Quando os Pássaros Pousam e O...

By JulieteVasconcelos

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O vento sopra as folhas do milharal levando para longe o fedor da carne pútrida, enquanto alguns pássaros sob... More

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UM
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QUINZE
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DEZESSETE
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DEZENOVE
VINTE
VINTE E UM
Esclarecimentos e Agradecimentos

DOZE

163 29 5
By JulieteVasconcelos

Danna: Os Bastardos do Lote 502

Los Angeles, Califórnia

— Dora? — sussurrou enquanto acariciava o rosto delicadamente pálido à sua frente. — Princesa? — chamou ao ver a jovem abrir os olhos devagar e sorrir para ele.

— Que horas são, amor? — perguntou ela após lhe dar um selinho.

— Já são quase 20 horas e eu preciso deixar você na sua casa em uma hora.

— Ah, não! Não quero ir embora, Jean! — declarou virando de costas para ele.

— Princesa, eu avisei que ia viajar essa noite, tenho um voo para as 22h, lembra? — falou acariciando os seus cabelos longos e loiros, afastando-os em seguida e depositando um beijo demorado em sua nuca.

— Posso te esperar aqui, amor — falou levando uma das mãos para trás, tocando a virilha e em seguida o sexo do namorado, que já dava sinais de querer enrijecer.

— Hum — gemeu com o carinho. — Já falamos sobre isso, Dora! Continue... — respondeu ele excitado.

— Não — retrucou ela se virando de frente para ele. — Minha mãe já aceitou nosso namoro, ela adora você! Por que essa paranoia de que pode, a qualquer momento, contrariá-la? Que mal há em dormir no apartamento do meu namorado e em breve noivo?

— Dora, minha princesa, só não fico tranquilo com o fato de você ficar sozinha nesse apartamento quando viajo, não acho que seja seguro, entende?

— Estamos numa das maiores coberturas de Los Angeles — constatou rindo. — Se aqui não é seguro...

Jean a interrompeu com um beijo.

— Não, Dora! Só não quero você sozinha aqui, quando pode ficar mais confortável na sua casa, rodeada de pessoas para cuidar de você.

— Eu sei cuidar de mim, Jean! — retrucou irritada.

— Não, não sabe! Além do mais, não daria tempo de abastecer a geladeira e...

— Posso pedir pelo telefone...

— De jeito nenhum! Não adianta insistir, princesa, não há nada que você diga que me faça mudar de ideia em relação a isso.

— Tem certeza? — perguntou provocativa, puxando o cobertor para cima da sua cabeça.

— Dora... — chamou, mas se calou ao sentir a namorada abocanhar o seu membro agora totalmente rígido.

— Quer que eu pare? — perguntou ela debaixo da coberta.

— Não ouse! — respondeu apoiando uma das suas mãos sobre a cabeça da namorada, incentivando-a a continuar.

— Como estou? — Jean perguntou ao terminar de abotoar a manga da camisa lilás.

— Gato como sempre! — respondeu Dora enrolada na toalha de banho. — E muito gostoso por sinal! — concluiu, ao que ele sorriu em agradecimento.

— Vista-se, amor, ou sairemos atrasados.

— Ok — respondeu com um muxoxo. — Jean? — chamou enquanto se desenrolava da toalha.

— Oi, princesa! — respondeu penteando os cabelos castanhos com os dedos em frente ao espelho.

— E o nosso jantar de noivado? Já era pra ter acontecido, não? — Encarou-o.

— Dora, meu amor, tenho viajado tanto... Não acha melhor noivarmos quando eu não precisar me ausentar tanto da cidade? — perguntou sorrindo, disfarçando o desconforto que aquela pergunta lhe causara.

— E quando será isso? — perguntou ela tentando soar indiferente.

— Logo...

— Me disse a mesma coisa há dez meses, Jean! — lembrou sem conter a irritação. — Qual é o problema? É só ficarmos noivos, não precisamos marcar já a data do casamento, Jean! É só darmos mais um passo e...

— Está bem, princesa! Vamos falar disso quando eu voltar, pode ser? — perguntou puxando a garota ainda nua para um abraço, deixando escorregar uma das suas mãos para as nádegas de Dora. — Hein? — insistiu, e sem lhe dar tempo para qualquer resposta, a beijou às pressas, empurrando-a para cama enquanto abria o zíper da calça.

