Caminhar para a morte é uma metáfora usada para presos que caminham no corredor até a sala de sua execução.
La estava eu, parada a frente de um corredor úmido e frio, minhas mãos se contraiam contra meu corpo até meus pés caminharem pelo piso. Lamentos e risos vinham do outro lado, mas será que haveria outro lado se eu chegasse até ele?
Cheguei a sala de jantar e uma bela mesa se estendia por todo cômodo, todos sentados a mesa de forma inconveniente,de discussões idiotas até dramas familiares, como o divórcio dos meus pais. Minha mãe lamentava a escolha do meu irmão em ficar com meu pai na cidade, ele decidira a alguns meses que ia morar com ele. Ela nunca se conformou com isso. Porém tudo que eu queria era ser meu irmão naquele momento.
Sentei na cadeira de frente para as janelas, os galhos arranhavam as persianas e faziam barulhos irritantes. Minha presença foi notada depois que me sentei e vovó me lançou um olhar gentil, eu retribui com um sorriso.
-- Como está, minha querida?- ela enfiou um colher de ervilhas na boca.
-- Eu estou bem , vovó. Obrigada.- dei meu sorriso e peguei o macarrão a minha frente.
Alex estava a meu lado e tocou meu pulso enquanto me estendia para pegar o macarrão.
Olhei para ele, confusa.
Quando olhei novamente para meu pulso Alex tirou uma carta de baralho dele. Fiquei surpresa, não sabia que ele sabia truques mágicos.
-- Uau, onde você aprendeu isso?- sorri para ele.
Antes que ele pudesse falar Max o interrompeu com uma colocação um tanto idiota.
-- No YouTube né, Mad, qualquer um pode fazer isso.- ele sorriu com deboche enquanto comia.
-- Não fale isso aqui, Max. Ele não vai gostar.- Alex olhou com uma expressão séria para Max, mas ele deu de ombros e voltou a comer.
Uma rajada de vento ecoou lá fora e um galho atravessou a janela e se arrastou pelo chão da sala de jantar.
Todos levantaram assustados, mas Alex sorriu com malícia e olhou pra mim.
--Você sabe que falta pouco tempo não é?- seus olhos azuis já eram de um tom verde escuro
-- Falta tempo pra quê?
Minha cabeça começou a rodar como na floresta, todos falavam ao mesmo, meu avô discutia quem ia pagar a janela porque o vidro era muito caro, Rose se abanava para passar o susto que sofreu, Max tentava tranquilizar Rose... enquanto isso Alex segurou minha mão.
-- Ele quer você, se não for agora ele vai matar todos nós.
Tudo fazia sentido agora, havia sim uma pessoa de mim atrás de mim e nada foi invenção da minha mente. Eu sorri, involuntariamente, mas sabia que todos íamos morrer.
De repente todos começaram a ficar em câmera lenta, eu podia ver gotas água flutuando sobre a sala, a chuva começava a dar seus primeiros passos pela floresta, o cheiro de terra molhada entrava meus pulmões outra vez. Sentada a frente de uma janela quebrada, lá estava eu novamente, outro vento forte abriu a janela e eu pude ver a floresta se abrir formando um caminho mata a dentro. Era decisão minha caminhar pela floresta.
Mas eu sabia que era como caminhar para a morte.
Capítulos todos os dias a partir de hoje***