Apocalipse: A morte da Terra

By SimoneSMiranda

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A Terra está sendo atacada. Cidades ao redor do globo compartilham suas histórias, de vários pontos de vista... More

Nova Iorque - Emily Smith
Pequim - Li Wei
Ilha de Páscoa - Ariki Teriitehau
Himalaia - Pasang Lhambu / Aleksi Petrov
Osaka - Ikeda Ren
Paris - Antoine Bourgeoir
Cairo - Horus Moubarak

Curitiba - Ana Oliveira

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By SimoneSMiranda

Em Março daquele ano, Curitiba, antes não muito conhecida no mundo, seria eternamente lembrada pelo início do surto de zumbis na América Latina.

O tenente Rodrigo Santos, do Centro de Operações Policiais Especiais, sabia que teria bastante trabalho pela frente, depois da cidade inteira sentir um tremor de terra anormal. Terremotos estavam sendo reportados por todo o globo desde Janeiro, mas não costumavam atingir o Brasil desta forma.

Todos os distritos policiais estavam em alerta há dias. A população estava assustada, notícias sobre as causas e efeitos espalhavam-se causando ainda mais histeria e, consequentemente, crimes. Seu turno acabara de começar, quando um de seus soldados chegou com uma notícia urgente.

Um grupo de alunos que visitava o Bosque Reinhard Maack, logo atrás da delegacia, foi atacado por algo que, nas palavras de uma sobrevivente, seria um "monstro verde que pingava". A vítima foi atendida na Unidade de Saúde, próxima dali, e estava sob acompanhamento médico.

- Por aqui, tenente. - falou a doutora responsável, assim que ele chegou ao posto médico. - O nome dela é Ana Oliveira, foi encontrada na entrada; o pé está torcido. Ela tem 15 anos, os pais já foram chamados e chegarão em breve. - explicou enquanto andavam pelo corredor.

- Obrigado doutora. Gostaria de ficar a sós com ela, se não se importa.

- Claro, à vontade. Se precisar de algo estarei no cômodo ao lado. - disse ela, fechando a porta do quarto onde a vítima estava, vendo o tenente sentar-se em uma cadeira posta ao lado da cama.

- Ana Oliveira? - perguntou, recebendo um aceno positivo com a cabeça. - Sou o Tenente Santos. Podemos conversar sobre o que aconteceu no bosque? - recebeu outro aceno positivo.

Colocou sobre a cama um gravador antigo, e apertou o botão vermelho para iniciar a gravação. Os olhos de Ana fixaram no centro da fita que girava, como se nunca tivesse visto tal aparelho antes.

- Tenente Santos, responsável pelo C.O.P.E., Curitiba. Hoje, 10 de Março, a vítima Ana Oliveira, de 15 anos, foi atacada no Bosque Reinhard Maack, no bairro Hauer, durante uma visita escolar. Foi atendida na Unidade de Saúde Tapajós, onde estamos agora. Por favor, Ana, pode me dizer o que aconteceu durante a visita?

- Sim... - respondeu, ficando em silêncio por alguns segundos antes de voltar a falar. - A professora Sandra, de Biologia, foi quem organizou a visita. Quando chegamos estava tudo normal, conhecemos alguns escoteiros e a polícia florestal, nos falaram sobre a fauna e a flora, e o quão grande o lugar era. Nós deveríamos ficar na trilha, onde estão os brinquedos e atividades... Deveríamos, mas... - pausou.

- Quando você viu que algo estava estranho?

- Estava tudo um saco, não gosto de Biologia... Eu e mais duas amigas entramos na mata, andamos por alguns minutos entre os pinheiros e nos perdemos. Eu quis ficar, explorar mais o bosque por conta própria, mas elas ficaram com medo e quiseram voltar, tentar achar a trilha novamente e se juntar aos outros alunos.

- E elas encontraram a trilha?

- Não sei... Nem 5 minutos depois ouvi gritos, muitos gritos, desesperados. Achei que podia ser uma brincadeira, tentando me assustar para não me separar do grupo de novo, mas não era... Começou a chuviscar e, como odeio chuva, andei na direção que as minhas amigas tinham ido. Vi uma delas, Gabi, não muito longe dali, gritando "Me ajude. Me ajude.", meio sem vontade. Achei muito estranho, por que ela não se mexia... A Gabi é do tipo que sai correndo, sabe?

- E por que ela estava pedindo ajuda?

- Um monstro estava perto dela! Era verde e pingava uma gosma vermelha, bem nojento! Estava vindo na direção dela, e ela não fazia nada, aquela guria trouxa! Ele chegou perto e encostou nela... Só encostou, e ela começou a derreter! Ela ficou verde, gosmenta e careca, igual o monstro! - riu.

- Você não parece muito chocada... Ela não era sua amiga? - notou o policial.

- Era... mais ou menos... Ela ficou com meu namorado, talvez ela tenha merecido! - falou sorrindo.

- Seja o que for que ela tenha feito, é errado ficar feliz quando algo ruim acontece com outra pessoa.

