Cláusula de Amor | ✓

By rachelffernandes

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Alia Nazario é a secretária do Sr. Henderson há três anos e sempre acreditou ser... sortuda. O chefe dela, um... More

[sobre]
01. proposta indecente
02. pé na estrada
03. estratégia é fundamental
04. mar, areia e sol
05. clube de teatro
06. dividindo a cama
07. o sr. darcy é um esquisitão
08. valse comigo
09. aquelas velhas e boas
11. céu azul
12. bomba atômica
13. você deve me permitir...
14. epílogo
[agradecimentos]

10. talvez, talvez

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By rachelffernandes

Um grito agudo e risadas vieram do gramado quando May marcou outro gol. Da cozinha, Alia sorriu ao ouvir Dylan gritar um palavrão e ser quase imediatamente repreendido pelo vozeirão do tio Tom.

O casal, tio Tom e Edward ainda chutavam a bola de um lado para o outro, discutindo sobre jogadas e correndo entre as goleiras improvisadas como crianças. O resto do grupo, cansado pelo jogo, estava sentado à mesa de ferro do jardim, conversando e tomando um copo de suco com Jane, que evitou a partida por conta dos pés machucados.

Alia colocou os copos na bandeja e abriu o armário com uma careta, procurando pelos biscoitos. Lena, a velha senhora que cuidava da cozinha, havia ido ao centro fazer algumas compras, e tão logo os salgadinhos e biscoitos acabaram, Alia se ofereceu para pegar mais.

Através da janela em cima da pia, ela viu o Sr. Henderson rindo com Christine, mãe de May, e Rupert ao redor da mesa. Quando as covinhas dele apareceram, Alia foi incapaz de sorrir. Você realmente fica mais bonito quando sorri.

— Você precisa de alguma ajuda?

Alia quase deixou os copos e salgadinhos caírem ao ouvir a voz delicada de Jane em suas costas. Ela se virou, sem graça pelo pensamento, e sorriu para a modelo.

— Ah, oi. Hã, não, eu...

— Ótimo. — Jane sorriu e um pequeno silêncio, interrompido pelo som distante de risadas, preencheu a cozinha. — Para ser honesta, não vim para ajudar.

Era fruto de sua imaginação ou a voz de Jane retinha uma ameaça velada? Alia enrijeceu os ombros, observando Jane se sentar numa das banquetas com uma careta de dor. Edward havia, realmente, massacrado seus pés. Com um sorriso contido, Jane suspirou.

— Vim... conversar — disse ela, seus olhos cinzentos brilhando com interesse. Mais risadas vieram do gramado. — Para dizer algo a você, na verdade.

Alia engoliu em seco, as mãos agarradas ao balcão. Jane a encarou, esperando por palavras que não vieram. Seus lindos olhos cinzentos se fixaram no fundo da alma de Alia, que aflita por aquela espera maldita, tinha vontade de sacudir a modelo e extrair de uma vez as palavras.

— Não odeio você — disse Jane. Outro silêncio esquisito caiu sobre elas. A modelo sorriu sem graça, dando de ombros. — Sei que devemos odiar uma a outra por causa de... você sabe, mas não odeio você. Longe disso, na verdade. Só queria que você soubesse.

— Eu também não odeio você — respondeu Alia. Os olhos das duas se encontraram por um momento. — Eu nunca a odiaria por causa de... você sabe.

— Sei que a situação é esquisita, mas as meninas precisam ficar unidas, certo? — Jane sorriu de maneira contida após um breve silêncio reflexivo. Alia sorriu de volta. — O que me diz?

— Digo que não poderia concordar mais.

Jane não era tão ruim, apesar de tudo. Mas não é só isso, é? Alia despejou mais salgadinhos na tigela, espiando Jane ocasionalmente. Parada em frente à mulher mais sexy da atualidade, Alia sentiu-se pequena. Jane, ignorante do que se passava em sua cabeça, tamborilava os dedos no balcão, tentando formular alguma frase, ordenar os próprios pensamentos.

— Será um prazer estar na sua primeira passarela, Alia.

