REDENÇÃO AO AMOR - Livro 3 da...

By nanapauvolih

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Olá, queridos. Este livro vai ser relançado em setembro de 2015 pela editora Rocco. Beijos. REDENÇÃO AO AMOR... More

REDENÇÃO AO AMOR - Livro 3 da Série Redenção.
Spoiler do livro
Visão de Antônio sobre Cecília e Ludmila.
Prólogo - Antônio
Capítulo 1 - Antônio
Capítulo 2 - Ludmila
Capítulo 2 - Cecília
Capítulo 3 - Antônio
Capítulo 4 - Antônio
Capítulo 4 - Ludmila
Book teaser

Capítulo 4 - Cecília

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By nanapauvolih

Olá, queridos leitores e amigos.

O capítulo 4 trouxe algumas sensações importantes para mim e queria compartilhar com vocês.

Primeiro, devido aos sentimentos expressos. Converso com muitas pessoas, ouço muitas histórias e algo que me foi dito, me marcou com muita emoção. Usei algumas dessas palavras aqui, nos pensamentos do Antônio, com a permissão de quem me contou. Eu não te falei que tinha mexido comigo? Espero que você goste.

Segundo, usei nome de amigas minhas no capítulo. Não usei mais pois não sabia se elas iam gostar, mas é apenas mais uma homenagem a pessoas que amo.

Obrigada a cada leitura, comentário e estrelinha. Eu fico muito feliz, voc~es nem imaginam o quanto. 

Um grande beijo a todos. Espero que gostem. 

Nana Pauvolih.

Fiquem aqui com o capítulo, que está dividido em três partes: Cecília, Antônio e Ludmila.

CAPÍTULO 4

CECÍLIA

 Eu estava tão feliz que só vivia cantando pela casa. Chegava da faculdade e colocava música, enquanto fazia minhas coisas e almoçava. Só desligava tudo mesmo quando estava na hora de estudar e precisava de silêncio. Mas até isso estava difícil fazer, pois Antônio não saía da minha cabeça o dia todo. Eu pensava nele 24 horas por dia.

Na terça-feira, depois de passarmos o dia na cachoeira, não nos vimos. Ele tinha prova na faculdade e falamos ao telefone. Foi um inferno ficar longe dele. Eu me revirei na cama à noite, só pensando naquele seu sorriso meio de lado e no seu olhar intenso, azul, que parecia me fazer ferver por dentro. E revivi, maravilhada, cada segundo da sua companhia.

Não havia dúvidas que eu estava apaixonada. Muito, demais, como nunca imaginei possível. Antônio tinha abalado minhas estruturas e eu me sentia nas mãos dele. Era uma sensação de medo, depender assim emocionalmente de uma pessoa; e também de êxtase, pois tudo ficava mais vivo e bonito, mais radiante.

Mesmo tendo começado minha vida romântica e sexual sofrendo, eu não era amarga. Eu acreditava no amor e sonhava com casamento e filhos. Só queria ter certeza de que também era amada antes de me entregar. Com Antônio estava difícil segurar a onda e eu sabia que ainda não tinha transado com ele por que levava em conta meu pensamento e não meu corpo. Esse já era dele sem vacilar. Por sorte não se aproveitava de mim. E isso só me fazia admirá-lo ainda mais.

Ficava nervosa e arquejante só de pensar o quanto estivemos perto naquela cachoeira, quando me deitou na toalha e veio por cima. Tive certeza que me penetraria, vi em seu olhar o desejo extremo, a volúpia, a determinação. Mas tinha se contido. Embora, sem ir até o final, tenha feito amor comigo.

Minha barriga se contraiu e me encolhi na cama, fechando os olhos, revivendo todos os momentos. Seus beijos deliciosos e embriagantes, que me deixavam tonta. Nunca tinha sido beijada assim, como se fosse consumida e adorada, como profundidade e perícia, apaixonadamente. Acho que eu poderia gozar só com o seu beijo.

