Amélia

By Tai_Werner

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Esta é uma história de amor sobre rodas. Jess e sua Kombi azul turquesa. Depois de meses de planejamento... More

Introdução Introdutória
Capítulo 1 - O Colecionador de Caronas
Capítulo 2 - Mapas, Namorados e Afins
Capítulo 4 - Ressacas Interiores
Capítulo 5 - Tampinhas
Capítulo 6 - Portões e Porta Retratos
Divulgação (Caminhos Tortos)

Capítulo 3 - Maccaio Hotel e o tal de Mata-Rato

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By Tai_Werner

Estavam finalmente em Oasis, a cidade a beira de uma grande rodovia. Era, literalmente, um pequeno oásis cercado de areia, planícies desertas e muitas, muitas estradas. E então, os escuros quilômetros desertos foram interrompidos por pequenos pontinhos luminosos que pouco a pouco se aproximaram. Eram placas, postes e letreiros de comércios, tudo a volta do asfalto, gritando por atenção. Uma grande metrópole rodoviária. Tudo, tudo mesmo, girava em torno dos veículos de passeio das famílias e ônibus de execução, lotados de turistas.

— Precisamos parar por aqui, estou exausta e morta de fome. — Jess declarou, olhando os prédios a volta a procura de algum hotel.

— Estou igual. — Gus respondeu, com uma mecha de cabelo entre os dedos, a cara de completo sono. — Onde vamos dormir, hein?

— Em qualquer lugar que me pareça vagabundo. O com mais cara de pulgueiro, é nesse mesmo que vamos ficar. — A garota falou, quase que em tom de ordem, mesmo que para Gus aquilo parecesse muito uma piada. — Tudo nessa porcaria são os olhos da cara. Já viu o preço de um salgado aqui? Papai uma vez... — E começou a contar a incrível história de seu pai.

Gus nem se importou muito, já  havia percebido que Jess se empolgava por qualquer coisa mínima. Ficou observando em volta, com a cabeça quase para fora da janela. Os grandes hotéis, parques aquáticos gigantescos e boates super luminosas, tudo passando diante de seu olhar encantado de criança grande. 

Até que, uma visão não muito glamourosa o trouxe de volta a realidade. 

— Ali me parece bem ruim. — Ele apontou, rindo, para um prédio de uns quatro andares, na faixada havia "Maccaio Hotel", escrito em grandes letras luminosas vermelhas — Quer dizer, seria, se não fosse pela falta da letra "i" que estava apagada. Haviam dois ou três carros estacionados na frente, uma Rural Willys, um Uno e um outro que Jess não conseguiu identificar na escuridão. Considerávelmente mais vazio do que os outros paradouros a sua volta.

Sem nem pensar duas vezes Jess estacionou o carro bem ali. Se fosse tão barato quanto lhe parecia vagabundo...

Saíram correndo de Amélia, quase cambaleando de cansaço nos pedregulhos do estacionamento improvisado. Quem os visse andando assim, pensaria logo que estavam podres de bebida.

Na fachada mal iluminada, da qual pendia apenas uma única lâmpada de um fio havia uma placa. "Seja bem-vindo! 10 Lizes a noite. Temos água quente". Dez Lizes era mais caro que dormir no relento, mesmo assim, melhor que nada.

Logo na entrada da espelunc... Quer dizer, do estabelecimento, havia um balcão de madeira todo gasto, e atrás dele uma mulher ruiva e uma prateleira de bebidas. Três acentos no total estavam ocupados. Dois por um casal em estado deplorável, completamente bêbados, decerto haviam bebido o dia todo; o outro banco, ocupado por um homem de meia idade, tragando o cigarro sob o teto do local.

Seguiram os dois até o canto do balcão. A atendente os fitou de cima a baixo, apoiada sobre as mãos, enquanto cada mecha dos cabelos tingidos lhe caía no rosto. Os demais apenas os seguiram com os olhos.

