Terceiro Tempo

By queenbrubs

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Manuela Pimenta acaba de descobrir que sua vida inteira foi uma mentira. Ela nunca acreditou que a realidade... More

#1 TEMPORADA
Bem-vindo a Costa Malva!
Qual é o time?
Estamos Apresentando: Maria do Bairro
Estamos Apresentando: Rosalinda
Estamos Apresentando: A Usurpadora
Estamos Apresentando: Carrossel
Estamos Apresentando: Rebelde
Estamos Apresentando: A Feia Mais Bela
Estamos Apresentando: Rubi
1x01 - Balas Fini
#1
1x02 - Garota Nova
1x03 - Bem-vinda
1x04 - Controle
#2
1x05 - Filho Pródigo
1x06 - Amizade
#3
PIMENTA DAY! + novidades
Terceiro Tempo na Amazon!

1x07 - Ressaca

13.6K 1.5K 1.2K
By queenbrubs

Manuela gostaria de dizer que não era o tipo de pessoa que dormia mais do que a cama, mas naquele dia isso seria uma piada. Não era algo que a garota costumava fazer, mas o efeito de bebida alcóolica + remédio para dor de cabeça era mais eficaz para derrubar Manu do que um boa-noite cinderela.

Então lá estava ela, dormindo pela tarde adentro sem nem se dar conta de que a cada minuto as coisas mudavam dentro daquela casa enquanto seu sono a mantinha na inconsciência, alheia a tudo.

Quando Manuela acordou, sua cabeça ainda estava muito pesada e ela se sentia preguiçosa. Era engraçado como depois de dormir tanto a garota não se sentia pronta para correr uma maratona, muito pelo contrário: quanto mais dormia, mais sentia preguiça e vontade de continuar dormindo. Já eram quase cinco da tarde quando seus olhos abriram e ela teve forças para se espreguiçar e levantar da cama, se arrastando pelo quarto até a porta.

Pensou em voltar e pegar uma roupa para ir tomar banho, mas seu estômago soltou um ronco tão alto que ela não foi capaz de ignorar. Nada melhor do que uma fome destruidora para acordar o cérebro voltando da hibernação.

A menina foi ao banheiro mesmo assim, mas logo em seguida desceu as escadas da república às pressas, sentindo um rombo tão grande no estômago que parecia que precisaria comer um javali inteiro para tapá-lo. Seguiu direto para a cozinha, sonhando com o bolo de damasco – uma sobremesa muito comum e tradicional em Costa Malva – que Jana comprara para celebrar sua chegada dois dias atrás. Ela não esperava que o bolo tivesse sobrevivido, mas o sonho era real.

― Vejam só, a Bela Adormecida despertou do seu sono de beleza – disse Chris com a boca cheia, no momento em que Manu entrou no cômodo.

A primeira coisa que ela viu, foi o sorriso traquino do rapaz, de pé encostado no balcão da pia. Ele parecia de bom humor e mastigava rápido, mas ao mesmo tempo não parecia ter nenhuma pressa. A segunda coisa que reparou foi nos outros dois rapazes sentados na mesa da cozinha, ainda rindo de algo que foi dito antes dela chegar e parecendo bastante relaxados. Seus nomes eram Esteban e Tomás e eles dividiam o quarto ao lado do de Manu. Chris e Davi dividiam o quarto em frente e a tia Jana dormia no quartinho do primeiro andar. Antes de chegar, Manu ficou sabendo que o seu atual quarto era o estúdio de pintura da tia, que acabou transferindo tudo para o próprio aposento.

Onde Matheus dormia ainda era um mistério.

― E aí, Manu, senta aqui pra comer com a gente – Tomás convidou. Ela o conhecera ontem durante o café-da-manhã e o garoto foi simpático logo de cara. Talvez o fato de viverem em uma república tenha ajudado aqueles garotos a estarem tão de boas em dividir a casa com estranhos.

Manu estava prestes a responder ao convite, mas a terceira coisa que notou na cozinha foi uma fatia generosa do bolo de damasco em um prato em cima da pia, onde Chris se curvou para pegar mais um pedaço com seu garfo.

― Ei, você tá comendo o meu bolo! – ela o acusou, indo em direção a ele e roubando o prato para si. – Aposto que é o último pedaço!