E havia o toque firme, aquela pegada meio bruta, seu tom autoritário me ordenando as coisas ... Ai, ficava com a calcinha molhada só de pensar. Era uma coisa de louco, uma intensidade absurda, uma masculinidade que me deixava de pernas bambas. Antônio era um homem muito intenso e dominador, mas ao mesmo tempo apaixonado, observador, inteligente. Parecia ter vários radares ligados em mim, sabendo ao certo o que fazer para me deixar completamente de quatro por ele.

Arquejei, lembrando de como se esfregou em mim, do volume enorme do seu pênis pressionando meu clitóris e meus lábios vaginais, me deixando melada e alucinada. E não saía da minha cabeça a hora em que desceu a sunga e segurou seu membro, olhando com aqueles olhos esfomeados para mim, seus músculos bem marcados, seu ombros largos tomando minha visão.

Nunca imaginei que um homem pudesse ser tão grande e grosso. O rapaz com que transei era um menino perto dele, sem qualquer comparação. Antônio era assustadoramente lindo e eu cheguei a ficar com medo, achando que nem metade de tudo aquilo caberia em mim. E, ao mesmo tempo, ansiando loucamente saber.

Para mim, os pênis dos homens seguiam mais ou menos o tipo de corpo deles. O rapaz com quem transei, Jonathan, era magro e pouco mais alto que eu, seu membro mediano e fino. Mas me dava conta que não havia uma regra para aquilo.

Como Antônio era alto, como ombros largos e músculos do corpo bem definidos, tinha pensado até em algo assim, talvez longo, mas normal. Não aquilo! Grande e largo, cheio de veias, com a base maior ainda e uma cabeça robusta. Era realmente de encantar e amedrontar. E eu me vi ansiando saber como seria, como me sentiria quando estivesse dentro de mim.

Tentei desviar o pensamento, nervosa. Devia primeiro pensar em conhecê-lo, me sentir segura e amada. Só então me entregar ao sexo. Mas quem disse que eu conseguia ser racional perto dele? Era só fixar aqueles olhos azuis claros penetrantes em mim, que eu virava uma massa trêmula de sensações.

Devia ter aprendido com a vida a ser comedida, a me preservar mais. No entanto, sentia tudo tão intensamente, não conseguia me poupar, mergulhava de cabeça nas coisas. E desde que conheci Antônio estava desnorteada, completamente encantada por ele.

No dia seguinte, quando cheguei da faculdade e almocei, ele me ligou. Só de ouvir sua voz grossa e vigorosa, meu coração disparou, meu corpo todo reagiu e eu sorri sozinha, como uma boba.

- Oi, Cecília.

- Oi. – Murmurei, me jogando no sofazinho da sala, cheia de felicidade, de uma alegria profunda. E antes que pudesse me conter, confessei baixinho: - Senti a sua falta, Antônio.

Ele ficou em silêncio um momento. Então disse num tom mais rouco:

- Também senti sua falta. Quer jantar fora comigo hoje?

- Quero. – Sorri, muito feliz. – Quero sim.

- Passo para te pegar às oito da noite. Está tudo bem?

- Tudo.

- Já teve aula hoje?

Ficamos conversando banalidades, apenas para ficar ouvindo a voz um do outro. Mas ele tinha que voltar ao trabalho e desligamos.

Passei o resto do dia ansiosa, sem conseguir me concentrar em nada. Por fim desisti de tentar estudar e fui me cuidar. Fiz minhas unhas e massagem no cabelo. Queria ficar bonita e caprichei um pouco mais no visual, escovando os cabelos e me maquiando.

Escolhi um vestido azul marinho com cintura marcada e saia solta, caindo até o meio das coxas. E uma sandália rosa chá, delicada, de saltos, com uma bolsinha. Quando fui avisada de que Antônio estava lá embaixo, já andava ansiosa de um lado para outro e desci correndo.

