Reviver (SR #1)

By Amanda_Bittencourt

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Conteúdo inadequado para menores de 18 anos. Série Renascer | Livro 1 Nicholas Hoffman é um homem acostumado... More

C O N H E Ç A O S P E R S O N A G E N S
P R Ó L O G O
C A P Í T U L O 1
C A P Í T U L O 2
C A P Í T U L O 3
C A P Í T U L O 4
C A P Í T U L O 5
C A P Í T U L O 6
C A P Í T U L O 7
C A P Í T U L O 8
C A P Í T U L O 10
C A P Í T U L O 11
C A P Í T U L O 12
C A P Í T U L O 13
C A P Í T U L O 14
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C A P Í T U L O 17
C A P Í T U L O 18
C A P Í T U L O 19
C A P Í T U L O 20
E P Í L O G O
Sequência de Reviver

C A P Í T U L O 9

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By Amanda_Bittencourt

— Imbecil. Imbecil. Imbecil. — repito para mim mesmo em voz alta.

Sento-me na cama com a cabeça entre as mãos. Eu estraguei tudo. Onde eu estava com a cabeça para tratar a Ellen daquele jeito? Ela já foi embora uma vez, dessa vez eu não vou voltar a vê-la. Ah, inferno! Você é um idiota Nicholas, um completo idiota. Não posso ligar para ela porque ela não tem celular. Não sei nem por onde começar a procurar por ela. Mesmo que eu usasse todas as letras do alfabeto para descrever o quão idiota eu sou, não seria suficiente.

Vou até o espelho e me encaro por um longo momento. Um homem que fez uma burrada enorme. É isso que eu vejo diante dele.

— Sabe o que você é, Nicholas? Um grande asno. — faço uma careta para mim mesmo no espelho e dou um soco, o estilhaçando por completo. — Porra. — sangue jorra dos meus dedos.

Corro para o banheiro e lavo a mão sangrando por bastante tempo embaixo da torneira. Olho ao redor e vejo uma calcinha jogada no chão perto do cesto de roupas. No canto ao lado tem um sutiã, uma calça jeans e uma camisa preta. Lembro-me vagamente de ser a roupa que Ellen estava usando ontem quando eu cheguei. Fecho a torneira e enrolo uma pequena toalha na mão para poder sair e olhar no quarto se as outras coisas também estão aqui.

Quando fecho a porta do banheiro, vejo logo ali perto as sacolas com as compras que fizemos. Ela não as levou. Pergunto-me se isso é bom ou ruim. Ela não ter levado pode significar que ela saiu um pouco, talvez para espairecer e vai voltar logo, mas também pode significar que ela ficou tão chateada comigo que resolveu ir embora sem sequer levar nada que eu lhe dei para não ter com o quê lembrar-se de mim. Torço pela primeira, tem que ser a primeira. Ela não pode ter ido embora de vez. É isso. Ela ficou chateada e foi caminhar na praia. Tem que ter sido desse jeito.

Olho para o relógio e vejo que são sete e meia. Eu já deveria estar na Universidade, mas eu não estou com a mínima vontade de ir hoje, acho que nem terei foco para as aulas. Sento-me na cama e resolvo ligar e dizer que não poderei ir. Depois de ligar para lá e falar com Luisy, eu ligo para Robert.

— Alô... — ele parece meio grogue.

— Robert...

— Nick? O que você quer seu bastardo? Estava de plantão ontem à noite, acabei de chegar, me deixa dormir.

—... Rob, — ignoro suas palavras — fiz besteira cara. Ellen foi embora.

— Porque você foi um ogro com ela? Eu já sei. — ele boceja.

— O quê? — pergunto me levantando da cama — Como assim você já sabe?

— Ela me ligou ontem várias vezes. — o ouço gemer, mas não é nada sexual, deve ser porque está se levantando — Ela me disse que você estava bêbado e que tinha falado um monte de coisas...

— Rob, traga sua bunda para cá agora. — interrompo-o — Me conte isso.

— Não mesmo, venha você aqui. Deixa de ser folgado.

▬▬ ▬▬

Quando chego na casa do Robert, vejo logo a diferença da vida de um homem casado e de um homem recém-divorciado. A casa dele sempre foi uma joia reluzente. Sempre limpa e estéril. Bastante parecida com seu consultório no hospital. Janeth não deixava ninguém entrar sem tirar os sapatos. Nem mesmo eu. Da porta da sala, vejo a diferença. A casa está cheia de roupas espalhadas e caixas de pizza vazias em cima da mesa de centro na sala. Alguns potes de sorvete em cima do sofá e é claro, não vamos esquecer-nos de algumas peças femininas que eu tenho certeza que não são dele.

— Parece que a farra foi muito boa. — digo sorrindo e levantando um sutiã preto que está graciosamente em cima da televisão.

— A melhor em dois dias. Bridget foi... mágica. — ele suspira.

— Imagino. — sorrio, mas meu sorriso logo se desfaz ao lembrar-me do motivo que me trouxe aqui hoje.

Sento-me no sofá entre os restos de porcarias que ele comeu e começo a passar as duas mãos entre os cabelos fazendo que com certeza, muitos fios acabem sobre o tapete da sala.

— Quer uma cerveja?

— Por favor.

— Você parece péssimo. — ele vai até a cozinha.

— Me diga uma coisa que eu não sei.

Ele volta com duas garrafas de cerveja na mão. Pego uma e dou um longo gole.

