Jogo de Máscaras

By AliceHAlamo

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Não era para ser difícil ou perigoso, era para ser relaxante e prazeroso, apenas isso. Que ironia... Como se... More

Capítulo 1 - Vista sua Máscara
Capítulo 2 - Tire sua máscara de inocente
Capítulo 3 - Tire sua máscara de puritano
Capítulo 4 - Vista sua máscara de bom amigo
Capítulo 5 - Vista sua máscara de bom partido
Capítulo 6 - Tire sua máscara de cara paciente
Capítulo 7 - Vista sua verdadeira máscara
Capítulo 8 - Vista sua máscara de felicidade
Capítulo 9 - Tire sua máscara de insegurança
Capítulo 10 - Vista sua primeira máscara
Capítulo 11 - Tire a máscara dos outros
Capítulo 12 - Vista sua máscara de enfermeiro
Capítulo 13 - Tire sua máscara de frieza
Capítulo 14 - Vista sua máscara de Mentiroso
Capítulo 15 - Vista sua máscara de protetor
Capítulo 16 - Vista sua máscara de Sasuke
Capítulo 17 - Vista sua máscara de honestidade
Capítulo 18 - Tire a máscara do seu adversário
Capítulo 19 - Vista sua máscara de Apaix-..., quer dizer, de viciado
Capítulo 20 - Vista sua máscara de cumplicidade
Capítulo 21 - Tire sua máscara de sob controle
Capítulo 22 - Tirem suas máscaras sociais
Capítulo 23 - Vista sua máscara de traído
Capítulo 25 - Vista sua máscara de bom entendedor
Capítulo 26 - Vista sua máscara de ingênuo
Capítulo 27 - Vistam suas máscaras de aliados
Capítulo 28 - Tire sua máscara de encurralado, ainda há saída
Capítulo 29 - Vista sua máscara de John Dillinger
Capítulo 30 - Tire sua máscara de amigo leal
Capítulo 31 - Vista sua máscara de desespero
Capítulo 32 - Vista sua máscara de Giselle
Capítulo 33 - Vista sua máscara de precaução
Capítulo 34 - O cair das máscaras

Capítulo 24 - Tirem suas máscaras de protegidos

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By AliceHAlamo


Naruto piscou, confuso, ao ouvir seu nome. Sentado entre os demais estudantes, olhou para porta, de onde uma mulher o chamava. Rapidamente, fechou o caderno e guardou na mochila junto da lapiseira e da caneta para então sair da sala, para que o professor continuasse sua aula.

— A diretora do curso quer falar com você — a mulher falou, educada, com um sorriso polido.

— Aconteceu algo? — questionou sem entender. Havia pago a mensalidade na data? Sim, havia, tinha certeza que sim.

— Não sei. Só vim chamá-lo — ela respondeu ao bater na porta do gabinete.

Ouviram um "entre" abafado, e ela abriu a porta para que Naruto entrasse na sala sozinho. Ele o fez e se sentou quando a diretora apontou a cadeira de frente à mesa. A diretora estava de pé atrás da cadeira, era uma mulher elegante em seus sessenta anos, vestes finas de corte reto, cabelos grisalhos curtos, óculos de armação clássica, batom vinho, sempre impecável, formada em Direito há muitos anos e com uma carreira de dar inveja a qualquer um.

— Bom dia, senhor Uzumaki, acho que deseja saber por que pedi que te chamassem, sim? — A voz era calma, mas o olhar, afiado, como se o estudasse, ou melhor, o medisse.

Ele se remexeu desconfortável na cadeira e assentiu.

— Não gosto de fazer rodeios, então, serei breve. O senhor sabe que essa faculdade possui um nome a zelar, não sabe? — Ela estreitou os olhos castanhos. — Um nome que é mantido há anos e que assim se espera manter por muito outros.

Ah sim... Ele já conhecia aquele discurso.

— Quer saber como eu pago a minha mensalidade? — ele perguntou, direto, interrompendo a fala que se iniciaria. — É isso?

Ela pigarreou e meneou a cabeça ao andar de volta à sua cadeira. Revirou alguns papéis e os ofereceu a Naruto.

— Eu já tenho essa informação, senhor — ela cuspiu a última palavra numa mistura de arrogância e nojo.