Estava lindo como sempre, recostado em seu carro. Os cabelos negros estavam displicentes e usava jeans, blusa de malha por baixo e jaqueta de couro preta, com botas masculinas e brutas. Fitou-me com aqueles olhos azuis acesos que me faziam tremer por dentro e fiquei impressionada com sua masculinidade, com a força que emanava dele como uma força viva.

Sorri para disfarçar meu nervosismo ao parar à sua frente. Antônio nem piscava e na hora sua mão foi em minha cintura, puxando-me para ele, ainda recostado na porta do carro. Fitou meus lábios pintados de rosa e disse baixinho:

- Você é uma dessas mulheres que não gostam de borrar o batom quando vão sair?

- Não. – Passei minhas mãos em seu pescoço, adorando finalmente tocá-lo, feliz de verdade em estar ali.

Sorriu meio de lado, satisfeito.

- Ótimo. – Inclinou a cabeça e mordeu devagarinho meu lábio inferior. Foi lento ao saborear minha boca, deixando-me excitada, maravilhada, ansiosa. E quando sua língua veio de encontro à minha, eu me inebriei em seu gosto delicioso, seu cheiro gostoso, seu corpo forte de encontro ao meu.

Nos beijamos com paixão e volúpia, o desejo nos engolfando na hora, vindo intenso e perturbador. Suas mãos subiram da minha cintura pelas costelas e pararam ali. Prendi o ar ao sentir os polegares sob os seios, tão perto que parecia me queimar.

Antônio afastou-se um pouco e seus olhos azuis consumiram os meus. Disse baixinho:

- Você está linda.

- Você também. – Murmurei. Sorri como uma boba e ele sorriu de volta, seus olhos semicerrados.

- Vamos?

Concordei.

Antônio me levou a um belo e luxuoso restaurante em frente a Lagoa Rodrigo de Freitas, com um deque de frente para a água e dois ambientes, um interno e um externo. Sentamos do lado de fora, sob a copa de uma árvore que recebia iluminação dourada por baixo, em volta de uma grande mesa de madeira.  A vista era linda e uma brisa suave nos deu as boas vindas.

Cavalheiro, me ajudou a sentar e depois se acomodou em frente, dizendo:

- Esse restaurante é especializado em comidas do Norte. Espero que goste.

- Nunca experimentei. Mas não há nada que eu não goste.

- Nada? – Ergueu uma sobrancelha.

- Como tudo. – Sorri. - Minha mãe nos acostumou assim em casa. Beterraba, jiló, fígado, tudo.

Ele fez uma cara engraçada. Naquele momento o garçom se aproximou simpático, nos cumprimentando e dando o cardápio. Nós o cumprimentamos de volta e indagou se queríamos beber alguma coisa.

- As caipirinhas daqui são ótimas. – Disse Antônio. – Tem diversos sabores.

- Exatamente. – Disse o homem alto e calmo, muito educado. – Pode escolher o tipo de destilado entre vodca, cachaça, saquê, whisky nacional ou escocês e cachaça montanhesa. E as frutas tem de diversos sabores: tangerina, abacaxi, jabuticaba, cupuaçu, seriguela, maracujá do mato ...

Ele falou várias frutas e sorri, animada. Quando acabou, eu indaguei:

- E qual o senhor sugere? Desculpe, como é o seu nome?

Ele me encarou. Na mesma hora sorriu, respondendo:

- Célio, senhorita.

- É um prazer, Célio. Sou Cecília e ele é o Antônio. E qual é a mais pedida aqui?

- São várias, mas gostam muito da de tangerina e de cupuaçu.

- Eu quero de tangerina. – Olhei animada para Antônio. – Com cachaça nacional.

- Uma de whisky com mix de frutas. – Disse ele, observando-me. Quando Célio se afastou, disse para mim, fitando meus olhos: - Nunca vou cansar de admirar esse seu jeito. De cumprimentar e tratar as pessoas bem. De querer saber o nome delas.

- Eu já te falei, sou do interior. – Dei uma risada e abri o cardápio. – O que você recomenda aqui?

