Jogo de Máscaras

By AliceHAlamo

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Não era para ser difícil ou perigoso, era para ser relaxante e prazeroso, apenas isso. Que ironia... Como se... More

Capítulo 1 - Vista sua Máscara
Capítulo 2 - Tire sua máscara de inocente
Capítulo 3 - Tire sua máscara de puritano
Capítulo 4 - Vista sua máscara de bom amigo
Capítulo 5 - Vista sua máscara de bom partido
Capítulo 6 - Tire sua máscara de cara paciente
Capítulo 7 - Vista sua verdadeira máscara
Capítulo 8 - Vista sua máscara de felicidade
Capítulo 9 - Tire sua máscara de insegurança
Capítulo 10 - Vista sua primeira máscara
Capítulo 11 - Tire a máscara dos outros
Capítulo 12 - Vista sua máscara de enfermeiro
Capítulo 13 - Tire sua máscara de frieza
Capítulo 14 - Vista sua máscara de Mentiroso
Capítulo 15 - Vista sua máscara de protetor
Capítulo 16 - Vista sua máscara de Sasuke
Capítulo 17 - Vista sua máscara de honestidade
Capítulo 18 - Tire a máscara do seu adversário
Capítulo 19 - Vista sua máscara de Apaix-..., quer dizer, de viciado
Capítulo 21 - Tire sua máscara de sob controle
Capítulo 22 - Tirem suas máscaras sociais
Capítulo 23 - Vista sua máscara de traído
Capítulo 24 - Tirem suas máscaras de protegidos
Capítulo 25 - Vista sua máscara de bom entendedor
Capítulo 26 - Vista sua máscara de ingênuo
Capítulo 27 - Vistam suas máscaras de aliados
Capítulo 28 - Tire sua máscara de encurralado, ainda há saída
Capítulo 29 - Vista sua máscara de John Dillinger
Capítulo 30 - Tire sua máscara de amigo leal
Capítulo 31 - Vista sua máscara de desespero
Capítulo 32 - Vista sua máscara de Giselle
Capítulo 33 - Vista sua máscara de precaução
Capítulo 34 - O cair das máscaras

Capítulo 20 - Vista sua máscara de cumplicidade

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By AliceHAlamo


Ten-Ten repetia um ato que treinava desde criança: sorrir mesmo que, em seu íntimo, estivesse pensando em como seria bom se a pessoa à sua frente desaparecesse. Conhecera Kaguya nas últimas eleições, quando Orochimaru saiu da prefeitura e Neji a assumiu. Não havia sido um encontro amigável, a perda da prefeitura parecia atingir muito mais a Kaguya que o marido, e isso resultara numa pequena discussão entre as duas primeiras damas, a antiga e a atual, durante os cinco minutos que ficaram a sós no banheiro. Por esse motivo, e muitos outros que Ten-Ten não tentara pontuar para Hiashi, tinha odiado, e continuava odiando, a recente aliança.

Sentadas do lado de fora da casa, conversavam pouco. A mesa redonda era pequena, o suficiente para conter os dois pratos, a jarra de suco e os copos que utilizavam. O calor as obrigara a sentar-se ali, sob o céu estrelado e limpo como pouco se via.

— Não está com fome? ­— Kaguya questionou com os olhos violeta fixos no prato intocado de Ten-Ten.

Kaguya era bonita, sempre bem arrumada e elegante, nem ao menos aparentava a idade que tinha. Cinquenta? Algo assim. Ten-Ten podia apostar que ela gastava mais de uma hora diante do espelho para fazer os penteados requintados que usava até mesmo no dia-a-dia. Albina, não abusava muito da maquiagem, apenas um pouco de blush para parecer saudável às câmeras. Era interessante como a beleza da mulher não fazia jus à sua inteligência. Ah, sim... O que mais irritava Ten-Ten naqueles jantares era que Kaguya não conseguia manter uma conversa a seu nível. Maquiagem, moda, dinheiro? Se fosse para ficar o dia todo falando de assuntos tão banais, Ten-Ten iria direto à sua consultora de moda, não? Respirou fundo e bebeu um pouco do suco de laranja em seu copo antes de responder:

— Eu não como muito e hoje está muito quente, não acha?