Naruto pegou os papéis e franziu o cenho ao passar as páginas. Aquele era seu contrato, o último que havia assinado com Jiraya para trabalhar na Akatsuki, e havia ainda cópias dos mais antigos desde que começara. Aquilo devia ser sigiloso, então, como estava ali? Cruzou as pernas ao se recostar na cadeira e suspirou ao jogar os papéis na mesa.

— E então? O que quer falar comigo exatamente? — ele questionou em falsa inocência, fingindo não sentir a raiva que formigava em seus dedos.

— Senhor... eu preciso mesmo dizer o que já está claro? — ela perguntou ao se debruçar na mesa para pegar os papéis e alinhá-los perfeitamente. — É inadmissível para esta instituição uma situação como a sua.

— É inadmissível eu pagar pelos meus estudos?

— Por favor, não vamos nos fazer de ingênuos. Vamos transferi-lo para outra faculdade, verificar se há correspondência entre as matérias para que não perca o ano.

— Estou sendo expulso, é isso? — perguntou, indignado. — Tendo notas boas, mensalidade em dia, presença quase que completa, estou sendo expulso no meu terceiro ano de faculdade?

Transferido — ela enfatizou.

— Eu escolhi esta faculdade, não quero uma transferência. — Ele se levantou.

— É uma pena, mas lamento informar que não há nada que eu possa fazer pelo senhor neste caso.

Naruto ficou sério. Aqueles documentos eram sigilosos, só Jiraya possuía, e isso queria dizer que ele o havia entregue a alguém. Hiashi. Mordeu a língua para frear o palavrão que lhe encheu a boca e respirou fundo antes de se voltar para a diretora.

— Antes de cancelar minha matrícula, me dê até amanhã — pediu e a viu arquear a sobrancelha. — Só espere, por favor.

Ele não ficou na sala para esperar uma resposta. Saiu do prédio, irritado, o celular já na mão enquanto discava o número de Neji. Entrou em seu carro e socou o volante quando o celular deu em caixa postal. Tentou mais três vezes, sem sucesso, e, então, ligou o carro. Se Neji não o atendia, então o obrigaria a vê-lo, nem que para isso tivesse que ir até a casa dele.

Hiashi não iria infernizar sua vida, não mais, já não estava com Neji, então por que... Estalou a língua no céu da boca. Kiba. Havia lido nos jornais que Ten-Ten havia passado mal e ido parar no hospital depois de sair de um aeroporto. Sasuke já havia lhe garantido que Kiba não estava mais em casa e que suspeitava, então. que era por isso que Neji e Ten-Ten haviam ido para o aeroporto. Se fosse mesmo isso, Kiba poderia muito bem ter feito uma descrição dele e de Sasuke do dia em que o visitaram e, com isso, Hiashi logo iria atrás deles.

Estacionou perto da casa de Neji e mordeu o lábio refletindo melhor. Se fosse mesmo isso, não era uma boa ideia entrar ali. Discou novamente para Neji. Caixa postal. Não, não seria ignorado. Respirou fundo e saiu do carro batendo a porta com força. Os seguranças o reconheceram, e Naruto forçou um sorriso amigável quando eles lhe deixaram passar sem perguntas. Era um bom sinal, não? Havia entrado como sempre fizera quando ia se encontrar com Neji.

Entrou na casa e massageou a nuca ao aceitar o copo de água que um dos empregados veio rapidamente lhe oferecer como de costume.

— Precisa de algo, Naruto? — uma empregada afoita perguntou ao notá-lo e parar abruptamente. — Venha, rápido, essa casa está um caos hoje — ela sussurrou.

— Onde Neji está? — questionou e reparou no modo como os empregados corriam de um lado para o outro, agitados.

— Ele não voltou ainda. Soube que ele e a primeira dama estão na casa dos pais dela.

— Então por que essa comoção toda? — Piscou os olhos azuis, confuso.

— O senhor Hiashi está aqui com o ex prefeito, e estão bem irritados — ela confidenciou-lhe e mexeu nas próprias mãos, inquieta. — Estão no jardim há alguns minutos e dispensaram todos, até os seguranças! E aquela louca da Kaguya está disparando ordens para o almoço como se fosse dona desta casa.

— Kaguya? — Naruto sussurrou de volta e puxou a empregada para um canto mais afastado.

— Sim. Ela é uma bruxa! Não me admira que a primeira dama tenha a expulsado daqui uma vez.

— Ten-Ten a expulsou? — indagou, surpreso.

— Aos berros — a empregada completou, também com espanto. — Eu tenho que ir. Não acho que o prefeito e a primeira dama voltem tão cedo, mas pode esperar no quarto de hóspedes como sempre, Naruto.

