Jogo de Máscaras

By AliceHAlamo

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Não era para ser difícil ou perigoso, era para ser relaxante e prazeroso, apenas isso. Que ironia... Como se... More

Capítulo 1 - Vista sua Máscara
Capítulo 2 - Tire sua máscara de inocente
Capítulo 3 - Tire sua máscara de puritano
Capítulo 4 - Vista sua máscara de bom amigo
Capítulo 5 - Vista sua máscara de bom partido
Capítulo 6 - Tire sua máscara de cara paciente
Capítulo 7 - Vista sua verdadeira máscara
Capítulo 8 - Vista sua máscara de felicidade
Capítulo 9 - Tire sua máscara de insegurança
Capítulo 10 - Vista sua primeira máscara
Capítulo 11 - Tire a máscara dos outros
Capítulo 12 - Vista sua máscara de enfermeiro
Capítulo 13 - Tire sua máscara de frieza
Capítulo 14 - Vista sua máscara de Mentiroso
Capítulo 15 - Vista sua máscara de protetor
Capítulo 16 - Vista sua máscara de Sasuke
Capítulo 17 - Vista sua máscara de honestidade
Capítulo 18 - Tire a máscara do seu adversário
Capítulo 19 - Vista sua máscara de Apaix-..., quer dizer, de viciado
Capítulo 20 - Vista sua máscara de cumplicidade
Capítulo 21 - Tire sua máscara de sob controle
Capítulo 22 - Tirem suas máscaras sociais
Capítulo 23 - Vista sua máscara de traído
Capítulo 24 - Tirem suas máscaras de protegidos
Capítulo 25 - Vista sua máscara de bom entendedor
Capítulo 26 - Vista sua máscara de ingênuo
Capítulo 27 - Vistam suas máscaras de aliados
Capítulo 28 - Tire sua máscara de encurralado, ainda há saída
Capítulo 29 - Vista sua máscara de John Dillinger
Capítulo 30 - Tire sua máscara de amigo leal
Capítulo 31 - Vista sua máscara de desespero
Capítulo 33 - Vista sua máscara de precaução
Capítulo 34 - O cair das máscaras

Capítulo 32 - Vista sua máscara de Giselle

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By AliceHAlamo


Naruto ainda absorvia todos os eventos e as informações da noite anterior e, não, não estava sendo fácil. Sasuke não lhe havia dado tempo nem para responder a declaração nem para tomar qualquer outra atitude que não fosse corresponder ao beijo afoito que iniciava. Tinha sido paixão, puramente paixão e o modo desgovernado como os corpos agiam sob tal influência. O banco de trás do carro foi o escolhido para os acolher naquele momento, e a falta de espaço não os incomodou em nada, apenas no final, quando enfim decidiram entrar na casa, torcendo para não esbarrarem em Itachi.

Pela manhã, Naruto acordou cedo com uma ligação de Hinata e, por isso, despediu-se de um Sasuke extremamente sonolento. Dirigiu até a casa da amiga com um sorriso bobo no rosto, uma felicidade que parecia fazer o ar ao seu redor vibrar, e nem o céu nublado e o trânsito conseguiram aborrecê-lo.

Ao entrar na casa de Hinata, abraçou-a e a girou no ar, rindo enquanto narrava parte do que tinha lhe acontecido. Apesar da preocupação da amiga, pôde reconhecer o sorriso sincero dela. Tomaram café juntos, e Naruto arregalou os olhos quando Hanabi apareceu na cozinha, reclamando do volume das vozes que a acordaram.

— Como...? — perguntou para Hinata, mas foi Hanabi que lhe respondeu.

— Não é muito difícil pegar um celular emprestado. — Ela mostrou a língua, alegre, enquanto parava atrás da cadeira de Hinata e a abraçava. — Um dos garotos da minha sala estava com esse aqui parado em casa, pedi emprestado até que o meu fosse devolvido. Nesse momento, meu pai acha que estou na casa de uma colega para irmos visitar uma faculdade.

— Genial. — Naruto sorriu abertamente.