— Ah, sim, esse tempo horrível desta cidade! — Kaguya exclamou enquanto balançava a mão como se espantasse um inseto. — Coloquei saltos e tive que trocar porque a previsão do tempo disse que choveria! E cadê? Nada, nenhuma gota, só esse calor infernal!

— Às vezes, eles se enganam sobre o tempo — disse, tentando dar prosseguimento à conversa.

— Eles sempre erram — ela enfatizou. — Um monte de imprestáveis esses jornalistas, todos eles! Nenhum acerta!

Ten-Ten apertou o tecido do vestido para não revirar os olhos e ser rude. Moda, dinheiro, maquiagem, tempo, do que mais Kaguya falaria? Homens?

— Soube que visitou creches esses dias. Deve ser cansativo, não?

— Um pouco, mas faz parte do serviço, você sabe.

— Ah, não, querida, não sei. — Kaguya riu. — Nunca fiz nada disso. Eu só comparecia aos eventos com Orochimaru, sorria para as câmeras e, de vez em quando, acompanhava-o a entrevistas ou em aparições públicas. Contudo, agora não poderei mais fazer isso, não é mesmo? — perguntou, e o tom descontente e irritado chamaram a atenção de Ten-Ten, que ergueu a cabeça para olhá-la diretamente.

— Não?

— Não, querida, não graças a você — Kaguya pontuou. Ela dobrou o guardanapo sobre o colo e alinhou os talheres ao prato enquanto encarava Ten-Ten num misto de raiva e nojo que nem ao menos tentava esconder. — O que passou pela sua cabeça ao fazer discursos em escolas? Ou então ao ficar visitando creches como se realmente se importasse? Ah, é claro, não podia me esquecer daquela maldita ONG que você criou no início do mandato de Neji! Sério, o que você tem nessa sua cabeça, menina?

Ten-Ten estreitou os olhos e endireitou a postura.

— Menina? — repetiu, sorrindo sarcástica.

— Exato. Menina. Ofendi? Ora essa, garota, só sendo uma garota muito ingênua para fazer tudo isso e não saber aproveitar de fato o período de mandato do seu marido. Agora, com você tendo feito tudo isso, desfilando como protetora da cidade, da educação e todo aquele seu teatrinho, o que vão esperar que eu faça?

Ten-Ten riu, sem se importar com a indiscrição.

— Ah, esse é o problema... — Umedeceu os lábios e cruzou as pernas de forma mais confortável. — Bem, eles vão entender que, por conta da sua idade, você não possa fazer o mesmo que eu, senhora. Não se preocupe, se Neji não for reeleito, seu marido cuidará minimamente da cidade, ela não ficará órfã sem mim ou Neji.

A expressão de Kaguya se enrijeceu, foi fácil notar as rugas tornando-se ainda mais presentes à medida que as palavras de Ten-Ten a atingiam.

— Sabe, nunca gostei de você, sempre disse a Orochimaru que você era uma garota mimada que acha que pode controlar o mundo. Isso é culpa dos seus pais, tenho certeza. Criaram-na para achar que podia tudo, mas não pode, não sabe o seu lugar. Isso é falta de ocupação, falta de ter o que fazer. Se tivesse uma casa para cuidar ou filhos para criar, não seria assim, você tomaria jeito! Agora, eu que vou ter que aturar as consequências da sua má criação.

A mão foi mais rápida que a mente dessa vez. O suco que antes preenchia o copo de Ten-Ten tinha ganhado nova função: colorir a roupa de Kaguya e encharcar-lhe o rosto. Antes que o arrependimento surgisse, Ten-Ten se levantou, séria e firme.

— O jantar acabou se isso era tudo o que tinha a me dizer. Fora da minha casa antes que eu peça aos seguranças para te chutarem daqui.

Kaguya segurou o guardanapo com as mãos trêmulas de raiva enquanto limpava o rosto. Levantou-se e caminhou até Ten-Ten.

— Toquei na ferida, garota? Nunca entendi porque Neji não lhe deu um filho logo para que você se ocupasse! Em vez disso, ele preferiu te dar um amante.... — Riu. — Sabe de uma coisa... eu ouvi boatos, boatos que circulam na mídia há algum tempo, mas que seu marido foi rápido para calar um pouco depois de assumir o cargo. Disseram que você tinha um amante, um garoto qualquer da periferia, um ninguém. Qual o nome dele mesmo...? Ah, sim, sim, Kiba.

