Quando os Pássaros Pousam e O...

By JulieteVasconcelos

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O vento sopra as folhas do milharal levando para longe o fedor da carne pútrida, enquanto alguns pássaros sob... More

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VINTE
Esclarecimentos e Agradecimentos

VINTE E UM

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By JulieteVasconcelos

Danna: Quando os Pássaros Pousam

Condado de Tulare, Califórnia

Aquela era com certeza uma das piores lembranças de Craig.

— Cadê Nicolas? — gritou Heloisa puxando o cobertor de Craig com violência. — O que você fez com ele? — perguntou exigindo uma resposta, enquanto ele sentava na cama sem demonstrar qualquer emoção.

— Ele está bem, não precisa se preocupar! — informou tranquilo, se mostrando indiferente à histeria e desespero da esposa.

— O que você fez? — insistiu. — Cadê meu filho? — gritou se lançando contra o marido sentado na cama.

Craig segurou seus pulsos assim que recebeu os primeiros tapas.

— Quero o meu filho! — declarou sem conter as lágrimas, receando não obter respostas do marido.

— Nosso filho, Heloisa! Ou se esqueceu de que ele também é meu? — perguntou sem conter a raiva, e aproveitando que a segurava, a jogou com força na cama, se levantando em seguida. — O que esperava, Heloisa? Acha que roubaria meu filho de mim fácil assim? Que o levaria e o criaria com seu amante? — indagou com raiva.

— Você sabia... — começou a dizer em prantos. — Claro que você sabia, mandou me espionar, não é? — Olhou-o com uma expressão de vergonha e medo.

— Acha que precisei? Seu amante fala aos quatro cantos que a tem... Que você ia me deixar pra ir viver com ele! Tenho ignorado o fato de vocês desrespeitarem minha honra, de jogarem meu nome na lama, mas não vou permitir que leve meu filho daqui! — declarou decidido.

— É meu filho! — choramingou ela.

— Nosso! — esbravejou ele. — E o lugar dele é aqui, Heloisa, com o pai e a mãe dele, e não num fim de mundo qualquer com aquele frouxo que quer roubar você de mim! — declarou.

— Cadê meu filho? Por favor... — insistiu ela entre lágrimas.

— O que quer que eu faça, Heloisa? Que eu ajude você a fazer as malas do Nicolas? O que te faz pensar que vou abrir mão dele? — disse transtornado.

— Não posso viver sem meu filho, Craig! — confessou.

— Não precisa, fique aqui, com sua família, Heloisa!

— Não posso mais ficar... não consigo mais fingir... eu não... Não...

— Não me ama!? — interrompeu ele com lágrimas nos olhos, ao que ela não respondeu, ambos sabiam a resposta. — E acha que ama aquele moleque? — indagou furioso.

— Cadê ele...? — insistiu Heloisa. — Quero meu filho, Craig! — gritou se jogando mais uma vez contra o corpo do marido, que furioso, revidou os tapas que recebia com socos.

Naquela noite fatídica tudo havia mudado em suas vidas... para pior.

— Caiu da cama, Robert? — indagou a mulher em pé, ao ver o marido adentrar a cozinha já fardado para o trabalho duas horas adiantado.

— Pierre acabou de ligar, preciso ir pra delegacia, Gilda! — explicou o xerife com certa urgência.

— Tome seu café, acabei de passar! — falou lhe entregando uma xícara. — Eles chegaram? — perguntou a esposa.

— Já estão chegando, Gilda! — falou ao engolir o último gole do café quente. — Hoje será um dia difícil, Gilda, que Deus nos ajude! — declarou depositando um beijo na testa da mulher, saindo em seguida.

O xerife seguiu em seu furgão para a delegacia, sabia que os agentes não tardariam a chegar. Conforme foi orientado, já havia solicitado reforços às cidades do Condado, já que ele não contava com homens suficientes para aquela operação. Não que o xerife acreditasse que um suposto aleijado fosse difícil de conter, mas cabia a ele fazer cumprir as exigências do FBI, que ao que parecia, gostava mesmo de eventos de grandes proporções.

Antes mesmo de estacionar seu furgão, sua atenção foi tomada pelos dois homens que Pierre acabava de cumprimentar. Ambos possuíam a pele clara e eram mais altos que o seu assistente, não fosse pelos traços do rosto serem bem diferentes, a julgar pela cor escura do cabelo e a postura, os dois agentes passariam facilmente por irmãos.

