Minha mãe não gostou muito da ideia do encontro com Nick, foi Aldo quem a convenceu a permitir minha saída. Ele teve que listar todas as provas do bom caráter de Nicholas, coisas que o diferenciavam do seu pai. Eu não fiquei pra ouvir a conversa, só recebi depois a notícia de que poderia ir, contanto que voltasse às dez.
À tarde, quando eu estava terminando de resolver um exercício de Química, minha mãe entrou no quarto.
- Você quer mesmo sair com esse garoto? Pra mim isso é tão estranho.
- Por causa do pai dele?
- Claro! Se não fosse por isso eu não teria nada contra.
- A senhora não precisa se preocupar com isso, eles não tem a parte mal em comum, Nicholas é um dos garotos mais legais que eu já conheci!
- Como ele pode ser tão legal, se foi criado por aquele monstro?
- É mais um dos mistérios da vida. - falei, fechando o livro de exercícios.
- Já escolheu o que vai vestir?
- Eu quero esse vestido. - falei, tirando o vestido azul escuro do guarda-roupa.
- Huum... Esse vestido fica ótimo em você.
- Eu sei, o Nick já me viu com esse vestido e disse que eu estava linda, então, espero que ele ache isso de novo.
- Está gostando mesmo dele?
- Mãe! Eu não quero falar disso com você!
- Por quê? Eu sou sua mãe, sua melhor amiga. - ela falou, fazendo movimentos estranhos com os dedos.
- Juro que conto tudo que acontecer no encontro. Onde vamos e o filme que vamos assistir. Se o filme é legal? Eu te digo. - falei, rindo.
- Sabe que não é disso que estou falando.
- Tá bom. - falei, me esparramando na cama.
~~*~~
Quanto mais perto chegava da hora de encontrar com Nicholas, mais nervosa eu ficava.
Tinha uma parte de mim que pensava loucamente em Benjamim, queria chorar, mas uma outra parte queria só ser uma adolescente normal, sem tantas lembranças ruins, eu queria ver as coisas por outro ângulo, então pelo menos hoje eu esqueceria de Benjamim e todo turbilhão de emoções que ele me causava. Eu ia pensar só em Nicholas. Olhar só para Nicholas e eu com certeza teria um encontro ótimo.
Quando fui para o portão encontrar com Nicholas, senti um frio na barriga estranho e ao mesmo tempo bom, era como se eu realmente fosse normal, encontrando com um garoto normal, como se as coisas fossem mais leves.
Abri o portão e o vi, me esperando com um pequeno buquê de flores na mão. Elas eram lindas.
- Oi. - ele cumprimentou.
- Oi. - eu respondi.
- Você está linda.
- Obrigada, Nick...
- Essas flores são pra você. - falou, estendendo para mim as flores.
- São lindas, eu amei. Obrigada, Nick.
- Que bom que você gostou, eu estava na dúvida de qual trazer, minha mãe que me ajudou na escolha.
- Eu gostei mesmo. Eu vou colocar elas num vaso, e já volto. Pode entrar.
Entrei bem rápido em casa, e minha mãe estava no sofá.
- Que flores lindas! Eu vou colocar em um vaso, pode ir! - ela disse e eu dei meia volta para ir ao encontro de Nicholas.
Nós entramos no táxi e chegamos ao shopping depois de alguns minutos. Passeamos e conversamos e em algum ponto do passeio aquilo tudo pareceu tremendamente errado, mas aí nós entramos na sala de cinema, o filme começou e eu esqueci de tudo.
~~*~~
Ri a beça e deixei Nicholas me abraçar durante o filme. Senti minhas bochechas corarem quando ele, sem anúncio, depositou um beijo no topo da minha cabeça.
- Você é minha companhia preferida sabia?