Ele sorriu em agradecimento e esperou que ela saísse. Os empregados não sabiam que dormia com Neji; suspeitavam, mas a desculpa era de que era um amigo de infância de Neji e, por isso, devia ser tratado sempre bem.

Caminhou pelos corredores e chegou até mesmo a ouvir um grito que supôs ser de Kaguya com algum empregado. Tomou cuidado para não a encontrar e caminhou, furtivamente, até o jardim. Como dito, não havia seguranças por perto, e, assim que se aproximou, reconheceu a voz de Hiashi.

Não havia onde se esconder exatamente. Estava na sala antes do jardim, separado de Hiashi e Orochimaru por uma única parede. A janela estava coberta parcialmente com uma cortina escura, o que o impedia de ser visto por Hiashi caso ficasse com o corpo grudado ao canto da parede. Contudo, quem entrasse naquele cômodo, vindo do interior da casa, veria-o, portanto, não tinha como se esconder se Kaguya resolvesse voltar ao jardim, por exemplo.

Tirou o celular do bolso e o silenciou. Caminhou silenciosamente até a parede e se escondeu enquanto a mão suava. Deslizou o dedo pela tela do celular e ativou o gravador de voz na esperança de que Hiashi confirmasse que fora ele a intervir em sua faculdade, assim não teria problemas em convencer Neji, embora sua fé nele também não estivesse em alta... "Não estivesse em alta"... Que eufemismo!

— Sim, eu vi o incidente... — Hiashi falou, sério. — Mas não há com que se preocupar com relação a essa secretaria, Neji já negociou os termos e está revendo os impostos, ele acredita que dê para os reduzir.

— E você concorda? — perguntou Orochimaru, surpreso.

— Abaixar os impostos antes da eleição é uma ótima propaganda. E, enquanto Neji foca na parte legal da campanha, ele não me atrapalha em outros assuntos.

— Já descobriu para onde mandaram o amante de Ten-Ten?

— Não, e não importa mais. Ao que parece, há agora outro modo de convencê-la a cooperar quando eu precisar.

— Qual? E por que precisa tanto dela?

Hiashi riu.

— Ainda preciso ter certeza, mas Ten-Ten possui Neji na mão. É mais fácil controlá-lo por meio dela. E, além disso, é garantir o apoio do pai dela.

— Ele tentará influenciar a investigação do desvio do hospital?

— Orochimaru, deixe que desse assunto cuido eu.

Orochimaru riu, baixo, perigoso.

— Só estou assegurando que essa lama não respingue em mim caso eu ganhe as eleições, Hiashi. Devia ter ouvido Neji quando ele quis recusar esse golpe, mas eu entendo: ambição nos cega, não é?

— Cuidado, Orochimaru, você não é ninguém para falar de mim.

— Detalhes, meu caro, detalhes. Agora, quanto aos assuntos mais recentes, reconheceu os dois da foto que te entreguei?

— Sim. E já estou cuidando disso.

— Você cuida de muitas coisas, Hiashi — provocou. — Eu me lembro do de cabelos pretos, é o mesmo jornalista que me causou problemas anos atrás. E o outro?

Sasuke! Naruto arregalou os olhos ao ouvir e conferiu a porta de onde tinha vindo para se certificar de que ninguém estava vindo.

— O outro não interessa.

— Ora, Hiashi, é claro que interessa. Nosso acordo para essa eleição é de mútua ajuda, então eu quero saber com quem estou lidando. Sasuke Uchiha é um saco, não quero outro como ele revirando minha vida. Demitir Sasuke foi algo inteligente, você tinha me garantido que ele não voltaria a nos incomodar, e a foto foi tirada depois da demissão. Ele é como um parasita, um parasita burro, que mata seu hospedeiro sem se importar se vai morrer no processo. Quando eu queimei aquele carro dele, achei que pararia de vir atrás de mim, mas, pelo contrário, eu estava sendo processado e caçado logo após isso!

— Sasuke e esse outro possuem algo em comum, pelo que eu notei: eles não se importam muito em se colocar no fogo para alcançarem o que querem. Contudo, são como Ten-Ten, não ousam arriscar a pele das pessoas com que se importam.

— Cuidado, Hiashi... Quanto mais pessoas envolvidas, mais a chance de dar errado.

