DILACERADO [DEGUSTAÇÃO]

By Ami_ideas

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Ruby Angel é o pseudónimo da famosa escritora de romances de época, Olívia Strain. O único problema é que ela... More

Prólogo
I. Regras & Contracto
II. O Intrigante Psicólogo
IV. Descobertas Cruas
V. Uma Breve História de Amor
VI. Simbiose "Parte 1"
VII. Simbiose Perfeita
VIII. Um Dia Quase Normal
IX - Fora de Controle
X - Ao Redor do Perigo
XI. Regras Quebradas
XII. Peça Por Mais
XIII. Uma Noite Suspeita
XIV. Sinais
XV. Desafiando Mr. Dark
XVI. Apenas Uma Dança
XVII. Situações Inesperadas
XVIII. Por Uma Última Vez
XIX. Entre Algumas Verdades
XX. Contendas Audaciosas
XXI. Um Conto Por Outro
XXII. Ultrapassando os Limites
XXIII. Por Trás das Máscaras
XXIV. Um Caminho Sem Volta
XXV. O Mal Em Mim
XXVI. Predador (Dismorfia)
XXVII. Talvez, Amor
XVIII. Como Se Fosse Te Perder
XXIX. A Besta
Para Sempre (Final)
Epílogo
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III. A Sala Escura

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By Ami_ideas


Toc.

Ruby girou a cabeça devagar. Ainda assustada.

Toc.

Ela sentiu um arrepio que lhe cobriu a espinha.

Toc.

A pessoa tinha um andar quase em surdina, mas bastante compassado de quem parece agraciar o chão com a honra de sentir o toque de seus pés.

Toc.

O último som da bengala contra o chão fez o coração de Ruby dar um salto. Ela pulou do lugar, completamente aflita e de olhos arregalados para aquela escuridão que a rodeava. As colunas de som reproduziam os batimentos cardíacos que vinham do seu peito, o que a deixou ainda mais perplexa por se ver tão exposta. Seu medo abocanhado estava escancarado por toda Sala Escura. Respirava quase sem pausas, as folhas de papel em suas mãos quase amarrotadas e levantadas para o ar como sua única arma de combate.

Escutou um riso tão gutural que lhe gelou a alma. Vinhas das profundezas da garganta alheia, era pausado e irónico de um modo que ela não soube descrever. Sentiu as pernas estremecerem, um fio de suor escorreu por sua coluna. Os olhos giravam sem parar, mas não conseguiram encontrar o dono daquela risota pavorosa digna de um Óscar para melhor vilão.

Setzen Sie sich!

Ruby soltou um grito ao ouvir aquela voz que parecia tão próxima de si. Rodou no lugar, sem conseguir decifrar aquelas palavras. Quase perdeu a respiração por alguns segundos, já tinha imaginado um infinito de variedade de coisas que poderiam lhe acontecer naquele lugar que sequer sabia a localização.

─ Quem.. Quem é? ─ Era péssima a disfarçar emoções, principalmente quando toda sala reproduzia as batidas aceleradas do seu coração. Sentiu frio, muito frio.

─ Eu disse para se sentar. ─ Traduziu. A voz possuía um forte sotaque alemão como se juntasse as letras ao falar, sem deixar de arrastar o "r" pelo caminho. Era como a de um galã dos filmes, cheia de um poder que dominou todo aquele lugar. Profunda e bonita demais para ser normal.

Ruby demorou a entender, parecia que ele tinha dito algo como: "parracisentarr". Contudo, suas pernas grossas cederam quase em automático e quando deu por si estava sentada na cadeira confortável e luxuosa.

─ Mr. Dark? ─ Ela chamou baixinho. Já tinha visto em alguns seriados que tentar criar algum vínculo com um possível algoz, era uma boa tentativa de conseguir sobreviver. Não fosse ser um sádico psicopata que tortura suas vítimas antes de as matar.

─ Sim?

─ Irá me fazer algum mal?