— Boa noite. — Ela disse, com voz entediada e um carisma forçado. Os lábios pintados de um rosa espalhafatoso se curvaram em um sorriso a la cortesia da casa.

— Oi. — Jess disse secamente, se apoiando no balcão depois de quase cair de cansaço. — Aqui... É um hotel, certo? — Ela olhou em volta, apertando bem os olhos, por causa da lâmpada amarelada que a cegava. Aquilo tudo parecia mais uma grande boate de quinta a um hotel ou qualquer lugar com ao menos uma cama decente.

— Sim, senhora. Quantos quartos?

Jess chegou a pensar se aquele pulgueiro tinha mais de um quarto, para ao menos o oferecerem. Talvez uns três que não tivessem sido atingidos pelas terríveis infiltrações que cobriam as paredes.

— Um, pelo amor de Santo Cristo. — Jess murmurou quase que em um rosnado.

A atendente olhou atrás dela, a procura de algo, ou alguém. Observou Gustav em suas roupas maltrapilhas com certo desdém, e voltou o olhar a Jess.

— Vai ficar com o... Cavalheiro? — Disse, tomando o máximo de cuidado possível para de forma alguma o ofender. De forma alguma.

Jess olhou atrás de si, se lembrando então do garoto que a acompanhava. Ele retorceu a boca, estava bem ciente da resposta.

— Ah, não. Não. — Ela negou balançando a cabeça até não poder mais. — Ele pode tomar um banho e jantar mesmo assim, não?

— Sim. A taxa é a mesma da senhora, menos o pernoite.

— Sim, claro. — Ele disse a si mesmo, de tal forma que Jess nem chegou a escutar.

Foi tolice pensar, nem que por alguns poucos segundos, que ela pagaria-lhe um quarto. Afinal, essa é vida real. Pessoas não pagam coisas a desconhecidos — Aliás, nem aos conhecidos. E Gus, ah, se tinha uma coisa que ele estava cansado de saber, era isso.

— Desculpa, moça, mas... — Ele se aproximou da atendente, apoiando os braços finos e compridos no balcão. Ela deve ter recuado um ou dois passos, pega pelo susto — talvez por horror, talvez por nojo — do estado de imundice do rapaz. Aquilo de forma alguma o fez se afastar. — De quanto é essa taxa?

A mulher pigarreou, se recompondo.

— Cinco Lizes, mas tem que comprar alguma coisa do nosso bar. O jantar é integrado, então não se preocupe.

Uma estúpida estratégia de venda.

— O que tem de mais barato? — O garoto perguntou, tirando um pequeno saco de moedas do bolso da calça quase esfarelada de tanto uso. O pôs encima da mesa, a mulher acompanhou tudo isso com um grande sorriso que, de certa forma, lhe parecia um tanto quanto malicioso.

Mata-Rato. — Ela respondeu, alargando ainda mais o sorriso. Veneno?  Gus chegou a pensar nisso, mas não falou, temendo soar idiota. — Um Liz a garrafa, se você sobreviver. — Realmente, agora sim lhe parecia veneno.

— Isso... Não mata mesmo, mata? — O rapaz falou engolindo em seco. Os três bêbados sentados ali riram, inclusive a mulher atrás do balcão.

— Ai, essa foi boa, pirralho. — Ela disse, enxugando uma lágrima de riso do canto do olho. Pirralho? Quem ela era para lhe chamar de pirralho? Gus já tinha seus vinte e cinco anos, e ela também não parecia ter muito mais que isso. De fato, Gustav sempre pareceu mais novo do que realmente era. Não aparentava muito mais de dezoito, apesar de que de barba — muito mal feita, do jeito que estava — parecesse ter um pouco mais. — Matar é jeito de falar. Nocautear, talvez? De qualquer forma, Mata-Rato é a especialidade da casa.

