Jogo de Máscaras

By AliceHAlamo

312K 27.7K 68.9K

Não era para ser difícil ou perigoso, era para ser relaxante e prazeroso, apenas isso. Que ironia... Como se... More

Capítulo 1 - Vista sua Máscara
Capítulo 2 - Tire sua máscara de inocente
Capítulo 3 - Tire sua máscara de puritano
Capítulo 4 - Vista sua máscara de bom amigo
Capítulo 5 - Vista sua máscara de bom partido
Capítulo 6 - Tire sua máscara de cara paciente
Capítulo 7 - Vista sua verdadeira máscara
Capítulo 8 - Vista sua máscara de felicidade
Capítulo 9 - Tire sua máscara de insegurança
Capítulo 10 - Vista sua primeira máscara
Capítulo 11 - Tire a máscara dos outros
Capítulo 12 - Vista sua máscara de enfermeiro
Capítulo 13 - Tire sua máscara de frieza
Capítulo 14 - Vista sua máscara de Mentiroso
Capítulo 15 - Vista sua máscara de protetor
Capítulo 16 - Vista sua máscara de Sasuke
Capítulo 17 - Vista sua máscara de honestidade
Capítulo 18 - Tire a máscara do seu adversário
Capítulo 19 - Vista sua máscara de Apaix-..., quer dizer, de viciado
Capítulo 20 - Vista sua máscara de cumplicidade
Capítulo 21 - Tire sua máscara de sob controle
Capítulo 22 - Tirem suas máscaras sociais
Capítulo 23 - Vista sua máscara de traído
Capítulo 24 - Tirem suas máscaras de protegidos
Capítulo 25 - Vista sua máscara de bom entendedor
Capítulo 26 - Vista sua máscara de ingênuo
Capítulo 27 - Vistam suas máscaras de aliados
Capítulo 28 - Tire sua máscara de encurralado, ainda há saída
Capítulo 30 - Tire sua máscara de amigo leal
Capítulo 31 - Vista sua máscara de desespero
Capítulo 32 - Vista sua máscara de Giselle
Capítulo 33 - Vista sua máscara de precaução
Capítulo 34 - O cair das máscaras

Capítulo 29 - Vista sua máscara de John Dillinger

5.2K 572 900
By AliceHAlamo


Até mesmo Sakura sabia que a conversa na casa de Naruto não havia mesmo terminado. Sasuke não tinha falado o que queria e parecia estar esperando o momento certo para conversar com o irmão, a sós, sem plateia ou interrupções. Mesmo assim, tentou aliviar o clima.

Itachi conversava consigo sobre os jornais para onde ela poderia mandar o currículo, e ela até mesmo cogitou aproveitar uma semana na casa dos pais antes de voltar a buscar outro emprego.

Quando estacionou na frente da casa de Sasuke, despediu-se de Itachi e encarou Sasuke por alguns instantes. Ele revirou os olhos e deixou que Itachi entrasse primeiro para ter um momento com ela.

— Eu não devia ter assinado meu nome na matéria, desculpe por isso — ela lamentou, sentindo o leve peso da culpa por ter feito Itachi aceitar um acordo para que ela ficasse protegida.

— Eles iriam chegar a você de qualquer forma — ele respondeu, sério. — Aquela matéria foi um "a mais". Itachi estava certo em alguns pontos da discussão de hoje, eles chegariam a você por minha causa. Na verdade, eu que deveria... — Ele limpou a garganta e desviou o olhar.

— Se desculpar? — Ela sorriu, divertida. — É, deveria mesmo.

Sasuke estalou a língua no céu da boca e fingiu não a ouvir.

— Tome cuidado ao voltar para casa.

— Como se você não soubesse que Itachi vai, com toda certeza, me ligar para saber se eu cheguei bem — ela respondeu. — Sas... Sobre aquilo que Itachi nos disse naquele outro dia, você acha...

— Faz sentido — ele a cortou irritado. — Infelizmente, faz sentido, mas quero ouvir essa história por completo, quero que me confirmem antes de tomar alguma atitude.