Alia abriu a boca, mas nenhum som saiu. Jane Vincent querendo modelar para seus vestidos desenhados com lápis de cor vagabundos não era algo que se ouvia todo dia. A modelo se ergueu da banqueta com dificuldade, estendendo a Alia um pacote de biscoitos. Sem graça, as duas sorriram.

— Obrigada, Jane. Significa muito para...

Dylan gritou outro palavrão, calando Alia. Ambas espiaram o gramado através da janela, e não foi difícil ver Edward e Dylan rolando pelo chão como dois garotos de escola, jogando futebol americano com a bola de futebol redonda. Da mesa, os outros torciam pelos jogadores.

O olhar do Sr. Henderson encontrou o de Alia. Ele sorriu e piscou um olho, deixando suas covinhas novamente à mostra. Alia balançou a cabeça, rindo.

— Sabe — disse Jane, olhando para fora. O perfume de rosas da modelo inundou a cozinha e seu rosto era o retrato da tristeza quando ela sorriu. — Acredito que só entendemos a importância de alguém quando... quando deixamos essa pessoa ir.

Merda, merda, merda. Agora era oficial: Jane ainda sentia algo pelo Sr. Henderson.

Alia tentou ignorar os sinais, ignorar como o simples ato de o Sr. Henderson puxar a cadeira para ela naquela manhã fez os olhos cinzentos da modelo pegarem fogo, ou como o belo rosto de Jane se retorcia quando o Sr. Henderson abraçava ou dava high fives em Alia durante o jogo de futebol. Na cabeça dela era normal. Só ciúme normal.

Mas não era. O Sr. Henderson ainda amava Jane, e ela o amava também. Não era complicado de entender. Alia sentiu um buraco negro substituir seu coração quando a verdade se tornou clara como água. Jane baixou o rosto, sacudindo a cabeça para a pia. Lá fora, ignorante do que se passava dentro da cozinha, o Sr. Henderson riu de algo que Christine dissera. A boca de Alia estava seca como o deserto.

— Bem, é melhor voltarmos — disse Jane, sorrindo de maneira triste e segurando a bandeja. — Eles devem estar com fome. Vamos?

Alia assentiu. A frase de Jane ficou grudada em sua cabeça até a noite cair.

---

— Jesus, sou só eu ou as noites estão ficando mais frias? — perguntou o Sr. Henderson, saindo do banheiro e esfregando as mãos. — Acho que o outono vai chegar mais cedo esse ano.

Da cama, Alia não sorriu. Ela nem ao menos ouviu a conversa fiada do Sr. Henderson sobre o tempo. Sua cabeça, trabalhando a todo vapor, não parava de reviver o sorriso triste de Jane e seus olhos cinzentos nostálgicos.

Após a cena na cozinha, Alia buscou por pequenos sinais de afeição vindos de Jane. Como esperado, não demorou a encontrar. Durante o jantar, a modelo lançou olhares e sorrisos de relance ao Sr. Henderson, e eles inclusive conversaram entre o assado e a sobremesa. Até um cego perceberia o arrependimento grudado nos olhos cinzentos de Jane quando o Sr. Henderson sorria em sua direção. Edward não notou, conversando com tio Tom e Dylan sobre esportes, mas Alia notou, e se sentiu como uma intrusa naquela mesa.

Eles ainda se amam. Eles precisam ficar juntos, sua mente sussurrou durante o jantar inteiro. Se não fosse por Zelda e Sagger, ela estaria afundada em miséria antes mesmo de o cheesecake aparecer.

— Está tudo bem? — perguntou o Sr. Henderson, se deitando na cama com o cenho franzido.

Alia levou alguns segundos para processar a pergunta, mas sorriu.

— Sim, eu só estava... pensando.

— Percebi. — O Sr. Henderson riu, afofando um dos travesseiros da barreira. — Você pensa muito, não?

— Penso que sim.

O Sr. Henderson riu novamente.

— Não quero me meter nos seus assuntos, mas...

— Não é importante.

Só estou pensando em como sua ex não superou você. Coisa sem importância. O Sr. Henderson não pareceu convencido. Ela sorriu outra vez, torcendo para que fosse o suficiente para encerrar o assunto.