— Do que tanto riam? — Hanabi perguntou ao se sentar enquanto Hinata lhe servia uma caneca de café com leite. — Valeu, onee-chan. Vocês estavam rindo tão alto que acho que toda a rua acordou.

— Naruto teve um dia especial — Hinata respondeu.

— Especial? — Hanabi arqueou a sobrancelha. — Com aquele jornalista gostoso?

— Hanabi! — Hinata a repreendeu.

— Esse mesmo! — Naruto respondeu, cúmplice. — Contou para ela, Hina?

— Ela usou você como desculpa para mudar de assunto, Naruto; eu estava perguntando lá da... qual o nome dela?

— Sakura? — ele chutou.

— Sim! Tava querendo saber dela, mas Hinata não queria me dizer, então mudou de assunto e me contou de você e do jornalista gostoso. G-O-S-T-O-S-O sim, onee-chan! Qual o problema de falar se ele realmente é? — Hanabi perguntou, indignada.

Naruto riu, erguendo as mãos em defesa quando Hinata lhe censurou com o olhar.

— Falando nisso, Hina, Já falou com Sakura? — ele perguntou, um pouco mais sério.

— Ainda não... ela está... quer dizer, não tentei ainda.

— Ela é uma idiota — Hanabi cuspiu, irritada, antes de morder o pão com queijo.

— Não é assim, Hanabi, já te expliquei. — Hinata suspirou.

— Acho que já é hora de vocês se falarem, Hina — Naruto falou. — Marque de sair com ela. Tente pelo menos.

— Eu sei, vou fazer isso — ela respondeu, sem dar atenção para o revirar de olhos da irmã mais nova. — Mas queria dar tempo para ela, afinal, nós duas estamos erradas nessa história. Não posso chegar exigindo que ela seja compreensiva quando menti, entende? Começamos errado, Naruto, precisamos de um tempo para poder ir do zero.

Naruto assentiu, embora soubesse que, se fosse ele naquela situação, não conseguiria ser tão paciente assim.

— Mas não foi para falar de relacionamentos que eu te chamei — Hinata mudou de assunto. — Neji me ligou ontem à noite, parece que não conseguiu falar com você ou com Sasuke. Ele tem um plano para expor Hiashi.

— Ele disse qual? — Naruto perguntou, ainda que já imaginasse que Neji não perderia a chance de reunir a todos para mais um de seus discursos.

— Não. Pediu que fôssemos até este endereço. — Ela lhe entregou um pedaço de papel. — E, mais uma coisa... — falou com o cenho franzido em desentendimento e preocupação. — ele pediu para que Gaara e Ino comparecessem.

* * *

Gaara acordou com a movimentação no colchão. Abriu minimamente os olhos quando sentiu a falta do calor contra seu corpo e espiou o horário na tela do celular. Seis da manhã. Embora desejasse, estava cansado e não conseguiu obrigar-se a se levantar.

Ino sorriu ao vê-lo voltar a dormir e retirou o celular das mãos dele para colocá-lo sobre o criado mudo. Vestiu-se confortavelmente e foi à cozinha. Ligou a cafeteira e não achou coragem para fazer o resto do café da manhã, ficando feliz por ter tido a ideia de comprar lanches naturais para ocasiões como aquela. Comeu, com um olho no relógio. Seis e meia, colocou a louça suja na pia e lavou as mãos, secando-as bem. Caminhou para o ateliê enquanto se alongava, esticando os braços para cima e bocejando.

Entrou no ateliê e suspirou, desanimada. Quatorze quadros completos, quatro ainda nos rascunhos, os maiores. Só poderia concluir mais um, esse era seu limite. Não havia mais tempo, a exposição seria em uma semana e levaria cerca de dois a três dias para mais uma pintura. Como deixara aquilo acontecer?