— O que aconteceu? — ele senta-se á minha frente com a cerveja em uma mão e a outra apoiada no seu joelho.

— Ada aconteceu.

— Uau. — ele diz erguendo as duas sobrancelhas e franzindo a boca em uma linha fina — Esperava muitas coisas, mas não isso.

— Eu não sei o que houve comigo depois que eu a vi. Acho que meu cérebro parou de funcionar ou algo assim. Agi como um idiota com a Ellen depois que a vi.

— Eu a vi ontem.

— A Ellen? Ela veio aqui?

— Não, a Ada. Ela está hospedada no mesmo hotel em que a Janeth está. Eu fui ontem lá com o meu advogado para falar com ela e vi quando a Ada estava saindo do quarto ao lado do da Janeth.

— Duas vadias morando lado a lado.

— Dizer que isso é uma ironia seria um eufemismo. — ele dá um gole na sua cerveja — Mas me fala, o que ela queria com você?

— Perdão.

— O quê? — ele fica tão surpreso quanto eu quando ouvi isso da boca dela.

— Minha reação foi mais ou menos essa também.

— E aí?

— Nada. Eu nunca vou perdoá-la, Rob. Ela não merece.

— É claro que não. — ele para um tempo, olha para o chão e depois de volta pra mim — Foi por causa dela que você tratou a Ellen daquele jeito, não é?

— Ela só precisou de cinco minutos, Rob. — mostro a mão com cinco dedos abertos pra ele — Cinco malditos minutos para acabar comigo.

— Nossa.

— Eu disse a ela que nunca faria isso, mas ela conseguiu mexer com a minha cabeça, e eu fui muito fraco.

— Você precisa se livrar totalmente do controle que ela tem sobre você. — terminamos ao mesmo tempo nossas cervejas.

— Ela não tem nenhuma porra de controle sobre mim.

— Está mais do que óbvio que sim, ela tem. Veja o que aconteceu com a sua vida depois do que houve com ela. A maneira como você vive. O jeito como você tratou a Ellen ontem.

— Como você sabe a maneira como eu a tratei ontem?

— Eu já disse. — ele se levanta — Ela me ligou. — vai até a cozinha — Várias vezes, aliás. — diz colocando a cabeça praticamente dentro da geladeira para pegar mais cervejas. — Ela e eu conversamos muito sobre ela, sobre você, sobre seu cavalo e sobre um tal de Logan.

— É isso que eu não entendo. — eu me levanto e vou até ele na cozinha — Eu tive que fazer um acordo com ela pra que ela pudesse me contar alguma coisa sobre si e aí você chega e ela te conta tudo sem nenhum problema. Por quê?

— É difícil se abrir para uma pessoa por quem você está apaixonada.

— Eu sei, mas é que... — paro quando a percepção do que ele falou cai sobre mim — Espera aí, você disse apaixonada? Você está dizendo que ela está apaixonada por mim?

— Está mais do que na cara. Ela não consegue falar com você abertamente porque está apaixonada por você, mas falar com o seu melhor amigo pode ser uma boa saída.

— Eu não acho que ela esteja apaixonada por mim. Ela nem me conhece direito.

— Você sempre foi gentil com ela...

— Exceto ontem. — digo com desgosto. — Eu estava tão bêbado depois que a Ada foi embora, que me esqueci completamente que tinha deixado o carro na esquina antes do Versailles e achei que ele tinha sido roubado. Estava vendo tudo dobrado. Estava agindo como um idiota com todos.

—... e ela pode ter se apaixonado por você sim, e ainda mais depois que vocês... você sabe. — ele me ignora.

— Não acredito nisso.

— Olha, — ele senta em uma cadeira na cozinha e me manda sentar também — eu sei que é complicado pra você acreditar em coisas assim por causa do que aconteceu com aquela vadia da Ada, mas você tem que entender que ela está sim apaixonada por você, meu amigo. Você também está apaixonado por ela e isso é um avanço muito grande. Eu me lembro de quase todos os seus casos apesar de serem muitos e bastante curtos. Você nunca se importou com nenhuma mulher, nunca te vi desesperado desse jeito por causa de ninguém, você nunca se deu ao trabalho de perder sua rotina por ninguém. Ninguém, Nick. Só com ela.

— Eu sei disso. Já não é nenhuma novidade que o que eu sinto por ela é algo que pode ser chamado de paixão...

— Não é algo que pode ser chamado de paixão. É paixão.

—... mas eu não sei se quero isso. Rever a Ada ontem me fez lembrar os motivos pelos quais eu adotei esse estilo de vida.

— Não. Rever a Ada ontem te fez regressar nas coisas que você tinha ganhado depois que conheceu a Ellen. Eu sei que é doloroso e difícil pra você, mas você precisa deixar a Ellen entrar na sua vida, Nick. Ela é a garota de quem você precisa.

— Eu não sei. — balanço a cabeça em negação — Eu não sei quase nada sobre ela. Eu não a conheço direito. Ada e eu nos conhecíamos a vida toda e veja o que ela fez comigo. O que a Ellen não faria?

— Lembre-se de que não foi só a Ada quem te traiu...

— Claro que não. — eu o interrompo com raiva brotando no meu humor já nada bom — O filho da puta do Mike também.

