Além dos muros ✓

By rahgcr

17.1K 2.1K 833

Na recém restaurada monarquia sul coreana, a princesa Kim Sun Hee tem uma grande responsabilidade em mãos. O... More

BOOKTRAILER | ELENCO
CURIOSIDADES
0 | 2
0 | 3
0 | 4
0 | 5

0 | 1

3.2K 367 96
By rahgcr

G L O S S Á R I O

Eomma: mamãe.

Appa: papai.

Gongju: princesa.

Agashi: senhorita.

Wang jeonha: sua majestade real, o rei.

Jeonha: pronome de tratamento para se dirigir ao rei.

Abamama: forma respeitosa de a princesa dirigir-se ao seu pai, o rei.

Eomamama: forma respeitosa de a princesa dirigir-se à sua mãe, a rainha.

GangnyeongJeon Hall: nome dado aos aposentos do rei e da rainha no palácio Gyeongbokgung.

Donggung: nome dado aos aposentos da princesa herdeira.


  ▃▃▃▃▃▃▃▃▃▃▃▃

0 | 1





Abril de 2016, Palácio Gyeongbokgung

Seul, Coreia do Sul.


UMA EXUBERANTE CHUVA torrencial agracia a cidade nesta tarde, pondo fim a um longo e angustiante período de seca.

Papai diria que isso é um sinal de que o céu aprova sua decisão.

Estendo a mão para fora da janela e sinto o toque delicado das gotas traçando rotas sinuosas ao desfazerem-se sobre minha pele. 

Princesas não devem tomar chuva. É o que me ensinaram a vida inteira.

A Monarquia nem sempre foi a forma de governo adotada na Coreia do Sul, porém é tudo que eu conheço.

A invasão Japonesa em 1910 anexou nossas terras e colocou um fim na grande dinastia Joseon. Com o termino da segunda guerra mundial, as forças do Japão foram vencidas, mas nem por isso nossa situação melhorou.

Fomos separados cruelmente na altura do paralelo 38. Na época, a parte norte ficou sob o comando da antiga União Soviética e a parte sul, ocupada pelos Estados Unidos. 

Mesmo após a retirada dos estrangeiros, a Coreia continuou dividida e este quadro, infelizmente, ainda permanece inalterado. 

Não há paz com o norte, apenas um frágil cessar fogo. Vivemos todos num constante pesar.

Mais adiante, em 1992, a República da Coreia tomou a decisão de restabelecer a extinta monarquia, porém dessa vez sob o sistema parlamentarista, e foi assim que meus pais vieram parar aqui¹.

Eu, por outro lado, só vim a nascer alguns anos depois, já no seio da família real.

Minha família real.

Rainha que não posso chamar de eomma.

Rei que não posso chamar de appa.

Princesa que é apenas, e meramente, Gongju

As pessoas não se referem a mim como Kim Sun Hee, nem mesmo meus pais. Às vezes obrigo Kang Soo Bin, minha dama de companhia, a pronunciar meu nome em voz alta, contudo o pavor  em seus olhos é tão grande que acabo deixando-a em paz.

— Gongju agashi— Soo Bin bate na porta e entra. — Wang jeonha a espera nos aposentos reais.

Sem delongas desnecessárias, levanto do chão e  acompanho Soo Bin até o GangnyeongJeon² Hall. Mesmo ciente do que me aguarda, não consigo evitar sentir meu coração descompassar-se numa arritmia melancólica. Em alguns metros meu destino será selado. 

Mais um passo. E outro e outro e, finalmente, o fim.

Jeonha, a Gongju está aqui. — Minha dama de companhia anuncia minha presença, lança-me um olhar compassivo e se retira.

Abamama — Cumprimento meu pai e me sento sobre minhas pernas. 

— Imagino que saiba o motivo pelo qual a chamei. — Ele e mamãe estão acomodados na cama, observando-me com cautela, aguardando minha resposta.

 Apenas assinto e ele prossegue.

— Começaremos em breve os encontros com a família de Lee Min Suk para discutir a possibilidade de um casamento. O pai dele é um homem com grande influência nas relações exteriores, o que faz com que essa união seja vista de forma favorável pelo parlamento. Se tudo correr bem, o noivado deve ser oficializado ao final do ano, esteja preparada.

Abamama, sobre o meu pedido...

— Não acredito que seja seguro.— Ele me interrompe, coçando a barba como se refletisse intensamente. — Hoje não. Apenas vá.

Baixo a cabeça em sinal de respeito e me retiro sem pronunciar uma palavra sequer. Não tenho forças para tanto e estou certa de que começarei a chorar no instante em que abrir a boca.

Porém, antes que eu alcance a saída do saguão real, uma mão envolve meu braço. Mesmo sem olhar pra trás, sei de quem se trata. Seu perfume almiscarado é reconfortante e familiar. 

Gongju. — Eomamama me abraça e afaga meu rosto. — Desejo que seu coração não se entristeça muito. Você tem um dever para cumprir com essa nação, querida. Espero que se lembre disso e consiga ficar em paz.— Ela me fita e seus olhos estão úmidos, refletindo os meus. — Quanto ao seu pedido, tentarei conversar novamente com seu pai.

Mais uma vez, não digo nada e, geralmente, nem preciso. A mulher à minha frente é capaz de desvendar qualquer tipo de silêncio que eu lhe ofereça. 

Contudo, nesta noite, mostro uma quietude que ela não pode discernir ou julga melhor fingir não entender.

Não a culpo. Meu interior só refletiria pensamentos que a deixariam aflita, por isso os guardo, disfarço e oculto. Depois os pego, reflito e pondero. Matuto, cogito e enlouqueço num angustiante ciclo vicioso até que eles não caibam mais em mim e, por fim, transbordo.

Despeço-me de minha mãe com um beijo, assegurando-lhe de que ficarei bem, e tomo um desvio antes de retornar ao meu quarto no palácio Donggung³.

De longe, contemplo a imponente estrutura do portão principal Gwanghwamun sabendo exatamente como concretizar meus anseios secretos.

Com a permissão de abamama, por um dia inteiro, eu vou sair.

▃▃▃▃▃▃▃▃▃▃▃▃


¹ Os fatos narrados neste parágrafo são fictícios e não correspondem à real história da Coreia do Sul.

² GangnyeongJeon Hall

³Palácio Donggung

Continue Reading

You'll Also Like

416K 2.4K 11
ola!! vou escrever aqui alguns contos eróticos totalmente fictícios. vou escreve los em forma de depoimento, com a descrição das personagens (ao lere...
13.3K 887 10
Obra do escocês Robert Louis Stevenson.
11.4K 1.1K 16
AU Pitanda - A mídia e seus fãs sempre desconfiaram que elas fossem um casal. Que diferença faria se elas realmente tivessem de fingir um noivado por...
7.8K 787 36
A história acompanha a trajetória de Hande e Kerem, dois policiais que a cada capítulo lutam por justiça, tentando provar que nada nem ninguém está a...