Apocalipse: A morte da Terra

By SimoneSMiranda

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A Terra está sendo atacada. Cidades ao redor do globo compartilham suas histórias, de vários pontos de vista... More

Nova Iorque - Emily Smith
Pequim - Li Wei
Curitiba - Ana Oliveira
Ilha de Páscoa - Ariki Teriitehau
Osaka - Ikeda Ren
Paris - Antoine Bourgeoir
Cairo - Horus Moubarak

Himalaia - Pasang Lhambu / Aleksi Petrov

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By SimoneSMiranda

Desde Janeiro, o planeta todo sofria com terremotos, aparentemente sem causa. Junto deles, revoadas de pássaros que seguiam grupos estranhos de pessoas verdes, que atacavam e transformavam bairros inteiros em zumbis, em menos de uma hora.

Grupos secretos eram formados na tentativa de informar a população sobre os ataques, em fóruns privados, redes sociais, correspondências digitais e impressas, mas ninguém acreditou. Cinco meses depois, após a conexão à internet, sinais de celular e telefones fixos serem cortados em 110 países, os noticiários saírem do ar, junto com todas as transmissões dos canais a cabo, e os ataques serem testemunhados em mais e mais lugares, eles finalmente acreditaram.

Não havia mais como esconder.

Os exércitos de todos os países lutavam em conjunto, deixando suas diferenças de lado, contra um inimigo em comum. Durante os ataques, milhares de soldados também foram transformados em zumbis, após paralisarem e gritarem mecanicamente por socorro.

 Em Maio daquele ano, um grupo de elite de soldados russos, liderado pelo General Aleksi Petrov, ficou perdido no Monte Evereste após sofrerem um acidente de avião. Eles viajavam de volta à Rússia, após finalizarem missões no Sri Lanka e Índia, contendo como podiam a onda de zumbis que assolavam cidades inteiras. 

Pasang Lhambu é uma das mulheres sherpa, guia há mais de 20 anos de turistas que desejam subir no topo do Evereste. Percebendo a espessa fumaça, emanando da montanha após a colisão do avião russo, foi imediatamente ajudá-los. Mesmo com todas as notícias que escutou sobre os ataques pelo mundo, nunca imaginaria ser uma das sobreviventes.

Na decida de volta ao Vale do Khumbu, onde morava, pediu ajuda ao Exército do Nepal, que se instalara ali há algumas semanas. O Tenente Lhapka Gelu, responsável por relatar qualquer evento relacionado aos ataques zumbis na região, sentou-se com ela dentro de uma das tendas armadas pelos soldados, ligando um gravador antigo colocado no chão.

- Tenente Gelu, reportando sobre o primeiro ataque no Himalaia. Senhorita Pasang Lhambu irá testemunhar seu encontro com os esverdeados e esperamos conseguir mais informações para combatê-los. Caso não possua informações relevantes, esta fita será apagada... Sem pressão! - ele sorriu para ela, tentando acalmá-la. - Pode começar com a descoberta do avião. Você viu o avião, a fumaça e foi ajudá-los...

- Sim... - começou nervosa, arrumando a coberta nas costas. Tremia. - Saía muita fumaça do avião, e ele estava coberto de gosma vermelha. A frente estava completamente arruinada. Nos destroços, corpos mutilados, queimados, nunca vi algo assim!

- E de onde vieram os esverdeados?

- Todos chamam de zumbis, por que você os chama de "esverdeados"?

- Porque todos tem certeza de que são zumbis. Eu não! - sorriu, orgulhoso. - Diga-me, você não viu algo diferente neles? Diferente do que sempre soubemos sobre zumbis? Eu não vejo padrão nenhum!

- E por acaso, antes de realmente acontecer, sabíamos como seriam zumbis? Morto, vivo, come cérebros, fígados, são verdes, amarelos, azuis... Não existe padrão, a não ser o que inventamos sobre eles no passado. Agora é real! Estes são os zumbis da vida real!