— Exato. Seu melhor amigo de infância traiu você da maneira mais baixa e cruel e olhe para mim. — ele bate com as mãos no peito — Aqui estou eu, ocupando o lugar de seu melhor amigo agora. Você não só superou a traição de um amigo, mas voltou a confiar a tal ponto de me fazer seu novo melhor amigo. Você tem que superar o que houve com a Ada também.

— É diferente. Eu odiei o Mike, mas eu quase morri por causa da Ada.

— Você precisa superar isso.

— Eu já superei.

— Pra cima de mim? Você não deixa ninguém entrar na sua vida por causa dela.

Agora o Robert tocou em um ponto sensível dentro de mim. Sempre que posso, eu me nego a aceitar que a Ada tenha ainda alguma influência sobre a minha vida, mas no fundo eu sei que ela ainda tem. Mas eu não posso evitar. Eu sofri como um condenado quando tudo aconteceu e não posso me arriscar a repetir isso. Não vale a pena.

— Eu não posso, Rob. Não é saudável. Não posso aceitar que estou apaixonado pela Ellen. Será muito melhor se eu me negar a deixar isso crescer. Eu sei que disse a você ontem que estava de quatro por ela e realmente devo estar, mas acho que será melhor se não levar isso pra frente. Só quero encontrá-la para me desculpar pelo tratamento horrível de ontem. Depois vou deixá-la ir.

— Mas Nick, você não pode continuar assim. Você tem que deixar alguém curar a ferida que a Ada abriu. Alguém tem que colar os pedaços do coração que a Ada quebrou. Deixe a Ellen ser esse alguém. Mostre a Ada que você é capaz de amar de novo, mostre a ela que você é capaz de ser amado de verdade, mostre a ela que ela não tem nenhuma influência na sua vida. Porque a única coisa que eu, ela, sua família ou qualquer um que algum dia você venha a conhecer, vai pensar é: — ele chega bem perto de mim — a Ada te quebrou de uma forma tão intensa que você nunca foi capaz de se recuperar.

Com as palavras do meu amigo, algumas lágrimas querem escapar pelos meus olhos, mas eu logo as afasto. Levanto a cabeça para o alto e fecho os olhos bem forte. Eu sei que estou apaixonado pela Ellen, mas isso não é fácil para mim. Se eu tivesse tido escolha, eu preferiria que isso nunca tivesse acontecido. Eu estou completamente indefeso e não há nada que eu possa fazer pra tirar esse sentimento de dentro de mim. Agora eu tenho certeza. Chegar em casa hoje e ver que a Ellen não estava lá, me fez ter a mais absoluta certeza que essa menina conseguiu puxar todas as cordas do meu coração. É quase como seu eu imaginasse o meu coração como um órgão ressecado que foi inundado por uma onda de sangue capaz de fazê-lo reviver. Mas quais as consequências disso? E se o Robert estiver errado? E se a Ellen não sentir o mesmo? Ou pior, e se ela for igualzinha á Ada, fingindo que gosta de mim só para depois me enfiar uma lança no coração?

Pensando nessas coisas, deixo as lágrimas que antes eu prendera, descerem pelo meu rosto. Não tenho vergonha de chorar na frente do Robert, não é a primeira vez, embora ele não me veja fazer isso há pelo menos quatro anos.

— Eu estou com medo. Eu não quero passar por aquilo de novo. Eu prefiro não ter um coração, a ter um e vê-lo se quebrar outra vez.

— Isso não vai acontecer, meu amigo.

— Como você sabe?

— Eu não sei, mas a Ellen não é a Ada. Você precisa sair da influência dela e logo, ou acabará se magoando ainda mais se por acaso você deixar a Ellen sair da sua vida e ela acabar com outra pessoa. — ele pega no meu braço — Fique com ela.

▬▬ ▬▬

Saio da casa do Robert por volta das onze da manhã. Ligo para a minha casa várias vezes, na esperança de que ela esteja lá e atenda, mas isso não acontece. Rob me disse que ela não contou nada sobre querer ir embora e me aconselhou a voltar para casa e esperar por ela, porque segundo ele, ela voltará. Faço o que ele me sugeriu, mas antes, passo na Apple Store e compro um IPhone para dar de presente a ela. Se ela realmente voltar, como meu amigo crê, ela vai precisar de um celular para que eu fale com ela a cada minuto do meu dia.

Droga! Mas que pensamento é esse?

Uma hora quero ficar com ela, outra hora tenho dúvida se quero ou não, agora estou pensando em falar com ela a todo momento... É frustrante não ter certeza do que quero de verdade. Será se ela é mesmo diferente das outras mulheres? Devo fazer o que o Robert aconselhou antes que eu saísse da sua casa? Dar uma chance ao meu coração? Tentar apagar todas as memórias ruins que eu tive com a Ada, esquecer-me das coisas maléficas e dolorosas que me aconteceram e focar no que eu posso conseguir agora? Talvez eu possa. Talvez Ellen seja mesmo diferente.

O que o Robert falou sobre ela ficar com outro cara se eu a deixar ir, está me corroendo por dentro. Só por cima do meu cadáver. Mas eu não posso ter esse tipo de posse sobre ela se eu não assumir que realmente quero ficar com ela. Só que não tem jeito nesse mundo de eu a deixar ficar com outro. Então a única maneira de impedir isso, é assumir. Hoje. Quando ela chegar. Vou dizer a ela que estou apaixonado por ela e que eu fui um idiota completo ontem, mas que eu quero uma chance de mostrar que posso ser um cara legal pra ela.

