Por sorte, cheguei na escola antes da primeira aula. Na verdade, cheguei um pouco adiantada e decidi ir até meu armário pegar meu livro, já que a primeira aula era biologia.
— Eu espero que isso seja mentira. — Disse alguém atrás de mim enquanto eu fechava meu armário.
Eram Michelle e Andrew. Michelle me olhava com um ar de desconfiança, enquanto que Andrew me dirigia aquele sorriso fofo que ele tinha.
— Do que está falando, Michelle?
— De você e da Ava.
Ah, claro. A mentira que ela contou.
— É mentira. — Digo com um sorriso.
— Eu sabia!
Nós três fomos até a sala de aula e sentamos na fileira da parede; Andrew na frente, eu no meio e Michelle atrás.
Enquanto a professora não chegava, contei a Michelle do ocorrido e do que Peter fez por mim no dia anterior. Michelle ficou perplexa com o meu relato.
— E é por isso que eu preciso falar com ele.
— Caramba, Gwen. E como é que você está?
— Com um pouco de dor, para ser sincera.
Realmente eu estava, mas eu não ia deixar que isso atrapalhasse o meu dia.
— Onde está o Peter?
— Sei não. — Michelle deu de ombros.
Olhei para Ned, que estava sentado sozinho no fundo da sala. Ele deve saber de algo, pensei.
Fui até ele e sentei na cadeira a sua frente, que pertencia a Peter, e lhe dirigi um sorriso doce.
— Oi, Ned.
— Oi. — Ele retribui o sorriso.
— E então, como você est...
— Quer saber do Peter, não é?
— É-é... — Digo surpresa.
— Eu te conto se você me contar.
— O-o que?!
Ned arqueou uma sobrancelha.
— Como você sabe do segredo do Peter?
Oh, droga.
Eu já havia pensado na possibilidade de contar para o Ned sobre a minha outra identidade e sempre me perguntei se era uma boa ideia.
Mas se eu queria que Ned confiasse em mim e me dissesse o que eu queria sobre o Peter, eu teria que ser sincera com ele.
— Eu te conto tudo se você me encontrar na lanchonete em frente à Oscorp, depois da escola.
— 'Tá falando do lugar em que você, a Michelle e o Peter costumavam ir?
— Esse mesmo.
— 'Tá bom... — Disse ele surpreso.
Voltei para o meu lugar e lancei um sorrisinho para Michelle, que arqueou sua sobrancelha.
— O que você fez, Gwen Stacy?
— O que era necessário.
O sinal tocou informando o fim das aulas naquele dia. Como combinado, eu ia encontrar com Ned na lanchonete; mas fui barrada na saída do colégio por alguém.
Por Andrew, na verdade, que parecia ter corrido atrás de mim de tão ofegante que estava.
— Você 'tá bem? — Indaguei.
— Sim, eu só... Tive que correr... Para te alcançar.
— Desculpe, estou indo encontrar um amigo. Quer que me contar alguma coisa?
— Eu e mais alguns amigos meus vamos dar uma festa. Você está convidada.
— Amigos?
— Na verdade, colegas. Conheci no começo do ano.
— Hm... E vai ter bebidas?
Andrew passou a mão por sua nuca, desconfortável.
— É, algumas pessoas querem que tenha. Eu particularmente não iria deixar, mas a festa não é bem minha então...
— E-eu não sei se devo...
— Sua amiga Michelle vai estar lá e ela me garantiu que seu amigo Peter também vai.
Lá vem a Michelle tramando nas minhas costas, pensei desconfiada. Talvez seja melhor eu ir nessa festa e garantir que eles não façam nenhuma besteira.
Peguei uma caneta de minha bolsa e escrevi meu número na mão de Andrew.
— Esse é meu número. Depois você me diz a hora e o lugar da festa.
— Ok. Até amanhã, Gwen.
— Até.
Andei com passos largos até a lanchonete, onde encontrei Ned sentado em uma mesa, agarrado a sua mochila. Parecia até que estava com medo de alguma coisa, mas achei que fosse só nervosismo. Então me sentei em sua frente e lhe dirigi um sorriso.
— Oi, de novo.
— Oi...
— Quer alguma coisa?
Ned negou, baixou sua cabeça.
Se eu for mostrar a ele quem eu sou, terei que fazer isso em um lugar que não tenha ninguém.
Levei Ned até o beco que ficava ao lado da lanchonete e coloquei minha bolsa no chão, me certificando de que não havia ninguém. Comecei:
— Você disse que só me daria informações sobre o Peter se eu te dissesse como sei de seu alter ego — levantei minhas mangas enquanto Ned me olhava cada vez mais perplexo — Bom, Ned, saiba que eu sou a parceira dele na luta contra o crime dessa cidade. Veja.
Atirei uma teia de meu próprio pulso contra o chão a minha frente. Ned só faltou desmaiar.
— V-você é a Mulher-Aranha?!
— Exatamente.
— Isso é muito maneiro! Mas me diz uma coisa, você não usa lançadores de teia assim como o Peter?
— Claro que uso. Mas eles estão no meu uniforme.
— E onde está seu uniforme?
Apontei para cima, indicando que estava na base aérea. Ned olhou para o céu boquiaberto.
— V-você trabalha na S.H.I.E.L.D.?!
Soltei um suspiro fraco.
— Meu trabalho é na Oscorp. A S.H.I.E.L.D. é meu local de treinamento.
— Esse é o segundo melhor dia da minha vida! Claro que o primeiro foi o dia em que vi o Peter de Homem-Aranha. Você tinha que ver, ele...
— Ned, foco. Você não pode dizer para ninguém quem nós somos, entendeu? — Digo em tom firme de voz.
Ned assentiu, um pouco a amedrontado.