- Gray, fecha os olhos.
-Até parece que eu vejo muita coisa nesta escuridão, Natsu.- o Gray está sentado num canto muito pouco iluminado, de pernas á chinês.
-Se não houvesse qualquer iluminação, eu não estava a olhar para ti neste momento, seu imbecil.
-Vamos começar?
-Decide tu.- fechei os olhos e soltei um suspiro impaciente.- Estou aflito.
-E eu não estou?!
-Eu estou aflito para fazer as minhas necessidades! Não entendas coisas erradas! Agora, fecha os olhos.
-Por favor, Natsu. Somos homens. E para te refrescar a memória, já vi muito mais que isso quando tomamos banho no balneário da escola.- ele piscou o olho e sorriu com ar de gozo.
Grunhi bem alto só da raiva e ia preparar-me para me sentar no penico nojento deixado por quem quer que tenha sido, quando a luz apagou e eu assustei-me muito e acabei por fazer tudo.
-DE NOVO ESTE JOGO?!- o Gray berrou.- ESTOU A FICAR FARTO!
-PARECE QUE NOS TÊM AQUI FECHADOS PARA ALGUMA EXPERIÊNCIA BIZARRA, PORRA! QUERO SAIR DAQUI!
- E que tal não dares ideias, Natsu?!
A luz voltou a acender e verifiquei que havia um rolo de papel higiénico a alguns metros de mim.
Por momentos, pensei que nem digno de ter papel higiénico era.
- Natsu, tu urinaste para fora do vaso?!- o Gray está de pé, desta vez mais próximo de mim e com ar enojado.
Olhei para o chão e realmente existia uma poça de líquido em torno dos meus pés.
-Que nojo!- lamentei-me e agarrei no rolo para limpar o chão.
-Espero não ficar muito mais tempo aqui preso... contigo.
-Eu não digo o mesmo por um motivo. Se sairmos daqui, essa tua boca grande vai revelar tudo o que se passou aqui, incluindo isto!- apontei para a poça, já mais pequena por eu ter limpado uma parte.
-Queres mesmo falar sobre ter uma boca grande?! É que só te enterras, Natsu. Dás as ideias às pessoas e depois ainda te admiras, seu porco.
E pronto, começamos a nossa típica guerra diária, normalmente sempre travada por alguém racional, mas que desta vez não teria fim.
Lucy on:
Ainda estávamos a ter um ataque de riso pelo facto de o Natsu ter urinado fora do penico. Eu sei que parece um bocado mau, mas a Lisanna tem câmaras instaladas naquela sala e decidimos ligá-las para controlarmos um pouco o que se passa. A Mira, por ser mais sorrateira, entra sempre que for necessário no nosso "cativeiro improvisado" para deixar algumas coisas essenciais de que nos podemos ter esquecido, enquanto eu e a Lisanna ficamos de olho na atividade dos nossos prisioneiros.
-Meu deus, o que vimos nós no Natsu!? HAHAHAHA!- a Lisanna abraçou a barriga de tanto rir.
Apesar de ser descuidado e extremamente infantil, eu acho que vejo muita coisa no Natsu, positivamente. Mas neste momento quero divertir-me um pouco através da arte de torturar.
-Eles adormeceram.- apontei para o monitor onde posso observar o Natsu e o Gray dormir abraçados, depois de uma interminável guerra, com certeza.
-Então isso quer dizer que podemos iniciar a segunda fase do nosso tratamento de luxo?- ela sorriu maleficamente enquanto eu esfregava as mãos com um sorriso divertido.
-Meninas, já arranjei os marcadores!- a Mira apareceu no escritório com uma saca branca com marcadores pretos permanentes.
-Mesmo a tempo! Então vamos entrar em ação!
-Mira, vem connosco!
-Não, Lisanna... tu sabes que se eu começar, nunca mais conseguirei parar...- uma aura negra saiu dela e depois as três soltamos gargalhadas.
Fomos ao "cativeiro" através de uma das passagens secretas e aproximamo-nos deles.
-Meu deus, sinto uma coisa estranha dentro de mim.- sussurrei.
-É a adrenalina, Lucy. É a sensação mais maravilhosa do mundo! Com a prática, tu habituas-te.- ela piscou o olho e sorriu com ar cúmplice e maléfico.
Retirei o meu casaco e assim começamos a trabalhar. Desenhei um bigode horrível e enorme na cara do Natsu e depois acrescentei uma monossobrancelha.
A Lisanna desenhou uns óculos tortos na cara do Gray e fez uma verruga horrível.
-Por agora chega... daqui a umas horas, regressamos.
Segui a Lisanna para fora do quarto e decidimos ficar alerta pelas câmaras, mas o facto aqui é que tanto o Gray como o Natsu dormem que nem calhaus.
-Vocês não têm fome?- o Elfman entrou no escritório com uma bandeja de comida.- Venham lá para baixo! Eu chamei aqui alguns amigos!
