Filosofia para Corajosos- Lui...

By Siquers

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O objetivo deste livro é ajudar o leitor a pensar com a sua própria cabeça. Para tal, o filósofo e escritor L... More

APRESENTAÇÃO
PARTE I
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
PARTE II
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
PARTE III
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 14

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By Siquers


A ética dos valores

O que são valores morais? Todo mundo fala, mas ninguém sabe ao

certo. Uma dica: quando você ouvir alguém falando muito de valores

isso, valores aquilo, cuidado! Ele vai bater sua carteira (excluí o

"ela" aqui porque não acho que as mulheres costumam ser tão

criminosas como os homens, e, quando o são, o dano moral é

sempre maior para elas). Outro papo comum hoje sobre o tema

valores é: "Ninguém hoje tem mais valores". O interessante dessa

ladainha é que, ao mesmo tempo, quem lamenta a morte dos valores

é o mesmo que acha que tudo deve ser novo e dissociado do passado.

Valores só existem quando existem condutas bem marcadas por

expectativas sociais que herdamos para além de nossa vontade. Essa

moçada pensa que valores são coisas que você escolhe como um

desodorante ou uma banda de música.

Quando se fala em valores morais se quer dizer coisas

como honestidade, fidelidade, sinceridade, trabalho, liberdade,

coisas assim. A filosofia moral começa a falar em valores a partir do

século XIX, no sentido de marcas positivas de comportamento que se

somariam ao convívio humano ou tornariam a vida menos sofrida.

Valores morais são cultivados por uma sociedade ou uma tradição ao

longo do tempo. Pode-se dizer, por exemplo, que a caridade é um

valor cristão, porque os cristãos e seus textos sagrados a valorizam

como comportamento positivo. Ao contrário, a usura não seria um

valor cristão, porque seria desvalorizada ou valorizada de modo

negativo pelos cristãos e seus textos sagrados.

O filósofo que mais falou desses valores foi o próprio

Nietzsche, para dizer que eram uma criação dos fracos para controlar

os fortes, porque estes eram fonte de valor para si mesmos. Isso

significa que esse homem nietzschiano, o super-homem, não precisa

de marcas de comportamento exteriores a ele, e que essas marcas

sejam criadas pela sociedade para controlá-lo. Para o romântico

alemão, a força, a coragem, a espontaneidade são valores que brotam

da força interna do homem ou da mulher, que são superiores. Essa

força interna é a vontade de potência de que tanto fala Nietzsche.

No mundo contemporâneo, a herança nietzschiana,

principalmente de corte francês, em filósofos como Gilles Deleuze e

Michel Foucault, e o caráter relativo dos valores ficaram expostos, e,

portanto, sua validade é relativa a tempo e espaço específicos. Se

formos para trás um pouco no tempo, e chegarmos ao século XVII,

em filósofos como Blaise Pascal, ou no XVI, em Michel de

Montaigne, ambos carregados de teor cético em seus argumentos, ou

mais atrás ainda, e formos aos últimos séculos da era pré-cristã na

Grécia, e ouvirmos as vozes dos sofistas e céticos, veremos que

todos eles, apesar de não usarem a expressão valores, sempre foram

relativistas. Pascal chega a afirmar que, se o nariz de Cleópatra fosse

outro, a história do mundo seria outra. Logo, os valores seriam

outros.

O problema da ética dos valores é que ela é, no fundo, uma

ética que pressupõe tradições históricas que se impõem às pessoas

que nelas vivem. A modernidade, e seu ódio à ideia de tradição e

permanência no tempo, anseia por valores, mas é arredia à própria

ideia de valores morais, porque os considera opressores. A paixão

pelo novo, traço brega da modernidade, a impede que valorize

qualquer noção de passado, e os valores, para funcionar, precisam

estar ancorados numa experiência de perenidade.

Entretanto, não duvide que existam valores no mundo

contemporâneo, e posso dar alguns exemplos deles: eficácia,

objetividade, produtividade. Você já imaginou recusá-los? Como é a

vida de alguém que não aceita esses valores? Boa sorte se você quiser

fazer a experiência. É assim, sentindo o peso dos valores, que você

percebe o que são os valores de uma cultura. Os bonitinhos de nosso

mundo gostam de posar de valores éticos, mas a ética deles é mesmo

a do sucesso, da vaidade e da eficácia. Suspeito que nunca existiu uma

época tão ridícula como a nossa em sua farsa ética.

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