Um novo amanhã l.s

By AnonimaLarry

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Louis e Harry sentados sob uma árvore... se b-e-i-j-a-n-d-o... Bem, talvez não fosse uma árvore, mas houve di... More

PRÓLOGO
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EPÍLOGO

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By AnonimaLarry




Harry foi despertando lentamente, tendo a vaga sensação do aroma doce da brisa da manhã e do som distante de vozes.

Gretchen provavelmente assistia desenhos animados. O responsável pelo invento de tal programação matinal era um gênio.

Ouviu um latido e o protesto de uma voz masculina profunda. Imediatamente sentou-se na cama. Não estava no pequenino apartamento em Nova York, lembrou-se, e sim de volta a Holmes Chapel!

Olhou para a cama onde Gretchen passara a noite. Vazia. Entrou em pânico. Onde estaria sua filha? E Linda? E Poppy?

Pulou para fora da cama, e apressou-se rumo à cozinha. Parou ao batente, atônito com a cena que vislumbrou.

Poppy estava em pé ao fogão, de costas para ele, a fazer panquecas. Linda se achava do lado de fora da porta dos fundos, o nariz pressionado contra a tela para olhar para dentro. E Gretchen estava com a testa franzida, concentrada em ajeitar guardanapos de papel em cada um dos três lugares à mesa.

— Terminei, Poppy — anunciou á menina ao encerrar a tarefa. — O que posso fazer agora?

— Pegue a manteiga e o leite na geladeira e então vá acordar seu pai. Aqui, se você quer tomar café da manhã, tem de se levantar no horário em que é servido.

Harry experimentou o gosto amargo de velhos ressentimentos ante o tom ríspido da voz do avô.

— Estou acordado — declarou, dando um passo para dentro da cozinha.

— Oi, papai. Poppy está fazendo panquecas!

Gretchen lhe deu um sorriso radiante e instantaneamente a mágoa de instantes atrás se dissolveu.

— Venha me dar um beijo de bom-dia, filha — disse ao acomodar-se em uma cadeira à mesa.

A menina obedeceu de imediato, jogando-se sobre o colo do pai e enlaçando-lhe o pescoço.

Abraçaram-se durante alguns segundos, durante os quais Harry sentiu o perfume de morango dos cabelos de Gretchen.

— Poppy disse que Linda tem de ficar do lado de fora — declarou a pequena ao descer de seu colo. — Mas falou que irá construir para ela uma casinha de cachorro.

— Mas que gentileza!

Harry fitou o avô. Suas costas estavam rígidas.

— Posso fazer algo para ajudá-lo? — perguntou.

Ele se virou do fogão, um prato de panquecas na mão.

— Está tudo pronto. O café está no fogão, se quiser uma xícara.

Poppy jamais aceitara as conveniências da vida moderna, como uma cafeteira automática. Em vez de usar uma máquina, preferia fazê-lo no fogão. E não havia nada como um café feito à maneira antiga.

Harry serviu-se de uma xícara do líquido forte e cheiroso e sentou-se à mesa com o avô e a filha.

Cada qual fez seu prato e todos comeram em silêncio durante alguns minutos. A quietude opressiva fez Harry lembrar-se de seus anos de adolescência. Uma vida toda de refeições partilhadas por um velho resmungão e um garoto teimoso.

Pois tentaria mudar aquela rotina, pelo bem de Gretchen.

— Como estão as coisas no restaurante?

— Está difícil conseguir bons ajudantes.

Poppy bebeu um gole de café e serviu-se de uma segunda panqueca.

— O negócio sempre é bom, mas ninguém mais quer ser garçonete!

— Eu poderia ajudar no período em que estivermos aqui — ofereceu-se depois de um momento de hesitação.

Não era exatamente o emprego de seus sonhos, mas um trabalho mesmo assim. E talvez em um mês ou dois pudesse guardar dinheiro suficiente para voltarem a Nova York.

Poppy deu de ombros.

— Fique à vontade. Seria útil a ajuda.