Ela balançou a cabeça afirmativamente, derrotada.

— Não pense muito nisso, logo vamos resolver tudo — ele forçou-se a soar otimista para tranquilizá-la.

Ela sorriu e se aproximou para abraçá-lo.

—Vê se vocês dois não se matam, ok? Preciso de Itachi como terapeuta particular e de você como o amigo mal-humorado.

Sasuke bufou e deu dois ou três tapinhas nas costas de Sakura antes de ela o soltar rindo.

— Você é péssimo para abraços. Aposto que você abraça Naruto direito.

— Tchau, Sakura.

Ela acenou, sem deixar o sorriso discreto dele passar despercebido.

Sasuke esperou o carro dela se distanciar e entrou em casa. Acariciou a cabeça de Pandora e teve de abaixar-se para pegá-la no colo para que ela parasse de pular em suas pernas. Caminhou com ela até o sofá e se sentou, deixando a cachorra em seu colo, escalando-o para lamber-lhe o rosto.

— Pronto, pronto, chega... eu nem fiquei tanto tempo fora! — Segurou-lhe a cabeça enquanto retirava o colar elizabetano dela sob o olhar desaprovador de Itachi.

— Quer me dizer alguma coisa? — Itachi perguntou, direto como sempre, sem parecer educado ou calmo como se fazia na frente dos demais.

— Na verdade, não.

— Não?

— O acordo não foi ruim. Mas não espere que eu vá colaborar tão bem com Neji e Ten-Ten. Não vou deixá-los de lado só porque ajudaram a pegar Hiashi e Orochimaru.

— Eu sei disso, te conheço, não? E deixei isso avisado já para Ten-Ten.

— E ela? — Sasuke acariciou a barriga de Pandora, observando, com raiva, a cicatriz da cirurgia.

— Não me pareceu muito preocupada.

Sasuke riu, sem humor, e ergueu os olhos para encontrar os do irmão.

— Melhor para mim, adoro quando me subestimam, é sempre mais fácil atingir alguém que acha que você é pequeno demais para o alcançar.

— O que vai fazer? — Itachi questionou, curioso com o tom frio e contido que Sasuke usava.

— Primeiro, temos que nos encontrar com Neji para decidir como colaboraremos; depois... é a corrida entre mim e Ten-Ten para ver se ela consegue armar uma defesa mais rápido do que eu monto um ataque.

* * *

Ten-Ten, apesar de ter em mente que a situação estava sob controle, não conseguiu dormir quando a noite caiu. Neji também estava nervoso, discutindo perto da janela do quarto ao celular com algum outro político sobre assuntos da prefeitura, aparentemente o projeto para revitalizar os pontos turísticos da cidade não estava saindo conforme o planejado. Ela respirou fundo e se levantou da cama quando o relógio acusou meia-noite. Ela não dormiria tão cedo, sabia disso.

Saiu do quarto sem que Neji percebesse, de tão entretido que estava. Caminhou pela casa silenciosa e, ao chegar na sala de estar, sentou-se no sofá. Ligou a televisão e buscou entre os canais algo que lhe entretivesse. Qualquer coisa! Precisava somente esvaziar a cabeça para que então pudesse enchê-la novamente com ideias novas.

Parou em um filme ao reconhecer as roupas típicas da década de trinta e sorriu ao ver que era mais um filme que tentava retratar um famoso criminoso. Gostava daquele tema. Era sempre interessante ver como toda uma organização se montava e mais interessante ainda assistir à sua queda. Aquele filme, em específico, falava sobre John Dillinger, um gângster cruel, assassino frio, procurado pelo FBI por assaltos a bancos, mas aclamado e adorado pelo povo. Ela já tinha assistido a aquele filme, mais de uma vez, contudo, não se importava nem um pouco em deitar no sofá para vê-lo novamente.

Como sempre, no final do filme, não conseguiu se impedir de sentir raiva... Era sempre assim em organizações criminosas, máfia, política: os grandes caíam por delações, traições, dos menores. Era diferente do que ela estava fazendo. Entregar Hiashi e Orochimaru não era uma delação por fazer o certo ou por estar intimidada, era em benefício próprio, para que subisse mais um degrau em vez de descer dois. E, apesar de dizerem que, quanto mais alta subida, mais alta a queda, Ten-Ten preferia pensar que quanto mais alta estivesse, mais difícil seria ser alcançada.

