You Belong With Me [FLEURMION...

By FernandaRedfield

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Hermione Granger sempre foi bastante pé no chão para saber que tinha uma queda, na verdade, um verdadeiro abi... More

Prólogo: As quedas de Hermione Granger
Capítulo 1: Olhares e percepções
Capítulo 2: Insistência versus Teimosia
Capítulo 3: Notas e percepções
Capítulo 4: A solidão de Gatsby e a paixão de Mr. Darcy
Capítulo 5: O beijo e o impossível
Capítulo 6: Um pedacinho do que pode ser real
Capítulo 7: As várias facetas do real
Capítulo 8: O real preço da rotina
Capítulo 9: A arte
Capítulo 11: As cinco flores - Parte I
Capítulo 12: As cinco flores - Parte II
Capítulo 13: A constância e o refúgio
Epílogo: A Musa

Capítulo 10: Torrencial

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By FernandaRedfield

Fleur Delacour não era feita de gelo por mais azuis e cristalinos que seus olhos pudessem ser. Muito menos, era intocável por maior que fosse a sua beleza. Ela era humana, como qualquer um e, no instante que Hermione a abandonou na biblioteca, ela derreteu e desabou

Seu corpo escorregou pelas lombadas dos livros empilhados na estante em que se encostara. Seus dedos formigavam pelo pacote que entregara a Hermione sendo que, naquele gesto, ela entregara muito mais. Naquele livro estava o seu adeus, mas, também, a sua saudade.

Nas palavras que sentenciavam um fim, Fleur procurava convencer-se. A jovem procurava acreditar que, depois de tanto perder em favor dos outros, ela já estivesse acostumada para entregar ainda que não tirassem dela.

Cada dia em que pisava na academia, ela perdia sua personalidade em favor de sua popularidade. A cada vez que negara o que sentira por Hermione desde quando a conhecera, ela deixava de se amar... E, naquele dia, quando cedera a Roger e negara Hermione, Fleur a perdera, para sempre.

As perdas faziam parte da sua vida, assim como a solidão. Fleur acostumara-se a partidas sem despedidas e a casas vazias. A atenção dada a ela vinha do que ela não era - a menina bonita e feliz, filha de pais ricos, bem criada e culta - e não pelo que ela queria que os outros vissem. E, quando finalmente fora enxergada, tivera que, novamente, perder.

Mas, perder um amor era uma coisa séria. A partida de Hermione significava muito mais do que um coração quebrado para Fleur, quando a morena saíra de sua vida, ela permitira que a própria Fleur destroçasse a própria alma. A loira não machucara apenas Hermione em sua decisão, mas, também, ferira a si mesma.

Fleur negara o que era, o que amava e o que queria ser.

Em um adeus, Fleur destruíra seu passado, seu presente e o seu futuro.

As pressões sociais destruíram o que ela ainda tinha conseguido manter intacto em seu peito. A ganância de Roger aliada a sua covardia foram capazes de transpor a única muralha que ela erguera em volta de seu coração. Fleur sentiu-se fraca, incapaz de enfrentar tudo que se erguia avassalador a sua frente.

Ela precisava da coragem de Hermione.

Fleur não sabia se conseguiria manter as aparências, mas, ela precisava... Nem tanto por si, mas por Hermione.

A líder de torcida não soube quanto tempo ficou chorando sozinha na biblioteca, contudo, quando se levantou, os resquícios de seu choro ainda estavam impressos em cada pedacinho de seu rosto. Ela, mais uma vez, optou em não enfrentar o que a aguardava.

As pessoas que a viram no corredor e esperavam ansiosamente pela sua volta não mereciam ver aquele lado de si, por isso, Fleur entrou em seu carro e voltou à mansão.

No caminho, enquanto pensava o que a aguardava, não chegou à outra conclusão que não fosse óbvia: não havia nada para ela que não fosse a solidão.

Superficialmente, Fleur Delacour parecia a mesma de sempre na manhã seguinte. Internamente? Ela estava quebrada, era misteriosa a forma como ela conseguia esconder tamanha tristeza em uma máscara de felicidade. Poucos perceberiam o que ela, de fato, sentia. E nesses poucos, com certeza, Hermione Granger estava incluída.

Porém, Fleur não encontrara Hermione nos corredores. Ainda que seu peito doesse a cada pensamento vinculado à morena, Fleur não se esforçava para abandoná-los porque o pouco que restara a ela, além da solidão, eram os pensamentos, as lembranças, as sensações, a memória. Fleur, mais uma vez, agarrava-se às migalhas de algo que tivera como um todo.