- Tudo é uma delícia, mas gosto do Arrombado.

- Arrombado? – Fitei-o, curiosa. – Como é isso?

- É um queijo Camembert recheado com picadinho de tucunaré, pimenta de cheiro e banana pacovão. Uma delícia.

- Ah, então quero esse! Parece bem exótico! Adorei isso aqui, Antônio! Lindo demais!

Começamos a conversar sobre como foi o nosso dia e ele me explicou um pouco sobre seu Mestrado em Economia e seu MBA na área de finanças e administração. Percebi o quanto era inteligente e calculei que fosse um empresário de sucesso, pois tinha características de força e liderança.

Eu amei minha caipirinha, assim como a de Antônio, que me deu um pouco para provar. Mexi o canudinho no gelo e na bebida, recostada em minha cadeira, recebendo aquela brisa boa no cabelo, com uma vista maravilhosa e uma companhia melhor ainda. Suspirei e Antônio estava com os olhos atentos sobre mim, como se observasse cada movimento meu.

- Está feliz? – Indagou, sério. Mas ele mesmo respondeu, com um leve erguer de lábios. – Que pergunta a minha! Você vive feliz.

Dei uma risada.

- E como não ficar? Olhe a nossa volta! É tudo tão perfeito!

- Só vejo uma perfeição. E está à minha frente.

Fiquei corada com eu tom profundo e seu olhar fixo em mim. Sorri meio sem graça, mexida, balançada.

- Estou muito longe de ser perfeita.

- Então me diga um defeito seu, Cecília.

- Sou mansa demais, acho que tinha que ser mais forte, mais dura. Às vezes sou boba, minha mãe morre de preocupação por isso. Acredito nas pessoas até que me provem o contrário. Ah, tenho vários defeitos! Posso ser teimosa e implicante.

- Grandes defeitos. – Sorriu de lado.

- E você, quais os seus defeitos, Antônio?

- É melhor você nem saber. – Disse, misterioso.

Eu me inclinei para frente, curiosa.

- Ah, vamos lá! São tão terríveis assim?

- Sou egoísta. Não consigo me afastar do que eu quero, mesmo quando não devo. Tenho dificuldade em obedecer. Acho que a única pessoa a quem faço isso é meu pai.

- E a sua mãe?

- Eu a respeito, mas ela costuma dizer que sempre dou um jeito de mostrar que eu estou certo. E sou assim mesmo.

- Mas por que obedece ao seu pai? – Eu o observava, atenta.

- Eu o admiro. É um homem forte e honesto, justo, trabalhador. Sua vida foi em função da nossa empresa e da nossa família. É antes de tudo um amigo. Se eu for metade do que ele é, já fico satisfeito.

Percebi o amor e a admiração em cada palavra. O pai era como um ídolo para ele. E calculei que fosse muito importante mesmo, pois Antônio não parecia ser o tipo que se espelhava em alguém, mas que fazia o próprio caminho.

Senti uma grande vontade de conhecer a família dele, mas achei que estava mesmo muito cedo. Primeiro a gente tinha que se conhecer.

Célio voltou com a comida, preparada em tigelas de barro apoiadas em um tapume de madeira, com acompanhamento e molhos. Ia nos servir, mas pedi simpaticamente:

- Pode deixar na mesa que eu sirvo, Célio. E que delícia de caipirinha!

- Gostou? Elas podem ser temperadas também com canela. – Sorriu para mim, deixando tudo sobre a mesa. – Não quer mesmo que eu sirva, Cecília?

- Não, obrigada.

Depois que ele se afastou, peguei um prato e fitei Antônio, indagando:

- Posso pôr um pouco de tudo?

Ele me encarava, muito quieto.

- Antônio?

- Sim, pode. – Franziu o cenho e segurou seu prato pronto que lhe entreguei, enquanto preparava o meu. – Por que fez isso?

- Isso o quê?

- Não deixou o garçom servir e ainda se preocupou em fazer o meu prato.

