Você sempre odiou isso,
o meu talvez que o fazia se contorcer e dizer:
você é igual a sua mãe.
Mas a verdade é que eu nunca sabia ao certo que palavra lhe agradaria
e me pegava no grande talvez na maioria das vezes.
a gente não fala mais do que 10 frases no telefone
e tudo que sabemos falar quando se encontramos é sobre o mesmo:
minha rotina, seu neto que o atormenta, futuro e alguma merda que tento disfarçar.
sempre tentava puxar assunto porque tinha medo que esse silêncio que ao longo dos anos foi acumulando o fizesse parar de aparecer.
Não é a diferença, não não.
me pego pensando se não se tornamos completos estranhos exatamente por sermos tão iguais
o jeito de não expor o que sentimos por achar ser muito óbvio
a mesma inquietação
o fato de não saber amar.
Você se prende a uma imagem minha que não existe mais e eu me agarro a cada fio de luz que vaza entre seus buracos.
pai,
talvez a gente simplesmente não saiba mais lidar um com o outro,
e você apenas culpe a genética da minha mãe por isso.