Não era a primeira vez que Fleur contentava-se com o pouco quando podia ter o mundo. Não era a primeira vez que ela se escondia na superficialidade quando, tudo que queria, era gritar pelo que tinha dentro de si.

Por isso, ela disfarçou bem. Abriu um sorriso e caminhou majestosamente pelos corredores. Desfilou entre os alunos da Academia como se a felicidade que aparentava fosse intocável e inalcançável. O sorriso escondia a lágrima, assim como a solidão a tocava a cada caminhar em meio à multidão.

Podia ter fugido como tantas outras vezes, mas, aquela era a primeira vez em que doía tanto.

O que mais doera na perda de Hermione não fora a ausência da morena, em si, mas, sim, a probabilidade de nunca mais tê-la. Os motivos que levaram Fleur a afastá-la não faziam jus à grandeza do que sentia por ela, entretanto, eram reais, machucavam e, principalmente, amedrontavam.

Fleur sempre fora a adepta de que, aqueles que amavam, não sentiam medo. Ela tinha sangue francês em suas veias, não poderia pensar diferente em relação ao amor romântico... O medo a envergonhava, a forma como lidava com ele, também, mas, a razão de senti-lo, não.

Se tudo chegara ao fim não fora por uma decisão dela, como parecera e sim, como um cruel artifício do destino para provar que ela, Fleur Delacour, filha de uma família influente e rica, jamais poderia amar quem quisesse. Afinal, fora justamente o sobrenome e reputação da líder de torcida que a colocaram naquela situação.

Roger Davies, seu atual namorado, não estava interessado em sua felicidade ou em seu corpo ou em sua aparência - como ele deixara claro em todas as vezes que a traíra com Daphne Greengrass - mas, sim, em seu sobrenome e em tudo que ele poderia trazer. Fora isso que ele praticamente cuspira na face de Fleur quando a chantageou, mostrando que ele tinha várias fotos de Fleur e Hermione na livraria, após o jogo da Academia e que bastava apenas uma mensagem para que elas chegassem a Apoline e Gael Delacour.

Fleur nunca se sentiu tão aprisionada a sua família como naquele momento. Teve que negar um amor em favor de outro. Ela teve que escolher entre dois aspectos da sua vida que não mais vivia sem... E, cruelmente, ela abriu mão de Hermione. Não porque amava mais seus pais e sua irmã ou porque prezava o que tinha e sim, porque sabia o que aconteceria a Hermione se ela seguisse em frente com o que tinham.

A morena não tinha uma família rica e, muito menos, influente. Todas as conquistas de Hermione seriam postar em cheque por causa de sua relação com Fleur Delacour e a mais velha sabia o quanto isso machucaria a sua amada. Hermione se orgulhava e muito do que tinha, do que era e do que sentia... E, talvez, esse fosse outro aspecto que sobrava nela e faltava em Fleur.

A loira não era tão sagaz ou corajosa como aparentava ser, o que sentia por Hermione maximizava certos detalhes de sua personalidade que existiam e estavam calados por todas as exigências de sua vida, inclusive, Hermione maximizava o que Fleur era, em sua essência.

Uma garota apaixonada, perdidamente apaixonada, por outra garota.

Algo que Fleur jamais pensara ser importante até que Roger jogou verdades em seu rosto e a fez engolir preconceitos que ela não queria digerir. O que ela tinha com Hermione não era relativamente bem aceito na sociedade e jamais seria aceito no ambiente em que vivia.

O ambiente das aparências, das mentiras, da superficialidade e do dinheiro.

Um ambiente tão pequeno em que algo tão forte e inexplicável não cabia.

Naquela cruel e destrutiva esfera de sentimentos negativos, Fleur sobreviveu até o fim daquele dia. Roger respeitara a sua perda e manteve-se longe, ainda que vociferasse a quem quisesse ouvir que estava, novamente, com as mãos em Fleur Delacour. Mas, por mais que Fleur tivesse sobrevivido àquele dia, ela queria viver e, por isso, precisava ver Hermione.

Por isso, ao final das aulas, Fleur rumou diretamente para a biblioteca, o seu refúgio terreno quando não podia ter quem lhe pertencia. A loira não olhou para trás, nem quando esbarrou em Cho Chang que estava, desde a noite anterior, furiosa com ela. Cho escutara o choro de Fleur até altas horas até, finalmente, dizer a ela as palavras que ninguém se atreveria dizer ("Você foi covarde. Você não a merece, ela está melhor sem você.").