Ouviu o barulho de passos e virou a cabeça para ver Neji caminhando em sua direção. Ele parecia cansado, com o cabelo solto caindo até o meio das costas nuas, os pés descalços e a calça de moletom com a barra a arrastar pelo chão. Ele foi até o sofá, mas se sentou no chão sobre o tapete felpudo.

— Está tudo bem? — ela indagou, e ele assentiu ao se virar de lado para deitar a cabeça no estofado perto da mão dela. — Resolveu?

— Sim. — Ele bocejou. — "Inimigos públicos"? — ele indagou ao ver os créditos do filme passando pela tela.

— Peguei pela metade já. Mas acho que veio em boa hora.

Neji ergueu o rosto e o inclinou levemente para trás. Ten-Ten sorriu ao se aproximar e selar os lábios nos dele com calma.

— Por quê?

— O filme me lembrou de algumas coisas. John Dillinger tinha a filosofia de não chamar para golpes os desesperados nem os loucos.

— Eu lembro.

— O esquema em que Hiashi quer que você se envolva é exatamente isso, um esquema de desesperados. E sabe qual o problema disso? Os desesperados fazem de tudo para garantir acordos quando são pegos, além de serem os primeiros a meterem os pés pelas mãos. É um duplo perigo.

— E Hiashi sabe disso e me quer no esquema do mesmo jeito. É uma armadilha.

— É uma coleira — Ten-Ten corrigiu. — Ele deve saber como limpar a sua ficha caso esse esquema dê errado e, assim, você ficaria dependente dele.

— Preciso falar com ele. Ele vai desconfiar se eu aceitar facilmente ir nesse jantar, preciso ser contra mais do que fui na discussão do hospital.

— Sim. — Ela lhe acariciou as mechas compridas. — Sinceramente, seja enfático, negue até o último momento, até ele jogar sujo para te convencer. Assim, não vai ter suspeita de que está indo lá para unir provas contra ele.

— E quanto a outra jornalista?

— Sakura? Bem... Ele não gostou de não cuidar pessoalmente disso, mas meu pai marcou um almoço com ele amanhã para discutir assuntos deles. Então, apesar de não ser o que ele queria, Hiashi sabe pesar suas prioridades. Enquanto eu "lido" com Sakura, ele negocia com meu pai. Agora é criar uma história sobre o que fiz e, como estamos com esse acordo com ela e Sasuke, Hiashi acreditará que fui eficaz.

— Já sabe onde vamos nos encontrar com Sasuke?

— Tive uma ideia enquanto assistia ao filme. — Ela sorriu e se espreguiçou no sofá. — É... vamos fazer o que Dillinger não fez. Não faremos acordo algum com desesperados, derrubaremos os que estão acima de nós e encurralaremos os que estão abaixo.

— Abaixo? — Neji piscou, sonolento.

— Traição é sempre uma reviravolta, temos que ser aqueles que traem, não os traídos e, para isso, é mais fácil sermos nós a encurralarmos os que estão abaixo, sem dar essa chance a um jornalista, a Hiashi ou a polícia. É correr para se livrar de peças inúteis antes que eles achem utilidade para elas, usando-as contra nós.

— Temos que agir logo então.

— Depois de amanhã é um bom dia para nos reunirmos com Sasuke, não acha? Hiashi vai viajar, Orochimaru estará num evento, sua agenda está livre. E, bem, ele está desempregado, não acho que vá se importar.

Neji riu e beijou a mão de Ten-Ten antes de se levantar, puxando-a junto. Abraçou o corpo dela por trás e a conduziu novamente em direção do quarto.

— Onde? — indagou.

— Hiashi deve ter pedido para alguém ficar nos vigiando. Teremos que armar uma distração e encontrar o jornalista em um lugar fechado.