Sorri e tentei explicar, pegando meu garfo:

- Venho de uma família onde minha avó servia meu avô à mesa. Não como empregada dele, mas sinal de amor, de querer saber que o marido estava bem cuidado. E por incrível que pareça tenho duas tias e todas fazem a mesma coisa, além da minha mãe. Eu vejo isso como uma forma de cuidar de você com carinho.

Enquanto o fitava cheia de bons sentimentos, eu o vi ficar mudo. E imóvel. Olhava-me fixo, sério, compenetrado, pensativo. Mordi os lábios e indaguei:

- O que foi?

- Nada.

- Mas você ficou esquisito.

- Apenas surpreso. Nenhuma namorada se preocupou assim comigo antes. Não esperava por isso.

Eu sorri.

- Mas elas não sabem o que estão perdendo. Pode deixar, querido. Vou cuidar de você direitinho. – Brinquei e ele ficou com a expressão mais pesada. Disse com uma ponta de sensualidade:

- Vou retribuir o favor. E estaremos ambos bem cuidados.

Senti que havia algo de cunho sexual ali e senti minha barriga se contorcer em expectativa. Lembrei de novo do que fizemos na cachoeira e fiquei corada, nervosa.

A comida era deliciosa. Conversamos sobre tudo e sobre nada e em algum momento falávamos de música novamente, uma grande paixão minha. E que Antônio parecia compartilhar. Eu falava de uma música de Paulo César Pinheiro que eu adorava, chamada Viagem, quando ele segurou minha mão sobre a mesa e entrelaçou seus dedos aos meus. Parei de falar e o fitei.

Antônio me olhava de uma maneira tão intensa que senti algo rodopiar loucamente dentro de mim. Fiquei sem ar e sem chão. Por que o que nos envolvia era tão forte, tão profundo, que parecia físico e não sensação ou sentimento. Quis saber o que pensava, o que o fazia às vezes se concentrar daquele jeito em mim. Mas tinha coisas que não me deixava ver e eu só sentia através dos seus olhos.

Senti seus dedos nos meus e então algo apertou meu peito. Uma sensação de perda, de tristeza e finitude. Veio de repente, mas foi tão real que tive medo e entreabri os lábios, pronta para negar. Ele sentiu. Na mesma hora indagou:

- O que foi?

- Não sei. – Falei baixinho, realmente sem entender. Apertei sua mão e só pude explicar: - Seu olhar ...

Ficou muito quieto. Havia algo ali. Eu não entendia, mas tentei descobrir:

- Por que me olhou assim? Parece uma ... despedida.

- Não. – Negou imediatamente, sua voz baixa, carregada. Inclinou-se mais para mim sobre a mesa, seus olhos azuis ardendo, erguendo nossas mãos unidas e beijando meus dedos. Disse decidido: - Não vou deixar você ir, Cecília.

- Mas ... Não vou a lugar nenhum. – Murmurei.

Estava confusa. Antônio não soltou minha mão. Forçou um sorriso.

- Por que estamos tendo essa conversa maluca? Estamos aqui, juntos, bem. Não temos que pensar em tristeza nem em despedida.

- Não sei. Foi algo tão real ... – Calei-me e balancei a cabeça. Tentei sorrir. – Tem razão. Uma loucura!

Célio se aproximou da nossa mesa para tirar os pratos e indagou se desejávamos algo.

- Quer mais uma caipirinha? – Antônio mudou de assunto.

- Não.

- Sobremesa?

- A casa serve um creme de cupuaçu delicioso. – Informou Célio, solícito. Acabei sorrindo.

- Está bem, eu quero.

- E o senhor? – Virou-se para Antônio.

- Mousse de maracujá.

Célio concordou e foi providenciar. Eu observei que era a segunda vez que ele pedia aquela sobremesa, desde que saímos juntos. Já ia fazer um comentário sobre isso, mas um casal que tinha acabado de chegar passava ali perto e reconheci a menina como Amanda, uma colega minha da faculdade de Psicologia.