— Eu disse para você ir embora — Ten-Ten disse, entre dentes, segurando-se para não arrastar por conta própria Kaguya para fora de sua casa.

— Neji foi esperto por te encobrir na época, e a mídia esqueceu o caso. Ou tinha esquecido. Orochimaru é um homem cuidadoso, sabia? Para evitar qualquer novo escândalo, ele e Hiashi deixaram alguns seguranças com vocês e seus amantes — Ela cuspiu a palavra. — E sabe o que aconteceu esses dias? Parece que seu Kiba recebeu uma visita inesperada, ele disse aos seguranças que eram dois homens da campanha de Neji que tinham ido fazer umas perguntas, mas nós duas sabemos que ninguém da campanha de Neji sabe sobre seu amante.

Ten-Ten arregalou os olhos, a raiva que sentia por Kaguya foi deixada momentaneamente de lado enquanto tentava digerir o que havia escutado. Tinham ido atrás de Kiba, alguém chegara nele mesmo depois de ela ter se separado do amante. O problema não era seu relacionamento com ele, era o fato de ter confiado nele cegamente! Ela lhe contara tudo, ele sabia cada detalhe de sua vida, da campanha de Neji, tudo!

— Quem foi falar com ele? — perguntou, o coração acelerado impedindo-a de raciocinar direito.

— Não sabemos quem eram os homens, os seguranças tiraram uma foto e entregaram a Orochimaru e a Hiashi.

— Saia.

— Como? — Kaguya franziu o cenho.

— Saia! — gritou e se afastou bruscamente dela. — Saia da minha casa! Saia agora! Saia! Tirem-na daqui! Agora!

Os seguranças se aproximaram rapidamente e seguraram os braços de Kaguya sem a machucar. Embora Kaguya argumentasse, apenas os gritos de Ten-Ten eram ouvidos até que os seguranças passaram pela porta, desaparecendo junto de Kaguya. Andou de um lado para o outro, o barulho do salto contra o piso irritava seus ouvidos que já estavam machucados pelas insistentes batidas do coração, as mãos desmancharam o cabelo perfeitamente arrumado e a respiração se descompassou a ponto de chamar a atenção de uma das empregadas que correu em sua direção com um copo de água gelada.

Haviam chegado em Kiba! Alguém tinha chegado em Kiba, falado com ele! E se ele tivesse contado o que sabia? Se Kiba tivesse mesmo falado, dependendo do que ele tivesse contado, Neji estava com certeza acabado. Não só Neji, ela também! Todo aquele tempo tomando cuidado para que o relacionamento de Neji com Naruto não os levasse à ruína, e seria o dela com Kiba a fazer isso!

Não, não podia estar certo, não podia, Neji não a perdoaria por aquilo!

Não era justo... Havia se afastado de Kiba para que algo assim não acontecesse, tinha feito de tudo para proteger Neji de qualquer acusação e tudo havia sido em vão? Kiba não podia a trair daquela forma! Não podia! Simplesmente não era justo! Ela havia confiado nele, ele não tinha o direito de trai-la, de contar o que quer que fosse a quem quer que seja! Ele não tinha o direito de ferir Neji! Eles há muito tempo nem se amavam mais, Kiba não podia simplesmente decidir se vingar e contar tudo, podia?

Além disso, e se Hiashi se zangasse? Meu Deus, e se Hiashi se zangasse com Kiba?! Ele iria feri-lo, sim, ele com certeza iria ferir Kiba e os malditos idiotas que tinham ido falar com ele! Ele não mataria Kiba, mataria? Não era difícil... Caso Kiba aparecesse morto, ninguém acreditaria se acusasse Hiashi, era fácil armar um assalto seguido de morte, muito fácil, principalmente para alguém como Hiashi!

Livrou-se da empregada com um gesto brusco e subiu as escadas correndo para o quarto. Eram oito horas, Neji não demoraria para chegar, precisava falar com ele, precisava contar-lhe, precisava que ele a confortasse e que achassem uma saída para tudo aquilo.

E tão imersa nos próprios medos e pensamentos, não viu o tempo passar nem ouviu a porta do quarto sendo aberta.

— Ten-Ten? O que houve? — Neji arregalou os olhos quando a viu sentada no chão, ao lado da cama com os cabelos soltos e a maquiagem borrada pelas lágrimas. — O que aconteceu? — Ajoelhou-se ao lado dela.