— Eu poderia trabalhar lá também — palpitou Gretchen. — Papai eu costumávamos sempre comer no restaurante em Nova York.

— Não, bebê, se eu trabalhar no restaurante, encontraremos uma babá para você — respondeu-lhe o pai.

— Ela poderá ficar aqui comigo enquanto você estiver no restaurante — falou Poppy. — Eu já não vou muito para lá. Tenho a gerente para cuidar do dia-a-dia do negócio.

Harry quis protestar ante o arranjo. Não queria que Gretchen se subjugasse à fria indiferença de Poppy, aos períodos de silêncio que o haviam afastado do avô.

Mas como poderia se mostrar contrário àquela rotina se dissera ter retornado justamente para dar a Poppy e Gretchen a oportunidade de passarem algum tempo juntos?

Além do mais, sem ter de pagar uma babá, conseguiria guardar mais dinheiro para partir. De qualquer maneira, seria interessante ver o que duraria mais: o sorriso eternamente animado de Gretchen ou a carranca taciturna de Poppy.

— Poppy, eu poderia ajudá-lo a construir a casa de cachorro de Linda? — Gretchen perguntou.

— E talvez possamos pintá-la de vermelho. Acho que Linda gostaria de ter uma casa vermelha.

— Não é preciso pintar uma casa de cachorro.

Gretchen encarou o bisavô soberbamente, então fez um gesto de concordância.

— Tem razão. Linda gostará de uma casa de madeira também.

Poppy fitou-a por um longo momento, então murmurou alguma coisa inaudível. Em minutos todos terminaram de comer.

— Gretchen, vá trocar de roupa — orientou o pai ao começar a tirar os pratos da mesa.

— Talvez você queira levar a menina para o velho galinheiro. Há coelhos lá — Poppy falou quando a bisneta saiu em direção ao quarto.

— O nome dela é Gretchen — Harry respondeu de modo tenso.

— Sei disto — murmurou de volta, enchendo a pia de água com sabão.

— Gretchen Anne Styles. O Anne é em homenagem a mamãe.

Esperou que ele dissesse algo, qualquer coisa, mas como sempre, Poppy permaneceu em silêncio.

— Terminarei as coisas por aqui — disse ele finalmente, quando havia apenas uns poucos pratos a serem secados e guardados.

— Está bem. Irei trocar de roupa e levarei Gretchen para um passeio pela fazenda.

Secou as mãos no pano de pratos, deixou a cozinha e subiu a escada rumo a seu quarto.

Gretchen estava lá. Vestira calça jeans e uma camiseta cor-de-rosa. Estava em pé observando fotografias remanescentes do passado de Harry.

— O que é isto, papai? — Gretchen indagou, apontando para um arranjo de flores secas.

— Um buquê — respondeu ao vestir calça jeans e uma camiseta.

— O que é um buquê?

Harry penteou os cabelos .Sentou-se próxima à filha.

— São várias flores juntas que um namorado dá a pessoa que gosta.

— Seu namorado deu este para você? — Gretchen perguntou.

Harry tocou o buquê de flores secas, não se surpreendendo quando algumas pétalas se desprenderam ante seu contato.

— Sim.

Oh, com que facilidade as lembranças invadiam sua mente. Naquela noite em que Louis lhe dera as flores...

Na ocasião, ele iria ser seu acompanhante em uma festa, mas Poppy não permitira devido a uma rebeldia do neto às regras por ele estabelecidas.

Harry passara a noite no quarto, chorando pela oportunidade perdida, detestando o senhor a quem fora dada a responsabilidade de criá-lo.

Próximo à meia-noite, acendera a lanterna à janela, sinal de que iria escapar para encontrar-se com Louis. E lá, no meio do milharal, os dois se abraçaram. Ele estava com seu melhor terno e o presenteou com um buquê de flores. Dançaram sob o luar, conforme os sons que seu rádio à pilha emitia.

— Você teve muitos namorados, papai? — perguntou Gretchen, quebrando suas divagações.

— Aposto que sim. porque você é tão lindo!

Harry riu e pegou a filha nos braços.