Gus virou o pequeno saquinho de pano que trazia nas mãos do avesso, fazendo com que as moedas tilintassem, caindo uma para cada canto da mesa. Separou no total vinte, as esfregando até a ponta do balcão e ali estava: uma garrafa geladinha de Morte Certeira a Pequenos Roedores. Ligeiramente a empurrou de volta.

— Depois... Talvez eu tome.

Ele não tinha uma real intenção de tomar aquela droga. Gus sequer era homem de beber, enjoava-se só com o cheiro.

— Como desejar. Aproveitará da melhor maneira.

E deu seu sorriso malicioso. A forma como os lábios grossos se curvavam era muito intuitiva.

O andarilho saiu dali, carregando sua mochila em farrapos em um dos ombros, seguindo Jess. Os dois subiram as escadas velhas, que rangiam de tal forma que chegou a passar pela cabeça da garota que ela desabaria.

O segundo andar não tinha nada de muito glamouroso. Aliás, nada naquele lugar tinha. Eram uns quatro quartos no total, nada de suítes. Os banheiros não eram muito diferentes a aqueles de posto de gasolina: grandes, coletivos e de higiene duvidosa.

Havia um único banheiro individual no final do corredor, felizmente desocupado.

— Vá primeiro. — Gus insistiu lá pela décima tentativa falha de convencer a cabeça dura de Jess.

— Não, mesmo. Não me importo de esperar um pouco. Você... — Ela não sabia bem ao certo se era correto falar algo do gênero — ...Bem que está precisando... — Ela por fim falou meio baixo, torcendo para Gus não escutar, porém, ele escutou. Jess as vezes não confiava em sua boca, ela dizia tudo exatamente como lhe passava pela mente sem nem exitar. Era quase automático dizer alguma bobagem sem sequer perceber. Quando percebia... Já era. O rapaz ficou tão vermelho que a melhor forma de acabar com a conversa foi logo ceder e ir primeiro.

Fechou a porta correndo, em uma única batida, e apoiou seu corpo contra ela. Seu rosto ardia de vergonha. Nunca se envergonhou de viver do modo como vivia, de andar maltrapilho. Porém, nunca haviam lhe falado assim, na cara dele. Era sempre pelas costas, ah, ele sabia bem disso — "Mamãe! Olha! Que moço estranho." dizia o menininho, lhe apontando o dedo "Henry, meu filho! Não chegue perto dele!" a mãe falava, arrastando o filho pra longe. — Era como se ele tivesse algum tipo de doença contagiosa.

Esfregou sua mão no rosto, depois com força pelo peito, a ponto de quase rasgar sua camisa. A arrancou do corpo e atirou no azulejo do chão do banheiro, fez o mesmo com o jeans surrado. Analisou seus farrapos jogados ao chão, queria gritar pela angustia, mas não podia. Logo, apoiou os dois cotovelos na pia e observou-se no espelho. Seu pai, com quem pouco convivera, lhe disse algumas vezes que homens de verdade não choram. Gus pouco estava se importando com uma besteira como aquela, naquele momento, o que ele era senão um garoto? O que aquele velho bêbado e que só fazia sua mãe sofrer — Bem, nesta parte eles eram exatamente iguais — sabia, afinal? 

Demorou o quanto pode naquele banho, a água fria se misturava as lágrimas quentes do rapaz. Não chorava desde a briga com sua mãe, quando também a fez chorar.

Enxugou os cabelos, ainda com os pés molhados descalços no piso, assemelhava-se a um cão molhado chacoalhando o pelo.

Estava limpo, a barba feita, mais ou menos perfumado, os cabelos tão penteado quanto nunca haviam ficado. Talvez assim devesse se sentir melhor.