Quando o olfato de Fleur apreendeu o cheiro dos livros antigos e a audição tranqüilizou-se com o silêncio apaziguador, ela procurou com os olhos o que o seu coração queria. E encontrou... Hermione estava começando a sua rotina, àquela distância, ela parecia bem, porém, a morena também era mestre na arte de dissimular e estava escondendo, muito bem, a sua tristeza.

Hermione apanhou os livros devolvidos e começou a andar por entre as estantes, empurrando o carrinho preguiçosamente. Fleur a acompanhou à distância, duas ou três estantes abarrotadas as separavam, contudo, a distância entre elas ia muito além desses poucos metros. Era como se abismos as separassem e as engolissem, distanciando-as cada vez mais, enterrando mais profundamente tudo que tinham e tudo que dividiram às escondidas.

A cada passo que Fleur dava para acompanhar Hermione, sentia que era apenas mais um segundo - ou milésimo de segundo - a mais no tempo que estava separada dela... Não fazia nem mesmo um dia completo, mas doía como se fosse uma eternidade de separação. Fleur caminhava não para alcançar e sim, para marcar na memória - e no coração - quem era Hermione Granger e o que essa garota fizera consigo.

Os olhos castanhos brilhantes e corajosos que prenderam os seus no instante em que a morena pisou na Academia de Hogwarts. A aparência leonina, corajosa e determinada que fez Fleur suspirar apaixonadamente a cada vez que a via defender, tão furiosamente, seus amigos. O intelecto rico e misterioso. E os livros... Ah, os livros!

Hermione estava sempre abraçada a eles, imersa neles o bastante para perceber que, talvez, a sua história de amor épica estava apreendida em cada olhar apaixonado de Fleur, em cada sorriso que a líder de torcida sufocava, em cada suspiro que se perdia nos lábios rosados da loira...

O tempo fora cruel com elas, assim como aquelas súbitas vergonhas que sentiam e, agora, a vida era ainda mais sanguinária, separando-as e fazendo valer não o que sentiam, nem o coração que possuíam e sim... O sangue.

O sangue amaldiçoado e a herança indesejada de Fleur.

Fleur parou na seção de Literatura Contemporânea Norte-Americana, no mesmo momento em que Hermione, duas seções à frente, parava na seção de Best-Sellers. A loira manteve seu corpo parcialmente escondido atrás da estante e apoiou a mão direita, encostando seu rosto enquanto suspirava para cada movimento de Hermione.

A careta que a morena fez ao visualizar determinado best-seller de certo autor que odiava repetiu-se em seu próprio rosto e Fleur sorriu para a compatibilidade de suas mentes. Essa compatibilidade fazia par aos batimentos cardíacos que a loira pensava, também, serem iguais. Algo inquietava Hermione e Fleur demorou a perceber que a morena se sentia observada e, por muito pouco, conseguiu evitar os olhos dela sobre si. Fleur ainda respirava ofegante e nervosa, quando escutou uma voz feminina fria dizer:

- Você sabe que logo ela vai encontrar você aqui, ninguém conhece essa biblioteca melhor do que ela, Delacour.

Fleur respirou fundo por duas vezes e fechou os olhos, buscando o que ainda tinha de coragem em seu peito, para encarar Gina Weasley. Porém, quando seus olhos azuis encontraram os olhos castanhos da ruiva, ela ainda assim se sentiu amedrontada. A loira apoiou o corpo na lombada dos livros atrás de si e segurou-se na borda de uma das prateleiras de madeira com ambas as mãos antes de responder:

- Mas, eu ainda posso tentar observá-la por alguns segundos e sair antes que ela me veja.

- Honestamente? Por mim, você sequer voltava a colocar os olhos nela. - Gina respondeu agressiva, caminhando em direção a Fleur. A ruiva passou por ela e, discretamente, olhou para a mesma direção que ela olhava até minutos atrás. As sobrancelhas de Gina se curvaram em desagrado e ela bufou impaciente. Os olhos castanhos se voltaram para Fleur, mas, a mais velha repetiu o gesto de Gina e voltou a olhar para Hermione, respondendo:

- E eu gostaria de não mais colocar os olhos nela. Eu gostaria não ser capaz de perceber o tanto de tristeza que existe nos olhos dela, assim como gostaria de ter sido forte o bastante para não fazer o que fiz com ela.

- Palavras e mais palavras, Delacour... Estamos em uma biblioteca, mas, elas não fazem o menor sentido para mim em situações como essa. - Gina não poupava Fleur da dor quando falava, a loira sentia cada uma de suas dúvidas ecoarem nas palavras da ruiva e, conforme ela falava, pior Fleur se sentia. A ruiva pigarreou e Fleur a ignorou, Hermione estava agachada e de cabeça baixa, totalmente desatenta a sua tarefa e parecia conversar com si mesma. - Eu já estive em sua situação, só que eu não consigo lhe entender. Deve ser porque eu tive mais coragem do que você para fazer o que tinha que ser feito.

