[RETIRADO] MR. JOHN

By LouiseAkaboshi

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Las Vegas. Lugar dos pecados mais profanos. Epicentro dos jogos de azar, diversão, bebidas, apostas, ressacas... More

Agradecimentos | Notas
ATENÇÃO GALERA DE COWBOY

Capítulo 28

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By LouiseAkaboshi

To tell me it's alright
As we soar walls, every siren is a symphony
And every tear's a waterfall

Every Teardrop is a Waterfall
Coldplay

Kate, caso você não conhecesse seu lado sombrio e maquiavélico, facilmente te enganaria, e assim como eu, te persuadiria a pensar que era uma lady inofensiva, com o sorriso inocente — uma breve pausa para analisarmos essa palavra — e a pose de uma mulher recatada. Com as pernas cruzadas uma sobre a outra e as mãos que suavemente se apoiavam sobre os joelhos, detinha o olhar focado no caminho de terra que percorríamos na imensidão da noite.

Se me contassem o que ela tinha passado, não acreditaria. A mulher era uma parede dura e resistente, mesmo recebendo constantes pressões para ser derrubada, sua base era forte e intransponível.

Meu coração parecia uma banda desordenada, mas no caso seria do tipo que é tocada por músicos desengonçados que não tem a mínima noção do que seja ritmo ou compasso.

Não tinha ideia de como seria o tal alemão, cujo único detalhe que era do meu conhecimento se restringia ao seu nome, Franz, e a sua ocupação extremamente importante e vital para o perfeito funcionamento da roleta que girava e girava.

Armas.

— Uma pergunta, por que Franz só aceitou se fosse você a estar presente?

— Ele tem suas peculiaridades e não é todo mundo que tem a permissão de se aproximar, e principalmente, de ser conhecedor do que faz.

— Algum tipo receio com algo que já possa ter acontecido?

— Sim. Já tentaram acusá-lo de fornecer armas de má qualidade e com defeitos graves, o que era mentira, todo seu equipamento passa por um controle de qualidade muito intenso e especializado, e como já havia trabalhado em uma fábrica russa que fornecia armamento para o exército, imagine como é perfeccionista por cada detalhe.

— Mas queriam o que?

— Que por causa disso ele fosse obrigado a diminuir o preço, há um motivo das pessoas ricas continuarem ricas.

— Que seria? — indaguei curiosa.

— São mão de vacas até o último fio de cabelo, capaz de acenarem com a mão fechada.

Típico.

— Só achei intrigante por você ser a exigência.

— Bem, ele tem um lema de não confiar em americanos.

— Explica muita coisa, mas geralmente alguns europeus não vão com a nossa cara, melhor — me corrigi na hora — o mundo todo tem certo ranço com a gente.

— Porque vocês ajudam bastante, convenhamos — me encarou irônica — são legais e babacas simultaneamente. Depois de todo esse tempo aqui e sendo casada com um, preciso abstrair muita coisa.

— Esse nosso sangue é uma praga mesmo — caçoei — mas o conheceu aqui?

— Não — girou o corpo e repuxou a boca — nós nos conhecemos há muito tempo atrás, quando nem pensava em vir para cá e Dylan nem pensava em existir pra mim. Fazia aulas de tiro, como as que te dei, só que num nível mais avançado em um centro profissional em Moscou, conversamos um pouco, trocamos considerações sobre os tipos de fuzis que gostávamos. Claro que percebi que nas entrelinhas tentava me dar uma cantada, mas o cortei logo e ele parou, ou tentou pelo menos.

— E você contou que o cara te dava mole?

— Contar, contar, não contei, mas ele foi muito rápido e sagaz, pegou de cara quando o conheceu, tive que rebolar pra conseguir contornar a situação desconfortável que ficou, tá pra existir bicho mais possessivo que esse abençoado que carrega um pau entre as pernas.

— Por isso então do ciúme e da revolta, deve ter reclamado horrores por ter que te tirar de casa— constatei por fim.

— Exatamente — sacudiu a cabeça e expirou cansada — tudo porque quando sugeri Franz meu amado marido ficou ressabiado por eu ter tantos contatos nada comuns e que eram homens, do gênero masculino explicitamente, como se eu fosse comum, que ideia. Honestamente, as armas que eles utilizavam aqui eram umas porcarias que travavam toda hora, muito pesadas e nada práticas.