― Me devolve isso aqui, rapariga! – Chris exigiu, ainda com o humor inabalado. Ele avançou em direção a ela, mas Manu recuou e escondeu o bolo atrás do corpo. Chris esquivou uma sobrancelha e cruzou os braços, encarando a garota desafiadoramente. Ela empinou o queixo, olhando para ele de baixo dos seus um metro e cinquenta e cinco sem nenhuma intimidação. – Você sabe que eu sou muy mais forte que você e posso reaver esse bolo a qualquer momento, né? – disse de um jeito provocante.

Manu engoliu o riso e mordeu o lábio, gostando daquela tensão entre os dois. As memórias da noite anterior começavam a ficar menos embaçadas e ela se lembrou de como eles ficaram juntos durante toda a festa. Chris a apresentou a todo mundo, dançou com ela, fez ela se divertir horrores mesmo que agora não se lembrasse do motivo exato pelo qual eles riram tanto um com o outro.

Talvez fosse a bebida.

― Então por que você não está arrancando o bolo de mim agora?

O rapaz deu um passo pra frente e Manu um para trás, em um movimento bem orquestrado. Ele sorriu, também se lembrando de como ela foi uma parceira e tanto na noite passada.

― Porque eu te respeito – respondeu, achando que estava vencendo o jogo, mas foi surpreendido pelo sorriso de triunfo no rosto de Manuela, deixando à mostra a pequena abertura que havia entre seus dois dentes da frente. Chris achava adorável.

― Exatamente – disse ela, trazendo o prato para frente e arrancando o garfo da mão dele, ousada como só ela. O queixo de Chris caiu, chocado, mas Manu apenas deu uma garfada no bolo e colocou o pedaço na boca, saboreando o gosto dos deuses da massa levinha e do recheio de damasco. Seu estômago bateu palmas e fez um coro de aleluias. – Você me respeita – disse após engolir. – Isso é muito mais importante do que a força física. – Manu deu um tapinha no ombro do rapaz, que achou que jamais se sentiria mais atraído por ela do que já estava naquele momento. – Aprende isso, garanhão.

A menina foi se sentar à mesa com os outros rapazes, feliz da vida por estar comendo seu precioso bolo. Esteban não conseguia parar de rir e Tomás estendeu a mão para um high five mais do que merecido. Chris se virou para eles, divertindo-se tanto quanto os três com a sua aparente humilhação.

― Ela te destruiu, camarada – disse Tomás, contente demais por ter presenciado aquilo. Ele esticou os braços musculosos e cruzou as mãos atrás da cabeça, muito satisfeito. O garoto era um cara grande assim como Chris, e os dois juntos podiam fazer qualquer cômodo parecer lotado. – Meu dia já está completo depois disso.

― E como! – Esteban concordou. Ele tentava conciliar o braço quebrado e comer seu cereal com o outro. – Sempre bom ver o Christoffer se debulhando no pasto – ou, como se diz no Brasil, "levando uma rasteira".

― Achei que você fosse defender o seu namorado – disse Manuela Pimenta, dando outra garfada no seu bolo, ainda pronta para apimentar as coisas.

Esteban quase cuspiu o cereal e um filete de leite desceu pela sua boca. Ele tentou tapá-la e se limpar depressa, totalmente estabanado, enquanto Tomás dava uma gargalhada estrondosa.

― Nós não somos namorados – Esteban rebateu, taxativo.

― Então é uma relação moderna? – Manu perguntou, pousando a mão no queixo parecendo inocentemente interessada.

Aquela garota.

― Por que? – Chris perguntou, se apoiando na mesa, de frente para ela, com uma sobrancelha inquisitiva levantada. – Está enciumada, Manuelita? – A expressão provocante de um cafajeste em seu rosto fez os batimentos cardíacos de Manu acelerarem.

Ela esquivou as sobrancelhas e limpou o açúcar remanescente em seu lábio inferior com a língua, o que fisgou o rapaz de jeito. E disse:

― Eu sou muito pequena pra ter todas as emoções humanas. Ciúmes ficou de fora.

Chris sorriu enquanto os olhares dos dois se encaixavam, mas dessa vez o triunfo estava todo com ele.

― Boa saída.

Os quatro adolescentes continuaram comendo naquela tarde e conversando sobre coisas triviais como o cereal de Esteban que não existia no Brasil ou como os garotos faziam para ter tantos músculos se ainda nem tinham dezoito anos completos – atletas, affe. A cada mordida no bolo, o cérebro de Manu clareava mais e a menina começou a se lembrar de outras coisas que aconteceram na noite anterior além do que envolvia Christoffer.