- Não ouse dizer que sabe o que é estar no meu lugar, você sequer imagina, Weasley! - Fleur finalmente saiu de sua inércia, seus olhos azuis voltaram-se irracionais para Gina que, surpreendentemente, sorriu. A ruiva sorriu porque, naquela explosão, ela viu que Fleur ainda podia sentir algo.

A loira respirou fundo e cada inspiração era mais dolorida do que a anterior. Gina não imaginava o que era ser uma Delacour, não por causa do status ou do dinheiro e sim, por Gina ter a certeza de que, em casa e a portas fechadas, poderia ser quem era.

E, em casa, Fleur tinha uma mansão vazia e fria. E não tinha pais que pudessem a escutá-la.

- Eu posso não ter uma casa cheia de empregados, nem milhões de falsos amigos, muito menos uma reputação a zelar... E graças a Deus, Delacour! - Gina grunhia as palavras entre os seus dentes selados, Fleur conhecia muito do humor Weasley para saber que, se estivessem longe de Hermione e da biblioteca, a ruiva provavelmente já teria a batido. Fleur tentou se afastar de Gina, mas a ruiva a empurrou violentamente de encontro à estante e as duas se encararam. De um lado, o medo azul e do outro, a fúria castanha. - Porém, eu também tive medo... De não ser retribuída, de ser julgada e de ser incapaz de dar a ela o que ela merece! Só que, toda vez que eu pensava em cada uma dessas perguntas absurdas, eu me lembrava de uma coisa: eu me lembrava de que o amor é o que ele é! Independente de como, quando ou quem ele atinge. Ele simplesmente é e nos força a senti-lo, mesmo quando não o queremos e mesmo quando nos negamos a senti-lo!

Não foi o tom de voz de Gina que assustou Fleur, muito menos, a intensidade nos olhos dela. O que amedrontou Fleur foi que Gina também deu voz ao seu interior, a ruiva também enxergou além de superfície e jogou o seu interior em seu rosto. E, ao fazer isso, Gina também deixou claro que Fleur mudara. Ainda existia o questionamento, mesmo que não houvesse a resposta. A dúvida estava lá e exigia uma resposta... Fleur ainda amava e queria ser amada de volta.

Assim como Fleur se perguntara a respeito de cada uma daquelas questões, ela também perguntava, agora, a respeito de seu sangue, de sua herança e de sua família. Não concedera aos seus pais o benefício da dúvida porque o medo nublara seus pensamentos e falara muito mais alto do que o seu amor. Roger a preenchera com medo e ela se deixou levar... O medo jamais deveria calar o que sentia por Hermione.

Aquela também era a primeira vez em que alguém, de fora, falava em voz alta o que Fleur remoia quando estava sozinha. O que sentia por Hermione já ultrapassara a barreira da atração há bastante tempo, muito antes de se aproximar e se fazer presente para a morena... Se não fosse amor, não teria sido tão intenso em tão pouco tempo e nem doeria como doía naquele instante.

O amor era o que era, para ser sentido, para ser vivido, para ser perdido, para ser doído... Para ser reconquistado. Para o amor, existiam segundas chances. E se elas não existissem, elas seriam criadas. E se elas fossem negadas, elas, ao menos, seriam lembradas.

Os olhos de Fleur, mais claros que antes, cerúleos como um céu aberto em um dia de verão, voltaram-se para Hermione. Ela caminhara para uma seção à frente, a Seção de Literatura Vitoriana. Fleur a acompanhou, com Gina em seu encalço e lágrimas presas em seus olhos, pela Seção de Clássicos Latino-Americanos.

Hermione apanhara um dos livros do carrinho e, tristemente, sorriu para ele. A morena segurou-o firmemente em suas mãos e a capa, finalmente, foi reconhecida por Fleur. O título de Emile Brontë tornou quase impossível segurar-se nas lágrimas, Gina pigarreou as suas costas e perguntou baixinho:

- O que você sente por ela, Delacour? Porque, se fosse amor, você já teria voltado atrás há muito tempo...