— Acho que sei como resolver isso. — Ele sorriu de leve. — Um dos pontos turísticos que estamos reformando é o centro do bairro em homenagem à imigração. Há muitos prédios com lojas pequenas, é um lugar movimentado, perto do metrô, e é comum algumas reuniões em uns desses prédios, por possuírem restaurantes nos andares mais altos. Se marcarmos com Sasuke em um desses prédios, posso marcar uma reunião com outra pessoa no mesmo dia, em horário diferente.

— Sasuke chega mais cedo e espera uma hora em uma sala do prédio, assim ninguém o veria. Nós chegaremos depois, você teria uma desculpa para ter estado lá e, então, nos encontramos com Sasuke — Ten-Ten concluiu.

— Podemos marcar com ele cedo, umas onze horas. Nós chegaríamos meio-dia com a desculpa de almoçar antes da reunião marcada para... uma hora?

— Isso nos daria uma hora para planejar tudo com Sasuke — Ten-Ten analisou, não muito satisfeita.

— Não, porque Hiashi não teria como saber se você está ou não comigo. Quando eu sair para a reunião, já estaremos no prédio. Os seguranças de Hiashi não nos seguirão de perto, então, não saberão que você ainda está falando com Sasuke enquanto eu estou em outra sala.

Ten-Ten mordeu o lábio ao chegar no quarto.

— É... pode dar certo. — Ela sorriu.

Neji a virou para si ao fechar a porta, segurou-a pela cintura e a encarou determinado.

— Dará certo — ele afirmou com convicção.

* * *

A expressão da diretora do curso de direito ao ver Naruto novamente em sua sala foi impagável. Como prometido, Neji havia regularizado sua permanência na faculdade até o término do curso, contudo, Naruto pôde muito bem perceber a diferença no olhar dos professores, a recente rispidez da fala ao se dirigirem a ele, o deboche implícito em algumas piadas ou comentários feitos ao decorrer da aula. Respirou fundo ao ouvir o sinal do intervalo. Teria que aturar aquilo, já havia passado mais da metade do curso, ele não iria desistir.

Conferiu o celular e sorriu para a foto que havia tirado de Sasuke na manhã do dia anterior enquanto ele dormia em sua cama. Estava apaixonado... e era engraçado constatar isso. Considerando tudo, o modo como se conheceram, o que os envolvia, todos os problemas que enfrentavam no momento, era engraçado admitir-se apaixonado em hora tão errada para isso. E, falando em hora, já eram quase dez horas.

Cutucou um amigo e pediu que assinasse seu nome na lista de chamada e recolheu o material. Sasuke tinha dito que Neji marcara às onze horas e, como o lugar era perto, daria tempo para chegar tranquilamente lá. Hinata queria ir junto, porém Naruto soube, no exato momento em que o telefone dela tocou, que ela não poderia ir mais.

Hanabi. De alguma forma, assim como o esperado, a irmã mais nova de Hinata havia dado um jeitinho de escapar da aula, e Hinata concordou rapidamente em buscá-la.

Assim como Sasuke havia recomendado, Naruto deixou o carro no estacionamento da faculdade e pegou o metrô mais próximo. Estava a cinco estações do lugar, não mais de quinze minutos. Aproveitaria para comer alguma coisa e então esperar por Sasuke. Felizmente, gostava do bairro em questão, era lotado de lojas com produtos voltados à cultura oriental, e ele poderia gastar o tempo em uma das muitas lojas, comprando pequenos objetos baratos, bonitos e de que ele não precisava.

Assim que chegou, a primeira coisa que fez foi dirigir-se ao restaurante de sempre, um pequeno e discreto restaurante em uma rua não tão movimentada, cuja entrada quase passava batido por muitos que não conheciam a região. Entrou e pediu lamén. Há quanto tempo não comia aquilo? Amava aquele prato! De olho no celular sobre a mesa, devorou a porção inteira que lhe foi servida e ficou extremamente tentado a pedir uma segunda. O que de fato fez, depois de responder uma mensagem de Sasuke, avisando a ele onde estava e sorrindo quando Sasuke respondeu que sabia onde era e que chegaria em cinco minutos.