— Não estou envolvendo mais peças no nosso tabuleiro, estou removendo-as. E, desta vez, vai ser um pouco diferente...

— E o artista? Ele não consegue nada?

— O artista! — Hiashi riu com descaso. — Ele é um covarde, está amedrontado, é um inútil, já não serve de grande coisa e...

Naruto arregalou os olhos ao ouvir uma cadeira se arrastar no chão. Desligou o gravador e engoliu em seco como se isso fosse fazer seu coração bater mais devagar. Saiu, tentando ser rápido e silencioso, até chegar a porta e fugir daquele cômodo. Ao atingir o corredor, apressou-se. Não respondeu a ninguém e correu assim que saiu da casa e viu os portões à frente. Os seguranças lhe miravam, confusos, mas o deixaram passar.

"... a pele das pessoas com quem se importam...".

Preciso falar com você. Urgente. Informações de Hiashi e Orochimaru. Digitou rapidamente para Sasuke, jogou o celular no banco do passageiro assim que entrou no carro e girou a chave. Precisava passar a gravação para Sasuke, mas, antes, tinha que ter certeza de que sua vó estava em casa e bem e, em seguida, alertaria Hinata e Gaara para que tomassem cuidado. Aquilo estava saindo do controle...

* * *

Sakura entregou a matéria para Pain com um sorriso que não cabia em seu rosto. Estava de bom humor. Fato. Sasuke havia aprovado a matéria, Deidara a havia deixado em paz em relação aos quadros que haviam visto, Hinata tinha lhe mandado uma mensagem pela manhã, então, tudo estava melhor que o esperado. A matéria que mostrava a Pain não era sobre o feriado em que Orochimaru discursara, aquela já havia sido publicada com alguns cortes que o Jornal quis fazer; agora era uma nova, uma que reunia alguns escândalos antigos do político mais as falhas em suas promessas de campanha mais a suposta relação de ajuda mútua entre ele e Neji Hyuga.

Contudo, diferentemente de Sasuke, que gostava de ser o primeiro a entregar as matérias para Pain verificar, ela agiu com outra estratégia. Esperou o dia terminar, tinha sido uma manhã horrível, uma tarde agitada e, no fim do expediente, pôde ver através da janela de vidro Pain apoiar a cabeça nas mãos e quase dormir sobre os papéis. Assim, quando ele estava já arrumando suas coisas para ir embora, ela entrou com a matéria e um ar tão animado que fez o chefe suspirar exausto só de vê-la.

— Não vou publicar isso — Pain disse, sério, ao terminar de ler. — O que está fazendo, Sakura? Eu te ofereci a vaga de Sasuke na política e você recusou. Para que isso então? — Jogou os papéis na mesa. — Já coloquei outra pessoa no lugar de Sasuke, agradeço a matéria, mas você não escreve para essa área.

Sakura estalou a língua no céu da boca, descontente, mas não convencida. Apoiou o casaco sobre a cadeira e refletiu rapidamente. Pain havia lido em menos de cinco minutos, não devia nem ter prestado atenção ao que estava naquelas linhas, muito menos da forma como ela havia escrito. Já havia visto que a vaga de Sasuke havia sido "ocupada", mas sabia que Pain não perderia a chance de publicar uma boa matéria mesmo nessa situação.

— Você leu a matéria? — Sakura colocou a mão na cintura. — A campanha de Orochimaru pode ficar abalada com ela se me apoiar, Pain.

— Qual o problema de vocês com Orochimaru? Primeiro, Sasuke, agora você? — Pain massageou as têmporas. — Olha, todos odiamos Orochimaru, ele não é nem de longe o melhor candidato, o passado dele é mais podre que um cadáver, mas nós não somos um jornal sensacionalista ou de intriga. Você já fez suas críticas quando cobriu o pronunciamento dele no feriado da cidade.

— Editada. Censurada! — ela rebateu firme e olhou ao redor, reparando que os outros funcionários já desligavam seus computadores e se levantavam em direção ao elevador. — Metade do que escrevi não foi publicado.

— Não havia espaço. Você viu as outras matérias do dia.

— Pain!

— Sakura, a resposta é não — Ele ergueu a cabeça, cansado.

— O que não está bom na matéria? — Ela cruzou os braços. — O que fez você dizer não?

— Eu... — Ele suspirou e piscou na tentativa de limpar a vista. Pegou os papéis de novo e leu rapidamente os primeiros parágrafos. — Retire esse primeiro parágrafo, está chato e repetindo todas as outras matérias que já foram feitas sobre Orochimaru.