Não almoço. Não como nada durante a tarde toda esperando que Ellen apareça como um milagre na minha frente. Ligo ao meio dia para a minha clínica e peço para desmarcar todos os meus pacientes. Irei esperá-la em casa.

Ando de um lado para o outro pela sala, nervoso e rezando para que ela volte. Por favor, volte. Por favor, volte. Por favor, volte. Repito esse mantra na minha cabeça e em alguns momentos de maior desespero, chego a dizer isso em voz alta.

— Por favor, amor. Apareça logo.

E como um verdadeiro milagre eu escuto o trinco da porta se mexer e uma onda de alívio e emoção percorre o meu corpo quando eu vejo que é ela. Minha Ellen voltou. Ela voltou para mim.

— Ellen, — não contenho meu sorriso — você voltou. — corro até ela e a abraço — Estou tão aliviado.

— É claro que eu voltei seu bobo. — ela sorri como se não entendesse o porquê do meu alívio — Porque eu não voltaria? — ela se afasta.

— Bem, — não quero começar essa conversa falando dos trágicos eventos de ontem, mas é melhor me desculpar logo — por causa de ontem. Ellen, eu sinto muito. Eu agi como um animal. Eu não deveria ter falado nada daquilo pra você, eu estava bêbado, e estava nervoso demais pra entender qualquer coisa que eu estivesse falando. Por favor, não considere as coisas que eu disse. Eu não quero que você saia daqui, eu quero que você fique. Quero que você fique, porque eu estou apai...

— Chega Nick. — ela me interrompe com os olhos totalmente arregalados — Primeiro, para de dar uma de Eminem ok, porque eu não estou entendendo muita coisa do que você está falando. — ela passa as mãos nos cabelos — E segundo, eu vou embora da sua casa sim.

— Não. — protesto — Você não tem que ir embora. É isso que eu estou tentando dizer Ellen. — falo mais devagar para que ela compreenda — Eu sinto muito pelo que eu disse ontem. Eu quero que você fique aqui comigo, por favor, não vá. Eu estou...

— Nick, — ela me interrompe mais uma vez no momento crucial — eu tenho que ir. Foi o nosso acordo, lembra?

— O quê?

— Fizemos um acordo. — ela conta nos dedos — Seríamos amigos. Não haveria sexo entre nós. Contaríamos algum segredo um ao outro todos os dias. Seríamos sempre honestos... Hmm, esqueci-me de alguma coisa? Ah sim, eu procuraria um emprego e um lugar para morar.

— Esqueceu-se da parte em que a gente já transou. Já quebramos o acordo.

— E isso não deveria ter acontecido. — ela chega perto de mim e me faz sentar no braço do sofá. Ela apoia as duas mãos nas minhas coxas e se inclina — Somos amigos Nick, você tinha razão ontem á noite. Você seguiu o acordo e foi honesto comigo. Você me disse que não mora com ninguém e o que acontece quando transa com uma mulher, e o fato é que eu não estou a fim de sumir da sua vida. — franzo a testa — Não vou por nossa relação em risco por algo como sexo, mas...

Por um instante ela parece reconsiderar o que acabou de dizer. Me animo a ponto de sorrir, mas esse estado não dura muito.

— Se bem que, não exatamente quebramos o acordo Nick. — ela se afasta — No dia em que nos conhecemos você me disse que minha virgindade pertencia a você e me fez certas promessas em relação ao sexo maravilhoso que você me faria experimentar. Eu meio que fiquei ansiosa por isso. Acho que apenas cobrei sua dívida. — ela sorri.

— Então vamos ser apenas amigos? — peço desconsertado. Por favor, negue.

— Claro. — Droga! — Eu ainda quero aprender a usar os hashis como você falou que me ensinaria. Eu quero saber seus segredos e quero que você saiba dos meus. Quero poder sair com você como os amigos fazem para jogar sinuca, surfar, beber umas cervejas e paquerar em uma boate. Eu quero ser sua amiga.

Porra. Paquerar? Não se depender de mim.

— Mas ontem quando eu falei aquelas coisas, eu senti que você não gostou. Eu senti que tivesse magoado você e...

— Nada disso. Eu passei o domingo todo ontem pensando no que fizemos. É verdade que de manhã, o desejo falou mais alto entre nós e acabamos nos engalfinhando na sua cama, mas isso foi apenas como uma fase a ser fechada. Nós nos conhecemos, você prometeu uma coisa e eu fiquei te devendo outra. Encerramos esse capítulo e agora podemos começar outro. O capítulo em que nós nos vemos apenas como dois amigos tentando manter uma relação saudável.

— Ellen, — resolvo ser sincero — duas coisas. Primeira, você não me devia nada como eu já disse antes, mas já que você sente a necessidade de que eu diga de novo eu estou dizendo. Você. Não. Me. Deve. Nada.

— Agora não mais com certeza. — ela diz com um sorriso lindo no rosto. Eu reviro os olhos para ela.

— E segunda, você sabe que eu ainda desejo você. Eu te disse isso ontem. Que você foi o melhor sexo da minha vida e eu não estou a fim de perder isso.

— Nicholas, você não fica muito tempo com uma mulher. Você não faz sexo casual. Você mesmo me disse isso. — Oh, oh droga! — Você me alertou sobre os problemas de uma mulher se envolver com você. Eu gosto de você Nick, mas não quero correr o risco de me apaixonar por você e acabar como aquela pobre diaba que entrou em depressão depois que você deu um pé na bunda dela.