— Gus! — Jess esmurrava a porta do lado de fora, impaciente. — Gus! — Então, o garoto finalmente abriu a porta. Jess observou cada canto do seu rostinho agora livre da enorme cabeleira, que estava úmida e penteada para o lado, cada cantinho do seu corpinho magricela e agora vestido em roupas limpas. — Gus? — Ela falou surpresa, depois de algum tempo que os dois se encaravam. Ele assim era realmente muito... simpático? Era essa a palavra?

Ele sentiu-se corando novamente, agora um pouco mais de leve. Insistiu em pôr uma mexa para trás dá orelha que nem estava mais o atrapalhando, apenas por tiques de nervosismo.

— Já estou indo. — Ele disse, arrastando o corpo para fora do banheiro. Sabia exatamente que não era disso que Jess estava falando, mas se sentiu constrangido demais por qualquer tentativa de elogio da parte dela.

 — Banho faz bem às vezes, não? — Ela murmurou surpresa. Por mais que soasse ofensivo, essa, em hipótese alguma era sua intenção. Era apenas Jess sendo Jess.

Gus pensou em voltar e gritar com ela, talvez brigar e perder a carona... Mas achou melhor não. Apenas seguiu reto as escadas, sem nem se virar para encara-la.

Já estava de saco cheio com aquela garota. Ela fazia piadas infames, zombava de sua aparência, se irritava por qualquer coisa e ainda quase o matara várias vezes em um único dia. Mesmo assim, não achou que valesse a pena discutir.

Desceu as escadas com a toalha nos ombros, em volta do pescoço, a mochila na mão. Qualquer orgia de baixo orçamento que estivesse acontecendo naquele bar, que deixasse acontecer. Ele iria passar reto, ir até lá fora e entrar na Kombi. Passar reto, ir para fora, Amélia. Reto, fora, Amélia.

— Olha só quem veio beber com a gente! — Gritou uma voz animada atrás de si. Reto, passar reto. — Ei, pirralho! Aqui! — Passar reto, Gus. Reto.

— Oi... — Falou meio embaçado. Quando percebeu já havia olhado. Todo aquele negócio de não manter contato visual havia ido por água abaixo.

A ruiva não estava mais atrás do balcão de madeira, e sim encima dele com os pés apoiados em um banco alto. Ao seu lado estava o mesmo homem de antes, novamente fumando como uma chaminé; uma moça jovem e loura, rindo-se sentada no colo do homem; e mais dois caras que pareciam universitários em uma mesa ao canto dividindo uma garrafa de cerveja.

Todos já estavam bêbados ao ponto de nem mais conterem seus sorrisos idiotas, parecendo um bando de retardados cheirando a álcool.

A atendente, mais do que nunca o olhava estranho. Mas não era mais com nojo, e sim alguma espécie de interesse bizarro.

— Uau! — Ela berrou em um quase orgasmo. — Até que você é gatinho, hein? — A mulher ergueu sua garrafa ao alto, enquanto a garota loira no colo do homem dava risadinhas de excitação. 

Gus não sabia exatamente se sorria diante disso.

— Ai, Pimenta! Como você é má! O garoto está ficando envergonhado, olha. — A loira disse, cutucando a amiga. A tal "Pimenta", apenas o olhou com o canto do olho, com um malicioso sorriso nos lábios.

Gus deu de ombros, e fez sinal a ir em direção a porta. Sabia que aquele lugar lhe cheirava muito mal. Porém, ao girar a maçaneta, percebeu que a porta havia sido trancada.

  — Quê isso, garoto? Já vai embora? — Era Pimenta, o chamando. Quando virou, deparou-se com ela balançando a garrafa de antes, em um dos dedos estava enroscado o molho de chaves que supostamente abria a porta. O que raios aquela maniaca de cabelos cor de ketchup estava fazendo?! — Não vai nem beber comigo antes? — Ela provocou, na tentativa de parecer sexy. Gus não achava nem um pouco, odiava garotas assim.

  — Eu não bebo, obrigado. — Ele disse depois de um suspiro. Aquilo era chato e desanimador. Ele estava completamente cansado e queria mais que tudo naquele momento, entrar na porra daquela van azul e dormir, só isso.