Fleur engoliu em seco. Ela amava Hermione e como amava. Mais do que amava suas músicas, a patinação, a arte de torcer e, até mesmo, seus livros... E livros, dolorosamente, lembravam Hermione. Fleur respirou fundo, suas mãos agarraram-se a madeira da estante mais próxima e ela sussurrou as palavras que não eram suas, mas, naquele momento, descreviam o que sentiam perfeitamente:

- "Sinto que estou de pé num deserto, com as mãos estendidas e ela chove torrencialmente sobre mim..."*

Fleur não viu o sorriso de Gina porque estava hipnotizada pelas mãos de Hermione que seguravam o livro como se segurassem as suas. Gina suspirou aliviada, certa de que Fleur sentia o mesmo que sua amiga e aconselhou branda:

- A chuva, por mais forte que seja, passa... Talvez, você devesse deixar-se inundar por ela ao invés de tentar se proteger.

A loira inclinou à cabeça em direção a voz de Gina, sem deixar que seus olhos se perdessem de Hermione. A morena finalmente colocara o livro na estante, mas, antes, seus dedos percorreram a sua lombada pela última vez e Fleur sentiu como se fosse ela a ser vista, realmente, pela última vez, por Hermione. E ela não podia perder aquilo, ela não podia perder Hermione. Um novo brilho chegou aos olhos de Fleur, obstinado, louco e, estranhamente, corajoso.

Gina enxergou àquelas mudanças e sorriu grandemente para o que fizera, a ruiva observou Fleur dar às costas a sua observação e passar por ela, a passos rápidos e decididos. Gina a alcançou na saída da biblioteca e puxou a loira pelo pulso, disse:

- O que você ela significa para você deve refletir-se no que você fará por ela.

Fleur sorriu para ela, o sorriso misterioso e brincalhão que Gina jamais vira naqueles corredores... O sorriso de Hermione. A loira não respondeu, mas, em sua cabeça, apenas outra citação faziam jus aos ecos das batidas de seu coração e ela repetiu mentalmente para si a cada passo que dava pelo corredor em direção à saída.

"Seria ela, em mil cidades, mil casas, terras estrangeiras onde poderiam ir juntas, no céu e no inferno."*

Fleur apanhou o celular assim que chegou ao carro, ela tremia da cabeça aos pés diante da excitação pelo que havia descoberto. Seus dedos procuraram por um contato na agenda e, assim que o encontraram, o discaram. A mão esquerda de Fleur apertava o volante enquanto esperava. A linha chamou três vezes antes de ser atendida.

Um suspiro cansado soou do outro lado, Fleur revirou os olhos para a pessoa do outro lado da linha e, sôfrega, disparou:

- Eu preciso de sua ajuda.

- Eu não estou a fim de falar com você depois do que você fez a si mesma, Delacour. - Cho parecia decepcionada e levemente chateada. Agora, Fleur a entendia, mesmo que tivesse se sentido um pouco traída quando a sua melhor amiga não a apoiou. A francesa suspirou e o aperto no volante se intensificou, Fleur fechou os olhos e, com o sorriso brotando em seus lábios, confessou:

- Eu a amo, Cho. E eu preciso de sua ajuda para tê-la de volta.

A linha ficou muda, mas, Fleur sabia que aquele silêncio significava um sim. Ela desligou o telefone e ligou o carro, o sorriso corajoso e apaixonado brincava em seus lábios. Naquele momento, ela parecia ainda mais linda do que, de fato, era.

Com todas as certezas na mesa, Fleur acreditou em algo muito mais forte do que o medo. E com todo o amor dentro de seu peito, ela permitiu-se viver... Ela permitiu-se ser quem era.

E ela era aquela que amava Hermione Granger.

# # # # #

Os atos daqueles que amavam eram irracionais, por isso, Fleur se recusava a pensar sobre o que tinha em mente. Também, sequer vacilou ou estremeceu quando chegou a Mansão Delacour e encontrou o carro dos pais. Pelo contrário, a presença dos dois na casa pareceu inflamar algo dentro dela.

E essa chama queimou o bastante para fazê-la marchar para as portas de entrada da mansão. Fleur entrou decidida e caminhou diretamente para a biblioteca onde seus pais estavam debruçados sobre uma obra de arte, os dois usavam lentes de aumento e distraídos o bastante para não notarem a presença da filha. Fleur pigarreou para anunciar a sua presença e os dois olharam para ela, Gael cobriu o quadro com um plástico protetor e cumprimentou sorridente:

- Olá, ma fleur...

- Eu preciso conversar com vocês dois, assunto sério. Gabby está em casa? - Fleur falou tão rápido que os pais só acenaram positivamente para a primeira sentença e negativamente para a segunda. A loira ocupou-se em fechar a porta da biblioteca, trancando-a. Apoline arregalou os olhos azuis, extremamente iguais aos da filha e arqueou a sobrancelha direita, exatamente como Fleur. A senhora afastou-se do quadro e caminhou, de braços cruzados, em direção a filha que andava de um lado para o outro, segurou-a pelos ombros e perguntou preocupada:

- O que está acontecendo, chérie?