Sasuke estava adiantado. Não que Naruto não imaginasse que ele fosse se adiantar, afinal, era de Sasuke que estava falando, ele provavelmente não conseguiria ficar em casa simplesmente aguardando pelo horário. Rapidamente, lembrou-se de trocar a foto de Sasuke no plano de fundo do celular e corou por isso. Ah, qual é, a foto era bonita! E, considerando que Sasuke não sabia sua senha, ele nunca iria saber que a usava como plano de fundo; só a estava trocando para não correr riscos.

Balançou a cabeça em negação, sentindo-se sem jeito e foi difícil saber, minutos depois, se a satisfação em seu rosto era pela segunda porção que acabava de ser colocada em sua mesa ou pela entrada de Sasuke no lugar. Acenou, embora tivesse certeza de que já havia sido visto.

Sasuke lhe sorriu, discreto, e cumprimentou Naruto com um breve selar de lábios antes de se sentar.

— Deu tudo certo na faculdade? — Sasuke perguntou.

— Sim. Recebeu mais alguma mensagem hoje?

— Não. Ten-Ten só ligou ontem para confirmar o local.

— Itachi não virá? — Naruto estranhou e ergueu a mão para chamar um dos garçons.

— Ele vai falar com a Ministra, quer deixá-la a par da situação para caso algo aconteça.

— Ah, então não era um blefe? — Naruto ficou surpreso.

— Não, mas não acho que Kurenai vá querer se interessar pelo assunto. Por que se interessaria? Não consigo vê-la ajudando.

— Ela já fez antes?

— Não que eu saiba. — Deu de ombros.

— Peça algo para comer, Itachi vai me matar se souber que você não comeu — Naruto resmungou enquanto o garçom se aproximava.

— Muito cedo para almoço. — Sasuke revirou os olhos e bufou, contrariado, quando Naruto continuou a encará-lo como se não desse valor à sua argumentação. — Uma porção de guioza — pediu ao garçom.

Naruto riu, baixo, e pegou mais do macarrão com os hashis, rapidamente levando-o à boca para que não escorregasse entre eles.

— Falta quanto tempo ainda?

— Meia hora. — Sasuke olhou para o relógio no pulso e apoiou-se nos cotovelos na mesa. — E, depois, mais uma hora até eles chegarem.

— Podemos olhar as lojas do prédio nessa uma hora. Tem um monte de coisas legais para comprar.

— Não me diga que você é do tipo que coleciona mangás e figure actions — Sasuke debochou com um sorriso de canto.

— Hey! Não esqueça as HQs. — Naruto fez-se de ofendido.

— Nunca vi nada disso no seu quarto, e sou bem observador.

— Não é como se você conhecesse muito os cômodos da minha casa, além do meu quarto, não é? — Naruto devolveu, arqueando a sobrancelha.

— E o banheiro, não se esqueça do banho de ontem, por favor — provocou e deu-se por contente quando Naruto engasgou com o macarrão e tossiu, vermelho.

— Enfim — Naruto retomou o fôlego. —, tenho um quarto para minha coleção de mangás e HQs. Ando um pouco desatualizado, mas, sim, sou um bom colecionador, do tipo que coloca cada edição em uma embalagem à vácuo e tem uma empregada duas vezes por semana para não deixar acumular pó. Acho que vou tentar comprar uns hoje, preciso tirar o atraso.

Sasuke riu, incrédulo, e agradeceu em voz baixa ao garçom que deixava seu pedido sobre a mesa.

— E você? — Naruto perguntou ao roubar um dos guiozas do prato do outro. — Coleciona algo? Além de inimigos, é claro.

Sasuke olhou de modo reprovador e terminou de abrir os hashis para poder começar a comer.

— Hum... acho que, além de inimigos, problemas.

— Disso não duvido, mas você tem cara daqueles garotos que colecionam livros, sabe? Por causa do jornalismo e tals.

— Não... — Sasuke pareceu pensar e depois voltou-se para Naruto.