- Certo, certo... continue... - respondeu, sem querer discutir com ela.

- Vi pegadas no chão... A neve e as cinzas que caíam já as cobriam, mas eu sei como procurar pessoas perdidas nessas montanhas. Foi aí que encontrei Petrov, a pessoa que comandava o grupo do avião. Falamos pouco, pois a diferença das línguas dificultou nossa compreensão. Estava com uniforme militar e a bandeira da Russia bordada no braço. Ele estava em choque, chorava, apontando para o céu, o avião e as montanhas, como se a culpa do acidente fosse dele, ou se se culpasse por ser o único sobrevivente. Aquela gosma estava nele também, no rosto e nas mãos.

- Os deuses nos ajudem... As pessoas no avião se transformaram em cima desse homem?

- Não sei dizer... Pelo pouco que entendi, haviam zumbis do lado de fora, nas montanhas, que fizeram o avião cair. Talvez, conseguiram entrar e transformar os passageiros?

- Como eles entrariam em um avião, em pleno voo?

- O planeta está sendo atacado por esses monstros... Aparentemente eles tem muitas habilidades... - o olhar dela tornou-se fixo, imaginando como os zumbis teriam derrubado o avião.

- E onde este tal de Petrov está agora?

- Quando os zumbis apareceram, ele saiu correndo. Tentei dizer que estava indo na direção errada, mas ele não entendeu, mesmo que eu apontasse em direção ao Vale. Eu saí correndo e vim direto para cá.

- Pena... Realmente não adiciona nada à nossa base de dados. Tudo o que você me disse já sabemos... - falou ele, decepcionado, parando a gravação.

- Tenente Gelu, senhor! - disse um soldado, afobado, entrando na tenda. - Encontramos o russo, senhor!

- Tragam-no para cá, já! E me traga um dicionário russo... - ordenou, recebendo uma continência do soldado em resposta.

Aleksi Petrov estava quase congelando. Precisou de algum tempo próximo ao aquecedor dos militares, até conseguir mover-se e pensar corretamente. Assim que suas condições melhoraram, o tenente foi falar com ele, na esperança de obter informações para o combate.

- Senhor Petrov? - disse o tenente, recebendo um aceno positivo com a cabeça. - Como... avião... cair? - perguntou lentamente, procurando as palavras no dicionário russo, tentando adivinhar como pronunciar as palavras.

- Oni vyshli iz niotkuda! Oni prygali s gory, pryamo na samolete! Ne bespokoit', yesli oni sobirayutsya umeret' ili net... Neskol'ko popal v turbinu, no oni dazhe ne bespokoit'! - Aleksi começou a falar sem parar, com os olhos arregalados, enquanto o tenente folheava o dicionário.

- Acalmar... acalmar! - disse em um russo mal pronunciado. - Devagar, por favor? Menos... palavra... devagar.

- Pravyy, pravyy... - o russo respirou fundo, dizendo palavra por palavra, esperando que o tenente as procurasse no dicionário e tentasse juntá-las para formar as frases.

Muito tempo depois conseguiu juntar em um texto e recitar, reiniciando a gravação na fita:

"Eles vieram do nada! Pularam das montanhas, direto no avião! Nem se preocuparam se iam morrer ou não... Vários atingiram as turbinas, mas eles nem se importaram! Partes do corpo foram destroçadas nas hélices! Continuaram escalando o avião, enfiando seus dentes afiados no metal e abrindo buracos, como se rasgassem papel. Meus soldados paralisaram, gritavam "Me ajude" e eu sabia o que estava prestes a acontecer... Víamos isso durante as missões, mas nunca imaginaria que meus próprios soldados se transformariam naquelas coisas! Eu os puxava para longe, mas não saíam do lugar. O piloto e co-piloto já estavam transformados, pingando pele e músculos derretidos pela cabine, quando percebi que iríamos bater nas montanhas. Tudo voava, as malas, as cadeiras, os monstros, tudo era sugado para fora, pelos buracos que eles fizeram para entrar. Sentei, coloquei o cinto e respirei pela máscara de oxigênio, enquanto via um dos monstros encostar em um dos soldados, preso pelo cinto ao meu lado, e transformá-lo. A pele e músculos dele voaram para cima de mim, mas ele não me atacou. Ficou imóvel, olhando para mim, sem medo algum pela queda do avião que se aproximava. Vomitei. É a última lembrança que tenho do ataque... Quando acordei e consegui me soltar, vi a moça sherpa, mas deixei ela para trás quando outro grupo nos alcançou em meio à neve. Lutamos há muito meses para saber que não vamos conseguir vencer os zumbis... Não vamos vencê-los, e essa é a realidade... Meus soldados, ou morreram no acidente ou foram transformados. Sinto por eles, mas todos sabiam do risco. Coletamos mais informações importantes, estão em um disco, no avião. Espero que o General do Egito ainda tenha meios de abri-lo. Os zumbis são atraídos por brilho. Seja o que for: luzes, jóias, vidro, câmeras, tags de soldado... Não deixem que reflitam qualquer brilho na direção deles! Achávamos que estaríamos seguros no avião, mas as luzes devem tê-los atraído. Bombas, barricadas, tiros, nada adianta, eles continuam atacando sem se importar com a morte. Não importa quantos sejam abatidos, eles nunca param... Perdemos o Sri Lanka e a Índia. Tudo o que nos resta é esconder os sobreviventes, e vivermos assim... para sempre."

- Ele é um soldado, pelos deuses! Como pode perder as esperanças dessa maneira? - falou Pasang, após escutar o texto completo, traduzido pelo tenente.

- Pelo menos nos deram uma informação que não sabíamos... Devemos ter cuidado com tudo o que possa brilhar!

- E voltar à era pré-histórica? As cidades não podem funcionar sem luz! Eletricidade é um item básico para o homem moderno, até aqui no Vale! Nós, sherpas, somos diferentes... Somos mais fortes e resistentes, mas as pessoas comuns não tem nem chance, sem seus banhos quentes e aquecedores!

- Eu sei, eu sei... Mas o que faremos? Como vamos impedir que todo o Nepal seja perdido, transformado pelos esverdeados? Minha missão é apenas recolher dados e passar para o General no Egito. Precisamos resgatar este disco no avião e enviar para eles... Pode conter informações importantes, que podem nos ajudar também.

- Não se preocupe... Assim que amanhecer eu vou até o local da queda junto com um grupo sherpa e procuramos o disco para você, com uma condição: antes dos zumbis descerem das montanhas, e eles vão descer, eu, minha família e qualquer um que eu quiser, terá prioridade do exército para serem levados daqui, e serão mantidos em segurança. Concorda?

****

Uma semana depois, um pequeno disco e uma fita cassete, intitulada "Himalaia - Pasang Lhambu/Aleksi Petrov" chegou às mãos do General no Egito.

- Elas estão demorando cada vez mais para chegar... - reclamou. - As investidas seriam muito mais fáceis se soubéssemos das luzes antes! - bateu na mesa, após escutar os relatos gravados. - Ordene que interrompam qualquer abastecimento elétrico que o exército não precise.

- E a cidade, senhor? - perguntou a Major.

- Desligue.

- Mas, senhor...!

- Desligue! É uma ordem! Antes que haja tumulto, envie equipes até os refugiados e explique a situação. Tirem deles, mesmo que à força, qualquer peça que possa refletir ou brilhar. Com certeza eles aceitarão calados, já que o faremos para proteção da população. Transmita como puder aos postos militares que ainda contam com comunicações. Quem sabe agora teremos mais tempo, até descobrirmos um jeito de detê-los...

- Sim, senhor.

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