Dora sabia o que o namorado estava fazendo, mais uma vez calava suas objeções com sexo. Era sempre assim, desde o início do relacionamento, de certa forma, Dora se acostumara, pois toda vez que ela o lembrava das suas expectativas para o noivado, ele a levava para cama. Suas amigas a confortavam dizendo que o rapaz devia ter medo de dar tamanho passo, como tantos outros homens que fugiam do casamento, e era nisso que ela também acreditava.

Noivar, casar e ter filhos com Dora, era certamente o maior sonho de Jean, mas correr o risco de ser descoberto pelos pais da namorada, a influente família Parkson, estava fora de cogitação.

Jean mal completara seus vinte e quatro anos, e todos acreditavam, inclusive Dora, que ele administrava sozinho o patrimônio que o pai irlandês lhe deixara, o que justificava tantas viagens para Irlanda, além do conforto ostentado pelo rapaz.

Há muito tempo, o dinheiro deixara de ser um problema para o rapaz, mas expor suas fontes não era uma boa opção.

A verdade é que Jean Barrys, aos seus quinze anos, fugiu da casa de seus pais adotivos, e conheceu, num café em que começou a trabalhar, um velho irlandês que viera à cidade à negócios. O homem, chamado Escobar Golasks, com mais de cinquenta anos na ocasião, se encantou com a beleza do rapaz e logo se declarou apaixonado, assim, ofereceu-lhe o mundo caso se relacionasse com ele.

Embora receoso, Jean foi seduzido pelos presentes caros e pela vida farta que aquele homem poderia lhe proporcionar. Jean partiu para a Irlanda, onde a relação durou quase seis anos, e só acabou porque o irlandês adoeceu gravemente e faleceu, mas não sem antes passar para seu jovem amante tudo aquilo que julgou ser de direito e por merecimento pelos anos felizes proporcionados por Jean.

Foi após a morte de Escobar que Jean retornou aos Estados Unidos e passou a se referir a ele como pai, justificando assim tudo o que o amante lhe havia deixado, adotando a partir daí o seu sobrenome: Jean Golasks.

No entanto, Jean não possuía qualquer dom para os negócios, assim como não via outras opções para ganhar mais dinheiro, a não ser por meio de novos amantes. Foi assim que o rapaz se tornou, como seus clientes gostam de chamar, um acompanhante de luxo.

Jean atendia tanto homens quanto mulheres, fossem eles jovens ou mais velhos, assim como solteiros e casados. Desde que lhe pagassem o preço requerido, não recusava ninguém, se colocando à disposição para viagens breves e até mesmo de grandes temporadas.

O rapaz sabia que nem Dora, nem sua família, aceitariam sua forma de ganhar a vida, por isso, há meses buscava uma forma de construir algo mais sólido, um negócio qualquer, mas que justificasse seus ganhos. No entanto, Jean não possuía nenhuma formação, nem interesse ou vocação para mais nada que não fosse a vida que levava. Tudo que contara para a família Parkson era uma mentira, assim como tudo que lhes mostrara era falso. E Jean precisava torná-los reais antes de oficializar seu noivado, para evitar que, após o evento, viessem a especular a sua vida ou mesmo que suspeitassem de algo.

Por isso o rapaz relutava em deixar Dora sozinha em seus aposentos, receava que a namorada encontrasse algo que denunciasse sua vida dupla.

Jean dirigia atento às coordenadas do GPS, ansioso para chegar ao local de encontro.

O rapaz ignorava detalhes sobre seu mais novo cliente, tudo que sabia é que ele o procurara por causa de uma recomendação, ao menos era isso que Dan Smith dissera ao fazer seu primeiro contato por telefone. Dan, como a maioria dos seus clientes, exigiu discrição, confidenciando ter grande influência política e uma imagem imaculada para zelar. Assim, contratou os serviços do rapaz por dois dias, onde fariam uma curta viagem.

Jean estava acostumado a passar dias e até semanas inteiras à disposição dos seus clientes.

Apesar da sua relação com Dora e a certeza de que ela o rejeitaria por sua verdadeira profissão, Jean amava a vida que levava e não tinha planos de mudá-la, mas sim continuar a vivê-la em segredo.