Naruto engoliu em seco. Os olhos negros pareciam lhe analisar por um momento, como se buscassem algo em específico nele. Ao mesmo tempo, era como se estivessem fascinados. De repente, sentiu como se o segundo demorasse mais do que qualquer hora já vivida, como se Sasuke chamasse toda a sua atenção para si, sobressaindo-se no ambiente.

Engoliu em seco e não percebeu o macarrão escorrendo dos hashis. Sasuke sorriu, daquele modo como Naruto já havia percebido que ele pouco fazia. Era algo entre sincero e rendido, transmitia uma sensação de tranquilidade, como o amanhecer em um céu escuro que vai ganhando aos poucos os tons alaranjados e arranca dos telespectadores um suspiro profundo e reconfortante.

— Não são muitas coisas que conseguem prender minha atenção — Sasuke completou, sincero, ciente de que Naruto não entenderia a complexidade da frase, mas, talvez, ele pudesse compartilhar do sentimento que ela expunha.

Não esperou uma resposta, somente o rosto corado de Naruto e a forma como ele mordia o lábio inferior já eram o suficiente para aquele momento.

Terminaram de comer sem pressa e caminharam para o prédio. Como Naruto já havia dito, era um prédio em que em cada andar ficavam várias lojas agrupadas por temática.

O térreo possuía lojas voltadas à tecnologia, desde capas para celulares, carregadores falsos, imitações de tablets, até mesmo o modelo mais recente de um celular ou peças para computador. Acabou por aproveitar e comprar um mouse novo enquanto ouvia Naruto discutir com o vendedor sobre fones de ouvido. O primeiro andar possuía roupas, tanto fantasias quanto roupas orientais tradicionais. Não se demoraram ali, e Sasuke fez Naruto prometer não comentar daquele lugar com Sakura nem com Itachi, caso contrário tinha certeza de que seria obrigado por eles a levá-los para comprar todo tipo de veste que, obviamente, eles nunca usariam. O segundo andar foi o mais demorado, e Sasuke chegou a rir ao ouvir a discussão de Naruto com o vendedor de um dos mangás preferidos dele. Havia mais lojas, e Naruto podia facilmente comprar o volume da obra em qualquer outra, mas parecia que ele preferia convencer o vendedor do preço absurdo na prateleira. No fim, viu Naruto simplesmente resmungar algo enquanto o puxava pela mão para outra loja e o usava como empregado ao empilhar as obras em seus braços. Ao todo, vinte e oito volumes entre mangás e HQs e, ainda assim, ele não parecia satisfeito.

— Falta algum?

— Faltam três, mas depois acho. Já deu o horário? — Naruto perguntou ao pegar as sacolas.

— Já sim.

— Então temos que subir mais um andar. Tem o restaurante e algumas salas.

— Sala D-07 — Sasuke disse ao conferir o celular.

Subiram as escadas e não foi difícil achar o lugar. O relógio marcava meio dia em ponto e, ao abrirem a porta, viram Neji analisando alguns papéis, Ten-Ten andando de um lado para o outro ao celular e um segurança parado ao fundo.

Neji não disse nada e pediu silêncio a eles, indicando Ten-Ten. Eles assentiram e observaram a sala. Era uma típica sala de reuniões. Uma mesa retangular grande, de madeira escura com cadeiras com estofado branco, com exatos vinte e dois lugares. As paredes eram claras, e a luz conseguia preencher todo o ambiente. Havia um quadro branco em umas das paredes e um aparelho de projeção preso ao teto. A janela dava para a rua, com vista para a praça central do bairro, e Neji estava próximo a ela, encostado na parede e lendo alguns papéis. Ten-Ten parecia feliz, o sorriso aparecendo fácil enquanto ela conversava e arrumava os óculos escuros no rosto. Aquilo não era um bom sinal.

Ela desligou o telefone e se aproximou da mesa, puxou uma cadeira qualquer e se sentou ao passo em que indicava para que Sasuke e Naruto fizessem o mesmo.

— Chegaram agora? — ela indagou, preocupada, e descansou os óculos sobre a mesa.

­— Já estávamos no prédio no horário combinado — Sasuke respondeu após se sentar.