- Tanto faz... - respondeu, áspera. - Comecei a correr e os dois vieram atrás de mim. Estava tudo escorregadio, por causa da maldita chuva! Enfiei o pé na raiz de uma árvore, e ele torceu, o que me fez correr com mais dificuldade... Corri para fora do parque, tudo parecia abandonado. O ônibus que nos trouxe ainda estava lá, mas o motorista tinha sumido; não tinha ninguém na rua, vi alguns carros abandonados com as portas abertas! Encontrei uma rua sem saída com uma caçamba de lixo, daquelas verdes com tampa, e me escondi. Não muito tempo depois, eles saíram pela entrada do parque, seguidos de mais dois zumbis.  Gabi, aquela vaca... Me persegue até depois de virar zumbi...

O policial ergueu uma das sobrancelhas, sem entender como a garota não estava em choque depois de passar por tantas experiências traumatizantes.

- E o restante do grupo? Onde estavam os outros alunos?

- Não vi ninguém, nem mesmo pela fresta do lixo, enquanto me escondia. Ninguém vivo, pelo menos... Os que escaparam devem ter saído correndo, pelos gritos que escutei antes.

- Outros desses monstros apareceram?

- Sim, e pelos uniformes que usavam, alguns eram os alunos, transformados... Um guarda florestal também, mais dois ou três escoteiros e a professora Sandra. Todos verdes e pingando... Nojento! Depois que este outro grupo apareceu, os quatro se juntaram à eles e desapareceram rua abaixo. Fiquei no lixo por um tempo e saí, mancando, até encontrar o posto de saúde. Aqui ninguém parece ter visto os monstros, acho que eles foram em outra direção...

  - Você viu mais alguma coisa que lhe chamou a atenção? Algo que possa nos ajudar a encontrar esses monstros?

- Pássaros. Tipo, milhares de pássaros!

- Pássaros?

- Pássaros de todos os tipos, saíram do bosque, do meio das árvores, e seguiam cada movimento que esse grupo maior fazia! E outra coisa... na rua sem saída tinha uma pichação na parede, com tinta verde, escrito "5" e com um desenho exato do rosto de um desses monstros pingando... Você acha que mais alguém pode saber que eles estão atacando a cidade?

- É possível... - respondeu, perguntando em seguida algo que não lhe saía da cabeça. - Desculpe perguntar, mas quando vim para cá pensei que estaria em choque, que nem conseguiria falar sobre o que aconteceu, mas... você não parece se importar, com nada do que me contou, como pode?

- Está brincando?! Você sabe quantas curtidas e novos amigos eu posso ter nas redes sociais depois de postar tudo? Fui vítima de um ataque zumbi e sobrevivi! Tirei uma foto para provar! Todos vão querer saber como foi! Claro... vou precisar fingir estar triste pela Gabi... mas vou ser tão popular que nem vou lembrar disso! - abriu um sorriso, tão grande que o policial achou que não caberia no rosto da jovem.

Ele desligou o gravador, preferiria não ter que enviar o interrogatório com esta última parte, mas era urgente demais para se importar com isso agora. No bolso, um adesivo preparado para colar na lateral da fita, que tirou do gravador, colou, e adicionou "Ana Oliveira" ao "Curitiba", já escrito previamente.

- Obrigado pela sua ajuda, Ana. - disse, levantando-se da cadeira. - Preciso que fique aqui no posto, ou se for transferida para algum hospital, avise o policial que ficará de guarda na porta. Seus pais logo chegarão para ficar com você. E mais uma coisa... - ele pegou o celular da garota, que estava no balcão ao lado. - Você não vai postar nada sobre o que aconteceu, entendeu?

- Ei! Meu celular! - reclamou, tentando alcançá-lo. - Você não pode fazer isso! Eu tenho meus direitos, e...

- Eu posso e eu vou! Inclusive, já fiz! - respondeu, guardando o celular no bolso da farda. - Você pode achar graça, ficar feliz por sua "amiga" ter virado um monstro, ou por ter a oportunidade de virar uma celebridade na internet, mas não! Não fique feliz, não fique animada. Várias pessoas morreram hoje, seus colegas de classe morreram hoje, os pais deles ficarão arrasados, até com raiva, por você ter tido a sorte de sobreviver e os filhos deles não... Então, pense sobre isso, enquanto fico com seu precioso celular, estamos entendidos?

- Tanto faz, logo todo mundo vai saber, e vou dar um jeito de saberem que fui a primeira! Vocês, velhos, não sabem o poder das redes sociais, e nem como usá-las! Existem muitas maneiras de...

O policial saiu do quarto, batendo a porta atrás de si, sem prestar atenção no restante das reclamações da jovem, enquanto ordenava que um dos soldados ficasse de vigia na porta.

A garota gritava e gritava, queria que o mundo soubesse que ela tinha sobrevivido ao primeiro ataque zumbi da cidade. Em breve, todos acreditariam, lembrariam da garota louca que foi encontrada mancando na frente do posto médico. 

Talvez já fosse tarde demais.

****

- O senhor acha que o grupo secreto já está espalhando a notícia do ataque, Coronel? - perguntou a mulher fardada ao seu lado, depois de escutarem a gravação do interrogatório de Ana.

- Sim, Major. O número verde na parede é igual aos encontrados em Nova Iorque e Pequim. Eles sabem que mais destes ataques estavam acontecendo, há exatos 5 dias antes desse. Com certeza a pichação já foi alterada para "9" a esta altura. Não vamos conseguir nos esconder da mídia por muito mais tempo. O mundo precisa saber que estamos perdendo esta guerra.

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