Essa era uma verdade sobre Apoline e Gael Delacour: eles podiam ser ausentes na maior parte do tempo, mas, o pouco tempo que tinham em casa era dedicado exclusivamente às filhas.

Eles finalizariam aquela observação naquela tela e logo se reuniriam a Fleur, era sempre assim em determinados dias da semana quando os treinos da loira como líder de torcida e as aulas avançadas permitiam que eles dividissem aquele tempo juntos.

Sendo assim, Apoline poderia até ter perdido muita coisa no crescimento da filha mais velha - ela crescera durante o boom das Galerias Delacour, em que Apoline cuidava de uma filial e Gael ficava na matriz -, mas, era, sobretudo, uma mãe e conhecia a própria filha muito bem. Os olhos de Fleur sempre foram reflexos dos seus e, naquele momento, eles estavam afoitos e distraídos. Ela estava nervosa e nem toda a educação primorosa dada a ela poderia esconder o que ela sentia.

Gael contornou a mesa, em que a obra estava colocada, e caminhou até a filha e a esposa. Ele as envolveu em um abraço de lado e as levou até o sofá. Apoline sentou à direita de Fleur e Gael, à esquerda. Apoline e Gael trocaram olhares curiosos que se tornaram ainda mais afobados quando a filha se levantou e ajoelhou-se à frente deles. Fleur beijou as mãos de cada um e, sôfrega, disse:

- Eu nunca quis desapontar vocês, sabem disso?

- Claro que sabemos, petit... Você apenas nos surpreende porque é mais do que merecemos. - Gael respondeu de pronto, colocando uma mecha loira e revolta da filha atrás de sua orelha. Ele era moreno, de olhos azuis escuros e chamava a atenção naquela família de cabelos loiros e olhos azuis cerúleos, porém, ele realmente agradecia aos céus pelas filhas terem herdado a beleza inabalável da mulher. Apoline segurou o ombro da filha e o apertou carinhosamente, Fleur olhou de um para o outro e as lágrimas, sem que ela quisesse, caíram.

Fleur se levantou e andou de um lado para o outro, abraçou o próprio corpo e soluçou algumas vezes. As palavras estavam presas em sua garganta, a coragem inflava em seu sangue... Mas, ela não queria perder aquele olhar dos pais sobre si. Ela não agüentaria perdê-los porque já tinha pouco deles, uma vida sem eles poderia ser ainda mais dolorosa. Contudo, ela não podia se calar. Eles a criaram para ser responsável, honrada e sincera. E ela não podia fugir disso.

Ainda mais agora.

- Aconteceu alguma coisa com Roger? Ele fez algo que você não gostou? - Apoline se convertera numa loba, ela assumira uma expressão agressiva quando o pensamento daquele garoto magoando a sua filha a envolveu. Gael olhou assustado para a mulher e, discretamente, acariciou o ombro dela para que ela se acalmasse. Fleur olhou séria para sua mãe, limpou as lágrimas de seus olhos e respirou fundo, em seguida, disse o mais firme que conseguiu:

- De certa forma, sim. Mas, eu não estou com ele.

- Então, o que ele pode ter feito? Ele não era o seu namorado? - Gael perguntou confuso, ele era um homem calmo, mas estava um pouco alterado naquele momento. Gael não podia deixar-se de incomodar com um moleque brincando com sua filha, as lágrimas que Fleur derramava não eram por qualquer coisa, ela era forte... Talvez, a mais forte deles. Fleur suspirou e olhou para os pais, era naquele momento que a derradeira verdade começava a vir à tona. Ela abaixou a cabeça e disse:

- Eu e ele terminamos há algumas semanas, eu estava com outra pessoa e ele não concordou com isso... Ainda mais quando essa pessoa fez algo contra ele para me defender.

Não era o momento para isso, mas, o peito de Fleur encheu-se de calor quando ela lembrou-se da sensação ao saber que Hermione tinha conseguido expulsar Roger Davies do time de futebol. Naquele momento, Fleur sentiu-se protegida e segura como nunca esteve, ela viu que Hermione faria qualquer coisa que estivesse ao seu alcance para mantê-la a salvo, ainda que a ideia fosse absurda e louca... Hermione não ligava para as consequências e tinha coragem pelas duas.