  — Vamos, pirralho! Eu não mordo, não! 

  — Gus, meu nome é Gus. — O rapaz corrigiu prontamente. Se ela o chamasse mais uma vez daquele jeito...

  — Gus, hãn? Belo nome. — A atendente elogiou, desta vez com um sorriso que lhe pareceu sincero. — Sou Heloise Pimenta. Pimentinha, se você quiser.

Aquilo era um bordel ou o que? Era realmente ordenado aos funcionários que agissem daquela forma ou era só coisa da sua cabeça?

  — Pi... Pimentinha? — Gus repetiu, com certo estranhamento. Aquilo lhe soava um bocado sujo.

  — É, aquela coisinha vermelha que arde. —  Ok, essa definitivamente não era a melhor forma de explicar aquilo. — Vamos, Gus! — Ela novamente indicou um lugar vazio no balcão, afim de que ele se sentasse.

Não faria mal, faria? Ele já vira seus antigos amigos fazendo este tipo de coisa milhares de vezes, não era nada demais. Eles só iriam beber e rir, só. O problema era que, se tratava de Gus e, ele sabia muito bem no que aquilo tudo resultava, e justamente por ser Gus — e não qualquer outro cara — ele não gostava nada nada da ideia.

  — Ok, ok. Mas só até a Jess voltar. — Gus exclamou por fim, quase que como um lembrete a si mesmo que, em hipótese alguma ele devia se envolver com qualquer perversidade que estivesse por acontecer naquele antro da perdição disfarçado de hospedaria.

  — Eh! — A garota loura deu pulinhos de alegria, batendo palminhas como uma idiota. O homem do cigarro se aproximou dos lábios dela, de forma a seduzi-la, ou qualquer ritual de acasalamento vulgar que não conseguia entrar da cabeça de Gustav.

O jovem se sentou no balcão, ao lado de Pimentinha, que estava ocupada bebendo cerveja direto do bico da garrafa. Vista mais de perto, até que ela não era tão vulgar, nem tão ordinária. Era, simplesmente uma garota.

Ela lhe empurrou logo a garrafa de vidro transparente, cheia de um liquido estranho e escuro. "Mata-Rato", dizia o rotulo mal feito. Gus pensou em negar, mas não podia ignorar o sorriso simpático de Heloise Pimentinha.

— Obrigado. — Gus aceitou e, sem demais enrolações virou a garrafa do avesso e bebeu um bom tanto. Quando, no intervalo de um gole a outro, pôs-se a tossir incontrolavelmente.

Não pensou que fosse assim tão forte, aquele gole enorme desceu queimando sua garganta por inteira. Aquilo era bem pior do que beber gasolina ou qualquer coisa do tipo, até o óleo do motor de Amélia seria uma boa pedida.

  — É ruim no começo, né? — Pimenta falou dando uma risadinha, enquanto observava o garoto tossindo. — Depois de uns goles você se acostuma. —Se acostumar, com aquilo? Gus não queria nem mais um gole daquele treco. — Hm, está vendo? — E a garota lhe tomou a garrafa e deu um grande gole da bebida, sem nem fazer careta, nem vomitar, nem nada.

Se ela conseguia, por que Gus não conseguiria, não é mesmo?

O rapaz sorriu, e deu outro gole. Era horrível, mas depois de um tempo ingerido dava uma sensação de completa satisfação. Mata-Rato era pior que cachaça, pior que licor ou qualquer outra bebida alcoólica, pior que qualquer droga ou coisa viciante.

Depois de meia garrafa Gus já estava um completo idiota sorrindo para os rodapés do bar. Sequer conseguia fechar a boca ou para de falar coisas desconexas.

 — Então ela não é sua namorada? — Pimentinha falou animada. Os lábios novamente em um formato estranho de se sorrir, curvados até não poderem mais.