De novo aquelas risadas cruas que poderiam despir qualquer alma. Ruby não queria sentir a curiosidade que começou a evoluir dentro do seu peito, misturada ao medo, tudo parecia se tornar ainda mais interessante.

Nein! ─ Ele negou prontamente.

Aos poucos ouviu as batidas do coração desacelerarem. Era estranho poder ter a noção do próprio medo em alto som. Engoliu em seco e se recostou, não tinha para onde fugir e sabia não poder quebrar o contracto ou iria mais ao fundo do que alguma vez esteve. Não o viu, mas sentiu como as rachas laterais do seu vestido deixavam suas coxas à mostra, percebeu que ele a poderia olhar sem algum pudor.

─ Estou nervosa. ─ Deixou as palavras escaparem de sua boca, sem saber para onde olhar, porque ele poderia estar em qualquer lugar daquela Sala Escura. Que tamanho aquela Sala teria? Seria grande ou pequena? Estaria decorada ou só havia aquela cadeira que estranhamente se moveu sem que Ruby pudesse raciocinar. O encosto cedeu para trás lhe colocando numa posição quase deitada.

─ Não fique. ─ A voz ao mesmo tempo que a assustava, fazia com que ficasse relaxada pela forma como era flexionada, cheia de uma ternura fria. Ou Ruby é que não conseguia descrever. ─ Alguém até agora lhe fez algum mal?

Ela não conseguiu responder, mas meneou a cabeça em negativo sem saber se ele iria ver. Tinha as folhas espalmadas contra o peito que subia e descia de forma um pouco agitada.

─ Tom às vezes tem alguma falta de modos. Es tut mir leid. ─ Se lamentou. ─ Esteve muito tempo fora do convívio pessoal.

─ Quem é você? ─ Ruby precisava saber.

─ Sem perguntas, Mein Gott! ─ Ele exclamou. A voz fez o peito dela congelar. Principalmente pelo sotaque que beirava ao cruel. ─ Sabe para que está aqui, não sabe?

─ Para ler, para ler! ─ Respondeu em seguida, precisava se acalmar de uma vez.

─ Então leia.

Ficaram em silêncio. As pequenas mãos dela tremiam sem parar enquanto ajeitava as folhas, os olhos pareceram embaciados até conseguirem focar nas letras. Estava com receio da voz sair esganiçada, mas sabia que quanto mais rapidamente terminasse a leitura, mais rápido saberia se poderia ir embora dali.

─ Não lhe foi dado um orçamento para preparar o seu conto? ─ Dark quebrou a mudez que se tinha instalado na Sala. Salve as batidas do coração dela que pareciam ter encontrado um ritmo mais normal.

─ Foi. ─ Respondeu sem compreender aonde ele poderia querer chegar. Queria se sentar numa posição mais recta, mas parecia que não tinha controlo nem mesmo da cadeira onde estava.

Dann, por que me aparece com folhas simples sem nenhum interesse? ─ Não soube decifrar se a voz dele estava zangada, ou se o tom usado era mais rude. Podia jurar que estava sentado, mas conseguiu escutar o Toc! Toc! Da mão dele a bater repetidamente com a bengala contra o chão, demonstrava alguma impaciência.

─ Eu...

─ Leia!

Ruby respirou fundo por alguns instantes e entreabriu os lábios devagar, antes de começar a sua leitura. Não estava confortável, essa era a verdade e Dark conseguia enxergar isso com toda facilidade do mundo. Não só isso, como via o tufo de cabelo cacheado que se espalhava contra o encosto de cabedal. Os lábios pareciam ter sido desenhados com pincel, eram bem contornados e aquele batom encarnado era brilhante de um jeito que lembrava calda de morango. Tinha o rosto redondo, lembrava uma criança com o nariz pequeno arrebitado e os olhos quase rasgados com pestanas abundantes, em circunferências que quase tocavam nas pálpebras. O vestido encaixava no corpo pequeno, era baixinha e mesmo os saltos altos eram de pouca ajuda. Tinha seios redondos e médios que se notavam por trás do tecido de seda, e a pequena corrente fina de ouro que desaparecia no meio deles, davas asas a qualquer imaginação.