Apoline e Gael trocaram um olhar significativo. Fleur não sabia, mas, os pais desconfiam que ela escondia algo nos últimos dias. Eles pouco ficavam na Mansão, mas, Gabby era uma excelente informante e ela dissera, mais de uma vez, que Fleur andara suspirando pelos cantos com livros românticos em mãos. E ainda existiam as filmagens... As filmagens que os dois não quiseram ver, mas que Gabby dizia ter muita coisa.

- Roger lhe ameaçou? Por que ele faria isso? - Apoline questionou curiosa, erguendo-se e parando ao lado de filha, olhando inquisitiva para ela. Fleur bufou impaciente pela sua incapacidade de falar de uma vez e inquieta com a coragem que, naquele momento, lhe faltava. Fleur deu às costas aos pais e olhou para a obra de arte que jazia protegida na mesa, não olhar era mais fácil, tornava a confissão menos dolorida:

- Ela o fez ser expulso do time por minha causa, nem mesmo o pai dele conseguiu mantê-lo no time depois do que ele fez comigo e, por causa disso, ele se voltou contra mim. Roger ama a popularidade, vocês sabem e me avisaram sobre esse aspecto da personalidade dele.

- Ela? - Gael perguntou curioso e, imediatamente, Fleur se virou para o pai. Ela esperava encontrar uma expressão curiosa e, até mesmo, reprovadora, mas, tudo o que viu foi o sorriso malicioso do pai. A jovem virou-se para Apoline que, ao entender a pergunta do marido e lembrar-se do que Gabrielle dissera ("Fleur estava mostrando o nosso lago para uma de suas amigas!"), também sorriu. Fleur encontrava-se chocada enquanto os pais se olhavam, Apoline segurou a mão da filha e perguntou delicada:

- Quem é ela?

- C-como v-vocês...?! - Fleur gaguejou, mas, não conseguiu formular a pergunta. Seus pais a olhavam e tinham risos contidos em suas bocas, eles pareciam se divertir com seu embaraço. A jovem sentiu o rubor subir através de seu pescoço e tingir suas bochechas, a vergonha nublou seus pensamentos.

Seus pais não estavam preocupados com o sangue que possuíam, nem o sobrenome que tinham. Tudo o que eles queriam saber era sobre Hermione e quem era ela... E Fleur não tinha como explicá-los. Não pela surpresa, ou pela vergonha e sim porque estava envolvida em uma névoa de felicidade que não cabia em seu peito, muito menos, naquela biblioteca.

Ela não esperava por isso.

Ela menosprezara o amor de seus pais assim como menosprezara àquele que sentia por Hermione.

Sem palavras, Fleur abraçou quem estava mais próxima a ela. Apoline riu roucamente ao sentir os braços da filha apertarem o seu corpo. Sufocada pelo carinho da filha, ela viu o marido se levantar e abraças as duas, envolvendo-as em amor e proteção.

Fleur desabou nos braços dos pais e só parou quando eles se afastaram e enxugaram suas lágrimas. Ela olhou trêmula e leve, de um para o outro e, insegura, disse:

- Eu precisava contar para vocês. Eu a afastei e pretendo tê-la de volta, mas, tenho certeza que Roger fará alguma coisa e eu não queria que vocês soubessem por outros.

- Isso, infelizmente, aconteceu. - Gael disse brincalhão e riu ainda mais quando viu o olhar alarmado da filha. Apoline estapeou o marido e olhou séria para ele, enquanto abraçava o corpo paralisado da filha. Gael afagou o local que a esposa batera e afagou o rosto rosado e choroso de Fleur, abrindo um sorriso apaziguador. - Gabby é xereta. E muito inteligente com computadores. Ela nos mostrou parte das filmagens das câmeras de segurança do seu domingo com certa garota.

- Nós não vimos tudo, querida, fique tranqüila! - Apoline apressou-se a dizer por que Fleur já estava, novamente, entrando em seu tremor envergonhado. Gael não conseguia se manter sério diante da filha, mesmo com os olhares intensos e reprovadores da esposa. Fleur aconchegou-se nos braços da mãe e o perfume floral dela funcionou como calmante para suas sensações.

Sem que ela percebesse, ela adormeceu nos braços da mãe. Nenhum de seus pais lhe acordou, muito menos, sua irmã.

Eles sabiam o peso que ela carregava e a amavam o bastante para dividir tudo aquilo com ela. Fleur passou todo aquele tempo caminhando sozinha e acreditando que não existia nada para ela que não fosse à solidão... Mas, muito existia.

E tudo estava na forma de amor. Fleur achava, agora, que tinha mais do que merecia. Porém, ainda não tinha o que precisava e por esse, ela lutaria... Até o final.