Abri um grande sorriso e acenei. Ela me viu e acenou de volta, de mãos dadas com um rapaz alto e bonito, de cabelos e olhos escuros. Ia seguir em frente, mas o rapaz a deteve pela mão, olhando fixamente para Antônio quando este se virou para ver para quem eu tinha acenado.

Ambos se encaram. O rapaz sorriu amplamente e seu olhar se fixou em nossas mãos unidas sobre a mesa, depois em mim. Então disse algo a Amanda e se aproximou de nós com ela.

Antônio se virou e me olhou, bem sério. Antes que eu tivesse tempo de perguntar o que tinha acontecido, eles já estavam diante de nossa mesa.

- Ceci. – Disse Amanda, se inclinando para me beijar no rosto. – Que surpresa!

- Pois é. – Sorri e a beijei. O rapaz que a acompanhava disse alto, bem humorado:

- Como esse mundo é pequeno! E vocês ainda são amigas.

Eu não entendi. Fitei seus olhos castanhos e seu sorriso aberto para mim. Havia algo familiar naquele sorriso. E logo soube por que, quando virou para Antônio e o cumprimentou:

- E aí, mano? Olha que coincidência.

- Eu já vi. – Disse Antônio, sem expressão. Quase não tinha se movido nem tinha tirado os dedos dos meus.

- Mano? – Indaguei.

- Esse é meu irmão caçula, Eduardo. – Não parecia muito animado.

- Seu irmão? – Meu sorriso se ampliou. – Nossa, coincidência mesmo. Vocês são irmãos e nós amigas da faculdade. E ainda nos encontramos aqui.

- Eduardo Saragoça. – Estendeu-me a mão, sorridente.

- Cecília Blanc. – Apertei sua mão.

Eduardo apresentou Amanda e Antônio. Vendo seu jeito fechado, indaguei-me se eles não se dariam muito bem. Mas mesmo assim gostei de conhecer alguém da família dele.

- Querem se sentar conosco? – Antônio foi educado, mas seu olhar duro parecia mandar o irmão passear. Eduardo notou e riu. Puxou uma cadeira para Amanda e disse feliz:

- Claro que sim! – Logo se acomodou também e olhou para nossa mesa vazia. – Já fizeram os pedidos?

- Já comemos. Estamos esperando a sobremesa. – Eu falei. – Mas fazemos companhia a vocês.

- Que bom ver você aqui, Ceci! – Amanda olhou de mim para Antônio, interessada. – Já namoram há muito tempo? Por que eu e esse aí começamos ontem.

Apontou para Eduardo e os dois riram. Eduardo também completou:

- Quero saber também. Por isso ele anda todo feliz em casa! – Piscou para mim.

Eu acabei dando uma risada. O único sério era Antônio, que não tirava os olhos do irmão. Como não parecia propenso a responder, eu expliquei:

- Há pouco tempo.

- E como se conheceram? – Perguntou Amanda.

- Em um engarrafamento.

- Ah, você é a menina do engarrafamento! Foi comigo que falou quando ligou lá pra casa. – Eduardo comentou. Era um rapaz alegre e gostei dele. Não entendi por que Antônio estava tão sério. – Sabia que era simpática!

- Obrigada. Eu lembro da sua voz.

Célio se aproximou com nossas sobremesas e cumprimentou o novo casal. Na mesma hora pediram caipirinhas.

A noite acabou sendo divertida. Em algum momento Antônio relaxou mais e participou da conversa. Eu já conhecia Amanda e gostei muito de Eduardo, que era completamente diferente do irmão em seu jeito, muito mais aberto e brincalhão.

Terminamos nossa sobremesa mas continuamos lá enquanto eles comiam. Eduardo implicava com o irmão mais velho, dizendo para mim que ele era chato e rabugento e que queria obrigá-lo a trabalhar. Completou:

- Eu te pergunto, Cecília: pra que vou querer ficar trancado em um escritório aos 24 anos de idade? O divertimento do papai e do Antônio é esse, passar horas lá discutindo. Preferia fazer uma faculdade de turismo, viajar ...