Ela assentiu. Pain se recostou na cadeira e deu um último olhar para o relógio sobre a mesa.

— Lerei isso amanhã — decidiu.

— Não! A matéria precisa ser publicada amanhã, Pain! Orochimaru fará outro discurso! Se eu tiver que fazer a matéria de amanhã e publicar essa antes, a notícia se tornará desatualizada.

— Sakura, você não vai cobrir Orochimaru amanhã, não é sua área — ele repetiu como se discutisse com uma criança.

— Pain, eu estou cansada, você também, e eu me esforcei muito por essa matéria...

— Lerei amanhã cedo, eu prometo — ele respondeu e se levantou.

Sakura assentiu e pegou os papéis. Saiu da sala, irritada, não deixaria aquilo daquele jeito. Esperou Pain entrar no elevador e sorriu para Deidara quando ele passou por si e lhe deu um beijo no rosto de despedida enquanto ela arrumava a bolsa e desligava seu computador. Consultou o relógio. Não demoraria para a equipe de limpeza chegar.

Ele recusou a matéria, mas vou dar um jeito. Enviou para Sasuke.

— Senhorita? Já está tarde, fazendo hora extra?

Sakura sorriu ao se virar e ver uma das mulheres que trabalhavam na limpeza do andar.

— Graças a Deus! — Ela suspirou, aliviada. — Eu esqueci meu casaco na sala C-01, e a pessoa que tem a chave já foi embora. Você poderia abrir para mim só para eu pegar o casaco?

— C-01? — a senhora franziu o cenho e pegou o molho de chaves do bolso depois de apoiar o esfregão na mesa. — Claro, venha, está frio lá fora.

— Eu sei. Por isso não fui embora... Imagina! Sair com esse tempo sem um casaco decente. Meu chefe me mataria se eu ficasse doente logo agora.

A senhora sorriu, gentil, e destrancou a porta. Sakura passou por ela assim que a porta se abriu e pegou o casaco sobre a cadeira.

— Ah... o computador está ligado — Sakura franziu o cenho. — Vou desligá-lo, um momento. Esse pessoal que trabalha aqui não sabe o quanto isso gasta de energia, não é?

A senhora assentiu, e Sakura a ouviu falar alguma coisa sobre o filho que não saía da frente do computador e que muitas não o desligava também. Enquanto isso, ligou o computador.

— Ótimo. Travou... — resmungou, inconformada. — É isso que dá esquecer ligado.

— Acha que vai demorar?

Sakura fingiu pensar e se sentou de frente ao computador que terminava de ligar.

— Vou tentar arrumar rapidinho.

A senhora voltou a conversar com ela, reclamando da tecnologia atual. Sakura sorria e fingia se exasperar com um computador que não "respondia". Abriu o e-mail de Pain para onde havia mandado a matéria. Alterou o horário do computador e encaminhou seu artigo para o setor de impressão, sorrindo ao ver que o e-mail de Pain mostraria um horário de envio de quando ele ainda estava na sala. Sabia que o pessoal da impressão reclamaria por ter que arranjar espaço para a matéria, mas eles nunca reclamariam de uma decisão de Pain. Depois disso, fechou tudo e desligou a máquina.

— Prontinho. Muito obrigada, a senhora é muito gentil — agradeceu quando a porta da sala de Pain foi, enfim, trancada.

Ao entrar no elevador, sorriu para o reflexo no espelho e arrumou o cabelo. Pegou o celular e leu a resposta de Sasuke:

Cuidado. Itachi fez lasanha. Venha para cá.

Com você me convidando com tanto amor e carinho, não posso recusar. Respondeu rindo sozinha.

Chegou à casa de Sasuke sem muita demora. Ouviu as patas na porta assim que tocou a campainha e sorriu ao vir Pandora com uma gigante coleira do tipo abajur, quando Sasuke lhe abriu a porta.

— Ela ainda tem que usar isso? — perguntou ao se abaixar para acariciar a cabeça e a barriga da cachorra.

— Não, mas Itachi insiste em levá-la amanhã no veterinário antes de tirar. — Sasuke revirou os olhos. — E, então, como foi com Pain?

Sakura sorriu, e Sasuke percebeu como ela colocou os braços atrás do corpo e olhou para o teto enquanto se distanciava para se jogar no sofá.