— Se você diz — respondeu ele, como se ela pudesse mudar de ideia. Quando não aconteceu, o Sr. Henderson desligou a luz da mesinha de cabeceira. — Boa-noite, Alia.

Ela não respondeu de imediato. Na luz azul-escura do quarto, ouvindo as ondas quebrando do lado de fora, Alia respirou fundo. Com as costas coladas à cabeceira da cama, ela virou o rosto para o Sr. Henderson, que já tinha os olhos fechados. Alia sabia que não ganharia nada com aquilo, mas parecia traição esconder o fato dele. Ela disse de um fôlego só:

— Acho que Jane ainda ama você.

O Sr. Henderson ligou a luz de cabeceira e se sentou na cama, encarando-a com o cenho franzido. Um dos lados dos cabelos dele estava amassado. Alia tentou, em vão, sorrir. O rosto confuso do chefe acelerou seu coração idiota e fez sua alegria desaparecer. Por quê?

Os olhos de Golden Retriever do Sr. Henderson a avaliaram, procurando por uma resposta.

— Você acha?

— Sim — concordou ela, um sorriso fraco tomando seu rosto. — Talvez você ainda... ainda tenha uma chance com ela...

Ele não abriu a boca. No silêncio do quarto escuro, o Sr. Henderson tinha no rosto a mesma expressão enigmática e o olhar concentrado que costumava manter enquanto lia contratos extensos no escritório. No que você está pensando? Nervosa, Alia pressionou-o com um olhar.

— Obrigado — disse ele numa voz profunda, desligando a luz da mesinha de cabeceira. Deitado de costas para ela, o Sr. Henderson disse: — Boa-noite, Alia.

Mas ela percebeu que seus olhos castanhos ficaram abertos por muito depois disso.

---

Quando Alia acordou na manhã seguinte, a primeira coisa que viu foi a orelha esquerda do Sr. Henderson.

Lentamente, com o mundo ainda tomando forma, Alia percebeu duas mudanças. A primeira era que a barreira de travesseiros estava esparramada pelo chão. A segunda era que o rosto bem barbeado do chefe estava enterrado na curva de seu pescoço. Um dos braços do Sr. Henderson descansava sobre o estômago dela. Quando Alia tentou se mover, ele grunhiu.

De uma maneira bastante sensual, na verdade.

Sem graça, Alia olhou para o teto, tentando ignorar o fato de que seu chefe estava, outra vez, em cima de seu corpo. Ela deu duas batidinhas no ombro dele, que se moveu com a preguiça característica de quem recém acorda. Quando o Sr. Henderson finalmente ergueu a cabeça, apertando os olhos castanhos por conta da luminosidade do quarto, Alia sorriu sem jeito.

— Bom-dia — disse ela.

Algumas gaivotas grasnaram lá fora, mas ela não se importou. Alia estava fascinada com o fato de que o Sr. Henderson conseguia cheirar a creme de barbear e chá de menta àquela hora da manhã. E em como ele tinha braços quentes.

— Bom-dia — respondeu o Sr. Henderson, a voz rouca. Ele ergueu a cabeça um pouco mais, tentando espiar o relógio digital na mesinha de cabeceira de Alia. Seu braço ainda fazia uma pressão gentil sobre o estômago dela. — Que horas são?

— Não muito tarde, acredito eu.

Ela riu e caiu em silêncio. O Sr. Henderson, apesar de acordado, não saiu de cima dela. Com uma olhadela ao relógio, ele sorriu meio sonolento, pairando acima de Alia com os cabelos bagunçados. Então, aconteceu. Os sorrisos cessaram lentamente, e de repente, Alia sentiu a garganta se fechar debaixo do olhar penetrante dele. O mesmo olhar do estúdio de dança. O mesmo olhar da casa de barcos. Deus me ajude.

Há bastante tempo ela não dividia a cama com um cara. Depois de Bernard, Alia quis viver de acordo com as próprias regras, fazer o que quisesse com seu escasso tempo livre. Os homens sempre queriam satisfações do tipo Onde você estava? Por que não me ligou? Quem é esse cara?, e Alia estava cansada de responder aos namorados como se estivesse numa investigação policial.

