Eu não acredito, o universo parece me odiar.
No caminho para meu quarto, em pleno corredor me deparo com Pietra acompanhada de Virgínia.
Eu ia esperar mais um pouco, mas ver ela ali na minha frente, toda sorridente e com voz sedosa me tirou do sério.
Praticamente corri até elas e logo comecei a falar apontando o dedo na cara dela.
- Se você queria me irritar, você conseguiu!
Esse era o plano, fazer ela dar o primeiro movimento, enfurecer ela até o ponto em que ELA perca a cabeça e me bata. Meu temperamento não é dos melhores, mas quando eu quero uma coisa eu consigo, e fazer ela me bater será nossa passagem de volta pra casa.
- do que você está falando Helena? Está bêbada?-perguntou ela inocente.
- Eu juro que eu tentei, tentei mesmo. Tentei te ignorar, fingi que você não existe. Mas você não pôde se contentar. Você quer toda a atenção para você!-acusei.
- eu não tenho culpa se sou mais amável, bonita e educada. As pessoas gostam de mim Helena. Não preciso bater, ameaçar ou estragar o trabalho dos outros para chamar atenção! -disse ela sorrindo abertamente.
Fiquei furiosa. Como Ian pôde ter falado tão mal de mim pra essa cobra?
- não seja tão exibida querida. Você manipula as pessoas para gostarem de você. Você joga sujo.
- Helena, está me ofendendo. Eu sinceramente queria ser sua amiga, mas você é tão desesperada por atenção que me sinto vulnerável perto de você, a qualquer minuto você pode me atacar! -disse ela se vitimizando.
Eu estava furiosa. Ela estava conseguindo me irritar, estava vencendo o meu próprio jogo.
Olhei para Virgínia que observava curiosa, ela não tinha intenção de interromper, ao contrário ela estava medindo nossas forças e nossa inteligência.
É isso! Virgínia será minha carta coringa.
- Sabe de uma coisa Pietra, não gosto de você, não confio em você e não quero ser como você. Não preciso manipular ninguém, eu não jogo sujo.- falei calmamente.
- isso é ridículo Helena, você só sabe falar em jogo, e que eu jogo sujo. Por um acaso você está com algum vício? Está com dívidas? Eu posso te emprestar algumas moedas! -disse ela com pena.
- eu estou sendo muito clara com você Pietra. Eu estava quieta, tentei mesmo evitar tudo isso, mas você e seu grande ego querendo sempre transformar tudo em competição, querendo sempre atenção. Nossa convivência nessa casa virou sim um jogo, um jogo de xadrez. Você está fazendo deles seus peões, mas quem vai dar o xeque-mate sou eu. Então todos vão descobrir a megera que você é! -falei confiante.
- não me irrite Helena! -disse Pietra furiosa.
Sua expressão mudou completamente, sua postura ficou rígida, seu olhar feroz, seu sorriso desapareceu e sua voz se tornou mais gélida.
- Não entre em meu caminho Helena, ou você irá me pagar.
- seu personagem ruiu querida!-falei sorrindo.
Sua expressão de surpresa a fez lembrar que Virgínia se fazia presente.
- eu não estou jogando nem nada, só estou sendo eu mesma, se você tem algum problema com isso é melhor se acostumar "querida"!-disse ela irritada.
- você mexeu com a pessoa errada Pietra. Eu não jogo para perder!-falei continuando meu caminho.
Ao passar por Virgínia eu sorri pra ela e a cumprimentei:
-Virgínia!
-Helena!-respondeu ela sorrindo.
Quando eu estava na metade do caminho, parei e me virei.
-Ah, mais uma coisa Pietra! -falei bem alto para que ela e Virgínia me ouvissem.
- o que é Helena? -perguntou ela.
- Fica longe do MEU noivo! -falei decidida.
Não quis saber o estrago que causei, só abri meu melhor sorriso de satisfação e continuei meu caminho.
Meu humor está ótimo, estou tão feliz de ter colocado isso para fora que só consigo sorrir diabolicamente.
Estou cansada de Pietra, estou cansada de seus joguinhos e de sua imoralidade.
Parei abruptamente antes de abrir minha porta. Um pensamento louco atravessou minha mente me paralisando.
Em questão de segundos já havia abandonado aquele pensamento errante e me conduzi para meu quarto, estou prestes a entar em uma guerra, preciso das melhores armas possíveis.
Entrei no quarto e vi que Celine estava presente preparando meu banho.
- Boa noite Celine! -falei enquanto entrava no quarto e caminhava até a janela.
- Boa noite Senhorita Helena. Vejo que está bem melhor hoje!-disse ela vendo meu sorriso.
Eu olhei pela janela e vi o sol se pondo, era uma bela visão, aquele brilho alaranjado se escondendo atrás das montanhas verdejantes. Outra coisa que eu nunca tinha observado em todas as semanas que estive aqui.
- estou muito bem Celine. Estou feliz, renovada e decidida!
- que bom Senhorita, vejo uma grande mudança em sua expressão. Felicidade faz bem para a pele!
- bom saber disso Celine.
- Senhorita, seu banho está pronto. Coloquei aquela essência que pediu.
- ótimo Celine. Vou me banhar um pouco. Perto do jantar você pode vir ajudar a me vestir? - falei.
- sim Senhorita!
Ela ia deixando o quarto quando parou na porta e disse:
- Senhorita, tem algo em cima da cama. Acho que é um pacote ou presente. Encontrei na porta.
- obrigada Celine. -falei enquanto ela partia.
Fui até a cama e encontrei o embrulho. Era uma caixa retangular, com papel vermelho e dourado. Eu conheço esse embrulho.
Borboletas de felicidade invadiram meu estômago, e eu só pude sorrir em antecipação.
Um pequeno papel retangular caiu no chão. Peguei ele lendo em seguida.
Senhorita Helena;
Espero que aproveite.
Já que foi privada dessa maravilha anos atrás, coma pensando naquele dia.
Chocolate sempre melhora tudo!
Guarde um, ou dois para mim!
Ian Seymour
Eu fiquei um pouco aturdida, não gostei de ter recebido um presente de consolação, mas ao mesmo tempo fiquei grata por ele ter prestado um pouco de atenção na minha história e ter tentando me alegrar um pouco.
Mal sabe ele que estou radiante por ter conseguido tirar a pequena Pietra Garner do sério.
Esse jogo vai ser divertido.
Me apressei em escolher um belo vestido e depois fui tomar meu banho, estou louca para ver qual a próxima jogada dela, mas eu vou ter que começar correr atrás do prejuízo, saí em desvantagem e preciso me recuperar. Preciso reconquistar Dorian, Ian e Virgínia. Com eles ao meu lado o Senhor Seymour vai ser questão de tempo.