Agora eu compreendo o meu erro. Eu joguei contra o meu próprio time. Eu a fiz ter medo de mim. Como eu sou estúpido. Nicholas Hoffman, o idiota do ano de 2014. Então quer dizer que ela não está apaixonada por mim. Robert estava errado. Mas eu posso fazê-la se apaixonar, não posso?

— Mas você não precisa ir embora. — digo pegando em seu queixo para dissuadi-la a ficar — Mesmo sem nada entre nós, eu ainda quero você na minha vida.

— E eu estarei. Como amiga. — ela pega minha mãos e a segura — Apenas como amiga. Você não está pronto Nick. — ela sussurra.

— Como assim não estou pronto? — Pergunto olhando dentro dos seus olhos. Ela pensa um pouco e abaixando o olhar, me pergunta.

— Quem era ela?

— O quê? Quem? — agora não entendi nada.

— A mulher que te arruinou desse jeito. — ela fala com os olhos um pouco tristes — Está na cara que você vive assim porque tem uma dor dentro de você. Você não confia em ninguém, ou melhor, nas mulheres e eu passei o dia de hoje me perguntando por quê. Cheguei á conclusão de que talvez seja porque alguém te magoou muito. Você não me parece um canalha desalmado então para mim só existe essa razão pra você evitar as emoções, como me disse ontem.

Eu nunca contei a ela sobre a Ada. Como ela pôde ter enxergado isso em mim? Ela me olha esperando uma resposta, mas eu não posso falar ainda.

— Eu sinto muito por você ter passado por algo que te machucou, realmente sinto. — ela fala quando eu não respondo.

— Ellen, ela era... — eu paro incapaz de continuar porque se eu for contar a ela, terei que contar tudo — Não importa quem era ela. O que importa é quem é você e o que eu sinto por você. Ellen eu te...

— Não Nick, não diga. Por favor, não diga. — ela me cala com o dedo indicador nos meus lábios — Você não pode dizer isso pra mim depois do que disse ontem.

— Achei que não estivesse chateada ou magoada pelo que eu disse.

— E não estou. Mas você não pode me dizer aquelas coisas ontem e hoje, me dizer o extremo oposto. Quando você falar, ou se depois da nossa relação de amizade você ainda quiser falar, eu quero que seja porque é totalmente verdade. Não quero que restem dúvidas em você. Eu não quero que você me diga isso quando ainda tem uma mulher na sua vida.

— Eu não tenho uma mulher na minha vida. — tento esconder.

— Obviamente você tem. Você só não admite. — ela beija os nós dos meus dedos — Vamos ser amigos. Depois vemos o resto.

— Não sei se posso resistir a você.

— Eu vou te ajudar. Vou te mostrar como é ter uma amiga.

▬▬ ▬▬

Não falamos mais sobre o que aconteceu ontem. Após ela me afirmar que seremos apenas amigos e que eu não devo falar sobre meus sentimentos para ela, ela vai para a cozinha e prepara um delicioso macarrão com queijo.

— Está muito bom. — digo com a boca cheia.

— Pena que você não comeu o de ontem. — ela sorri — Estava ainda mais gostoso.

— O que você fez com a minha parte?

— Depois que você foi para sei lá onde você foi, eu comi o resto. Estava morrendo de fome. — Arregalo os olhos para ela e em resposta ela solta uma gargalhada. — Estou brincando com você, bobão. Eu imaginei que talvez você não voltasse mais durante a noite, então dei a um cara que parecia faminto perto da praia.

— Você saiu tarde da noite e falou com um estranho? — o tamanho dos meus olhos agora é por causa da preocupação — Você é louca? Não pode sair por aí, falando com qualquer um.

— Não seja exagerado. Eu não acho que um senhor de uns sessenta anos com uma bengala seja perigoso para alguém.

— Não se pode confiar em ninguém hoje em dia, principalmente em um homem que você não conhece. — ela ergue uma sobrancelha sugestiva para mim. Ok, ela não me conhecia, mas agora conhece. Não muito, mas conhece.

— Ok, não vou confiar em ninguém. Imagino que vai me dizer que em você eu posso.

— Já disse que sim.

— Certo. Então exijo que confie em mim também. Sempre.

Aceno com a cabeça que sim, mas ela acena que não e eu me vejo sem entender nada. Pelo menos até ela erguer o dedo mindinho e flexiona-lo repetidas vezes. Ok, juramento de mindinho, lá vamos nós de novo.

— Vou manter você trancada no porão se você contar que eu faço essas coisas com você. — digo colocando meu dedo no dela e apertando.

— Você não tem porão.

— Então eu vou construir um e manter você lá.

Olhamos calados um para o outro por vários minutos, e então ela começa a comer novamente. Observo a maneira como ela leva a colher até a boca cheia de macarrão e sorrio quando percebo que ela é a primeira pessoa que eu vejo comer macarrão com uma colher. Ela espalha bem a comida no prato e ás vezes brinca com ela, antes de colocar na colher e levar á boca. Ela levanta os olhos e olha para mim sorrindo.

Deus, ela é linda.