— Não. Quando eu era pequenino, não era bonito. Era magro, desajeitado. Bem, mas já basta de conversas sobre mim. O que você acha de ver outros animaizinhos além de Linda?

Gretchen arregalou os olhos.

— Jura?

— Sim. Vamos, vamos ver o que conseguimos descobrir lá fora.

Minutos mais tarde os dois saíam pela porta dos fundos e eram acolhidas pelo calor do sol.

— Iremos ao velho galinheiro primeiro — declarou o pai, apontando em determinada direção. Conforme caminhavam, Harry teimosamente mantinha o olhar distante da casa vizinha. Não queria pensar em Louis. Em vez disso, ocupava-se em mostrar à filha as coisas interessantes da fazenda.

— Vê aquela construção? Eu costumava brincar ali quando era pequeno.

— Acha que Poppy deixará que eu brinque lá?

— Não sei. Teremos de lhe perguntar.

Conforme continuavam a jornada, Harry pensava naqueles longos dias de verão de sua infância.

Aquele local se tornara sua escapatória ao mau humor do avô, a quem ele fora enviado para morar logo após a morte dos adorados pais. No confinamento da pequena construção, fingira estar em férias com os pais, imaginava não sentir tanta solidão.

Ali derramara lágrimas que não deixara ninguém mais ver. Sonhara tornar-se famoso, ser amado. Também naquele lugar recebera o primeiro beijo... e fora de Louis.

— Oh, papai, olhe! — Gretchen exclamou, ao ver coelhos. Correu para frente, fazendo os animais se assustarem. Harry sorriu ao ver a filha subitamente estacar e prosseguir, pé ante pé, até meter os dedos pelos buracos do arame.

— Não são lindos? — perguntou a menina.

— Quer segurar um?

— Posso? — perguntou, quase sem fôlego.

Harry destravou o portão e entraram. Ouviu os risos de excitação de Gretchen enquanto tentava lhe pegar um coelho, então outro. Finalmente agarrou um e estendeu-o à menina, que sentou-se e o colocou sobre o colo.

Sorriu ao observar a menina com o bichinho. Gretchen parecia ter uma afinidade especial co tudo o que era fraco, frágil e indefeso. A sua maneira conquistava corações enquanto outras meninas preferiam fazer desaforos.

Subitamente fez-se ouvir o ruído de algum maquinário da fazenda. Harry se virou em direção ao barulho exatamente no instante em que o trator se aproximava.

Louis estava sentado ao volante, como um rei. Parecia ao mesmo tempo estar relaxado e orgulhoso. Estava sem camisa e vestia calça jeans bem puída, os ombros brilhando, bronzeados, sob a luz do sol.

Os cabelos castanhos cintilavam, embora Harry soubesse que o sol seria incapaz de lançar qualquer luz naquele olhar frio.

Evitou fitá-lo, até mesmo manter a cabeça voltada naquela direção, irritado por Louis não ter se tornado um homem feio com o passar dos anos. Vê-lo novamente teria sido muito mais fácil se não fosse tão devastadoramente atraente.

— Vamos, bebê. Poderemos voltar para ver os bichinhos em outra hora — falou à filha, não querendo mais ver Louis, nem recordar-se de tempos passados. — Precisamos acabar de desfazer as malas.

— Tchau, filhotinho — murmurou Gretchen conforme a paia puxava para fora. — Quem é ele? — perguntou, apontando para Louis, que estendeu a mão para cumprimentá-la.

— Um vizinho.

— Acha que me daria uma carona em seu trator? — Gretchen perguntou, ao acenar de volta.

— Tratores não são para garotinhas. Vamos, vamos embora.

Harry a conduziu de volta à casa, ansioso por estar dentro da proteção daquelas paredes, de onde não poderia ver Louis.

Era curioso não ter antecipado o quão difícil seria voltar a vê-lo. Provavelmente já estava casado, considerou em pensamento. Casado com algum jovem doce cujo maior sonho na vida fora o de ser esposo de um fazendeiro. Também já devia ter um ou dois filhos aguardando por sua chegada à casa.