Depois de quase meia hora dirigindo, o GPS anunciava que chegavam ao destino final, enquanto Jean encarava estupefato o local escolhido por Dan, pois não bastasse tê-lo conduzido aos subúrbios de Los Angeles, o levara ao local onde jamais imaginaria que um político ousasse entrar.

Jean adentrara uma viela estreita, onde as caçambas e entulhos não o permitiram seguir com seu carro, forçando-o a estacionar, já que o percurso só era possível a pé.

— Sério? — Jean sentiu sua empolgação por encontrar Dan se esvair, agora relutava em mover as mãos do volante, embora o carro já não estivesse em movimento.

Há aproximadamente quinhentos metros dali, o rapaz analisava o letreiro brilhante da velha fachada de um pub, que mesmo com algumas luzes queimadas, dava a Jean a certeza de que não errara o local e que o mesmo estava em funcionamento.

Jean riu sozinho, embora em dúvida se ria do gosto peculiar de seu cliente ou de si pela situação em que se encontrava.

— Só espero que você​ seja um puto gostoso ou nem o seu dinheiro irá compensar isso! — falou alto, decidido a entrar.

Jean saiu do carro, trancou-o e seguiu na direção do pub, de onde vinha um som abafado. Logo notou a inexistência de seguranças na entrada, o que lhe pareceu estranho. A passos curtos, sem qualquer pressa, o rapaz ajustou o colarinho da camisa, arrependido pela escolha de roupa que fizera, pois certamente não estava vestido à caráter e acabaria por chamar atenção, o que poderia desagradar o seu cliente.

Indeciso, Jean apanhou o celular do bolso e cogitou ligar para o número de Dan, mas acabou por enviar uma SMS avisando que havia chegado, disposto a esperar ali fora por uma resposta.

Embora não estivesse disposto a entrar, caminhou firme na direção do Pub, de onde esperava ver sair Dan.

E foi ao se aproximar que Jean viu em meio às luzes fracas, encostada na parede do Pub uma silhueta feminina que chamou sua atenção.

A garota, cujas curvas eram minuciosamente analisadas pelo rapaz, encarava-o enquanto tragava seu cigarro. Seus cabelos escuros, longos e lisos caíam sobre a jaqueta de couro preta que trazia colada ao corpo, assim como a calça que deixava em evidência suas coxas e pernas torneadas.

A garota, percebendo o olhar curioso do rapaz, agora sorria convidativa, o que o fez sorrir em resposta.

Jean sabia que logo estaria com Dan, mas não via problemas em fazê-lo esperar alguns minutos, então reforçou o lindo sorriso e ao invés de seguir pelo calçamento que dava na entrada do Pub, caminhou na direção da moça.
Foi só quando Jean atravessou a rua, quando ouviu o ronco de uma moto arrancar, vindo veloz na sua direção, é que percebeu que havia mais alguém ali.

E antes mesmo de perceber o que estava prestes a acontecer, Jean foi arremessado para longe, colidindo com a parede para em seguida se chocar com os entulhos no chão.

O rapaz caíra consciente, as dores provocadas pela colisão faziam-no gemer e rolar, incapaz de conseguir se levantar. Jean viu o motoqueiro que o atropelara se aproximar e parar à sua frente.

— M-me ajude! — pediu enquanto o motoqueiro removia o próprio capacete devagar. — V-você precisa m-me levar para o hospital... As chaves do meu carro estão no bolso da... — falava com dificuldade enquanto o motoqueiro se abaixava sobre ele.

Sem dizer qualquer palavra, o motoqueiro levou uma das mãos para o pulso do rapaz, logo Jean percebeu que o estranho não estava ali para oferecer ajuda.

— O que vai... — disse ao identificar o que o motoqueiro tinha na mão. — Ahhhh... — gritou ao ter sua pele rasgada pela lâmina afiada.

Jean revirou os olhos enquanto via o sangue esguichar. Apavorado, seus olhos buscaram pela garota do outro lado da rua, mas ela não estava mais lá.
Jean desmaiou antes de ter o outro pulso cortado, não viveria o suficiente para ver o estranho motoqueiro partir, deixando-o caído em meio a uma poça de seu próprio sangue, de fronte à parede em que se lia a sentença que o levara à morte:

"B A S T A R D O"

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