Seu estômago se embrulhou quando pensou no acesso de raiva que tivera e a fez dizer aquelas coisas para a tal Lea. Não que ela se arrependesse, pois estava, sim, com raiva por ter sido tratada daquela maneira. Mas não queria ter dito aquelas palavras, não queria que Lea seguisse suas instruções de verdade e mandasse Matheus à merda ou algo assim. Tudo o que Manu menos queria, honestamente, era que ele fosse para algum lugar longe dela, agora que o achou.

Era estranho porque a garota sequer o conhecia além do que descobriu pelas redes sociais. Ela não fazia ideia de que tipo de pessoa ele era, mas estava determinada a amá-lo. Quando Lea gentilmente a convidou para se retirar da festa Manu percebeu que, talvez, a situação com Matheus estivesse pior do que pensava.

Porque Lea, ao contrário dela, o conhecia bem.

E se a garota, que era namorada dele, a estava expulsando sem nem se importar em conhecê-la, será que era isso o que Matheus faria também?

Manu estremeceu com o pensamento e decidiu que era a hora de ir finalmente tomar o seu banho. Deixou os meninos ainda na cozinha e fez o que tinha que fazer, tentando evitar pensar nas coisas que deixou para trás quando decidiu se mudar para Costa Malva. Ela estava determinada a esquecer, determinada a começar uma nova vida e Matheus era o seu foco, era o último recurso que ela encontrara para se agarrar.

Guardar qualquer tipo de rancor não ajudaria em nada.

Ela respirou fundo, ciente de que estava à beira de um dos ataques de pânico que costumavam se apossar dela nos últimos meses. Sua médica havia dito um tempo atrás que o álcool era um agente depressivo e por isso não era recomendado que Manu bebesse na sua atual condição. Podia fazê-la se sentir mal consigo mesma, como estava se sentindo agora, o que era o pior tipo de ressaca que existia.

O fato era que só agora o choque de realidade bateu na porta de Manuela Pimenta e a fez assimilar na marra o que estava acontecendo. Ela havia se mudando para o outro lado do mundo sem pensar direito nas consequências e, quando chegara no seu destino, descobriu que o irmão não queria saber dela. Tia Jana era uma pessoa cheia de esperança e a fez alimentar a fantasia de que tudo ficaria bem, mas a noite anterior mudou as coisas. A noite anterior fez Manuela se dar conta de que Matheus não era apenas uma ideia milagrosa, mas uma pessoa inteira com seus próprios pensamentos, vontades e namoradas. Com a sua própria vida que ela tentava invadir.

Ela sentiu o coração palpitar e fechou os olhos para respirar fundo, com toda a firmeza que a médica a ensinara. Fechou as mãos trêmulas em punho e se concentrou naquilo, no chão debaixo dos seus pés descalços, no cheiro do xampu forte no seu cabelo molhado. Ela começou a contar, sem pressa de chegar a número nenhum, sentindo o tecido de malha da camiseta, o formato da sua barriga, o cadarço do short quadriculado. Expirou todo o ar que havia dentro do seu corpo e, quando abriu os olhos novamente, o mundo parecia organizado de novo.

Uma batida na porta trouxe sua mente de volta e Manu chacoalhou a cabeça antes de atender. Era a tia Jana, com uma expressão feliz no rosto. Manu ficou desconfiada, mas em seu coração era já sabia do que se tratava aquela visita. No fundo do seu coração ela sabia.

Ele estava em casa.

A hora era agora.

Manuela reprimiu a vontade louca que sentiu de sair gritando.

― Manuelita, meu suspiro, sua presença foi solicitada no andar de baixo.

A garota assentiu e apenas seguiu a tia sem dizer nada. Nem se ela quisesse teria algo pra dizer, porque seu cérebro estava fritando, mergulhado em todo tipo diferente de sentimentos que uma pessoa era capaz de sentir. Ela havia mentido para Christoffer antes. Mesmo sendo pequena, nenhuma emoção ficava de fora daquele corpinho, muito pelo contrário.

Tia Jana passou o braço pelo ombro da menina quando elas chegaram na sala. Um garoto estava sentado no sofá, com as costas curvadas e os cotovelos apoiados nos joelhos. Parecia tenso pela sua postura, ainda mais quando se levantou na mesma hora em que as duas mulheres entraram no cômodo.