As mãos dela agarraram com força o terno que ele vestia. Puxou-o para perto, encostando a cabeça no peito dele enquanto sentia o toque hesitante em seus ombros. Primeiro, os dedos, depois as mãos a segurando com firmeza, em seguida, ele mesmo se sentava no chão e a colocava com calma em seu colo. Era como antes, como no dia em que prometeram cuidar um do outro, só que agora com muito mais afeto. Ela enterrou o rosto na curva do pescoço dele, sentindo uma mão passar por suas costas na tentativa de acalmá-la. Ele não diria nada, nunca dizia, ela sabia que ele esperaria que ela chorasse, pelo tempo que fosse, e então conversariam se quisesse.

A mão dele em seu cabelo, os lábios em sua testa antes da voz calma dizendo que estava tudo bem, nada ajudava a diminuir a aflição que sentia. Talvez, se falasse com Hiashi, se pedisse a ele para que a deixasse cuidar daquele problema, tudo ficaria bem. Kiba não sofreria nenhuma consequência, talvez tivesse apenas que se mudar, e Ten-Ten iria atrás dos homens que haviam causado tudo aquilo. Não, Hiashi não confiaria nela para cuidar justamente desse assunto.

— Ten-Ten, disseram que expulsou Kaguya aos gritos. O que ela te fez? — Neji perguntou, sério, tentando soar amável embora o fato de Kaguya ter deixado sua esposa naquele estado não o deixasse nada feliz.

Rapidamente, ela negou com a cabeça. Neji não podia romper a aliança com Orochimaru e isso incluía Kaguya infelizmente. Limpou o rosto com as mãos, arranhando-se no processo. Neji a segurou e encostou a testa à sua, forçando-a a encará-la.

Ah... os olhos dele tinham tanta preocupação... Seria até que romântico se não fosse tão trágico. Desviou o olhar. A mão dele segurou seu queixo e o ergueu. Os olhos dela voltaram a lacrimejar. Ele selou os lábios, levemente, como uma carícia extremamente suave que carregava a promessa de que, qualquer que fosse o problema, eles iriam resolver, juntos, como sempre.

Passou as mãos pelo pescoço dele até a nuca e, quando se separaram, escondeu mais uma vez o rosto, ao lado do de Neji para não o encarar enquanto sussurrava:

— Alguém foi atrás de Kiba, não sei o que ou quanto ele disse... Dois homens se passaram por membros do partido. A foto deles está com seu tio e Orochimaru... E-eu...

O corpo de Neji paralisou naquele momento, Ten-Ten sentiu isso sob seus dedos e fechou os olhos, apertando o tecido do terno.

— Ele sabe de tudo, não é? — Neji perguntou de olhos fechados, e a resposta que temia veio pelos soluços que Ten-Ten tentava conter.

— Me desculpe... me desculpe, Neji...

Aquilo era péssimo, a pior coisa que podia acontecer. Tinha que saber o que Kiba dissera e, além disso, tinha que dar um jeito de tirá-lo da cidade rapidamente, longe das pessoas que o tinham encontrado e, mais que isso, longe de Hiashi. Manter Kiba isolado e seguro, essa era sua prioridade, isso acalmaria Ten-Ten. Abraçou-a com mais força e ouviu o arfar surpreso dela antes de ser correspondido.

— Vou tirar ele da cidade, não se preocupe. — Beijou-lhe a cabeça. — Vamos até a casa dele agora mesmo, vamos tirá-lo daqui, não precisa se preocupar, se acalme...

Ele se levantou e a ajudou a ficar de pé. Ten-Ten o olhava confusa enquanto as mãos dele limpavam suas lágrimas e os lábios cobriam os seus rapidamente. Neji estava com raiva, ela via isso, conseguia notar todos os sinais, mas não descontava nela. Por que não estava descontando? Por que não a culpava? Como não a culpava? Durante todo o trajeto até o carro, ela tentou entender por que Neji ainda não a havia acusado por tudo aquilo.

Colocou o cinto enquanto assistia a Neji dispensar os seguranças ou o motorista. Ele entrou no carro e deu partida.

— Eu não devia ter contado nada a ele...

— Você o amava, confiava nele, óbvio que contaria — Neji respondeu, sério. — Temos que saber o que ele falou. Se ele realmente te amava, não disse nada. Não se preocupe, vamos dar um jeito nisso.