Ela passou tanto tempo sozinha após o término com Bernard que havia se esquecido de como era acordar ao lado de um cara cheiroso, atraente e gentil. Mesmo que o cara em questão fosse o chefe dela.

Alia deixou um riso nervoso escapar, mas nem isso foi capaz de desviar os olhos do Sr. Henderson de seus lábios. Beija ele, a vozinha maliciosa sussurrou de seus pensamentos. Com o olhar igualmente grudado à boca dele, ela engoliu em seco. Qual era o problema de se beijarem, ou...?

Era normal para executivos do alto escalão transarem com as secretárias. De cabeça, Alia poderia mencionar quatro ou cinco deles que se escondiam nas salas de pé-direito alto e, à portas fechadas, faziam todo tipo de coisa. Entre ela e o Sr. Henderson seria diferente. Seria apenas uma vez, e nunca mais aconteceria. Principalmente no escritório. Eles se sentiriam meio esquisitos depois, talvez trocariam alguns olhares envergonhados durante as reuniões e o Sr. Henderson possivelmente preferiria a tagarelice de Nat nos serões a ficar com Alia, mas tudo bem. Seria esquisito, mas Alia percebeu que poderia viver com aquilo. Era um preço muito pequeno a se pagar por algo que ela estava desesperada para conseguir.

O Sr. Henderson baixou o rosto, o nariz a milímetros do rosto de Alia. A respiração dele se misturou à dela, e Alia soube que estava perdida. Seus dedos encontraram o limite da camiseta dele e, antes que pudesse perceber, Alia estava sentada no colo de um Sr. Henderson sem camisa, segurando o chefe pela nuca como se fosse sua dona.

Os olhos castanhos dele, àquela pequena distância, estavam repletos de algo que fez o coração imbecil dela estourar no peito. Desejo. Ele a encarava com os olhos cheios de desejo, e Alia sentiu, em cada átomo do corpo, o quanto o Sr. Henderson a desejava.

Ele ergueu a camiseta de Alia, apenas o suficiente para que a cintura dela sentisse o calor de suas mãos, e Alia beijou o queixo bem barbeado do Sr. Henderson, se demorando para sentir o cheiro de sua pele. Ela queria pedir para que ele fosse com calma, que fizesse durar para sempre porque eles só tinham aquela vez, mas não havia tempo para pedidos. Com os olhos brilhantes, o Sr. Henderson devolveu o beijo no queixo. Alia podia quase sentir o gosto de chá de menta dos lábios dele nos seus, de como seria seu beijo de verdade. A antecipação arrepiava a pele dela, e quando Alia estava quase lá, quase beijando o Sr. Henderson, alguém bateu à porta.

Toc. Toc. Toc. Eles congelaram na mesma posição, nenhum dos dois acreditando que a batida era real. O Sr. Henderson enrijeceu debaixo do toque de Alia, e ela soube que o para sempre deles havia acabado.

— O café está pronto, pombinhos! — disse o tio Tom, gargalhando do corredor. — As panquecas estão uma coisa de louco!

— Estaremos com vocês num minuto — respondeu o Sr. Henderson, uma eternidade depois. Se separaram, e ele se levantou, enfiando a camiseta de volta. Corado, as orelhas pegando fogo e os olhos evitando os dela, ele disse: — Vou tomar um... tomar um banho. Vejo você lá embaixo.

Quando ele fechou a porta do banheiro, ela se jogou para trás e observou o teto do quarto. Alia sentiu o sangue bombear nas orelhas, nas têmporas, em todo o corpo. O som calmo das ondas ia e voltava e ao longe, gaivotas grasnavam, mas nada acalmou seu coração.

O cheiro do Sr. Henderson estava em cada milímetro dos lençóis e da pele dela. Alia Nazario engoliu em seco, apenas uma pergunta rondando sua mente: que merda foi essa?

Ela não fazia ideia da resposta, mas mal podia esperar para descobrir.

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