— Você disse que tinha lasanha... — ela resmungou ao abraçar uma almofada. — Cadê Itachi?

— No banho. A lasanha está no forno, eu estava esperando você chegar e ele se juntar a nós.

Ela sorriu e olhou para o interior da casa para se certificar de que Itachi não os ouviria. Então, sentou-se, ansiosa.

— Ele não aprovou a matéria.

— Por que não? — Sasuke ajudou Pandora a subir no sofá para que ela fosse até o colo de Sakura, sem se importar se sujava ou não a calça clara que a amiga vestia. — A matéria estava incrível, eu vi.

— Ele não quis, Sasuke, e eu acho que Pain está se desviando de tudo que possa trazer... problemas.

— Acha que ele foi...

— Comprado. — Sakura bufou e tirou a coleira de Pandora, sem se importar com o olhar de censura que Sasuke lhe direcionava. — Pronto, garota, livre por alguns minutos. — Riu, baixo. — Enfim, não quero acreditar nisso, mas é estranho, Sasuke... Pain nunca rejeitaria minha matéria, e ele não pensou duas vezes antes de te demitir mesmo sabendo que era inocente! Além disso, não vai me deixar cobrir mais nenhum discurso, mais nenhuma entrevista, nada que envolva política. Alguém o subornou ou então ele... sei lá! Não consigo pensar em outra coisa... E nem deu tempo de checar o e-mail dele...

Sasuke conteve a surpresa.

— E-mail? — repetiu e se sentou ao lado da amiga.

— Ah... eu meio que invadi a sala dele e mandei minha matéria para a impressão pelo computador dele... O e-mail pessoal pedia a senha, mas o e-mail da empresa faz login direto, lembra? Então, amanhã, teremos a minha matéria publicada com certeza.

Sasuke abriu a boca, mas a fechou em seguida, repetindo a ação duas ou três vezes antes balançar a cabeça em negação, incrédulo. Pegou o abajur de Pandora e o colocou de volta na cachorra ao ouvir barulho vindo do quarto.

— Sakura, você vai ser demitida. Eu pedi para que tomasse cuidado — falou, irritado, sem olhá-la.

— Ele estava exausto, morrendo de sono... Se amanhã eu disser que ele leu e aceitou a matéria sem nem ler direito, capaz de acreditar, Sasuke — ela sussurrou e olhou para o lado, suspirando aliviada por não ver Itachi. — Já está feito, não dá para voltar atrás.

— Você ao menos se lembrou de tirar a sua assinatura da matéria, como combinamos?

— Eu... — Sakura parou e pareceu pensar por um momento, arregalou os olhos e choramingou.

— Não acredito. — Sasuke se levantou, com raiva, e andou de um lado para o outro. — Não acredito!

Sakura avistou Itachi e sorriu, sem jeito e sem ânimo.

— Não era para você se expor! Eu mandei tomar cuidado, Sakura! — Sasuke se exaltou, e Itachi estreitou o olhar ao perceber que o irmão estava, de fato, nervoso. — Se Ten-Ten procurar seu nome e ver seu rosto, ela vai com certeza se lembrar de você seguindo Hiashi e Orochimaru! Do que adianta ter dado um nome falso e ter assinado com o seu aquela matéria?

— Do que estão falando? — Itachi perguntou.

— Podemos primeiro comer? Estou morrendo de fome! — Sakura fez um gesto de descaso ao se levantar e sorrir nervosa assim que ficou fora das vistas de Itachi, na cozinha.

— Sasuke? — Itachi insistiu e segurou o braço do irmão.

Sasuke massageou a têmpora e resmungou algo em baixo tom ao ouvir o celular de Sakura tocar dentro da bolsa.

— Depois de jantar — ditou a Itachi e pegou a bolsa no sofá antes que Pandora se aproximasse e resolvesse destruir a peça. — Sakura, telefone.

Itachi seguiu para a cozinha e pegou as luvas da mão de Sakura para poder retirar a travessa de lasanha do forno e levá-la à sala de jantar. Colocou a travessa sobre o apoio de madeira e ajudou Sasuke a distribuir pratos, talheres e copos pela mesa.

— Vou pegar o suco — Sasuke falou, fugindo da expressão inquisitória do irmão.

Itachi cerrou os punhos e controlou-se para não começar mais uma discussão com Sasuke. Virou-se para avisar Sakura de que ela já poderia se sentar, porém desistiu... Ela olhava fixamente para o celular, os olhos verdes arregalados em surpresa, os dedos deslizando pela tela do aparelho enquanto os lábios se moviam em uma leitura muda. Ela recuou um passo, encostando no braço do sofá, e sentou-se enquanto levava a mão à boca.