— Como? — ela sussurrou.

— Não sei, mas vamos pensar nisso juntos, está bem? Primeiro, temos que tirar Kiba da mira de Hiashi.

O carro acelerou, e Ten-Ten não soube dizer quanto tempo levou para que chegassem à casa de Kiba. Sem mídia, sem ninguém, isso era bom, significava que as pessoas que haviam ido até ali não tinham espalhado nada ainda. Neji estacionou rapidamente, e, mal o carro tinha parado, Ten-Ten já tocava a campainha insistentemente.

Quando Kiba abriu o portão, Neji o empurrou para dentro bruscamente e Ten-Ten foi rápida ao entrar e fechar o portão atrás de si.

— Ah meu Deus! — Ten-Ten cobriu a boca com a mão. — O que aconteceu com você?

Kiba a ignorou e empurrou Neji com força. O rosto estava machucado, o lábio cortado e, pelo modo que mancava, era fácil saber que as pernas deviam estar machucadas.

— Caiam fora! Isso aqui — Apontou para o rosto. — é o que ganho me envolvendo com pessoas como vocês! Já falei tudo para os seus seguranças! Fui enganado, falei o que não devia, podem me deixar em paz agora?

— Kiba... — Ten-Ten o chamou, assustada, e deu um passo na direção dele.

— Não me toque! Eu já disse uma vez, não quero mais nada com esse mundo de vocês! — ele gritou ao afastá-la.

Neji estreitou o olhar e empurrou Kiba contra a parede com força.

— Faça isso de novo e eu mesmo quebro você. Estamos aqui para te levar a um lugar seguro, imbecil! Pegue documentos, cartões, dinheiro e arrume uma bolsa. Você tem trinta minutos — Neji mandou ao soltá-lo. — Agora!

Kiba permaneceu parado e encarou Neji. Sem seguranças, sem nada, o que seria do querido prefeito se resolvesse socá-lo ali mesmo como tanto queria? O modo como era olhado, com superioridade, com raiva, tudo o incitava a acabar com aquele maldito ali mesmo. Descontaria a surra que tinha levado, descontaria o ódio que havia cultivado por perder a mulher que amava, descontaria tudo ao ponto de ninguém mais reconhecer aquele cara desprezível de Neji Hyuga.

Neji não estava muito diferente. A respiração era audível, os punhos cerrados com força, o ódio que transbordava facilmente por sua expressão. Nunca tinha gostado de Kiba, nunca mesmo, aturara-o por Ten-Ten, e só por ela, mas agora a situação era bem diferente...

— Neji... por favor... — Era a voz de Ten-Ten, e Kiba foi o primeiro a desviar o olhar e mirá-la.

"Neji", Kiba riu sem humor ao vê-la se colocar entre eles e afastar Neji com cuidado, acariciando o rosto dele até que ele assentisse e parasse de encará-lo. "Neji", sempre ele em primeiro lugar, sempre!

— Kiba, arrume suas coisas — Ten-Ten pediu, mais calma, mais séria, buscando controle onde não sabia que tinha. — Precisamos te tirar daqui. No carro, você nos fala o que revelou para os homens que vieram aqui.

E lá estava ela de novo protegendo Neji! Importando-se com maldita candidatura dele!

— Poupe-me, Ten-Tem, isso é culpa de vocês, não minha. Acha que está me fazendo um favor me protegendo? Não está. Você me colocou nessa, é sua obrigação me proteger agora. Então, enquanto eu vou fazer as malas, por que não vai à merda? — cuspiu antes de virar as costas e correr para arrumar as malas.

Ten-Ten respirou fundo e segurou Neji para impedi-lo de ir atrás de Kiba. Em poucos minutos, logo após Neji terminar uma ligação, viram-no descer com uma bala, uma mochila nas costas e um bilhete que deixou sobre a mesa da sala, colocando um peso sobre ele para que não voasse.

— Pronto. Para onde vou?

— Para longe ­— Neji respondeu direto. — Vamos pro carro. Tem passaporte? Ótimo. Um amigo meu vai te receber fora do país e te arranjar uma casa por um tempo, pelo menos até que se passem as eleições e tudo volte ao normal.