# # # # #

No dia seguinte, Fleur acordara cedo e, praticamente, madrugara na Academia. Ela queria ter a chance de consertar tudo com Hermione o quanto antes, não precisava que Roger complicasse ainda mais as coisas entre elas. Hermione precisava de algo para voltar a acreditar e era justamente isso que Fleur queria dar a ela.

Por isso, Fleur estava parada em frente ao armário de Hermione, contemplando o metal da portinhola enquanto segurava - trêmula - um papel em suas mãos.

As palavras que ali estavam escritas falavam sobre o que passara nas últimas 48 horas sem Hermione. Elas eram gritos desesperados de uma pessoa que amava e sentia falta. Eram a declaração de alguém que errara por medo e que pedia, por pura esperança, o perdão.

Fleur sabia que existia uma enorme chance de, jamais, ser perdoada. Mas, ela acreditava. Assim como acreditou que teriam um final feliz quando Hermione a protegeu dos comentários maldosos de Fleur. Agora, Fleur acreditava no que sentia da mesma forma cega e repleta de bravura que Hermione acreditava.

A loira tomava a coragem da morena para si, assim como queria tomar toda a tristeza que tinha tomado conta dos olhos castanhos. Fleur queria tomar as lágrimas de Hermione e transformá-las em sorrisos; assim como queria tomar as mãos dela entre as suas, a morena não precisava mais tocar na lombada de livros surrados para alcançá-la.

Fleur queria que Hermione soubesse que ela partira, mas, voltara. Envergonhada, sôfrega, ferida... Mas, que queria se fazer inteira, de novo, para ela. Fleur queria que Hermione a enxergasse de novo e a interpretasse da melhor forma. A morena precisava voltar a enxergar o seu melhor lado, ainda mais agora que a vira em seu pior momento.

Nenhuma das duas precisava do medo quando tinham o que tinham.

E, aquele bilhete, era uma pequena tentativa de retomar o que ações destruíram. Eram palavras de desculpa, de confissão... De amor. Eram palavras da mesma natureza pelas quais elas se apaixonaram.

Fleur abriu o bilhete e o leu, certificando-se de que muito de si estava nele, ainda que as palavras não fossem de todo suas.

Eu não sentenciei o nosso fim em um poema, eu jamais quis isso... Tudo que eu quis era deixar claro que eu te perdia, mesmo quando não sabia que ia perdê-la. Mas, hoje eu sei e eu não posso te perder, em hipótese alguma, não diante do que eu sinto.

Por isso, eu sentencio o que sinto nas palavras de um romance porque eu não consigo falar... Não com você longe, não com minhas atitudes entregando o que é pior em mim.

"Talvez, se eu te amasse um pouco menos, eu conseguisse falar mais sobre isso."**

Encontre-me nas arquibancadas depois das aulas e eu prometo que entregarei o que há de melhor em mim e o que sempre lhe pertenceu não somente em minhas palavras, mas, em minhas atitudes.

Hermione reconheceria sua letra e Fleur esperava que ela, também, reconhecesse o que era naquelas palavras. O bilhete deslizou delicado pela porta do armário e Fleur esperou.

E ela chegou. Hermione caminhou cabisbaixa pelos corredores e foi empurrada mais de uma vez por Pansy Parkinson e Draco Malfoy. Fleur assistiu a tudo em silêncio, parcialmente escondida pela multidão de pessoas que não importavam, mas que passavam diante dela.

A morena abriu o armário e seus olhos, sempre tão entregues, demoraram a denunciar algum sinal. Mas, ele veio. Na forma de surpresa. Fleur observou Hermione apanhar o bilhete e viu os olhos castanhos devorarem suas palavras.

O coração acelerou, a boca seca e, ela se viu segurando à parede enquanto esperava uma resposta.

E ela veio.

Exatamente como a chuva torrencial. Forte, intensa e avassaladora. Destruindo as esperanças de Fleur e carregando-as na enchente de mágoa que se instalara entre elas.

Hermione leu o bilhete e o colocou no armário, relegando-o ao abandono, antes de fechar o armário e voltar-se para o corredor. O castanho encontrou o azul e, a escuridão do primeiro nublou o céu de verão que jazia no segundo.

A morena não chorou, mas, a loira, sim.

Fleur chorou em silêncio assim como amou em silêncio durante todos aqueles anos. Seus pedidos de desculpa não valiam em nada porque Hermione não mais precisava deles.

E, exatamente como a água da chuva torrencial, Hermione escorreu pelos dedos de Fleur e lhe deu às costas.

# # # # #

* "Carol", Patricia Highsmith.

** "Emma", Jane Austen.    

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