— Sakura?

Ela ergueu a mão pedindo que ele esperasse. Ele olhou para Sasuke que também observava a amiga à distância. A surpresa na feição delicada se tornou... decepção? Não. Era indignação, algo mais próximo a aversão ou choque à uma verdade ruim.

— Isso... — ela tentou falar, mas os olhos continuaram a correr pelas letras do e-mail que havia recebido.

Sasuke se aproximou dela, não era tão educado ou paciente quanto Itachi para esperar que ela estivesse "pronta" para explicar o que acontecia. Tocou-lhe o ombro e leu por cima da cabeça dela o arquivo aberto no celular.

Em menos de um minuto compreendeu o que era aquilo e se afastou num misto de preocupação e conformidade. Sakura o encarou por alguns segundos, e ele sentiu-se mal quando ela se levantou, magoada.

— Sasuke...

— Ligue para ela — ele respondeu, calmo, esforçando-se para soar delicado.

Sakura piscou, incrédula, e riu, sem humor.

— O quê? Isso... isso... ah meu Deus, isso é verdade? — ela perguntou alto.

— O que houve? — Itachi questionou, confuso.

— Ligue para ela, Sakura — Sasuke pediu, e Itachi se aproximou da amiga que lhe estendia o celular.

Sakura passou as mãos pelos cabelos, a mente correndo as informações armazenadas ali como um estagiário a revirar todas as gavetas de um escritório infinito. De repente, parou, franziu o cenho e apontou o dedo na direção de Sasuke.

— Você sabia! — ela declarou, ultrajada. — Meu Deus! É verdade e você sabia disso! Ela... Naruto! Sasuke, você sabia e não me contou! — Virou-se para Itachi em busca de apoio, mas arfou e choramingou quando ele baixou os olhos para não a encarar. ­— Ah, não... diz que você não sabia disso também...

Itachi colocou o celular na mesa, cruzou os braços e espiou o irmão pelo canto dos olhos. Sasuke estava preocupado, apreensivo, e Itachi sabia o motivo. Sakura não aceitaria aquilo, ela não aceitaria que Hinata...

— Vocês me encorajaram! — ela gritou, nervosa. — Não acredito que não me contaram que a mulher com quem estou saindo é uma prostituta! Quando ficaram sabendo?

— Sakura, Hinata trabalha como acompanhante em eventos — Sasuke a corrigiu com cuidado.

— Em um bordel! Um puteiro! — ela rebateu e pegou a bolsa no sofá. — Quando souberam?

— Quando descobri que ela trabalhava no mesmo lugar que Naruto — Itachi respondeu. — Um pouco depois da demissão de Sasuke...

— E você? — ela perguntou a Sasuke, inconformada, incrédula. — Sasuke!

— No hospital... quando você e ela se encontraram no hospital, lembra? Sakura... — Sasuke se aproximou e tentou segurá-la, mas ela se desvencilhou com raiva e caminhou até a porta com passos duros. — Sakura!

— Não! — ela gritou, irritada. — Não quero saber de vocês agora, de nenhum dos dois! Vocês mentiram para mim! Por quê? Estava divertido me encorajar nessa loucura? Me empurrar para um relacionamento com... com... Argh!! Não acredito que fizeram isso!

A porta bateu com força o suficiente para fechar e voltar a se abrir com o impacto, e Pandora pulou assustada no sofá fazendo com que Sasuke a segurasse e a ajudasse a descer ao chão.

— Ela esqueceu o celular — Itachi falou e se sentou à mesa, sem apetite.

Sasuke não respondeu e ouviu o carro de Sakura saindo pela rua. O celular na mão de Itachi chamou sua atenção. O e-mail estava completo. Fotos de Hinata, Naruto e mais alguém de quem não se lembrava na Akatsuki e em eventos; havia uma cópia do contrato de Hinata bem como datas dos eventos, valores dos pagamentos e uma breve história pessoal. Certo, havia errado em não contar para Sakura sobre ela, mas o havia feito porque achara que Hinata mesmo contaria!

— Onde você vai? — Itachi perguntou quando ouviu os barulhos da chave da moto.