─ [...] Era uma noite escura, eu estava com um amigo de longa data. Tínhamos planeado sair para se divertir numa boate qualquer e, agora com aquela chuva qualquer plano tinha sido desfeito. Não era uma dessas chuvas que se resolvem com um guarda-chuva ou uma capa. ─ Ruby começou a ler, primeiro baixo pela vergonha que sentia. Suas bochechas ardiam com força. ─ Se não fosse assim, Sam não teria ficado preso comigo naquele apartamento. Éramos cúmplices em tudo, nunca tínhamos quebrado regras que colocariam nossa amizade em causa, mas quando as luzes se apagaram e ficamos sozinhos no escuro...

─ Qual é o título desse conto? ─ Dark a interrompeu, o tom de voz estava mais grave e ainda mais gutural. Remexia com as entranhas dela.

─ Título? ─ Ruby gaguejou.

─ Sim. Título.

─ Er... Uma Noite Escura. ─ A escritora inventou na hora e, os olhos se inquietaram quando perseguiram aquela risada fria que lhe varreu o estômago como uma rua deserta do Alasca. Tinha mentido, porque era boa nisso, e ele parecia ser bem observador para notar.

Komm, continue! ─ Ele rumorejou, a voz mesmo distante parecia um toque aveludado sob a pele de Ruby que se remexeu. Não sabia exactamente quanto tempo estava ali, mas pela forma como se dirigia a ela, dava para sentir uma estranha confiança.

─ [...] Sam abriu uma garrafa de uísque que tinha restado do stock que sempre fazia quando vinha me visitar. Tivemos que aproveitar o gelo antes que derretesse por causa da falta de luz. Lá fora a chuva ricocheteava e fazia o apartamento estremecer, vez ou outra, eu me assustava e ele ria da expressão que se pairava em meu rosto.

«Aos poucos fomos conversando sobre nossos relacionamentos, alegrias e frustrações, principalmente as sexuais. Tinham coisas que sempre tive vontade de fazer, mas nunca tinha encontrado alguém que as realizasse. E ao escutar as coisas que o meu amigo contava, percebi que tinha a mente aberta para experimentar diversas situações.

O uísque também ajudou na proposta que imediatamente remeti para Sam. Ele hesitou com medo de destruir nossa amizade, mas depois de eu jurar que nada ia mudar, finalmente me vi nos braços dele. Eu estava possuída pelo desejo, subi para o colo dele e...»

Ruby se calou quando ouviu a risada sensual que naquele momento lhe pareceu inconvenientemente irritante. Dark não estava só a rir do texto, mas também dela! E aquela forma espaçada e introspectiva de gracejar, apenas a ridicularizou.

─ Sinceramente! ─ Exclamou com o seu sotaque alemão a arrastar todas as letras de forma carregada.

─ O que foi? ─ Dilatou as narinas e perdeu toda a postura limitada que vinha a ter até então. Agradeceu quando sentiu a cadeira reclinar e voltar a posição inicial, lhe deixando com a coluna recta.

─ Acredita mesmo que vou disponibilizar dez mil dólares para ouvir algo relatado? ─ Dark perguntou, escondido no escuro e completamente protegido pela sombra.

─ Não entendo. ─ Se fez de rogada.

─ Não quero que escreva coisas que ouviu por aí, Ruby. ─ Advertiu e ela não entendeu como podia saber que Malcom é que lhe tinha contado aquilo. Estremeceu no lugar. ─ Quero que crie cenários em sua cabeça, experiencie e sinta aquilo que os personagens estão a viver para que me possa transmitir. Com exactidão! Me Revele Seus Desejos, os mais íntimos e intensos.

Toc! Ele bateu com a bengala na mão, contra o chão. Aquele som fez Ruby saltar no lugar.

─ Eu não tenho essas imaginações. ─ Garantiu, voltou a ouvir os seus batimentos cardíacos nos sistemas de sons espalhados pela Sala.