Balançou a cabeça, resignada, e posicionou a imensa tela no suporte. Puxou um pequeno banco e o deixou diante do rascunho enquanto buscava pelos pincéis e tintas. Felizmente, tinha sido inteligente para manter o formato de sua exposição, ainda continha as quatro fases que queria exibir. Possuía quatro quadros com Gaara em posições relaxadas, quatro dele em poses sensuais, exibindo-se ou dançando, quatro dele em posições que lembravam sexo e apenas dois com Gaara satisfeito, como se houvesse chegado ao ápice de seu prazer e desfrutasse de uma letargia gostosa. Aquele último que agora pintaria também faria parte desta última fase, mas era um quadro especial... aquele rascunho ela fizera após a primeira noite deles, era uma lembrança dela, algo que não conseguia tirar da mente por mais que tentasse.

Lembrava-se perfeitamente como a luz o tinha fracamente iluminado naquela noite, e suas mãos pareciam perfeitas continuações de sua memória, reproduzindo tudo tão bem quanto podia. Apenas para contrariar seu estilo, começou pela parte colorida da obra, o vermelho. Pintaria os cabelos vermelhos de Gaara, sorrindo enquanto se lembrava de como era belo observar os fios contrastando com os lençóis claro de sua cama, de seu travesseiro.

Sorriu, doce, sem nem ao menos perceber. Se pudesse comparar o que sentia com seus quadros, diria que era como se Gaara trouxesse todas as cores do mundo para uma tela vazia, preenchendo cada espaço em branco. É, talvez não fosse da tela que ela estava falando, talvez, quem sabe, fosse de si mesma. Óbvio que nunca tinha precisado de um amor para ser feliz, vivia muito bem antes de Gaara aparecer, contudo, admitia que, naquele momento, não só estava feliz como transbordava um pouco da felicidade por onde passava. O amor não era a tinta ou as cores de um quadro, era os retoques, a assinatura, a moldura ideal e as pequenas mudanças que tornavam a obra mais bela e por que não dizer perfeita.

Gaara era sua moldura... É, gostava da comparação.

Quando o relógio anunciou oito horas, ela pôde ouvir ao longe o despertador de Gaara. Não demorou muito para que ele aparecesse no ateliê. Ele se sentou no chão, ao lado dela, e apoiou a cabeça em sua coxa. Ino viu um prato no chão, Gaara comia preguiçosamente um dos sanduíches, ainda com sono demais para fazer algo além daquilo.

Após uma meia hora, ele acordou de fato e olhou as mensagens no celular. Várias, todas de Hinata e Naruto.

— Aconteceu algo? — Ino perguntou quando ele se afastou para ler melhor.

— Não sei... — respondeu, calmo. — Hinata está nos chamando para almoçar na casa dela — comentou, visivelmente estranhando aquele convite.

— Eu também? — Ino questionou, surpresa. — Por quê?

— Não sei, mas, pelo número de mensagens, acho melhor ir conferir — ele decidiu. — Quer vir comigo?

Ino pensou em silêncio por alguns instantes. Agora que o prazo já tinha praticamente terminado e ela só teria aquele último quadro para findar, poderia se dar ao luxo de um descanso como um almoço na casa dos amigos de Gaara. Aliás, seria até uma boa forma de conhecê-los! E havia sido convidada, poderia ser mal interpretada se não fosse.

— Ok — respondeu, animada. — Nós vamos.

— Tem certeza? — Gaara perguntou ao olhar ao redor, mais especificamente para os três quadros que não seriam finalizados a tempo.

— Sim. — Ino pincelou o nariz dele, deixando uma pequena mancha vermelha nele, tirando-lhe uma careta. — Não se preocupe, podemos ir.

Uma hora. Hinata terminou de checar as panelas. Naruto lavou a louça enquanto o celular ali na cozinha tocava alguma música. Hanabi colocou os pratos na mesa. A campainha tocou. Os três na casa se entreolharam.

— Quem vai contar para ele? — Naruto perguntou antes que fossem atender à porta.

— Eu não quero — Hinata disse baixo, quase sussurrando.

— Nem estou nessa história, não sei de nada — Hanabi apressou-se a dizer.