— O estranho é que os Estados Unidos é um dos maiores centros exportadores do mundo, a lógica é que a máfia de Las Vegas tivesse acesso às melhores disponíveis no mercado.

— Mas esqueceu dum detalhe, eles acham que são os melhores e que o resto é o resto, sério, a primeira vez que tentei atirar com a antiga pistola automática deles, quis bater com a minha cabeça na parede de tão ruim que era. Na mesma hora peguei meu celular e entrei em contato com Franz.

— E Dylan não reclama porque sabe que tem razão e fica com boca fechada pra não criar problemas — completei.

— Camille, se ele tem algo que ele teme, sou eu.

A madrugada no deserto era escura e tenebrosa, o último resquício de civilização tinha ficado há uns bons quilômetros para trás, o céu parcialmente encoberto pelas nuvens tampavam as poucas estrelas que ousavam a mostrar seu brilho, mesmo que fraco.

O lugar do nosso encontro ficava bem distante do grande centro, na realidade era quase que em outro estado, o que ajudou bastante no meu desconforto de ficar na mesma posição por um tempo consideravelmente grande.

— Está se sentido mal? — perguntou me olhando com uma cara de preocupação.

— Só um leve incômodo — disse me ajeitando no banco de couro — meu corpo não é mais o mesmo e qualquer coisa é o suficiente, mas nada que chegue a ser desesperador.

— O começo é assim, muito enjoo, tontura, até esse primeiro trimestre passar, não tem como escapar mesmo.

Me chamou a atenção a naturalidade e entendimento que me explicava detalhes da gravidez ao longo da conversa.

— Com sabe tanto assim, já leu a respeito ou coisa do tipo? — me atrevi a tirar minha curiosidade.

— Já tive a oportunidade de presenciar uma gravidez bem de perto — com um sorriso matreiro e fugindo do assunto terminou — um dia desses te conto.

Me enganei sobre irmos até quase outro estado, porque quando vi uma placa que dizia que nos aproximávamos do Arizona tive a certeza que tínhamos percorrido um bom pedaço.

— Era preciso mesmo vir até aqui?

—Preferimos, como o Grand Canyon não é muito distante, temos um resguardo de não haver muitas pessoas por perto, fora que essa região é cheia de parques florestais e o relevo montanhoso ajuda.

— Uma dúvida, como ele vem para cá sem ser pego pela polícia?

— Ele nunca contou os truques que usa, nem para mim, o que sei é que tudo vem de barco, atravessando o Golfo do México e atracando na costa do Texas, cruzam então todo o estado, passando depois pelo Novo México até chegar aqui.

— Mas deve ter alguma coisa acertada.

— Sempre, alguns policiais são nossos, até no FBI e na CIA conseguimos infiltrar pessoas.

— Então se algo der errado...

Piscando maliciosamente afirmou com um breve aceno, o que e quem eles não tinham nas mãos?

— Nós saberemos. Na CIA por pouco não deu, eles vasculham e reviram a vida da pessoa e da família até a milhonéssima geração — gargalhou — pena que somos mais inteligentes e espertos. Pegamos alguém que era limpo e o trouxemos para nosso lado, um pouco de dinheiro aqui, outros favores ali, uma casa legal e pronto, estávamos dentro. Em todos os cantos tem um par de olhos vigiando tudo.

Minha surpresa em como tudo era feito sem deixar amarras e linhas soltas era chocante. Bem, enquanto os subordinados continuassem sendo subordinados e obedientes.

Parecia uma cena de filme, os carros pretos e blindados posicionados formando um círculo, os faróis acesos que juntos apontavam para o meio, onde um homem alto com os cabelos tão loiros que pareciam brancos, que com os braços cruzados na altura do peito serenamente passava a língua pelos lábios nos encarava observando-nos descer do carro e irmos até ele.

Gute Nacht, Bella — maliciosamente disse em direção a Kate, com a voz carregada de verdades ocultas, não era preciso entender alemão para perceber.

— Boa noite Franz — apertou-lhe a mão e com um breve abraço o saudou — sem gracinhas dessa vez, já estamos bem crescidos e cascudos para isso, não acha?