- E faz o quê?

- Administração de empresas. Esse aí me obrigou! – Apontou para o irmão.

- Se deixasse por conta dele não teria nem terminado o Ensino Médio. – Antônio disse para mim. – Nunca gostou de estudar nem de trabalhar.

Eu ri, pois era engraçado sua influência sobre o irmão, sendo apenas dois anos mais velho.

- Um dia jogo tudo para o alto e fujo daquela casa! – Exclamou Eduardo como se fosse um garoto, mas acabou rindo. – Antônio faz até hora extra. Vai pro escritório às vezes no sábado! Tá maluco? Na segunda-feira nem acreditei quando papai disse que ele tirou a tarde de folga. Aposto que estava com você, Cecília!

- Assim vou me sentir má influência e irresponsável! – Ri também.

- Nunca. – Antônio olhou com carinho para mim. Continuávamos de mãos dadas, nossas cadeiras próximas, seu joelho encostando o meu por baixo da mesa.

Lembrei-me da segunda-feira maravilhosa que tivemos na cachoeira e enrubesci, adorando que ele tenha tirado aquela folga para ficar comigo, ainda mais sendo tão maníaco pelo trabalho como o irmão dizia.

Eu me diverti muito. Antônio fez questão de pagar a conta e, quando nos levantamos, eu me despedi de Célio:

- Tchau, Célio. Muito obrigada por tudo. Voltarei aqui mais vezes.

- Está bem, Cecília. Procure por mim que vou te dar a melhor mesa.

- Obrigada! – Acenei animada e ele se despediu de Antônio e do casal.

Seguimos para o estacionamento e Eduardo disse que ia com Amanda para uma boate, nos convidando para ir junto. Negamos, pois no dia seguinte tinha aula para mim e trabalho para Antônio. Fomos nos despedir e me surpreendi quando Eduardo me abraçou e disse alto:

- Gostei muito de você, Cecília. Está fazendo bem ao meu irmão. Ele até parou de pegar no meu pé.

Nós rimos, mas Antônio pareceu um pouco enciumado e me trouxe para perto dele. Avisou a Eduardo:

- Amanhã tem trabalho normal. Não esqueça.

- Pode deixar, papai. – Suspirou exageradamente. Abracei Amanda também e depois entramos no carro. Já estávamos na estrada, quando comentei:

 - Gostei do seu irmão. Vocês são bem diferentes.

- Muito.

- No início pensei que não se dessem bem. Mas depois percebi que é só implicância entre irmãos mesmo. – Sorri, me virando para vê-lo dirigindo. Era sempre um prazer olhar para Antônio, principalmente quando estava daquele jeito meio fechadão. Havia uma aura de poder e autoridade em volta dele, que parecia deixá-lo mais másculo e que mexia muito comigo.

- Eduardo precisa ter a orelha puxada várias vezes por dia para não virar um vagabundo.

- Mas seus pais não fazem isso? E ele já não é bem grandinho?

- É uma criança grande. – Apesar de sua crítica, percebi que amava o irmão, se preocupava com ele. E isso me encheu de carinho. – Nasceu de um parto difícil, ele e minha mãe quase morreram. Até os sete anos, teve vários problemas de saúde e com isso foi muito mimado. Olha o que deu.

Acabei sorrindo, sem me desviar um segundo sequer dele.

Antônio contou um pouco mais da sua infância e da do irmão e tive um panorama dele como o irmão mais velho e sério, que tirava o mais novo das suas confusões e dava bronca nele. Mas o que mais me chamou atenção foi notar que, por trás de tudo aquilo, havia preocupação e carinho. Ele me passava a sensação de um homem que tomava conta de tudo e chamava as responsabilidades para si.

Chegamos perto do meu prédio e estacionou na calçada. Estávamos protegidos pelo vidro escuro do carro e senti meu coração disparar, já antecipando seus beijos e suas carícias. Soltei meu cinto de segurança e o fitei, ansiosa.