Ainda era manhã quando armaram o cerco ao fazendeiro Craig. Todo o casarão estava cercado por homens armados, para espanto dos empregados que foram grosseiramente dispensados pelo xerife, tanto para que não atrapalhassem a operação, quanto para se manterem a salvos de possíveis disparos.

Ninguém podia entrar ou sair do casarão sem permissão do xerife e dos agentes que o acompanhavam de perto. A pista da frente, dos fundos e cada uma das várias janelas daquela construção estavam tomadas por policiais atentos a qualquer movimento dentro ou fora do casarão.

Não demorou para que o xerife sinalizasse com a mão, autorizando a entrada dos seus homens, onde portas e janelas foram rapidamente arrombadas.

Tão logo os primeiros policiais entraram pela porta da frente, o xerife e os agentes partiram em retaguarda, todos desejosos de colocarem suas mãos no criminoso que enganara a todos por anos.

Mais tarde, o xerife se agitava cada vez mais na cadeira, sem conseguir esconder o desconforto gerado por aquela situação, enquanto um dos agentes o fitava com interesse.

— Ainda não entendo o que deu errado, agente Erickson! — declarou o xerife Robert tentando conter seu nervosismo.

— A única explicação plausível é que o avisaram do cerco... Ele sabia da nossa chegada! Alguém o alertou, não tenho dúvidas sobre isso! — respondeu o agente em pé apoiado numa cadeira.

— Mas quem faria isso? — perguntou o agente Torres olhando de relance para o xerife. — Imagino que apenas o senhor e seus subordinados estavam​ à par da investigação, não é verdade?

— De fato, agente! No entanto, nem eu ou qualquer um de meus subordinados teriam razão para ajudar esse homem a fugir, visto que não temos dúvidas de que ele foi o autor de todas essas barbáries! Também é do nosso interesse que seja feita justiça! — declarou com firmeza.

— Não temos dúvidas sobre isso, xerife! Afinal, sua disposição em nos fornecer as informações sobre ele e seu interesse em solucionar os últimos casos foram de grande ajuda para encontrarmos esse homem — respondeu o agente Erickson. — No entanto, o senhor há de convir que a única explicação plausível para o desaparecimento repentino desse homem é que alguém o avisou, ou até mesmo o ajudou a fugir!? E quem poderia ser se não alguém que tivesse ciência dessa investigação!? — concluiu.

— Compreendo perfeitamente, agente! Só não consigo imaginar ninguém com algum interesse em ajudar ele escapar! — declarou sincero.

— O senhor havia falado sobre o sobrinho que estava para chegar a qualquer momento... Talvez ele o tenha levado, o que acha?

— Talvez — respondeu o xerife. — Mas nesse caso, não creio que o sobrinho soubesse que o tio estava sendo investigado. Pode ter levado o tio por preocupação em deixá-lo sozinho... Deve ignorar que o tio é o assassino!

— Isso explicaria o fato dele ter levado a cadeira de rodas, afinal, numa fuga, não faria sentido ele continuar se fazendo passar por cadeirante — falou o agente pensativo. — Mas se não quis que parecesse uma fuga, por que não avisar seus empregados que viajaria? — indagou o outro.

— Não faz sentido, não há qualquer vestígio de que ele tenha sequer feito alguma mala e a cama estava desarrumada...

— Bem, se o sobrinho está envolvido, só há um jeito de saber! Já pedi ao departamento que busque no sistema por seus parentes... Se estão juntos, vamos encontrá-lo! — declarou o agente. — E o senhor, se surgir algo...

— Entrarei imediatamente em contato! — Interrompeu solícito, ciente do seu papel na investigação. — Vou ficar de olho, não descansarei até que ele pague por seus crimes! — prometeu.

Dor, dor e mais dor... doía-lhe a cabeça a cada lembrança, sentia como se revivesse cada maldito momento daquela noite... uma das piores da sua vida!

Craig lembrava dos gritos histéricos de Heloisa, ela queria sair de sua vida, e queria levar Nicolas... o que o fazendeiro jamais deixaria acontecer.
Naquela mesma noite em que toda traição veio à tona, Heloisa insistiu em levar consigo seu amado Nicolas.

Ela jamais poderia imaginar que estava prestes a viver um pesadelo do qual não iria acordar.