— Ótimo. Vamos ao que interessa — Neji parou atrás da cadeira de Ten-Ten. — Importam-se? — Indicou o segurança que se aproximava. — Não queremos nenhum gravador, não é?

Ten-Ten desligou o celular e mostrou para Sasuke e Naruto antes de colocá-lo no centro da mesa, fez o mesmo com o de Neji e os encarou enquanto o segurança esperava por novas ordens.

Sasuke praguejou e desligou o telefone, colocou-o sobre a mesa junto ao gravador que tinha no bolso da calça e fingiu não ver o olhar de "eu te disse" que Ten-Ten direcionou ao marido. Após isso, o segurança se aproximou e o revistou sem deixar nada passar em branco. Naruto foi o próximo, tendo a mochila também revistada, e, só assim, voltaram a se sentar.

— Como seu irmão já deve ter explicado a parte da trégua, não vamos perder tempo repetindo.

— Quero que me responda, antes, que te perguntei da última vez — Sasuke exigiu, sério. Ten-Ten cruzou os braços e se inclinou, levemente, na direção da mesa.

— Vamos responder tudo, mas primeiro precisamos combinar o que faremos sobre Hiashi. Neji só tem uma hora aqui, e, nessa parte da conversa, é importante ele estar presente. Depois, respondo o que você quer tanto saber — ela falou sem se abalar. — Hiashi está tentando obter algo contra Neji e Orochimaru para poder controlá-los. Haverá um novo esquema, e Orochimaru já aceitou participar dele, crente de que Hiashi também o fará.

— Acha que ele vai pular fora no último instante? — Sasuke franziu o cenho.

— Certeza de que vai — Neji respondeu. — É um esquema extremamente tosco, e ele quer muito que eu participe junto de Orochimaru. É claro que Hiashi é ambicioso, sei disso, ele também já participou, sim, de outros esquemas ruins, piores que esse, mas me arriscar neles? É a primeira vez, e ele não faria isso à toa.

— É só não aceitar — Naruto comentou o óbvio. — Não é? Aliás, por que você quer participar disso, Neji?

— Porque podemos devolver a armadilha, Naruto — Ten-Ten explicou. — Hiashi vai esperar o último momento para isso. Então, até lá, há os encontros, os jantares, as ligações, e todo o material que sempre pode vazar, entende?

— Onde entro nisso? — Sasuke perguntou.

— O primeiro encontro ainda vai ser marcado, não sabemos quando vai ocorrer ou quem são todos os políticos envolvidos. Nesse jantar, Neji e um aliado nosso estarão presentes e vão ser eles a gravar todo o jantar — Ten-Ten começou a explicar.

— Conveniente — Sasuke debochou.

— Sim, como há muitos interesses em jogo, não podemos ferrar todos os políticos da mesa. — Ela sorriu, sem se abalar. — Assim, Neji e essa outra pessoa gravarão justamente as conversas que apontem para Hiashi ou que nos sirvam de qualquer prova contra ele. Enquanto isso, você fica para fazer o que sabe melhor: cavar problemas. Sei que no seu computador há artigos antigos sobre Hiashi e, no meu computador, há tudo aquilo que te falta para chegar a algo mais sólido contra ele. Então, com o que você tem, com o que eu tenho, com o que você pode ainda achar e com a gravação de Neji, tenho certeza de que você pode fazer um bom trabalho.

— Acho que se esqueceu de que vocês me fizeram ser demitido — Sasuke ironizou, apesar de saber que a ideia apresentada não era ruim.

— Não é como se não soubéssemos que você tem outro meio de espalhar a notícia, Sasuke — Neji pontuou. — Além disso, seria suspeito demais te colocarmos naquele jornal novamente.

— Vocês não pagam Pain? Se eu passar a matéria para alguém de dentro, é só dizer para que ele a aprove.

Neji franziu o cenho e olhou para Ten-Ten que pareceu refletir um momento até se lembrar do nome.

— Ah, Pain é o diretor do jornal — ela explicou para Neji. — Mas não, não pagamos ele.