  — Aquela magricela sem peito?! Claro que não! — Gus já nem tinha mais o controle das palavras que saiam de sua boca, nem a velocidade com que saiam. Ele bêbado se tornava um Gustav muito diferente do habitual, sem travas na língua, sem educação nenhuma. — Hunf, imagina só. A Jess... Minha namorada... — Murmurou debochando. 

A sonoridade daquelas palavras lhe eram familiares. Jess. Jéssica... 

Sim! Ela! Lembrou-se do rosto da garota e só então se recordou de que já passava da meia-noite. Meia-noite e vinte e sete e nada dela. Meia-noite?! A quanto tempo exatamente estava bebendo? Droga, nem conseguia mais se lembrar como ele fazia para desligar aquela tontura da sua cabeça.

  — Dor de cabeça desgraçada... — Murmurou com a mão na testa.

Vamos, Gus! Pense! O que exatamente Jess tinha ido fazer mesmo?

Já era difícil pensar por si só, ainda por cima tinha que ter um maldito ouvindo música alto.  

  (The Strokes - You Only Live Once)

*Escute durante a leitura*  

Os universitários da mesa do canto dançavam de um maneira estranha — Mais ou menos como baratas tontas — juntamente a jovem loira, como que a disputassem. E o homem do cigarro... Bem, ele já havia apagado a horas em algum canto daquele bar.

Droga, onde caralhos ela havia se metido?

  — Onde vai, gatinho? — Pimenta o agarrava pelo braço, sussurrando em seu ouvido.

  — Eu preciso... Preciso... — Fez uma breve pausa. Do que ele precisava mesmo? As palavras lhe fugiam da mente. Ah, é! — ... Encontrar a Jess.

  — Que Jess o quê. Vamos lá pra cima, Gus. Lá tem coisas muito mais divertidas para se fazer. — A voz dela causava uma espécie de arrepio bom. Dava até vontade de ouvi-la de novo, e de novo, e de novo...

Gus soltou uma risada e aceitou o convite. Até que não era tão ruim se esfregar com ela naquele pulgueiro imundo. Não, peraí...

Subiram as escadas correndo — Quer dizer, do modo mais rápido que Gus conseguia correr estando bêbado e tonto. Mas não foram ao segundo andar, passaram reto por ele e foram até o terceiro. Estava certo isso?

Era mais escuro que os outros dois, iluminado apenas por aquelas luzinhas coloridas de festa, que ficavam girando e rodando para todos os lados, a uma velocidade que o cérebro lento de Gus não conseguia processar.

A ruiva o puxou até o fim do corredor e então, parou. Estavam diante da porta de algum quarto precário, assim como todos os outros. Ela se voltou para Gus, deu um sorrisinho e enfiou a mão para dentro do decote da blusa. Gus em sua velocidade de raciocínio, até podia observar babando aquele pequeno cracházinho preso a roupa — "Heloise Pimenta" — se movendo lentamente, para lá e para cá a medida que seus peitos também se mexiam. Por fim, conseguiu tirar um molho de chaves de dentro do sutiã.

Então, balançou-o como um troféu, dando risadinhas infames e genéricas.

— Vamos, gatinho! — E o puxou para dentro do quarto.

Havia um cheiro de incensos e velas perfumadas infestando o quarto. Era ruim, mas ao mesmo tempo bom. Assim como Pimenta beijando seu pescoço. Ruim, mas intenso, até que podia ser bom.

Tudo naquele quarto girava, ao ritmo da música que agora parecia ter desacelerado. Jess, não é? Isso, Jess! Ah... Quem era Jess mesmo?

As risadas da ruiva também foram parando, diminuindo, até se tornarem nulas. Só via seu sorriso acima de seu campo de visão, até que tudo foi escurecendo lentamente...



E aí? Estão gostando? Espero muitíssimo que sim.

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Xau, fui 


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