— Ímpar. — Naruto ergueu a mão em punho, fazendo Hinata arregalar os olhos pela forma adulta como decidiriam um assunto tão importante.

— Ok, ok, par — ela cedeu quando a campainha tocou de novo.

— Um, dois, três e já — Naruto contou e, ao mesmo tempo, eles mostraram as mãos. — Ímpar, ganhei, você conta. — Ele riu e saiu apressado da cozinha para abrir a porta.

Do lado de fora, Gaara franzia o cenho, estranhando a demora. Hinata nunca demorava tanto. Quando foi apertar pela terceira vez a campainha, viu Naruto abrir a porta, animado.

— Meu Deus, ela veio! — ele comentou ao olhar para Ino. — Eu sou muito fã dos seus quadros — disse rapidamente. — Sério, muito mesmo...

— Oi para você também, Naruto — Gaara o interrompeu, com um sorriso de canto. Passou o braço bom pela cintura de Ino e os apresentou devidamente. — Ino, este é Naruto, aquele amigo de quem te falei.

— O que se mete em problemas — ela completou, risonha.

— Esse mesmo.

— Ei! Eu não me meto em problemas — Naruto rebateu em falsa indignação. — Só às vezes... — Riu e abriu espaço para que eles entrassem na casa.

Gaara suspirou quando o aroma da comida o abateu assim que entrou na casa. Amava a comida de Hinata. Conduziu Ino consigo até a cozinha enquanto ela e Naruto engatavam uma conversa sobre uma das muitas exposições que ela fez fora do país. Chegou a tempo de ver Hinata terminar de colocar o arroz à grega em uma travessa de vidro para levar à mesa.

Ela cumprimentou Ino mais discretamente, afinal, já a conhecia, e pediu que Hanabi pendurasse a bolsa dela para que Ino ficasse mais confortável. Atento, viu como as mãos de Hinata não paravam quietas, os dedos batendo contra a perna em um gesto característico de quando ela estava ansiosa. Quando se sentaram para comer, ignorando a conversa animada que Naruto e Ino tinham ao seu lado, resolveu perguntar:

— O que aconteceu para esse almoço de última hora?

— Fala como se eu nunca te chamasse para almoçar aqui — Hinata respondeu e olhou para Naruto em busca de ajuda.

— Hina... fala logo — ele pediu, calmo. — Tem a ver com Hanabi? — preocupou-se, uma vez que a irmã mais nova dela não deveria estar ali.

— Não, não. — Ela riu, suave. — Nada disso. Tem a ver com Neji...

Gaara arqueou a sobrancelha e recostou-se na cadeira. Encarou Naruto, que fez questão beber o suco para fugir do olhar acusatório.

— O que tem Neji? — Ino perguntou diante do silêncio que se seguiu.

— Ele teve a reunião com Hiashi e agora quer marcar uma reunião para decidirmos como vamos prosseguir — Hinata respondeu com cuidado. — E... ele pediu para que você fosse, Ino, você e Gaara...

— O quê? — Gaara largou os talheres e limpou a boca com o guardanapo.

— Por que ele iria querer que eu fosse? — Ino questionou, curiosa.

— Não sabemos — Naruto explicou. — Ele só pediu que fossem. Não temos como dizer para que.

— Não — Gaara respondeu, convicto, sério.

Ino olhou dele para Hinata, percebendo o cair da postura dela e o modo como ela olhou para Naruto, como se já esperasse por aquilo.

— Ele pediu especificamente para eu ir? — ela quis confirmar, e Hinata assentiu. — Quando?

— Hoje à noite.

— Tudo bem, eu vou.

— Como? — Gaara virou-se para ela, perplexo. — Ino...

— Ele é o prefeito, minha exposição depende da boa vontade dele, não posso recusar, ainda mais levando em consideração tudo em que vocês estão metidos — ela explicou como se fosse óbvio. — Se eu não for, ele pode achar que estou medindo forças com ele ou sei lá! E ele já deu a entender que poderia interferir na minha exposição uma vez, lembra? Não quero comprar briga com o prefeito, Gaara.

