que a estilista terminou um trabalho, mesmo que isso significasse bagunçar a casa inteira, e sempre a respeitou. Ele não gritava quando ela quebrava as coisas, não focava mais na ordem das cores de suas linhas que na roupa que a menina estava compondo e também não parecia mais focado na sujeira da casa que com os sentimentos dela. Luan era normal. Luan era estável. Luan era gentil.

Por que ela pensava ter se precipitado ao dizer o seu sim? Mesmo que tivesse esperado, o resultado não teria sido modificado. Luan era a escolha certa, a escolha estável, a sua escolha.

É claro que havia se precipitado ao contar a Adams, ao ir atrás dele.

Reconhecia que estava se precipitando nesse exato momento, temendo um futuro que era impossível de prever. Mas não era exatamente culpa dela. Em sua mente, parecia que estava cometendo uma série de erros que não eram de seu feitio, que não a definiam e que nunca tinha cometido. Ninguém havia contado os detalhes sórdidos sobre a gravidez, ninguém havia dito sobre os enjoos frequentes e como as pequenas coisas faziam falta nos momentos de estresse. Queria beber, tragar um cigarro — coisa que raramente fazia, mas que parecia fazer uma enorme falta —, dormir direito ou simplesmente não ficar tão irritada com ações que nunca a incomodaram.

Observava Luan saindo, trabalhando e rindo, coisas que seu humor já não a permitia fazer. Queria pedir que tirasse uma folga, passasse o dia com ela assistindo um filme ruim qualquer, mas não sabia quão justa estaria sendo. Não sabia se aquilo seria suficiente. Por mais seis meses, aquela seria sua realidade — e uma voz interior a alertava que quando o bebê nascesse, toda aquela bola de neve formada por incertezas iria dobrar de tamanho.

Estava grávida há tão pouco tempo e já se sentia cansada daquele estado. Poderia sobreviver por mais trinta semanas?

A gravidez significava disposição.

Disposição para abrir mão de diversas coisas e Marina, vez ou outra, se pegava pensando se realmente estava tão disposta quanto achava que estava. É claro que não daria para trás, mas não significava que não poderia pensar no que significava ser mãe e temer previamente toda aquela realidade. Não havia treinado para isso, ninguém a disse como trocar fraldas ou segurar um bebê direito, depois de tanto tempo focada unicamente em sua carreira, como poderia ter sido tão irresponsável a ponto de ter que cuidar de uma criança?

Além disso, ainda existiam os pensamentos de fracasso que constantemente se propagavam por todo seu corpo, a ideia do medo e do arrependimento, de não ser capaz, não queria nada daquilo que estava ocorrendo — era como se uma bomba tivesse explodido em sua cabeça, destruindo todas as sólidas estruturas que construiu durante sua vida —, passava o dia assustada pensando na probabilidade de cair, sofrer um aborto espontâneo ou qualquer outra coisa que poderia ocorrer se não fosse cuidadosa o suficiente.

Queria simplesmente aproveitar aquele momento, parar de se preocupar tanto com coisas pequenas, mas não era algo que estava ao seu controle.

A mídia ditou a maternidade como algo que a completaria e, de forma tola, Marina acabou por acreditar.

Marina, que trabalhava com a mídia, que sabia quão mentirosa e baixa ela poderia ser. Marina, que se achava esperta e difícil de ser manipulada. Marina, que estava se sentindo uma idiota — estava se sentindo culpada por ser vítima da sensação de conforto que a pílula entregava, sentindo-se um número nas estatísticas de mulheres que por um descuido, acabavam como mães.

Será que todas se sentem como eu? Pensava. Porém, não tinha coragem de indagar — todos estavam felizes, por que ela não estava feliz igual a todos?

Já não queria sair da cama ou trabalhar, aquele jantar apenas piorou todas as incertezas que possuía, não queria mais fazer nada e não poderia culpar ninguém além dela mesma.

Começava a pensar que a ideia propagada pela sociedade de que mulheres grávidas eram lindas, e se sentiam assim, era uma grande mentira. Não queria se sentir feia, contudo, também não queria perder seu corpo quando desse à luz. Olhava-se no espelho e parecia desleixada, não adiantava quantas vezes falassem que a estilista estava maravilhosa e tudo aquilo era um processo natural do corpo humano, simplesmente não conseguia acreditar em nada daquilo. O sistema ditou que apenas mulheres com corpos esculturais eram bonitas e, independente do discurso que Marina pregasse, era para o sistema que trabalhava, era a ele que seguia. Passou a vida vendo meninas sendo rejeitadas pelos seus corpos, não queria sofrer aquilo — não estava pronta para aquilo.