Craig agora sofria ao lembrar de como Heloisa presumiu sabiamente que ele mandara um dos seus homens levar o garoto para a casa da irmã em Sacramento. Com a possibilidade de alcançar o filho ainda na estrada, mesmo estando há mais de uma hora de desvantagem, Heloisa decidiu abruptamente partir na caminhonete do marido, que a acompanhou mesmo não sendo da vontade dela, afinal, não havia tempo para convencê-lo a sair, assim como ela não era capaz de tirá-lo dali à força. Assim seguiram, com Craig decidido a persuadi-la a não partir, mas Heloisa se mostrava cada vez mais irredutível.

A dor de cabeça de Craig era demasiada, a mesma só se igualava ao que sentiu naquele acidente, resultado da disputa pelo volante alguns segundos antes.

— Não te amo, nunca te amei... Culpa sua não ter sido capaz de despertar em mim o amor! — O fazendeiro ouvia sua esposa falar ali, em pé, com um olhar penetrante. — Vai acabar sozinho, velho! — A voz distorcida já não parecia ser a de Heloisa.

— Vamos, acorde, tenho muito o que fazer hoje! — falou ao mesmo tempo em que deu um chute no estômago do fazendeiro que jazia atordoado no chão.

Craig abriu os olhos relutante, aos poucos sua visão tentava se acostumar à claridade do lugar que ele não conseguia reconhecer. Do canto em que estava, podia ver correntes penduradas e várias ferramentas espalhadas por sobre uma mesa velha de madeira. Os sacos abastecidos e tudo o mais que sua vista ainda turva conseguiu captar, o fez deduzir que estava num celeiro.

— Ande! — ordenou dando-lhe mais um chute, fazendo-o gemer. Finalmente Craig encarava a face do homem que o olhava com ódio e ao mesmo tempo com satisfação. Craig o reconheceu imediatamente, o que o fez deduzir rapidamente o porquê daquela situação: vingança!

— Todos esses anos eu acreditei, Craig! Acreditei que Jacob foi imprudente e fugiu com aquela sua puta oportunista! Mas ele não foi longe, não é? Você o matou, seu desgraçado, matou meu filho! Confesse! — concluiu sem conter sua raiva, mas Craig não respondeu, apenas sorriu, ao que o outro chutou-lhe mais uma vez, fazendo-o​ se contorcer de dor. — Desde o dia em que Charles me contou as suspeitas que tinha, tudo fez sentido para mim... e depois que você o matou, eu tive certeza!

— Aquele traidor mereceu! — resmungou Craig. — Assim como aquele frangote que quis roubar minha família!

— Então assume que o matou? — perguntou irado.

— E por que não iria assumir? Dar cabo daquele moleque intrometido foi o maior feito da minha vida! — Gargalhou.

— Seu maldito! Você também vai ter o que merece! — prometeu se afastando alguns metros e retornando com uma pá nas mãos.

— Isso, vingue-se pela morte do seu bastardo! Ao menos terei a chance de encontrar Heloisa do outro lado!

— Ah, Craig, isso só irá acontecer daqui muito, muito tempo, lamento! — falou com ironia. Sorriu ao perceber a expressão de espanto na face de Craig.

— Não vai me matar? — indagou sem entender.

— Vou, mas não hoje, nem amanhã, nem depois... Vou cuidar de você para que viva muitos anos, para que pague por todo sofrimento que me causou — falou erguendo a pá sobre o fazendeiro.

— O que vai fazer comigo?

— Ora, Craig, qual a razão de ter uma cadeira de rodas se não precisa dela!? — indagou, e sem esperar por resposta, golpeou com força os joelhos de Craig que gritou em meio aos espasmos causados pela dor.

— Está tudo bem, chefe? — indagou Pierre ao se aproximar do xerife, que parecia não ter notado sua presença.

— Tá sim, Pierre, por que não estaria?

— O senhor está longe... Imagino que esteja pensando no que fizemos! — falou baixo.

— Na verdade estava pensando em como ele conseguiu nos enganar por tanto tempo, em como se fez valer da condição de vítima para se manter fora de suspeitas.

— Os agentes disseram que ele é um psicopata, então... — O xerife acenou com a cabeça em afirmação. — Está tudo bem então, o que fize...

— Não falemos mais sobre isso, Pierre!

— Eu só... digo, a justiça...

— Está sendo feito justiça, Pierre! A justiça dessas terras! — respondeu encarando o jovem oficial.

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