Como eu poderia não me apaixonar quando ela me olha desse jeito? Como posso não confiar nesses olhos tão sinceros e nesse sorriso tão amável? Eu estou completamente perdido por ela, mas odeio admitir que ela tem razão. Eu ainda tenho a influência da Ada e das suas ações passadas na minha vida e ações de hoje. Eu preciso superar isso e me recuperar totalmente para que eu finalmente possa dizer á Ellen o que eu sinto e para que ela escute isso e saiba que é verdade. É bem verdade que eu estou com medo de passar por tudo de novo, mas também é verdade que eu só conseguirei ser feliz se eu encarar meu medo de frente. E finalmente eu encontrei alguém capaz de me fazer querer isso.

— Você é estranho, mas isso é fofo. — faço uma careta para a sua observação. — Porque essa cara?

— Você me acha fofo? Acho que esse macarrão com queijo não está fazendo bem pra você.

▬▬ ▬▬

Depois de comer e lavar a louça, – e enquanto escolhemos um filme pra assistir na sala – pergunto à Ellen onde ela esteve o dia inteiro. Ela me ignora por um tempo e age como uma adolescente – o que realmente ela é – ao dar pulinhos de alegria depois de encontrar Divergente na minha coleção de DVD's e pedir pra gente assistir. Sorrio para ela deitado no sofá e a chamo para perto de mim. Ela vem engatinhando da mesma posição em que está de joelhos na estante e fica de frente para mim. Faço um trato com ela de assistirmos se ela me contar o que eu quero saber. Ela aceita e então eu só tenho que esperar pouco mais de duas horas.

Durante o filme, eu não paro de rir – discretamente, é claro. O tempo todo ela fala o quanto o Quatro é gostoso e como a Tris é maravilhosa. O quanto a Jeanine é terrível e como o Ansel Elgort era melhor fazendo A culpa é das estrelas. Fala tanto que é impossível prestar atenção direito. Sem aguentar mais o falatório, eu solto uma gargalhada e ela logo se cala e olha para mim. Enquanto sorrio – e a questiono sobre sua tagarelice – ela me diz que o motivo disso é porque ela nunca foi ao cinema, então desconhece a ética do silêncio quando se vê um filme. Marcamos então de ir ver o próximo filme de seu interesse que será lançado em novembro – Jogos Vorazes parte 1. Se ela nunca foi, eu serei o cara a fazer isso com ela. Quero inclusive saber todos os seus sonhos para poder fazer o possível para realizá-los. O pensamento é tão repentino que me assusta, mas não passa da verdade.

Após o filme, exijo – como parte do nosso acordo – que ela me conte onde esteve hoje o dia inteiro. Ela me conta que procurou um emprego nos classificados do jornal e que começa amanhã. Essa parte me deixa feliz, quero que ela consiga o que quer, mas quando ela me diz que também conseguiu um lugar pra ficar, pois a dona da cafeteria onde ela vai trabalhar alugou um apartamentinho pra ela, meu estado de ânimo muda.

Uma cafeteria? Questiono Ellen sobre isso, mas ela parece se ofender e eu me desculpo em relação a isso. Explico que não é porque não seja um emprego digno, mas porque em um lugar assim ela terá contato com todo tipo de gente, inclusive, talvez, aquele porco maldito do Logan.

—Não quero te ver machucada nunca mais na minha vida.

— Vida? Faz soar como algo tão permanente. Mas não se preocupe com o Logan. Eu vou ficar bem.

— Tem certeza?

— Certeza não, mas é pouco provável que isso aconteça. — ela suspira devagarzinho — Eu me mudo amanhã.

Tento dissuadi-la a esperar mais um pouco, mas ela se recusa. Segundo suas palavras – equivocadas por sinal – ela não quer ser um estorvo pra mim e quer cuidar da sua própria vida. Fico triste. Não posso evitar. Sei que faz pouco tempo, mas me acostumei a tê-la por perto.

— Você vai ficar bem lá?

— Claro que sim, Nick. E agora eu tenho um belo IPhone dado por você que eu posso usar para te chamar se algo me acontecer. — ela balança o celular com a mão e eu lhe dou um sorriso amarelo. Essa é nossa última noite juntos.

— E eu quero mesmo que você me ligue. Por qualquer motivo, mesmo que seja por uma barata embaixo da cama.

— Pode ter certeza que isso chegar a acontecer eu vou te ligar na mesma hora. — ela faz uma careta — Odeio baratas. São nojentas e asquerosas. Podem me matar de infarto se aparecerem na minha frente.

Eu sorrio um sorriso mais alegre agora com sua repulsa de menina por esse inseto.

▬▬ ▬▬

— Vamos começar a ser amigos? — peço a ela quando nos deitamos, ela na cama e eu no colchonete — Acho que devemos começar a contar nossos segredos um ao outro.

— Você é trapaceiro sabia disso?

— Porque diz isso? — me sento e apoio o queixo no antebraço encostado á cama bem perto do seu rosto.

— Você me fez contar mais do que uma coisa ontem de manhã pra você. Eu te contei sobre o meu padrasto, sobre o Tyler e sobre o Logan.

— Foi você quem abriu o bocão. Eu apenas não te parei. — ela soca minha testa de levinho.

— Vamos fazer assim, hoje nós contamos apenas uma coisinha boba um para o outro e você me fala mais de uma coisa sobre você para poder equilibrar.

— Não mesmo...

— Se você não aceitar, — ela me interrompe — eu não conto mais nada importante sobre mim.

— Eu quero saber tudo sobre você.

— Idem.

Fico olhando pra ela da maneira como dizem ser "olhar de filhotinho" a fim de tirar essa ideia da cabeça dela, mas ela não cede.