— Sempre direta e incrivelmente exigente — replicou com um levantar de sobrancelhas, antes de recolher os braços e colocá-los atrás do corpo — quanto tempo Ekaterina, pelo visto esse ar fétido ainda não foi capaz de destruir tamanha beleza.

— Sabia que eu poderia acabar com você agora, certo?

— Trago apenas verdades — ignorou — fico feliz que isso não tenha mudado, aquele Dylan está fazendo um belo trabalho, reconheço.

— Poderia dizer isso quando ele estivesse presente.

— E perder a cara que faz querendo me matar? Passo, nada como importunar aquele tatuado mandão, ele queria que outro viesse, como se eu aceitasse, quantas vezes tenho que repetir, não...

— Confia em americanos — me intrometi na conversa — prazer, Camille Parker, americana de nascença — estendi a mão e recebi um cumprimento forte e vigoroso.

— Se a escória fosse como você, senhorita — beijou-me o dorso da mão — quem sabe não mudaria de opinião?

— Senhora — tossi o corrigindo.

— Claro — respondeu olhando minha aliança — passou-me despercebido, perdoe-me por tal descuido.

Com a minha mão ainda em sua posse, me analisava dos pés à cabeça, era inegável, ele era muito bonito, a pele bem branca, os olhos verdes e o porte atlético se destacavam, entendi a aflição de Dylan na hora, o tal Franz era um pedaço de mau caminho.

— Não nos conhecemos ainda — continuei — sou a nova parceira nessa brincadeira.

— Vocês mulheres, sempre me surpreendendo, o prazer também é meu. Então, as duas — apontou para nós — são as manda-chuva, respectivamente. Não disse que aqueles seus bonecos não servem de nada? Delegar algo assim para quem não pode ver uma perna de fora é mais do que inútil.

— Pois é — Kate interviu — mas vamos ao que nos trouxe aqui? Nosso tempo é precioso, e quanto mais o desperdiçarmos, mais longe estaremos do nosso objetivo.

Franz com uma expressão bastante interessada ouvia a tudo atentamente.

— Algum acerto de contas, Bella?

— Fizeram uma coisa muito desagradável e impertinente, e agora precisamos liquidar essa conta que está há tempo demais no vermelho.

— Como exatamente? — disse segurando o queixo.

— Matando a todos — respondi na lata — com as suas armas como ajuda, se for possível.

— Nesse caso — curvou o corpo fazendo uma reverência — será uma honra Camille.

— Ótimo — sorri satisfeita — o que tem aí?

— Venham dar uma olhada.

Havia uma van preta que ainda não tinha reparado, estava estrategicamente escondida atrás dos outros carros, nos levou até sua traseira onde abriu as portas revelando várias caixas que empilhadas enchiam todo o compartimento, deixando apenas um pequeno espaço para se poder andar. Indo até uma que era enorme — todas as caixas ali eram enormes — digitou uma senha no pequeno visor liberando a tampa, levantando-a e pondo as mãos dentro da caixa puxou a maior arma que já tinha visto na vida.

Era simplesmente colossal, a tal ponto que tinha que ampará-la com as duas mãos.

— Essa belezinha aqui — disse a admirando com um ar de contentamento — é a mais perigosa do mundo, apresento-lhes o rifle DSR-Precision DSR 50, a preciosidade alemã capaz de destruir estruturas, veículos, helicópteros e explosivos com facilidade. Com um alcance efetivo de 1500 metros.

Então um tiro dela em uma pessoa... falei adorando tudo aquilo Não ia sobrar muita coisa pra contar história.

Gostei do seu pensamento fechando os olhos deliciava-se com a minha indagação será um estouro, terá que ter cuidado para não se sujar.

— Sem problema, a graça é essa mesmo, anseio por essa sujeira.

Nós três trocávamos olhares como amigos de infância planejando a próxima aventura, e a nossa seria banhada em sangue.

— Por que não a encontrei antes? — suspirou resignado — Uma pena...

— Triste, mas não estou disponível.

— Não se pode ter tudo, infelicidade essa que me persegue.

O jeito que falava aparentava mesmo ser uma fala chateada e desgostosa, o que deixava todo aquele momento ainda mais icônico e surreal.

Maravilha, agora que já discutimos isso, quantas dela têm aqui? — como se fosse a bam-bam-bam tomava a frente descaradamente.