De alguma maneira, a adoção de tais premissas lhe tornava mais fácil lidar com a situação.

Gostava de pensar que Louis estava feliz. Sempre desejou que estivesse. Fazia com que as escolhas que ele fizera lhe parecessem corretas.

Mas ao mesmo tempo o odiava por ter encontrado aquela felicidade sem ele.

Durante a maior parte do restante da manhã Harry e Gretchen ficaram desempacotando e guardando seus pertences. Mudaram a disposição dos móveis, em um esforço para gerar mais espaço.

Se pretendesse uma longa estadia, Harry teria acomodado a filha no quarto de hóspedes.

Mas, era claro, não ficariam por muito tempo.

Cerca de poucos minutos antes do meio-dia as duas voltaram à cozinha. Poppy, novamente, se achava em frente ao fogão.

— Humm, algo está com cheiro bom! — Gretchen vibrou ao sentir o aroma do molho de tomate com alho.

— Parece que Poppy fez um molho caseiro para espaguete — Harry respondeu.

— Ah, adoro espaguete! — exclamou a menina.

— Poppy, não devia se dar a tanto trabalho para preparar o almoço — falou Harry, estranhamente tocado pelo gesto do avô em fazer o molho especial para a primeira refeição de Gretchen em sua casa.

— É terça-feira. Sempre faço molho às terças-feiras — respondeu. — Espaguete às terças e sanduíches de carne às quintas.

Oh, com que rapidez ele era capaz de transformar qualquer sentimento positivo em algo ruim, pensou Harry com um toque de amargura. Jamais lhe permitiria pensar que fizera algo por se importar com seu bem-estar.

— Ei, Poppy, há pratos demais na mesa — falou Gretchen.

— Não, são quatro. Haverá quatro pessoas para o almoço. Virou-se para dar uma olhada na massa já cozida.

— Louis almoça comigo quase todos os dias.

Harry franziu a testa.

— Ele não tem um esposo para lhe preparar o almoço?

— Não — respondeu simplesmente.

— Quem é Louis? — Gretchen perguntou, curiosa.

— Um vizinho.

— Aquele que nós vimos no trator?

Harry fez um gesto de assentimento e a garota sorriu.

— Oh, puxa, ele parece ser bonzinho!

"Ele não é bonzinho", Harry queria dizer à filha. "Ele me destruiu, dilacerou meu coração. Era meu melhor amigo, meu primeiro amante e quando eu mais precisei de sua presença, não estava disponível para mim."

Harry mordeu o lábio inferior para que as palavras não escapassem de modo algum. Não precisava de Louis Tomlinson.

— Poppy, eu segurei um coelhinho esta manhã — Gretchen falou ao senhor. — Era tão bonitinho e mexia o nariz assim...

Tentou imitar como o bichinho se portara.

Poppy olhou para a menina como se ela fosse uma visitante de outro planeta. Apenas por um momento, Harry poderia jurar ter visto a sombra de um sorriso curvar os cantos dos lábios daquele homem.

O barulho da porta dos fundos se abrindo rompeu a magia do momento e Poppy virou-se para a pia enquanto Louis entrava na cozinha.

— Humm, Poppy, o cheiro está ótimo! — exclamou ele ao fazer um aceno de cabeça para Harry.

— Olá, sou Gretchen — a menininha falou, sorrindo-lhe amigavelmente.

Louis ajoelhou-se para que pudesse fitá-la no mesmo nível. Harry sentiu um frio no estômago. Será que ele havia percebido alguma semelhança? Seria possível que pudesse ver características de si mesmo nas feições da filha?

— Olá, Gretchen. E um prazer conhecê-la. Meu nome é Louis.

— Eu segurei um coelhinho hoje! — Gretchen exclamou.

— É mesmo?

Louis ficou em pé, parecendo preencher todos os cantos da cozinha com sua presença avassaladora.

— Talvez enquanto vocês estiverem aqui, sua pai a leve até minha casa. Há uma ninhada de gatos lá.