— Seus olhinhos são lindos e olhando para mim assim são mais ainda Nick, mas não vai rolar. Ou você aceita me contar mais de uma coisa hoje, ou nada de segredos fortes pra você.

— Tudo bem. — eu aceito. — Sabe, seu poder de persuasão faria de você uma mulher muito importante no mundo dos negócios em Nova Iorque. Seria difícil te dizer não e você ganharia milhões assim.

Ela sorri.

— Bom, essa a primeira coisa que eu vou te contar. Eu sou de Nova Iorque assim como toda a minha família. Eu vim para Miami porque queria ser fisioterapeuta.

— Não existem cursos de fisioterapia em Nova Iorque? — ela pergunta não tão inocentemente.

— Existem. Mas meus pais não queriam então não poderia fazer isso lá sem que eles me enchessem o saco todos os dias para largar e fazer administração.

— Porque eles não queriam que você fizesse o que quisesse?

— Porque são um bando de egoístas que só pensam neles. Meu avô é dono de uma grande empresa de mineração com várias subsidiárias que ele e meu pai administram. Meu pai queria que eu fosse a "terceira perna de um tripé da dinastia Hoffman", como ele costuma dizer, mas eu nunca quis a vida de "grande empresário" para mim. — digo fazendo aspas no ar — Ele insistia que quando eu terminasse o curso de administração, ele e meu avô ficariam na parte burocrática e eu ficaria na parte administrativa, como o CEO da empresa. Eles nunca aceitaram minha escolha por ser um fisioterapeuta. Então rompemos ligação.

— Você rompeu ligação com o seu pai e seu avô por causa da empresa da família?

— Não. Rompi ligação com o meu pai por causa disso. No dia em que eu estava para vir para Miami, meu avô conversou comigo e perguntou se ser fisioterapeuta era a profissão que me faria feliz, eu respondi sinceramente que sim e ele entendeu. Disse que tudo o que queria para mim era que eu fosse feliz. Meu pai e minha mãe por outro lado, entenderam como um desafio. Durante alguns anos, fizeram de tudo para me fazer voltar, mas foi em vão. Eu disse que não colocaria os pés em Nova Iorque outra vez.

— Eu entendo essa coisa de seguir um sonho. Eu também tenho um.

— E qual é?

— Estamos na sua vez e hoje são só segredos leves sobre mim, lembra? — concordo sorrindo — Continua.

— Eu conheci o Robert na minha primeira semana de aulas. Eu estava perdido á caminho da sala de aula e ele foi me ajudar. Acabamos os dois atrasados. — sorrio com a lembrança daquele dia em que o Charlie me fez pagar o maior mico — Nos demos bem desde o início.

— Parece amizade á primeira vista.

— Parece sim.

— Mas isso o Robert me falou ontem assim meio por alto então não vale como segredo seu. — garota esperta — Posso te fazer uma pergunta?

— Claro. Pode fazer o que quiser.

— Como era a sua vida em Nova Iorque?

Respiro fundo ao ser bombardeado por inúmeras lembranças da minha vida na cidade de concreto. Acho que posso falar sobre algumas coisas com ela sem ir muito fundo.

— Teve uma época que eu achei que nunca iria querer sair de lá. Eu adorava as festas, os lugares agitados, as companhias. Eu tinha uma vida bem confortável. Vivia como em um paraíso, pelo menos era assim que eu pensava.

— Entendo. Quando nós falamos sobre você não ter ninguém que cozinhasse pra você, você me disse que não pagaria por uma empregada, não tinha uma namorada pra fazer isso e que sua mãe estava fora da jogada. O que quis dizer?

Deito no colchonete com os olhos para cima. Acho que demoro pelo menos uns dois minutos antes de pensar em responder sobre o porquê da minha mãe não ser uma das minhas pessoas favoritas em Nova Iorque. Ellen se senta na cama com as pernas para fora ao meu lado e olha para baixo. Acho que ela está reconsiderando, posso ver pelo seu olhar.

— Me desculpa Nick, você não precisa responder. — ela fala baixinho. — Passei dos limites.

— Aos dezesseis anos eu flagrei a minha mãe transando com um dos sócios do meu pai na biblioteca da nossa casa. — paro com a lembrança da cena — Não sei como explicar que aquilo mudou para sempre o jeito como eu a via.

— Nick isso é terrível. — ela se senta ao meu lado no colchonete e me abraça — Me desculpa por te fazer lembrar disso. Você não precisa me contar mais.

Eu agradeço por ela não me pressionar para saber o resto porque eu não acho que conseguiria falar sem ter um acesso de raiva ou de loucura, ou de tristeza ou mesmo de dor.

— Um dia Ellen, quando for a hora, você vai saber tudo sobre mim, eu prometo.

— É. Um dia.

▬▬ ▬▬

[...] Minha respiração estava falhando. Eu estava sentindo o meu corpo todo mole e sem força alguma. A bandeja com a cocaína ainda estava em cima da minha cama. Um dos meus traficantes fizera um trabalho e tanto me trazendo uma quantidade suficiente para uma semana inteira de consumo agora que estava nessa porra de casa, cumprindo a porra da pena de seis meses em prisão domiciliar.