Trouxe 300 delas, fora os outros rifles, metralhadoras e espingardas de assalto que Kate havia pedido. Tudo devidamente providenciado segundo as ordens que me foram dadas, especialmente na questão da maioria só ser utilizada pelo exército.

— Então fornece pros bonzinhos e pros vilões?

Dando de ombros guardou a arma no lugar com cuidado e fechou a caixa novamente.

— Nada como atuar dos dois lados e ganhar dobrado. Eu vendo pros dois, e aquele que fizer o melhor trabalho que vença.

— Lógico — concordei.

— Viu? É assim que penso, o que eles fazem não é de meu interesse, apenas assisto de longe o circo pegar fogo.

— Então está tudo acertado — Kate explanou séria.

— Tudo madame, mais uma vez o trabalho foi realizado com excelência, seguindo o lema da casa.

— Ótimo — sorriu satisfeita — amanhã o dinheiro já estará em sua conta.

— Como sempre Bella, fazer negócio com você é um prazer imenso.

— Obrigada, mas guarde esse seu charme alemão pras solteiras amigo — deu um tapinha em seu ombro — pode ser bonitinho, mas não o suficiente pra mim.

Ouch — franziu o nariz e mordeu a boca — entendido, senhora Travis.

Segurando o riso via sua tentativa de se esquivar do fora com alguma decência.

— Camille, mal vejo a hora de nos encontrarmos novamente com os detalhes sórdidos desses planos que tem em mente.

— Até a próxima Franz, e não tenha dúvida que os terá.

— Sensacional, então retornarei à minha esplêndida Alemanha onde aguardarei ansioso pelo contato de vocês.

— Até, aproveite e dê um olá para Brandine por mim — Kate pediu.

— Darei, aliás, acabou de me lembrar que ela pediu que comprasse uma coisa, mulheres...

— Como? — perguntamos juntas.

Nichts nicht.

O comboio que nos seguia pela estrada a fora era quilométrico e um tanto suspeito em minha opinião, não precisava ser nenhum gênio para deduzir que algo de estranho estava acontecendo.

— Kate, não acha que...

— Fique tranquila, Camille. É por isso que viemos nesse horário, os policiais que estão na fronteira e em todo o caminho até Nevada são nossos.

— Oh, foi que pensei que pudesse dar algo de errado.

— Entendo, infelizmente ou não, fazer isso à luz do dia é pior.

Cheguei em casa no alto da madrugada, meus olhos pesavam e minhas pálpebras lutavam para permanecerem abertas, o que consegui por um período pequeno. Só fui despertar quando senti meu corpo sendo carregado por um vulto, que não era bem um vulto, até o quarto.

Até tentei agradecer, pelo menos um singelo "obrigada", mas quem disse que consegui? O sono era tanto que só fui acordar no dia seguinte com meus olhos pesados e meu estômago embrulhado, grande coisa a essa altura.

(...)

Sexta-feira chegou e minha ansiedade veio em cheio, acho que finalmente cairia a ficha que estava grávida.

Tentava ler a revista de fofoca, mas eu lia e relia a mesma frase dez vezes e não assimilava nada, não passava de letras aleatórias que meus olhos passavam por cima sem serem capazes de entender uma vírgula do que estava escrito.

Meus nervos estavam tão aflitos que estava vestida, penteada e maquiada desde as sete manhã, detalhe que a consulta era às dez.

A única coisa que meu corpo não tinha rejeitado foi o copo d'água e o pedaço de melão que lutei para conseguir comer, graças a Deus não tinha sinais que teria que correr pro banheiro mais uma vez, meu lugar favorito da casa.

Só que não.

O pior é que tudo, exatamente tudo, justo naquele dia, estava me irritando.

Minhas unhas, meu cabelo que não quis ficar do modo que queria, as cores das paredes, a posição do sofá em relação à porta, e claro, até John tinha entrado no rolo.

Só de olhar para ele uma vontade que vinha do meu âmago, se multiplicando loucamente no caminho me fazia querer virar a cara dele do avesso. Sério, até a maneira como segurava o jornal nas mãos e levava a xícara até a boca me deixava fervendo de raiva.

Fechando os olhos me concentrava em coisas que poderiam me animar, como por exemplo, enchendo a cara de chocolate, pegando um sol em uma praia paradisíaca, tendo meus pés massageados.