— Como não? Fui demitido, Sakura foi demitida, ele insistiu que ela não publicasse a matéria.

— Bem, então ele é sensato, não corrupto, devia estar tentando avisar sua amiga do que aconteceria. — Neji sorriu com escárnio. — Apesar de diretor, ele também recebe ordens, sabia? Do dono do jornal por exemplo. Pain é só o diretor de conteúdo.

— E é alguém insuportável. Quando ele começou a deixar você livre com as suas matérias, eu tive que falar com o dono do jornal para que ele tomasse alguma atitude. Provavelmente, ele entendeu o que estava acontecendo e tentou avisar sua amiga. Que foi? Revoltado por ele não ter feito um escândalo como você e publicado uma notícia ou tomado alguma atitude? — ela deduziu pela expressão surpresa e irritada de Sasuke. — Nem todos podem arriscar suas cabeças nesse jogo, sabia? Suborno só dá certo porque existem pessoas ou ambiciosas ou com contas demais a pagar, uma família a sustentar, coisas assim.

— Mas vocês poderiam garantir o emprego dele, não? — Naruto interrompeu no momento em que Sasuke se prontificou a responder Ten-Ten. — Afinal, vocês pagam o dono do jornal.

— Hiashi paga — Neji corrigiu, contrariado. — E eles são amigos há muito tempo, nem adianta. Além do mais, isso não é importante agora se Sasuke conseguir fazer com Hiashi o que fez com Orochimaru anos atrás. E, é claro, além dos seus amigos, Sasuke, nós também temos os nossos na sua área. Se conseguir que a matéria se espalhe nos jornais, nós conseguimos que isso vá ao ar na televisão.

Sasuke massageou a nuca. Teria que falar com muita gente, convencer a todos, e, sem emprego, seria um pouco mais difícil de se fazer ouvir. Mas não era impossível se houvesse um gatilho para tornar Hiashi o alvo de todos os jornalistas de política da cidade.

— Ok, mas vou precisar de uma matéria muito boa e de um "start" para conseguir isso.

— Podemos pensar em um enquanto você faz a matéria — Ten-Ten respondeu e conferiu o relógio no pulso. — Neji, a reunião. Acho melhor você já ir, não seria bom que te vissem saindo de uma sala para outra. Peça para nosso convidado entrar por favor.

Ele assentiu e pegou os papéis esquecidos sobre a mesa.

— Convidado? — Naruto indagou na defensiva, conhecia aquela expressão, digna de uma raposa, de Ten-Ten.

Antes que ela respondesse, Neji abriu a porta e chamou alguém no corredor. Naruto não entendeu, apesar de reconhecer de rosto o homem que entrava. Entretanto, soube que algo estava obviamente errado quando Sasuke simplesmente se levantou e o homem parou, surpreso demais para reagir, enquanto a porta se fechava às suas costas.

— Creio que o momento dispensa apresentações — Ten-Ten alfinetou. — Tem mais alguma pergunta que queira fazer, Sasuke? Acho que Deidara não se importará em responder. Fiquem à vontade para conversarem. Qualquer dúvida, só chamar que respondo.



Reviews?

Curtam a page para recadinhos, sorteio de livros, fanarts, avisos de fics: https://www.facebook.com/mypieceofdream/

Continue Reading

You'll Also Like

6.2K 550 14
Sasuke era um alfa sombrio, trabalhava como guarda para a rainha, era o melhor dos melhores mesmo tendo apenas 17 anos. Naruto era um ômega pobre, su...
265K 39.3K 73
Eu fui o arqueira, eu fui a presa Gritando, quem poderia me deixar, querido Mas quem poderia ficar? (Eu vejo através de mim, vejo através de mim) Por...
112K 7.3K 29
Isís tem 17 anos, ela está no terceiro ano do ensino médio, Isis é a típica nerd da escola apesar de sua aparência não ser de uma, ela é a melhor ami...
39.8K 3.4K 5
Naruto Uzumaki, loiro, olhos azuis, pele macia e de aparência atrativa, corpo normal para uma pessoa com seus 19 anos, pelo menos era o que pensava...