Minha cabeça estava girando e eu estava com vontade de vomitar. Porra, meu estômago doía. Minha visão estava embaçada e minha cabeça estava aponto de explodir. Eu conhecia esses sintomas. Estava tendo uma overdose, eu sabia que era isso. Também, pela quantidade que eu inalara, não seria novidade ter uma bem ali naquele momento.

Eu vi uma imagem na minha frente. Era uma mulher. Quem era ela? Ela tinha uma rosa na mão e vinha na minha direção. Ela estava vestida de branco como se fosse um anjo. Quando ela chegou perto eu pude ver seus chifres. Seu rabo pontudo estava aparecendo por baixo do robe. Não era um anjo, era um demônio. Ela olhou para mim e sorriu. Um sorriso com dentes pontudos e cheios de sangue. Um olhar de malícia.

Ada? É a Ada. Ela é o demônio. [...]

Acordo com o coração batendo forte e suando como alguém que acabou de fazer exercício físico. Quase posso sentir o gosto na minha boca das porcarias que ingeri no meu sonho. É quase como se aquele demônio estivesse aqui. E ele está. Perto de mim outra vez. Há quanto tempo eu não tinha sonhos desse tipo? Há quanto tempo não tinha perdido uma noite de sono por causa de coisas do passado? A regra sempre foi ter uma noite tranquila quando eu realmente estava dormindo e não transando. Sonhos com a Ada e com Nova Iorque eram uma exceção á regra. Agora parece que a exceção virou regra.

— Caralho. — me levanto rápido e tomo um gole de água no copo que a Ellen me deu um pouco antes de dormirmos. Olho para a cama e... Cadê a Ellen?

— Ellen? — chamo indo em direção ao banheiro — Ellen?

Ela não está no banheiro. Desço e olho na cozinha, mas ela também não está. Lembro-me que da outra vez que ela sumiu durante a noite, ela estava na escada do lado de fora da casa. Corro até lá e a encontro sentada no mesmo lugar que da outra vez. Encosto-me no batente da porta e fico olhando para as suas costas. Eu respiro fundo tentando deixar para trás o sonho que me acordou.

Ela está com uma camisa branca minha e eu não consigo ver se existe algo na parte de baixo pela maneira como ela está sentada. Lembro-me que quando ela foi dormir, estava com essa camisa e um short vermelho, mas agora não o vejo.

— Está sem sono? — pergunto indo em direção a ela. Ela olha para trás e sorri ao me ver.

— Estou. Você também pelo visto. — nesse momento vejo em sua mão algo que me desagrada bastante. Uma baforada de fumaça sai da sua boca e vejo um cigarro em sua posse.

— Não. — sento-me rapidamente ao seu lado e tiro o cigarro dela — Por favor, não me diga que você é burra o suficiente para fumar rolinhos de câncer.

— E, por favor, me diga que você não é intrometido o bastante para se meter em algo que não te diz respeito. — ela atira.

— Ellen, essas coisas matam. — jogo o cigarro no chão e piso em cima dele com o chinelo. Ela faz cara feia pra mim.

— Pode ser, mas não é da sua conta.

— Há quanto tempo você fuma? — ignoro sua irritação.

— Eu comecei aos quinze. A culpa foi da minha mãe, ela me disse que se me pegasse fumando me mataria. Aí em um ataque de rebeldia adolescente eu comecei e não consegui mais parar. Se bem que agora eu só fumo quando estou nervosa ou ansiosa.

— Você está nervosa ou ansiosa agora?

— Um pouco.

— Sobre o quê?

— Sobre amanhã. No trabalho e essas coisas. — ela responde depois de algum tempo.

— Vem, vamos dormir. Você precisa descansar. — me levanto e estendo a mão para ela. Ela me olha por um tempo e aceita minha ajuda para se levantar. Mas ao invés de me seguir para dentro de casa quando vou em direção á porta, ela sai correndo pela areia da praia. Demoro um pouco para perceber que ela quer que eu corra atrás dela. Então quando ela grita me chamando, eu vou.

— Não acredito que passei o fim de semana inteiro com você e não dei um mergulho aqui. — ela diz sem fôlego quando para na beirinha do mar com a água molhando seus pés.

Uma ideia se passa pela minha cabeça. Ela está de costas para mim, então eu a pego pelas coxas e caminho com ela por sobre os meus ombros para dentro do mar.

— Terá a sua chance agora.

— Nick eu estou vestida. Vamos molhar a roupa.

— Tudo bem, podemos tirar e se não quiser tirar, tem uma casa ali a cinquenta metros com outras roupas sequinhas.

— Nick não... — ela não termina sua frase porque eu mergulho com ela quando já estamos com a água quase nos cobrindo. Um instante depois estamos de novo na superfície só que agora tossindo água o tempo todo. Ellen mais do que eu.

— Isso não foi nada legal Nick, eu estava desprevenida.

— As melhores coisas da vida acontecem quando menos esperamos. Acostume-se. — digo com um a pontada no peito ao lembrar que essa será uma última aventura até a minha casa voltar a ser fria e solitária como tem sido há cinco anos.

***###***

UFFFAA AINDA BEM QUE AS COISAS SE RESOLVERAM ENTRE NICK E ELLEN HEIN... O QUE ACHARAM DO CAPÍTULO AMADINHAS? GOSTARAM? SE SIM, DEIXEM AÍ AS OPINIÕES NOS COMENTÁRIOS E NÃO SE ESQUEÇAM DE VOTAR TAMBÉM TÁ. ATÉ AMANHÃA E BEIJOOOOS!

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