— Gatinhos! — Gretchen falou, batendo as mãos em excitação e olhando para a pai. — Você me levará, papai?

— Veremos — respondeu, relaxando um pouco quando Louis afastou-se de Gretchen e desapareceu dentro do banheiro para lavar as mãos.

Poppy colocou a comida na mesa e Harry acomodou a filha numa cadeira.

— Posso fazer alguma coisa? — perguntou ele.

— A salada está na geladeira.

Harry pegou a salada e colocou-a na mesa justamente quando Louis voltava. Em minutos, todos estavam acomodados.

— Tirei todas as ervas daninhas e arbustos de perto do açude — Louis falou para Poppy ao servir-se de uma avantajada porção de espaguete.

— Talvez você queira levar a menina para pescar — Poppy falou para Harry.

— Oh, não, papai não sabe pescar! — Gretchen rapidamente interferiu. — Preferiria que você me levasse para pescar, Poppy. Bisavôs sabem pescar!

— Como você sabe tanto sobre bisavôs? — Poppy indagou em seu tom amuado de sempre.

— Quando papai me disse que viríamos para cá para eu ver meu bisavô, perguntei a todas minhas amigas o que sabiam sobre bisavôs e elas me disseram que são legais... E amorosos. Sabem pescar e soltar pipas. Ajudam a construir coisas e algumas vezes têm doces nos bolsos.

Poppy murmurou alguma coisa incompreensível e balançou a cabeça.

Louis riu, o som profundo reavivando lembranças no coração de Harry.

— Parece que tem muitas tarefas a executar, Poppy — falou Louis.

Ele resmungou mais uma vez.

— Como está sua mãe, Louis? — Harry perguntou. Ele o fitou, o olhar muito frio.

— Faleceu há dois anos.

— Oh, sinto muito! Se eu soubesse... Eu teria...

— Enviado flores?

Harry enrubesceu, surpreso pela raiva que viu brilhar naqueles olhos. Por que estaria bravo?

Fora ele quem a havia abandonado. Louis a ajudara a construir sonhos e então se recusara a participar de sua realização.

— E suas irmãs?

A raiva em seu olhar pareceu suavizar-se um pouco.

— Estão ótimas. Margaret partiu há pouco para seu primeiro ano no colégio e Susie casou-se há três meses.

— Deve se sentir muito orgulhoso das duas.

— É verdade. São maravilhosas.

Por apenas um momento, um sorriso curvou seus lábios.

Harry imaginou se ele estaria se lembrando de como as irmãs mais novas gostavam de provocá-los sem descanso, seguindo-os aonde quer que fossem, cantarolando que Louis e Harry estavam em cima de uma árvore se beijando e coisas assim. O casal se esmerava em vão na busca de estratégias para despistá-las.

Focou a atenção no almoço, pouco desejoso em lembrar-se daqueles dias e noites da infância e adolescência. Tudo aquilo lhe trazia uma mistura curiosa de prazer e dor.

— Ei, Louis, eu tenho uma cachorra — declarou Gretchen, a boca toda decorada de vermelho devido ao molho.

— Foi sua cachorra que eu vi amarrada lá fora?

Ela fez um gesto de concordância.

— O nome dela é Linda.

Inclinou-se em direção a Louis e baixou o tom de voz para um bem conspirador.

— Não é na verdade uma lindeza, mas nós a chamamos assim para que ela se sinta melhor.

— Ah, algo muito esperto de sua parte! — respondeu Louis.

O sorriso com que brindou Gretchen atingiu diretamente o coração de Harry. Quando a menina nasceu, Harry jamais imaginou que um dia a filha se sentaria tão próxima a seu outro pai em uma mesa de cozinha.

Nunca imaginou que Louis estaria na vida dos dois de alguma maneira.

"Ele é apenas um vizinho", afirmou a si mesmo. Era assim que devia vê-lo. Apenas um dos vizinhos de Poppy. Além do mais, em alguns meses, ele e filha estariam partindo dali.

— Achamos Linda em uma lata de lixo — Gretchen explicou para Louis. — Não é triste?Alguém quis jogá-la fora.