— Ah, meu Deus... — ele praguejou, visivelmente contrariado.

— Você não precisa ir comigo.

Ele não respondeu, apenas a olhou feio diante do absurdo que ela havia dito. Massageou a fronte, apertando a raiz do nariz enquanto xingava Neji em pensamento.

— Então... vocês vão? — Naruto perguntou com cuidado.

Gaara riu, sem humor, e deu de ombros para responder resignado:

— E eu tenho escolha?

* * *

Sakura fez cópias, muitas cópias das fotos que Sasuke tinha conseguido. Salvou em seu computador, no pendrive, em um site de armazenamento online, no e-mail, e se ainda se usasse disquetes e CDs, ela também salvaria cópias dos arquivos neles. Além disso, Deidara havia lhe passado as gravações antes de entregá-las a Ten-Ten. Assim, já havia ouvido a reunião várias vezes, guardado os arquivos, editado o som de modo a apagar barulhos externos e deixar a voz dos políticos mais "limpas". Claro, havia também preservado, em uma pasta diferente, os arquivos originais para caso alguém duvidasse da veracidade de suas edições.

Contudo, embora quisesse dizer que aquele trabalho todo era apenas porque queria ajudar, sabia que parte de sua disposição era por querer ocupar a mente, assim, não pensaria em Hinata...

Girou o celular em suas mãos. O jantar com Neji seria em algumas horas, e ela e Sasuke decidiram que apenas ela iria, uma vez que não era sensato reunir tanta gente, podiam levantar suspeitas. Pelo que havia entendido, ela, Hinata, Gaara e Ino se encontrariam com o prefeito no teatro municipal, onde uma companhia de ballet se apresentaria por poucos dias.

E isso fazia suas mãos suarem em ansiedade. Vestiu-se de forma elegante, uma calça social clara com uma blusa vermelha de decote em U que lhe permitia usar um colar delicado. Prendeu o cabelo no alto, e cacheou discretamente a franja. Ao se olhar no espelho antes de sair de casa, fingiu que não tinha se arrumado tanto só pela possibilidade de se encontrar com Hinata.

Como sempre, o teatro estava lotado. As luzes que o iluminavam engrandeciam a construção de arquitetura clássica, panfletos com o cronograma do espetáculo eram distribuídos logo na recepção quando o ingresso era conferido.

Suspirou, não gostava de comparecer a aqueles eventos sozinha, normalmente Deidara a acompanharia...

Deidara.

A lembrança do ex amigo a deixava irritada, mais irritada que Sasuke! Só de se lembrar do perigo pelo qual tinha passado graças a Deidara, qualquer vontade de perdoá-lo ou de levar em consideração a recente ajuda dele contra Hiashi desaparecia. As mentiras que ele havia contado, os eventos a que a tinha levado com dinheiro sujo, a vida corrupta tão bem afortunada... não, ela não conseguia perdoá-lo. Portanto, quando o encontrou ali, no teatro, sentado em uma poltrona próxima à sua, fingiu que não o vira e ignorou quando ele chamou por seu nome.

— Parece que Neji quis que ficássemos em uma só área.

Sakura arregalou os olhos ao ouvir Hinata ao seu lado. Ela estava acompanhada de Gaara e uma mulher loira que ocupavam os assentos que a separavam de Deidara. Pôde perceber o desconforto que seu silêncio causou, e repreendeu-se por não conseguir dizer nada.

— Sabe quando vamos falar com ele? — Hinata questionou ao olhar ao redor.

— Não, ele deve ocupar um dos camarotes, não sei como falaremos com ele aqui — respondeu, brincando com o celular em suas mãos.

Hinata estava como nos dias em que saíram juntas, um vestido delicado de cor pérola, mangas curtas e laços pequenos e decorativos. A maquiagem leve a deixava com aparência mais jovem e o cabelo preso em coque baixo a fazia parecer uma boneca de porcelana.