Em alguns momentos, ao parar e olhar seu reflexo, enxergava as madeixas rosadas indo embora e não sabia se poderia pintá-las tão cedo, tudo que conseguia pensar era na bronca que o obstetra daria caso viesse a perguntar sobre as possibilidades de descolorir o cabelo para conseguir manter ao menos aquilo — embora, aquela mesma vozinha que aterrorizada seus pensamentos afirmasse com certeza de que era óbvio que não poderia.

Seu corpo estava passando por transformações que acarretariam em um novo ser, uma das dádivas entregue por Deus às mulheres, então, por que ousava se preocupar com a própria aparência? Com a própria essência.

Já estava chorando, não queria aquilo.

Não estava pronta.

Parecia que estava novamente com dezesseis anos, no exterior, cheia de dúvidas e cercada de pessoas talentosas, morrendo de medo de fracassar — de não ser o suficiente. Lembrou quando continuar o curso parecia impossível, mas temia contar para aqueles que a cercavam por não saber como eles reagiriam — por não querer decepcioná-los. Sempre acreditou que toda aquela insegurança tinha sido deixada na Europa, que havia voltado como uma nova e mais confiante mulher, mas ali estavam todas as dúvidas novamente, a penetrando como se fossem espadas.

Quando Luan chegou em sua casa não se surpreendeu com a bagunça — ou a falta de jantar — e decidiu que faria algo por si mesmo. O fotógrafo respirou fundo e tentou lançar um sorriso, sabia como os últimos dias estavam sendo difíceis à mulher, por isso tentou ignorar o cansaço. Não sabia cozinhar, mas tinha amor — e não era aquilo que diziam dar sabor ao prato?

Colocou algo no fogo, uma combinação simples de ingredientes para que não corresse o risco de queimar — ou intoxicar — quem comesse. Chamou a esposa, perguntando como ela estava e recebeu de resposta uma reclamação relacionada ao enjoo e um pedido de desculpas por não ter feito nada. Ambos costumavam dividir as tarefas da casa, já que os dois trabalhavam para manter a situação estável financeiramente. Porém, dada as circunstâncias, era natural que Marina não conseguisse cumprir a sua parte.

Sua mãe sempre o alertou sobre a gravidez, informando-o milhares de vezes que uma mulher grávida era como uma granada sem pino, quando descobriu que iria ser pai e a contou sobre a notícia, a primeira coisa que disse foi que não o perdoaria se fosse um marido ruim nesse período. Soltou um leve riso ao lembrar das palavras da mãe, era o mais velho entre seus três irmãos e teve que cuidar deles enquanto a mulher, que se divorciou enquanto ele ainda estudava, batalhava para manter a casa e os filhos na escola. Seu pai nunca foi presente, nunca foi um bom marido, nunca foi nada além de um velho bêbado e covarde, ele mesmo não conseguiria se perdoar caso fizesse Marina passar pelo que a mãe passou.

Não se permitiria a ser o péssimo marido que seu pai fora.

Um casamento deveria ser uma relação de ajuda mútua, sempre focada no crescimento individual e em conjunto de forma igualitária. Era sobre ambos saberem dizer sim, mas, acima de tudo, saberem quando dizer não.

Ele se perguntava se Marina enxergava tudo aquilo da mesma maneira.

A mulher havia crescido com pais estáveis, não eram ricos, mas nunca passaram necessidades, conseguindo sempre abdicar de alguns luxos para realizar os desejos da filha. Marina cresceu sabendo que não poderia abandonar tudo por uma única coisa. Interesse, conforto, afeição e um pouco de amor. Essa era a fórmula para algo duradouro em sua cabeça. Paixão não entregava estabilidade mental — comprovou isso ao se relacionar com Adams —, apenas atração não era suficiente para se manter em um relacionamento saudável.

Sempre soube disso, então, como conseguiu cair no conto de acreditar que apenas o desejo de ser uma boa mãe lhe ajudaria a cuidar de uma criança?

Luan também não conseguia falar nada contra o desânimo recente da companheira — desde que descobriu a gravidez inesperada, procurou se informar sobre diversas coisas e viu que aquele era um sintoma frequente entre as mulheres, um sintoma que elas geralmente evitavam compartilhar com os parceiros ou consigo mesmas —, tentava pensar que tudo aquilo era apenas uma fase, assim como sua mãe dizia. A comunicação parecia inviável, também tinha seus temores que o impediam de cruzar a linha imaginária que se formava entre eles.

Amava Marina.

E desejava ser amado na mesma intensidade.

Enquanto esse amor existisse, imaginava que os dois conseguiriam sobreviver as crises.

Dentro de si, desejava que a esposa pensasse o mesmo.

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