— Eu diria que Linda é um bichinho de muita sorte por ter sido encontrada por você.

Louis inclinou-se e limpou a boca de Gretchen com o guardanapo dele.

Novamente Harry viu-se tomado pela emoção. Seria um pai maravilhoso. Sempre falou sobre a família que gostaria de ter. Sobre seu sonho.

— Gretchen, se você já terminou de comer, vá lavar suas mãos e o rosto — falou o pai, querendo colocar alguma distância entre Louis e a filha.

— Está bem — concordou sem protestar.

Desceu da cadeira e começou a caminhar em direção ao banheiro, então fez uma pausa e virou-se.

— Louis, você gosta de pescar?

— Claro, é um de meus passatempos favoritos — respondeu-lhe.

Gretchen sorriu.

— Então talvez quando Poppy me levar para pescar você possa ir conosco.

— Isto me parece bastante divertido — concordou Louis.

Gretchen escapuliu da cozinha e ele fitou Harry.

— É uma criança maravilhosa. Parece ser muito inteligente para ter apenas três anos de idade.

— É brilhante — respondeu Harry rapidamente. — Mais inteligente do que outras crianças de sua idade.

— Fala demais — interferiu Poppy. Louis riu.

— Poppy, para você até uma múmia fala demais!

Mais uma vez Harry pensou ter visto o início de um sorriso desenhar-se nos lábios do avô.

Aquilo o desconcertou... era tão fora de contexto! Não podia se lembrar de tê-lo visto sorrir alguma vez.

— Ela se parece muito com você — Louis falou. Harry assentiu, no momento, grato por aquele fato.

Prendeu a respiração, aguardando uma pergunta sobre o outro pai da menina. Para seu alívio, entretanto, Louis concentrou-se em comer.

Quando terminaram, Harry começou a limpar a mesa.

— Deixe. Eu cuidarei disto — falou Poppy. — Você pode caminhar com Louis e certificar-se de que aquele bicho tenha água fresca.

Relutantemente Harry seguiu Louis para a porta dos fundos. À distância, Gretchen estava sentada no chão, fazendo desenhos para Linda, que a observava com olhar de adoração.

Louis apoiou-se na madeira da varanda, o olhar pousando na plantação de milho e feijão.

— Eu tenho tomado conta das tarefas nos campos de Poppy. Nós dividimos os lucros e ele faz almoço para mim todos os dias.

— Você não me deve explicações.

Louis virou-se para fitá-lo, seu olhar mais uma vez iluminado pela raiva.

— Tem razão. Eu não lhe devo nada.

Respirou profundamente e passou a mão pelos cabelos, o olhar mais uma vez mergulhado nos campos à distância. Houve alguns momentos de um silêncio constrangedor.

— Por quanto tempo pretende ficar? — ele finalmente perguntou.

Harry deu de ombros.

— Não tenho certeza. Estou entre dois projetos agora, então não há motivo para me apressar a voltar.

Não iria lhe dizer que estava entre projetos durante os últimos seis meses e que não tinha mais dinheiro.

— Por quê?

— Foi simpático de sua parte trazer sua filha para conhecer Poppy. Ele não está ficando mais jovem a cada dia, você sabe. Mas não fique tempo demais, Harry. Não despedace o coração dele novamente.

Não aguardou por uma resposta. Deixou a varanda e caminhou em direção ao trator estacionado logo adiante.

Harry observou-o sair, chocado com suas palavras. Não partir o coração de Poppy? Mas que ironia! Poppy não tinha coração para ser despedaçado.

Quando Louis passou ao lado de Gretchen, assanhou-lhe os cabelos e apertou de leve seu nariz. Os risos da menina foram trazidos pela brisa e Harry anotou mentalmente a primeira tarefa do dia seguinte.

Iria ao restaurante. O quanto antes conseguisse guardar algum dinheiro, mais cedo poderia sair dali.

E dessa vez, quando partisse, jamais, nunca mais sequer olharia para trás.






Povo amargurado


Capitulo não revisado, até logo

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