— Fora do país? — Kiba gritou ao entrar no carro. — Eu não posso ficar fora do país! Isso é exagero!

Neji revirou os olhos e apertou o volante com força.

— É a minha única saída. Todos os meus contatos de dentro do país te entregariam facilmente a Hiashi se ele perguntasse do seu paradeiro; o único que Hiashi não conhece é um amigo antigo da faculdade que vai te receber fora do país porque, convenientemente, ele está visitando os pais.

— Eu não vou sair do paí-...

— Parem com isso! — Ten-Ten gritou.

— Ah, merda... — Neji ligou o carro e olhou pelo retrovisor. ­— Os seguranças de Orochimaru estão vindo, coloquem o cinto.

Ten-Ten e Kiba olharam para trás e, quando o carro começou a se mover, viram os seguranças correrem de volta ao lugar de onde tinham vindo, entrando em um carro.

— Neji — Ten-Ten arregalou os olhos. —, corre! Kiba, me dê o seu celular e passaporte e coloque o cinto!

Ele entregou a mochila em vez disso, e Ten-Ten colocou o cinto ao mesmo tempo em que a revirava em busca dos documentos.

— Se eles nos pararem, vão levar Kiba direto para Hiashi. Compre a passagem dele, para o horário mais próximo no aeroporto internacional. Vamos direto para lá — Neji disse e jogou o GPS no banco de trás. — Digite "Aeroporto Internacional" e procure o caminho com menos trânsito!

— Peraí! Eles não são os seus seguranças? — Kiba gritou, afoito, sem entender o que se passava.

— Se fossem meus, eu estaria correndo deles? Pegue a merda do GPS!

Kiba assentiu e digitou, mas as mãos tremiam e os olhos voltavam-se para trás com frequência. Quando conseguiu enfim digitar algo, avaliou a melhor rota e devolveu o aparelho para Neji.

— Isso não vai ser que nem aquelas perseguições em que eles começam a atirar na gente, não é? — perguntou, rindo nervosamente.

— Cale a boca, Kiba, isso não é um filme! — Ten-Ten respondeu, irritada, e voltou a se concentrar na passagem.

Havia um voo com um horário ótimo, mas ela conhecia aquela cidade e aquelas ruas, não conseguiriam chegar a tempo. O segundo horário era bom, mas dava brecha para que os seguranças de Orochimaru entrassem no aeroporto e o perseguissem. Ou não, afinal, ainda era Neji ali com ela, eles não podiam simplesmente ignorá-los.

Comprou a passagem e pegou o GPS.

— Vire à direita na próxima rua — mandou, ignorando a voz eletrônica que mandava prosseguir em frente. — Pegue a próxima avenida.

— Ten-Ten...

— Sei o que estou fazendo, Neji, pegue a avenida.

O trânsito seria ruim, mas tinha um jeito de escapar dele. Eles não pegariam a avenida toda, pegariam apenas um trecho e virariam logo à esquerda. Se tudo desse certo, poderiam até mesmo despistar os seguranças de Orochimaru ou deixá-los presos no trânsito. Na pior das alternativas, eles ainda estariam logo atrás quando saíssem da avenida.

Manteve os olhos no retrovisor. Infelizmente, os seguranças continuavam perto, seguindo-os enquanto dava para ver que um falava ao celular. Nem os trinta minutos até o aeroporto foram suficientes para desistirem, e Ten-Ten apenas respirou aliviada por saber que a distância entre os carros daria tempo para que Kiba pegasse a bagagem no porta malas.

Neji estacionou de qualquer jeito, e todos saíram apressadamente. Kiba pegou a mala, e Ten-Ten o empurrou para dentro do aeroporto.

— Corra! Vamos segurá-los aqui enquanto faz check-in. Não pare por nada e embarque — ela ditou, com pressa, enquanto ele já deixava o passaporte na mão.

Neji passou a mão sobre o cabelo, bagunçando-o. Olhou ao redor, sabia que estava chamando a atenção e que não demoraria para que começassem a tirar fotos ou a gravar algum vídeo. Entretanto, Ten-Ten estava calma. Ansiosa, mas calma, como se tivesse um plano. Permaneceram parados na entrada do aeroporto e, assim que os seguranças saíram do carro e caminharam em direção a eles, viu Ten-Ten curvar-se, as mãos sobre o abdômen enquanto gritava, ao que parecia, de dor.