Até no coitado do Papa eu pensei, quem sabe a sua calma e espiritualidade pudesse ser transmitida via pensamento. Ridículo, eu sei, mas deixa quieto, faria de tudo pra que essa sensação de sair socando todo mundo passasse.

Com a cabeça encostada na almofada e cantarolando qualquer droga me deixava levar pelo mundo imaginário de Bob, contava carneirinhos quando ele me cutucou me tirando da minha paz.

— Camille, o que está fazendo?

— Arrumando um jeito de não te mandar à merda.

— E conseguiu?

— Ainda não, se ficar calado talvez eu chegue até onde preciso.

— Tudo bem, mas precisamos ir agora — me lembrou.

— Já? — o susto me fez dar um pulo — Ok, vamos então.

Minhas mãos suavam e repetidamente chacoalhava minha perna, nada como um toque maroto nessas horas pra aliviar o estresse do corpo. Meu pânico só cresceu quando trinta minutos depois nós entravamos na clínica, meus olhos pousaram diretamente nos casais e mais especificamente nas mulheres que ostentavam suas barrigas proeminentes.

Baixei meus olhos olhando para a minha, é, nada ainda, meu brotinho de feijão nem parecia ter germinado, precisaria regar mais algumas vezes até que as raízes começassem a crescer. Me sentia um peixinho fora d'água, nem a clássica pose de apoiar as mãos nas costas e reclamar da dor eu não podia, tudo o que tinha era uma leve saliência que mais se assemelhava a uma barriguinha de verme.

Encantador.

John falava com a recepcionista e eu admirava a tudo com os olhos esbugalhados, depois de dar todos os meus dados, nos foi pedido para aguardar na sala de espera.

Sentei ao lado de uma mulher que fiquei com medo que fosse explodir, a barriga exorbitante deixava o tecido do vestido esticado até o ponto de se romper, meio acuada me apoiei em John, eu hein, esse pessoal me olhava com seus olhos julgadores, era o que? A minha falta de barriga? Bem, em breve eu estaria uma rolha de poço galera, só esperar um pouquinho.

Nome a nome foi sendo chamado, quando saíam do consultório suas faces resplandeciam de felicidade.

Será que comigo seria o mesmo? E com John, ele ficaria emocionado e babão como os outros pais?

Perguntas e perguntas.

— Sra. Newman? — a médica chamou.

Estava tão desacostumada que nem me toquei que era eu.

— Camille?

John fazia sinais em meu rosto.

— Somos nós.

— Não ouvi meu nome.

— Porque ela falou senhora Newman — explicou pausadamente — entendeu?

Murmurei um "aham" e me levantei atraindo novamente a atenção dos outros que esperavam, eles queriam um autógrafo?

A médica sorridente nos convidou a entrar e fechou a porta atrás de si.

— Podem se sentar, por favor — apontou as cadeiras vazias em frente à sua mesa — muito prazer, sou a doutora Baker, médica obstetra há 20 anos e espero ter o prazer em acompanhá-los nessa gravidez.

— Obrigada — agradeci.

— Então, como descobriu a gravidez? Através do exame de sangue ou o teste de farmácia?

— Cinco testes na verdade.

— Sim — assentiu — sem dúvidas então.

— Não mesmo, meus enjoos matinais não me deixam mentir.

— Correto, fazia uso de algum tipo de método contraceptivo, como a pílula?

— Nenhum.

— Foi planejado então? — perguntou animada.

— Na verdade, é aquilo né... Um olhar aqui, um beijo ali, e acabamos esquecendo que os bebês são feitos sem precisar de muitas tentativas — a respondi sem graça.

— Claro, sem ideia de quando foi a concepção — anotou em uma folha de papel.

— Tem algum problema nisso? — John perguntou.

— Não pai, fique tranquilo.

A médica então começou a fazer diversas perguntas, explicando nossas dúvidas, até a infame "é permitido fazer sexo mais selvagem na gravidez?", detalhe pro momento que quis enfiar a cara em um buraco.

— Sim, vocês podem manter as relações sexuais sem problemas, só em casos de algum problema ocorrer é que se precisa ter uma precaução e acompanhamento mais de perto.

O sorriso malicioso e a mão que apertou minha coxa me deixaram em uma situação de vergonha alheia.