Desviou o olhar, sem querer que a outra percebesse que a encarava com patético deslumbre. A mente passou a trabalhar ruidosamente, levantando perguntas que queria fazer a Hinata, bombardeando-a com os questionamentos que precisava esclarecer para entender melhor as decisões da outra e o porquê ela mentira.

As luzes começaram a se apagar. Os avisos de sempre foram pronunciados, e Sakura desligou e guardou o celular na bolsa. Percebeu a expressão enfadada de Hinata quando as primeiras notas de piano se iniciaram e a curiosidade, aliada à vontade de falar com a outra (qualquer coisa que fosse!), não resistiu em perguntar:

— Não gosta de ballet?

— Não gosto de Giselle especificamente — ela respondeu. — Já acompanhei muita gente para assistir à essa obra, arrisco dizer que já a sei de cor.

— Ah... não gosta da história? — Sakura preferiu ignorar o fato de Hinata ter se referido ao antigo trabalho.

— Não. Acho triste e não gosto de saber que o príncipe enganou Giselle por tanto tempo, levando-a à morte e ela, ainda assim, o defende depois.

— Acha que ela não deveria perdoar a mentira? — Sakura indagou, contudo, não soube dizer mais se se referia à obra.

— Ele não a amava na minha opinião. Para ela, ele foi um grande amor; para ele, ela foi uma aventura. Então, não, ela não devia perdoá-lo. — Hinata a encarou, os olhos lilases observando o modo como as mãos de Sakura apertavam a bolsa com mais força que o necessário.

— Gosto de pensar que ela o perdoou porque era boa, não porque ainda o amava.

— É um bom ponto, mas me desagrada o preço que ela pagou por tudo isso. Não só a morte, mas a melancolia, a dor que ela carrega até o final. Quando amanhece, quando chega ao fim da obra, ela ainda parece sofrer ao se despedir dele, como se nos deixasse claro que ainda o amaria para sempre, que ainda velaria o coração partido. Não gosto de finais tristes.

— Mentiras sempre estragam os finais felizes — respondeu, sem tirar os olhos da prima bailarina que dançava com o príncipe disfarçado. — Por que não me contou?

Hinata respirou fundo e enfim percebeu Neji em um dos camarotes mais caros.

— Eu tentei uma vez, no parque, quando me levou ao comício de Orochimaru, lembra? Mas não tive coragem. Eu sei do preconceito que ronda o lugar onde trabalhava e, embora não fizesse parte das apresentações ou dos programas, isso nunca me deixou livre de julgamentos. Meus relacionamentos sempre acabavam quando eu contava... com você seria diferente?

— Não sei — Sakura respondeu sem rodeios. — Mas com certeza mentir não tornou as coisas melhores. Se me contasse, eu podia ficar surpresa, levar dias para entender, mas não me sentiria enganada, ainda mais quando os meus amigos já sabiam a verdade e a escondiam de mim.

— Nunca pedi para que eles mentissem.

— Por que trabalhava naquele lugar?

— Fui expulsa de casa... não, o certo seria dizer que meus pais queriam me expulsar e eu queria sair. Esperei até terminar o ensino médio e então fui morar com uma amiga. Ela era mais velha e trabalhava na Akatsuki como modelo. Um dia, quando as contas apertaram, fui com ela. O dono do lugar me convidou a fazer o mesmo que ela, mas recusei, não queria aquilo para mim, não tinha a coragem de Gaara ou a desinibição de Naruto. Então, ele me ofereceu um emprego como acompanhante, disse que eu era justamente o tipo de mulher para aquele serviço: um rostinho bonito, voz doce e baixa e corpo dentro dos padrões de exigência — ironizou, controlando a voz para não falar mais alto e atrapalhar o espetáculo. — Ele estava certo... mal comecei e era sempre contratada. Eventos, reuniões, exposições, sempre sendo a companhia perfeita seja para ser exibida para estranhos seja para entreter os solitários.

— Nunca quis sair? Mudar de emprego?

— No começo, não era ruim. Eu ia a eventos caros que nunca tinha ido, vi lugares que provavelmente nunca visitaria por conta própria, nem todos os momentos eram ruins. Para ser bem sincera, tirando os eventos em que tinha que me fazer de idiota e falar sobre vestidos ou relacionamentos e os clientes que quebravam as regras, tudo era até que agradável.