— Onde vamos — Sasuke corrigiu. — Pegue o celular dela, vamos levar para Deidara e ver se ele consegue descobrir quem mandou esse e-mail para ela, embora, segundo as últimas mensagens de Naruto, eu já tenha uma ideia.

* * *

Hinata havia deixado uma revista sobre a cama de Gaara no quarto da Akatsuki. Ele ainda não havia visto a matéria em que uma revista de fofoca tinha publicado fotos dele, e Hinata achara melhor alertá-lo.

Ele pegou a revista e encostou na parede enquanto lia sozinho no quarto. A matéria não dizia nada de importante de fato, contudo, seria melhor que ele tomasse cuidado ao entrar e sair do apartamento de Ino a partir daquele momento, principalmente para não ser seguido até a Akatsuki.

Olhou o relógio mais uma vez. Hinata havia ido a um evento e, provavelmente, voltaria tarde. Naruto não havia aparecido naquele dia, apenas mandara uma mensagem dizendo que precisava resolver "problemas inesperados" pela manhã e, então, não conseguira mais falar com ele. Pelos comentários nos corredores, soube que o lugar estava cheio. Chegaria pela manhã na casa de Ino só e esperava que ela estivesse descansando o suficiente dessa vez.

Banhou-se, vestiu-se com uma calça jeans escura e deixou o tórax desnudo. Konan, uma das mulheres que trabalhavam ali, encontrou-o em frente à porta onde se apresentariam. Entraram juntos. Não havia música, a luz estava roxa e com um pequeno foco branco que os acompanhava enquanto se apresentavam. As máscaras, como sempre, impediam que visse os clientes, mas Gaara logo percebeu a que janela devia dar mais atenção.

Em cinco minutos, a luz havia se acendido duas vezes na cor que indicava que ele era o escolhido e, depois, a mesma janela cobria rapidamente qualquer outro lance das demais.

— Parece que alguém quer muito te ver, Gaara — Konan sussurrou em seu ouvido antes de virar-se de costas para que ele puxasse o quadril dela à sua virilha.

Gaara sorriu de canto forçadamente. Não via a hora daquele maldito contrato acabar para poder escapar de tudo aquilo. A janela, com certeza não era de Ino, ela não largaria as obras para estar ali, não podia. Então, quando o cliente ganhou o leilão, ele não possuía o mínimo interesse de ir até lá. Mesmo assim, despediu-se de Konan com um breve olhar e abriu a porta.

O quarto estava bem iluminado, havia um homem sentado sobre a cama. Ele retirou a máscara e revelou um rosto sério, indiferente, mas que logo exibiu um sorriso calmo. Gaara fechou a porta atrás de si e, então, pareceu confuso ao perceber que havia mais dois homens vindo do mini bar em sua direção.

— Desculpe, senhor — Gaara virou-se para o homem sentado na cama. —, mas acho que não leu minha ficha. Não durmo com mais de duas pessoas e, quando isso ocorre, uma delas é uma mulher.

Um dos homens riu, e isso foi o suficiente para Gaara sentir um arrepio frio lhe subir pela espinha. Rapidamente, percorreu o quarto com os olhos e caminhou com calma até o botão de ajuda mais próximo: criado mudo, atrás do abajur.

— Você ouviu isso, Sai? — O mesmo homem riu, agitando a bebida no copo antes de bebê-la toda.

O homem sentado na cama assentiu, e Gaara tentou não se mostrar assustado ao reconhecer o nome. Sai. O mesmo homem que havia encurralado Naruto e o mandado ao hospital. Sai. Segurança de Hiashi Hyuga. Apertou o botão mais de uma vez com discrição e olhou para a porta, à espera de ajuda.

— Vamos acabar com isso logo — Sai falou, monótono, ao se levantar. — Nosso chefe pediu que nós te entregássemos uma mensagem e pediu que você a repassasse para o seu amigo, Naruto. Pode fazer isso?

Gaara apertou o botão uma última vez e retesou o corpo. Sai sorriu, e, dessa vez, Gaara percebeu que aquele sorriso fino e educado era perigoso...

— Ótimo então — Ele livrou-se do terno e sinalizou para os outros dois. — Podemos começar. Lembrem-se, não mirem o rosto, o sortudo aí vai ter uma aparição pública em breve e não pode chamar a atenção.

Gaara cerrou os punhos e esperou. Por uma última vez, olhou para a porta: a ajuda não viria. Estava sozinho com os seguranças de Hiashi, e Jiraya não só sabia como havia permitido aquilo...

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