─ Lembre-se que se não ficar satisfeito, me dou ao direito de cancelar o contracto. E vai ter que pagar muito caro. ─ Salientou em toda sua calmaria desconcertante. Principalmente aquela voz maravilhosamente profunda.

As pernas dela fraquejaram.

─ Quer que eu continue a leitura? ─ Pareceu acordar após escutar aquela sentença dura que lhe tiraria do conforto em que se encontrava novamente.

Dark demorou a responder, como se a observasse com atenção e, Ruby podia sentir os olhos dele, vindos de algum canto, mas o olhar era tão aterrador que chegava a ser palpável mesmo sem ser visível.

Nein! ─ Negou com uma calmaria assustadora.

─ Quero ver você. ─ A afirmação os pegou de surpresa. Ela deu um passo para fora da luz, mas se admirou quando sentiu a ponta da bengala aparecer do escuro e ir parar na sua barriga. Era de madeira, estreita na base e com desenhos talhados a mão. Só pelo brilho e pelo formato dava para perceber que pertencia a uma herança de família nobre, quem sabe mesmo até a uma família real?

─ Fique onde está. ─ Percebeu o tom da ameaça, mas sentiu que estava mais perto do que alguma vez podia imaginar. Ela quis saber como aquilo era possível e que tipo de lâmpadas e efeitos eram usados naquela sala para o esconder tão perfeitamente. ─ Não quebre as regras.

─ Só queria saber para quem estou a ler! ─ Insistiu quase tomada por um novo desespero.

─ Não se aproxime, Ruby! ─ Dark advertiu mais uma vez, recolhendo a bengala para perto de si.

Toc. Toc. Toc. Ela o ouviu se afastar.

─ Para onde você vai?

─ A sessão terminou. Lhe darei outra oportunidade e se me decepcionar, irei rescindir o contracto. ─ Redarguiu com a voz gélida como um glaciar numa noite escura.

Toc. Toc. Toc!

─ Sei que não gostou do conto de hoje, mas ainda irá me pagar? ─ Não resistiu a perguntar. Já tinha feito planos e promessas com aquele dinheiro todo.

Dark deixou a última gargalhada irónica e cheia zombaria. Era bem austera.

─ Já não excedeu ao limite que lhe tinha sido imposto no cartão de débito?

─ Não! Quer dizer, sim... Mas ninguém me disse que...

─ Ruby. ─ A cortou com elegância. ─ Você tinha um limite de três mil dólares, gastou vinte mil. Aposto que está em dívida para comigo.

─ Não... ─ Ela arregalou os olhos. ─ Você não pode... Eu encomendei algumas coisas que vão chegar e preciso pagar.

─ Vai aprender com os seus erros. Da próxima cumpra o que lhe foi estipulado, de modo a que eu possa fazer o mesmo. Agora vá! ─ Ordenou com rispidez e as poucas luzes se acenderam por trás dela, mostrando um único caminho que a conduzia de volta para a porta.

Ela estava furiosa, amarrotou as folhas com a mão e fez uma bola de papel, depois a atirou na direcção que achava que o homem misterioso poderia estar. Perdeu a pose e soltou alguns impropérios bem deselegantes, depois saiu no seu sapato bastante alto para fora da Sala Escura.

Mr. Dark ouviu quando a porta blindada bateu assim que a escritora saiu. Agachou-se para apanhar a bola de papel que repousava em seus pés. Ruby continuava sempre muito atrevida.

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Bom dia/Tarde Dilaceradas! Ontem foi o aniversário da linda da Andreza, então aqui o presente. Muitos parabéns minha amada. Tudo de bom nessa vida!

Pequeno Glossário:

Setzen Sie sich! – Sente-se!

Nein – Não!

Es tut mir leid – Lamento!

Mein Gott! – Meu Deus!

Dann. – Então...

Komm – Vamos.


Beijos de amor e até breve. Não se esqueçam de votar, me dizer o que estão a achar e de conspirar. Adoro conspirações! Ownti. Chamem as amiguinhas para Revelarem os Seus Desejos!

Auf Wiedersehen!

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