— Já dormiu com algum deles?

— Por dinheiro? Não. Por prazer, sim, mas fora do trabalho, sempre fora.

— Sua família...?

— Agora, assim como você, eles sabem. Mas não me importo. Minha família é minha irmã, Naruto e Gaara, apenas eles me importam.

— Você mantém contato com esses clientes?

Hinata franziu o cenho e pensou por um momento.

— Alguns poucos se tornaram meus amigos, a maioria nunca mais vi. Entenda, embora a Akatsuki seja uma casa de prazer e receba muita gente podre, há exceções.

— Se arrepende?

Hinata olhou inconscientemente para Gaara ao seu lado e as lembranças deles dois e Naruto a fizeram sorrir enquanto balançava a cabeça.

— Não, não mesmo. Contudo, me arrependo de não ter saído antes. Eu, Naruto e Gaara demoramos demais para tomarmos alguma atitude. Estava tudo tão cômodo que... — Suspirou. — Deixávamos sempre para depois. Era mais fácil permanecer... Naruto ainda tentava algo, uma vida normal, talvez. Ele vai à faculdade, tem amigos lá, sai com pessoas sem compromisso e sem o peso do trabalho sobre os ombros. Já eu e Gaara... creio que nos acostumamos demais com o preconceito ao nosso redor que preferimos nos esconder. — Ela balançou a cabeça e limpou a garganta, afastando o pensamento melancólico. — Estou feliz por termos os três saído agora, mesmo que estejamos meio incertos sobre o que fazer, estou feliz que essa fase chegou ao fim.

Sakura assentiu e se calou. Não tinha mais perguntas, e as respostas recebidas estavam sendo processadas lentamente pelo cérebro enquanto a delicada Giselle saltava pelo palco em um solo maravilhosamente dramático.

Talvez, se fosse como Giselle, a romântica incorrigível, não estivesse tão preocupada em entender Hinata para então conseguir seguir em frente. É, talvez lhe faltasse romantismo, talvez pensasse demais. Contudo, ao ver Giselle no final do espetáculo despedir-se dolorosamente do príncipe mentiroso ao nascer do sol, ao assistir o modo como os olhos dela pareciam vazios de esperança e tomados pela amargura, soube que não: não lhe faltava romantismo, estava certa em querer a verdade para decidir por qual caminho guiar o coração. Afinal, nada que começa errado termina bem, Giselle era só mais um triste exemplo, e ela, Sakura, recusava-se a fazer parte da estatística.

Os aplausos finalizaram tanto a trágica história quanto os pensamentos perdidos de Sakura. Assim que todos se levantaram, discretamente, percebeu Gaara se colocar na frente dela e de Hinata e Ino quando um homem se aproximou e disse algo rapidamente.

— Sai disse que Neji nos espera numa sala próxima ao camarote. Temos que ser rápidos — ele explicou, visivelmente incomodado.

Hinata lhe tocou o gesso no braço e pareceu tranquilizá-lo. Deidara andava à frente, como se já soubesse para onde ir, então optaram por segui-lo. Sakura aproveitou o breve trajeto para ligar o celular e mandar uma mensagem a Itachi para tranquilizá-lo.

Como os seguranças obviamente pediram, deixaram as bolsas e os celulares do lado de fora da sala e entraram após serem revistados. As portas se fecharam às costas de Sakura, e ela viu Neji e Ten-Ten sentados confortavelmente em um sofá à frente.

Sempre diziam que a melhor parte de uma vingança, era o planejamento, mas, vendo os dois políticos e Deidara lado a lado, tudo o que tinha era vontade de vomitar...




Desculpem a demora, gente, estou doente e em época de provas na faculdade :x

O capítulo foi curto propositalmente.

Espero que tenham gostado

Fim está MUITO próximo

Beijoss

Obrigada a quem acompanha e/ou deixa reviews <3

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