Seguimo-lo e quando chegamos à sala de estar, estavam lá o Jellal, o Laxus, o Gajeel e por fim a Levy.
- O que fazem aqui?- perguntei.
-Bem, eu só vim pela Levy. A baixinha é muito insistente.- o Gajeel cruzou os braços com ar impaciente.- Mas tenho que admitir, estou curioso com essa tal vingança.
- Viemos porque queremos ajudar na punição, Lucy.- o Jellal deu um sorriso assustador.
-Pois, temos umas contas a acertar com aqueles imbecis...
-Que contas, Laxus?- a Mira quis logo saber e sentou-se ao pé do Elfman.
-Não interessam agora...- ele coçou a sobrancelha e corou um bocado.- São coisas nossas e queremos retrocar, eu e o Jellal.
Estou com muito medo destes dois... O Jellal até parece a Erza, na maior parte das vezes e o Laxus é simplesmente assustador.... Resumindo, o Natsu e o Gray estão enterrados até ao pescoço, mas eu até acho bem feita.
-E a Erza não veio, Jellal? Eu queria falar com ela.- a Levy falou pela primeira vez.
-Eu não sei porque é que estás a perguntar-me a mim sobre ISSO.- ele fez uma pausa, mas ninguém disse nada.- Pronto, tudo bem. Eu estava com a Erza ainda há pouco, mas ela acha isto insano, então ela nem quis alinhar.
-O que é uma pena. Mas adiante, qualquer ideia que vocês tenham, é só dizer.- a Lisanna sorriu com ar venenoso.- Eles agora estão a dormir, mas venham ver!
Fomos todos até ao escritório e ligamos o monitor.
Natsu on:
Acordei repentinamente e com uma dor nas costas horrível. Meu deus, estou preocupado com tantas coisas! Com o Happy, apesar de só ter de ir buscá-lo daqui a uns dias e principalmente sinto saudades da Luce. A sério, eu morro tanto de saudades que até me abracei ao Gray a pensar que era ela, mas agora que penso nisto com clareza, arrependo-me só por ser esse falhado.
O Gray ainda estava a dormir e eu tinha muita fome. Então decidi ir buscar uma barra de cereais e em menos de um minuto já a tinha comido. A fome domina-me de uma maneira descontrolada, então sem dar fé, comi tudo o que havia.
-Ainda não estou satisfeito...- fiz uma leve massagem à minha barriga, que não parava de berrar por mais.
-Humm, tanta fome.- o Gray sentou-se e nesse momento, apesar de não estar na melhor situação do mundo, chorei de rir pelo que vi.
Com a fome, nem reparei na pintura facial incrível do Gray.
-O que foi, seu...- ele começou a conter o riso e começou a rir do nada também, nem sei porquê...
-Gray, não sabia que usavas óculos!- soltei uma risada alta e rebolei no chão de tanto rir.
-E eu não sabia que não fazias a depilação a esse ponto! Pareces um macaco!!- ele também se começou a rir mas parou de repente.- Espera, que história é essa dos óculos?!
-E que história é essa da depilação?!
Ficamos a olhar um para o outro e caiu-nos a ficha... ou pelo menos, a mim caiu.
-NÃO!!- gritamos em uníssono e começamos a passar as mãos pela cara.
-Já saiu?- o Gray perguntou com a cara toda vermelha de esfregar e eu neguei preocupado.
-Tinta permanente, meu amigo.- declarei e chorei mentalmente com as dores que irei sentir ao limpar-me quando sair daqui.
-Quem fez isto?!
-Não tem piada! Eu tenho fome, estou suado, tenho a cara toda suja, a coluna toda partida e saudades da minha namorada!
-Natsu, respira fundo, temos de manter a calma!
É verdade, eu fervo em pouca água. Estou quase a colapsar de raiva!
-Aquilo é teu?
Olhamos ao mesmo tempo para o chão e vi o casaco cinza da Luce!
-Mas o que quer isto dizer?!- agarrei no casaco e cheirei-o.
De facto, é da Luce. Mas porque está aqui?
- Não compreendo... ESPERA! Podem ter raptado a Luce como fizeram conosco! Meu deus, tenho de fazer alguma coisa, eu importo-me muito com ela, Gray! Ela não vai aguentar com o susto!
-Natsu...
-LUCEE, ONDE ESTÁS?
-NATSU!! Eu acho que foi a Lucy quem nos prendeu aqui! Deixa de ter raciocínio lento, porra!
-Não, achas?! A Luce já me perdoou e aposto que é uma questão de tempo para perdoar a ti também!
-Natsu, tu és mesmo burro. Isto é obra das miúdas.
-Gray, não me irrites, eu já estou a ferver!!
Sentei-me num canto e fechei os olhos. Estou a dar em doido! A Luce não tem coragem suficiente para fazer isso. Aliás, sou eu quem está em causa, por isso duvido muito! Ou será que é como o Gray diz?