— Ten-Ten? — Segurou-a, esquecendo-se dos seguranças que se aproximavam. — O que aconteceu? O que você tem? Ten-Ten?

Os seguranças pararam assim que viram Ten-Ten se ajoelhar no chão. A multidão se aglomerava em volta deles, e Neji não sabia o que fazer. Os seguranças se entreolharam, mas, por fim, correram para ajudar a erguer Ten-Ten.

— Hospital... — ela sussurrou. — Estou grávida... Hospital, agora!

Neji franziu o cenho quando os seguranças o olharam, mas manteve a história:

— O que estão esperando? Ela precisa de um médico!

As pessoas na porta do aeroporto impediram que qualquer segurança tentasse se separar do grupo para ir atrás de Kiba, e Neji conferiu isso antes de entrar no carro junto de Ten-Ten. Sentou-se no banco de trás, com ela, os dois seguranças no banco da frente sendo obrigados a abandonar o próprio veículo enquanto dirigiam para o hospital e comunicavam alguma coisa pelo rádio.

Neji sorriu, discreto, e apertou a mão de Ten-Ten, ela sempre tinha os melhores planos. Ouviu-a gemer e sentiu ela apertar sua mão com força.

— Já estamos chegando — manteve a encenação.

Os olhos castanhos estavam úmidos, e ela negou com a cabeça antes de umedecer os lábios, que agora ele percebia estarem quase sem cor.

— Desculpe...

O corpo amoleceu, e Neji demorou a entender que Ten-Ten havia mesmo desmaiado em seus braços.

— Acelerem...

— O que disse, senhor?

— Acelerem! — gritou, sem desviar o olhar de Ten-Ten.

O hospital não era longe e, pelo modo que o carro estava sendo dirigido, Neji sabia que ou morreriam em um acidente de carro ou chegariam ao hospital em menos de dez minutos. Apertou as mãos de Ten-Ten, estavam geladas, ela suava. Assim que o carro parou, praticamente chutou a porta enquanto carregava Ten-Ten para fora do veículo e corria para dentro do hospital. As enfermeiras logo apareceram com uma cadeira de rodas, onde colocou Ten-Ten sem saber responder às perguntas sobre o que havia acontecido.

Não conseguiu se sentar na sala de espera, andava de um lado para o outro, ignorando os sussurros das outras pessoas. Em menos de vinte minutos, seus próprios seguranças estavam ali e impediam que mais fotos ou vídeos fossem feitos daquele momento. Foi encaminhado à uma sala particular enquanto os médicos "tentavam estabilizar" Ten-Ten, mas nenhuma notícia lhe era dada. Em uma hora, Hiashi apareceu.

— O que você pensa que estava fazendo? — seu tio gritou aos sussurros, a expressão convergida em fúria como Neji nunca havia visto.

— Agora não — declarou, seco, sem tirar os olhos do relógio fixo na parede oposta, embora o medo corresse por suas veias. Sabia que Hiashi não o perdoaria por ajudar Kiba, ele não deixaria aquilo passar em branco.

— O quê? — A face de Hiashi ficou vermelha, e o passo que ele deu em direção ao sobrinho não foi impedido pelos seguranças a tempo.

Os dois socos acertaram em cheio Neji, as mãos de Hiashi chegaram a agarrar o terno que ele usava antes de os seguranças os separarem.

Neji limpou o sangue da boca, e o olhar de ódio que dirigia ao tio foi substituído pelo preocupado assim que o médico entrou no cômodo.

— Nós ainda vamos conversar, garoto, temos muito o que conversar. Você, eu e a sua esposa que se acha tão esperta.

— Eu. Disse. Agora. Não. Hiashi — repetiu e levantou-se, apreensivo, sem conseguir distinguir nada na expressão grave do médico.

— Vocês discutiram ou brigaram? — o médico perguntou, sério.

— Não — Neji negou firme. — Como ela está?

— Estável. Vou permitir a entrada agora, mas ela ficará hoje aqui em observação. Você tem quinze minutos, ela precisa descansar.

Neji assentiu e passou pelo médico assim que a enfermeira fez sinal para que o acompanhasse. Entrou no quarto com cuidado e odiou ver Ten-Ten, sentada, ligada à máquina de controle de batimentos cardíacos. Fechou a porta e se aproximou da cama com passos largos e urgentes. Ten-Ten não o olhava, ela tinha olhos fixos no teto enquanto as mãos se remexiam no colo sem motivo aparente. Era tão estranho vê-la numa cama de hospital, logo ela que era tão forte, tão decidida, tão segura de si.