Antônio olhou para mim, muito sério. Havia algo nele muito profundo, como se seus pensamentos fossem perturbadores, pois franzia o cenho, semicerrava um pouco os olhos. Engoli em seco, agitada, quando ergueu a mão e acariciou meu rosto devagar.

- Em uma coisa meu irmão tem razão. – Disse baixo, sua voz vibrando em cada terminal nervoso do meu corpo já excitado. O ar dentro do carro era denso, pesado.

- O quê? – Murmurei.

- Você me faz feliz. – E sua outra mão subiu até meu rosto, segurando-o entre elas com firmeza. Veio mais perto, seu olhar descendo até meus lábios. Não disse mais nada. Só me beijou.

Eu fui invadida por uma paixão avassaladora. Abri a boca e recebi sua língua, ansiando-a loucamente, retribuindo o beijo como se estivesse sedenta, morrendo. Ergui minha mão também e enterrei os dedos entre os fios abundantes e negros do seu cabelo, apaixonada, toda dele.

Foi um beijo longo e quente. Meu sangue corria rápido nas veias, meu coração batia descompassado, meus mamilos estavam duros, doloridos de tanto desejo. Almejei um toque, um alívio, apertei uma coxa contra a outra, por que me sentia palpitar. Mas Antônio não fez nada além de me beijar e de segurar firme meu rosto, seu polegar passando lentamente em minha pele.

Quase fui para o colo dele por livre e espontânea vontade, tão cheia de luxúria e de paixão eu estava, necessitada por mais. No entanto, ele interrompeu o beijo e afastou um pouco a cabeça, me fitando com as pálpebras pesadas, os olhos brilhando muito no escuro do carro.

Fitei-o ansiosa, quase suplicando por mais. Principalmente ao ver o mesmo desejo refletido em seu semblante. No entanto tinha mais coisas ali, perturbando-o, deixando-o ainda mais sério que o habitual. Escorreguei meus dedos por seu cabelo, passei-os em sua têmpora, fiz o contorno anguloso do seu maxilar. Então indaguei preocupada:

- O que você tem, Antônio?

Fechou-se ainda mais. Acariciou minha face antes de me soltar e se recostar em seu assento, sem deixar de me olhar.

- Estou cansado. Amanhã tenho que acordar cedo. Vem, vou te acompanhar até a entrada.

Não me deu tempo de perguntar mais nada. Saiu do carro e deu a volta, abrindo a porta para mim. Eu desci sem saber o que pensar, mas angustiada. Fitei-o, buscando uma resposta. Mas não me olhou. Em silêncio me acompanhou até o portão gradeado do prédio. Paramos ali na calçada, um de frente para o outro. Eu não consegui entender o que tinha dado errado naquela noite que começou tão bem.

Quase o convidei para subir ao meu apartamento, desesperada sem querer me afastar logo dele. Mas me contive a tempo. Eu não tinha certeza de nada e não queria me arrepender depois ou ter mais um sofrimento. Mordi os lábios.

- Está tudo bem. Amanhã ligo para você.

Apesar de falar aquilo com segurança, seu olhar sério demais, cheio de sentimentos que eu não compreendia, me deram medo. Pensei em abraçá-lo e não deixá-lo ir. Minha sensação era de que não o veria mais e aquela possibilidade era como enfiar uma faca em meu peito.

Acariciou de novo meu rosto, sua seriedade implacável, seus olhos ardendo nos meus.

- Durma bem, Cecília. Agora vá.

Eu não queria ir. Mordi os lábios, supliquei com o olhar que fizesse algo para acalmar aquele meu medo. Mas Antônio não fez. Simplesmente me olhou e esperou. E eu, como um robô, entrei no prédio. Segui sem olhar para trás, cada passo uma tortura, uma certeza de que, por algum motivo, ele ia me deixar. Quando cheguei ao meu apartamento, eu já estava chorando.

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