Eu sorri para ele, e vi em meio ao escuro do cinema Nicholas se inclinar em minha direção. Foi tudo muito rápido, quando nossos lábios se tocaram senti algo muito estranho, eu não achei que meu primeiro depois de tudo seria com Nicholas, mas eu não podia reclamar, apesar de nem saber mais como fazer isso... Quando nos afastamos bem devagar e eu olhei para ele, só consegui enxergar um rosto sorridente que me encarava com um olhar sádico.
Alex. De novo, não.
~~*~~
- Achou que tinha se livrado de mim? Eu estou mais vivo do que você pensa. Estou dentro da sua cabeça! - ele gritou, tocando em mim.
- Não encosta em mim! Eu te odeio, sai daqui! Você morreu. - eu gritei, já querendo chorar e correr dali, mas eu não conseguia fazer absolutamente nada.
- Você me odeia? Hahaha. - ele esbravejou, forçando uma risada que me enojou.
- Eu odeio você com todas as minhas forças!
- E toda aquela conversinha de amor? Você não tem que amar a todos sem exceção?
- Você não! - eu gritei e consegui empurrá-lo para longe de mim.
~~*~~
- Julie? O que houve? Por que me empurrou? - Nicholas perguntou.
Eu abri meus olhos e soltei a respiração. Era Nicholas quem estava ali, não Alex.
- Está tudo bem? - ele cochichou.
- Eu... Não... Eu preciso ir embora agora!
- Tá... Tudo bem eu te levo.
- Não! Eu quero ir sozinha.
- Mas... Por que isso? Eu te trouxe, e eu te levo.
- Não, Nicholas! - eu gritei, chamando atenção de todos no cinema.
- Tudo bem. - ele cedeu, totalmente frustrado e provavelmente sem entender o que estava acontecendo.
Eu não queria agir assim com ele, mas também não conseguia mais olhar pra ele sem lembrar de seu pai, eu não estava conseguindo pensar direito. Não mesmo.
~~*~~
Chamei um táxi e voltei pra casa pensativa, recebi mensagens de Nadine querendo saber do encontro, mas não respondi, eu não queria contar o que tinha acontecido. Eu gostei de estar com Nicholas, mas em algum momento eu deixei que o passado que nos cerca viesse a tona, e foi isso que estragou tudo, se não fosse isso eu sei que poderíamos fazer dar certo.
Quando cheguei em casa subi rápido para o meu quarto, aproveitando que mamãe estava entretida na cozinha e não poderia me encher de perguntas.
Conferi minhas mensagens e para minha surpresa - e nem sei se felicidade também - tinha mensagens de Benjamim, mas também de Nicholas.
Benjamim: Oi.
E só. Um mísero oi depois de eu ter visto ele beijando outra garota, que por acaso era sua ex-noiva. Sinceramente, eu estava começando a questionar se Benjamim realmente sentia algo por mim.
Oi, digitei tentando fazer com que ele sentisse toda a minha frustração gravada nessa palavra minúscula. Mas infelizmente não dava.
Benjamim: Eu sei que digitou isso com raiva, e você tem razão.
Eu bufei, ele me conhecia, era meu melhor amigo antes de se tornar um possível namorado.
Eu: Que bom que sabe que está errado. Se eu pudesse bateria em você.
Benjamim: Ah, Julie! Sempre um poço de simpatia e doçura.
Eu: Pode apostar que esse poço é fundo e tem subsolo.
Eu tive que sorrir, pela primeira vez em meses estávamos tendo uma "boa" conversa. Eu sentia que ia cair a qualquer momento, mas eu queria esse pequeno momento com ele.
Benjamim: Eu pularia nele se pudesse.
Droga. Como eu vou me afastar com ele falando essas coisas? Eu estava bem dividida, entre me deixar levar e ter o coração partido depois, ou dizer umas boas verdades pra ele e me sentir frustrada como se... Como se meu coração estivesse partido. Parece que não tenho muitas opções, mas não sei se sou capaz de viver nessa incerteza, eu preciso saber dele o que ele realmente quer.
Eu: O que você quer, Ben?