— Hey... — chamou, baixo, ao parar ao lado dela e segurar-lhe uma das mãos. — O que aconteceu?

Ela sorriu, melancólica, e Neji percebeu os batimentos cardíacos aumentarem. Olhou da máquina para ela e preferiu ficar em silêncio quando ela se ajeitou na cama, sentando-se de uma forma mais confortável.

— O que houve com seu rosto? — ela perguntou, surpresa, e tocou o machucado no lábio inferior dele.

— Hiashi. Não se preocupe, ele não vai entrar aqui. Você está melhor?

Sim, estava, mas a voz não saiu para responder. Em vez disso, Ten-Ten apenas pediu em um sussurro fraco:

— Me beije.

Neji sorriu de leve e se inclinou para selar os lábios em um beijo carinhoso. Sentiu as mãos dela tremendo em seus ombros, e manteve-se perto mesmo após o fim do beijo. Ela desviou o olhar, limpando de forma agressiva a lágrima que escapou de um dos olhos.

— Kiba conseguiu embarcar? — ela perguntou.

— Sim. Quando fingiu passar mal, todos se aglomeraram e os seguranças tiveram que te socorrer. Mas parece que não era fingimento. Por que não me disse que não estava se sentindo bem?

— Nada foi fingimento, Neji — ela sussurrou e encostou a cabeça, derrotada, no travesseiro.

— Como assim?

— Naquela hora, eu pensei em fingir passar mal, só que não foi preciso porque eu realmente passei mal... — Ela fechou os olhos e suspirou. — Eu... não menti em nada naquela hora.

Neji endireitou a postura e piscou, incrédulo, enquanto a lembrança de toda a cena lhe vinha à mente.

— Você quer dizer que, quando disse que estava grávida...

— É... palmas para mim. — Ela riu, sarcástica, limpando mais uma vez as lágrimas. — Estou mesmo grávida e quase perdi meu filho naquela hora. E eu sei que não foi o que combinamos! Eu sei, ok? Foi mesmo um acidente, não era para ter acontecido!

Neji recuou dois passos, deixando-se cair na cadeira para acompanhantes à medida que a cabeça desabava nas próprias mãos.

Grávida. Olhou para Ten-Ten, ela não o encarava, parecia assustada demais para isso. Grávida. Não queria um filho, já haviam conversado sobre aquilo. Grávida. Hiashi usaria aquilo contra ele se soubesse, ou melhor, quando soubesse, já que não era algo que dava para esconder por muito tempo, não é? Grávida. Ela queria aquilo há muito tempo, sabia disso, e ela tinha conseguido e quase perdido por culpa de Kiba, não, por culpa de Hiashi! Grávida. E ela estava chorando de frustração, de tristeza, não de alegria. Grávida. Ah, droga, odiava vê-la chorando.

Respirou fundo e, como se o ar lhe desse forças, levantou-se e foi até a cama dela. Ela o encarou, desconfiada, os dois braços cruzados sobre o ventre, como se o defendesse firmemente, embora o olhar lhe parecesse de súplica. Inclinou-se, beijando-a na testa antes de capturar os lábios.

— Neji...

— Prometemos fazer um ao outro feliz, não é? — Ele sorriu de leve. — Você o quer, então é seu, quer dizer, é nosso, e ninguém vai fazê-lo passar perigo de novo, nem mesmo Hiashi. Está bem? — sussurrou, e ela assentiu, abraçando-o com força. — Não se preocupe, como eu disse: vamos dar um jeito. Juntos. Certo?

Ten-Ten mordeu o lábio e, então, soltou o ar dos pulmões de uma vez só enquanto Neji se afastava para olhá-la.

— Juntos — ela sussurrou, e nem a voz de Hiashi no corredor estragou aquele pequeno momento de cumplicidade. — Juntos... — repetiu, embora soubesse que não seria tão fácil quando Neji queria fazer parecer.




Ah como eu queria escrever esse capítulo... Desde o começo da fic, esse capítulo tava prontinho na minha cabeça!

Enfim,

Reviews?

Recomendações?

Críticas?

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