Manu ficou paralisada, embora suas mãos estivessem tremendo. Mas tudo dentro dela simplesmente parou, como o silêncio que precede a explosão. Ela piscou algumas vezes, tentando reagir, tentando fazer alguma coisa funcionar, mas havia apenas a sensação de um soco bem no meio dos seus pulmões.

Ela buscou por ar.

― Como é possível que você seja alto? – ela se ouviu dizer, sem nem perceber que estava pensando em voz alta. Sua mente estava completamente nublada, um blackout total tomou conta da garota que só sabia que ainda existia porque o coração estava a mil por hora.

O garoto piscou, confuso com o comentário fora de hora, e não soube o que dizer. Ele respirava com muita rapidez, como se olhar pra Manuela causasse dor física ou algo assim – o que era muito esquisito porque a pobre garota não estava fazendo nada além de ficar ali parada.

Mas sentimentos raramente são fáceis de se entender.

Ele encarou tia Jana, ainda com o braço protetor sobre a menina, e mordeu o lábio inferior com mais força do que tinha planejado. Havia um bolo entalado no meio da garganta de Matheus Pimenta e a impressão que ele tinha era de que iria sufocar a qualquer momento.

Jana, ao notar que nenhum dos dois sabia o que fazer, tomou o poder da palavra.

― Matheus, conheça sua irmã Manuela – disse, tentando fazer acender a chama da empolgação, mas o clima estava muito estranho. – Manuelita, esse é o Matheus, seu gêmeo.

Seu gêmeo.

Ele era alto, como é que ele podia ser alto se os dois eram gêmeos? Ela não estava esperando que o rapaz tivesse mais do que um setenta de altura e ali estava ele.

Alto.

Seus olhos se encheram de lágrimas e ela pressionou os lábios para evitar que o choro viesse de verdade. A pontada que sentiu no peito, entretanto, não pôde ser evitada e tudo aquilo que Manu tentava tanto esquecer arrebentou as barreiras da sua vontade e a tomou por completo.

Esquecer era sempre tão difícil, mas lembrar era como plugar um aparelho na tomada e pronto, lá estava. O pior de tudo era que os gatilhos que acionavam essa parte do seu cérebro que a fazia quebrar eram sempre inesperados; eram coisas que não faziam sentido.

Como, por exemplo, encarar o seu irmão.

Talvez aquilo tenha sido demais para ela naquele dia. Talvez ela não tenha sido capaz de controlar os seus sentimentos.

De repente a garota não soube mais dizer onde é que estava, o chão sumiu dos seus pés, o cheiro do xampu desapareceu, a maciez da roupa não existia mais e o toque da tia não podia mais ser sentido. Nem Matheus estava mais diante dela, ao alcance das suas mãos, porque Manu não conseguia mais enxergar nada.

A única coisa que ela se lembra de ter feito foi correr, deixando Jana e Matheus para trás enquanto as lágrimas enfim escorriam dos seus olhos.


~momentos de tensão~ para Manuela Pimenta.

HEY, FOLKS! Está tendo mais uma #MadrugsBoladona no batcanal de Costa Malva e em clima de Páscoa, ainda por cima! Espero que vocês não tenham aula nessa quinta-feira da semana santa, mas mesmo se tiverem, pelo menos sabemos que domingo é dia de chocolate #amém

Esse é o momento em que eu pergunto pra vcs o que acharam do capítulo e fujo pras colinas imediatamente pq eu sei que extrapolei meus poderem de Evil Queen terminando ele desse jeito hahahaha MIM PERDOEM. É POR UM BEM MAIOR. O BEM DO LIVRO. *risada maléfica* Foquem na cena do começo com Chris e Manu sendo um belíssimo ship (sim, era ele mandando mensagem pra ela no post anterior, depois q essa situação toda aconteceu).

Eu já tinha dado umas dicas antes, mas acho que agora ficou claro como água que algo de errado não está certo com nossa menina manu, né? Resta saber o quê que ta rolando nesse coraçãozinho, mas essas são cenas para os próximos capítulos!

Bom feriado pra vocês, kiridos, e muito obrigada por lerem TT, viu? A música de hoje é Hay un lugar - Teenangels (que é cantada pela minha manu, a lali esposito <3).

Beijos e queijos, câmbio desligo.

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