Ela verificou meu peso, altura, pressão, analisou meu abdômen, minhas mamas e meus membros inferiores e superiores. Passou uma tonelada de exames que tinha que fazer e as vitaminas que teria que tomar.

O detalhe ficou quando ela analisava minha barriga, seu olhar intrigado me deixou alerta.

— Aconteceu alguma coisa? — um leve desespero me bateu.

— Só uma coisa que está na minha cabeça.

— Não seria melhor fazer um ultrassom?

— Não é recomendado para gestações com menos de 5 semanas, mas se estou correta, creio que tenha mais que isso.

Meu Deus, cinco semanas é mais de um mês. Eu tinha engravidado há tanto tempo assim?

Deitando-me na maca como pedido, implorava para que tudo estivesse no seu devido lugar.

O gel gelado ao entrar em contato com a minha barriga me arrepiou todinha, com aquele treco que não sabia o nome ela passava de um lado a outro, a imagem na tela era um borrão bem esquisito, não enxergava nada e considerei por um segundo se tinha um bebê ali dentro.

Agarrei os dedos de John, que assim como eu retribuía o aperto, a mão suada mostrava o quão nervoso estava. Foram alguns minutos em um silêncio sepulcral até que ela finalmente disse alguma coisa.

— Aqui — mostrou na tela — é o saco gestacional. Conseguem enxergar?

— Sim — respondi com a voz embargada.

— Que bom, muitos pais não conseguem logo da primeira vez e acabam entrando em pânico.

Meu sorriso congelado acenava de forma mecânica, eu não vi vi uma coisa assim bem visível, mas acho que enxerguei. Faz sentido?

— Os achamos.

Eu engasguei, se houvesse água em minha boca, certamente voaria longe.

— Eles? — perguntei alarmada, olhando pra tela, pra médica, pro John, pra minha barriga, pro universo.

— Sim, são gêmeos, como imaginei.

Para mundo, que eu quero descer.

— Dois? Vocês está enxergando dois aí dentro?

— Com certeza — afirmou convicta — vamos ver se conseguimos ouvir os corações?

Engoli seco a saliva que se acumulava na língua, John não conseguia falar um ai, hipnotizado olhava a tela paralisado. Outro que não acreditava no que tinha ouvido.

Apenas assenti.

Apertou um botão na máquina e boom.

Um som novo, diferente, e maravilhoso encheu meus ouvidos. As batidas estavam desencontradas, permitindo perceber que realmente eram dois. Parafraseando Coldplay, cada lágrima era uma cachoeira.

Meu rosto era banhado pelas lágrimas que corriam livres e desenfreadas, eles eram mais do que reais.

Era a comprovação que eu seria mãe, e logo de dois ao mesmo tempo.

Um soluço me fez virar a cabeça, John chorava.

De novo, John chorava.

Chorava.

Se aquilo foi uma surpresa?

Que isso, nem foi, super normal ele chorar.

Foi a peça do quebra cabeça que faltava para me apaixonar ainda mais por aquele ogro.

Meu ogro.

E agora pai dos nossos feijõezinhos.

A médica imprimiu a primeira foto dos nossos pequenos ogrinhos e me entregou, sem poder conter meu sorriso admirava a coisa mais incrível que tinha feito na minha vida.

Nos dando um tempo e saindo da sala nos deixou a sós, doutora Baker falou que nos aguardaria e que tomássemos o tempo necessário. Era tanta alegria e surpresa que só sabíamos nos encarar.

— Meu Deus, vamos ter gêmeos — sussurrei não cabendo em mim.

— Se com uma só já perco a cabeça, imagine três.

— Palhaço — o envolvi com meus braços — estamos ferrados.

— Muito ferrados, mas daremos um jeito.


AAAAAAAAAAA, EU TÔ MORRENDO
MUUUUUUITO OBRIGADA POR ME AJUDAREM A CHEGAR TÃO LONGE ASSIM, LEMBRO DA FELICIDADE DE TER 20 LEITURAS, IMAGINEM AGORA 50 MIL??? 😵😵😵

AMO VOCÊS UM MUITÃO ASSIM ❤❤❤❤❤❤

POR FIM, VAI SER O QUE HEIN? UM CASAL, DOIS MENINOS, DUAS MENINAS....

NOMES????

FAÇAM SUAS APOSTAS

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