Uma década em uma noite [COM...

By LauraaMachado

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A última coisa da qual Bridget se lembra é do colegial. Minutos contados para que pudesse voltar para casa co... More

Projeto 1989
Prólogo
Capítulo 1 - Uma Década em uma Noite
Capítulo 2 - Coisinha Brilhante
Capítulo 3 - Voltando para Casa
Capítulo 4 - De Dezesseis a Vinte e Seis
Capítulo 5 - Ossos do Ofício
Capítulo 6 - Entre Tropeços
Capítulo 7 - Por Trás de Portas e Secretárias Eletrônicas
Capítulo 8 - Um Café e um Sorriso
Capítulo 9 - Trilha Sonora
Capítulo 10 - No Topo do Mundo
Capítulo 11 - Costa Oeste
Capítulo 12 - Segredos Acidentais
Capítulo 13 - Vestido de Noiva
Capítulo 14 - Um Novo Caminho
Epílogo
Personagens
Playlist da Bridget e do Thomas
Agradecimentos

Capítulo 15 - Fora de Risco

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By LauraaMachado

But the monsters turned out
To be just trees

Capítulo 15
Fora de Risco

Naquela última semana, vinha usando a pergunta de Savanah como meu Norte. Parava para pensar em que eu era com dezesseis anos e no que faria se tivesse uma segunda chance, e seguia o caminho que meu coração indicava. Mas foi só quando eu estava sentada na frente do Professor Montgomery que percebi que não precisava ir tão longe. Não precisava lembrar de quem eu era em oitenta e nove.

Se amanhã eu acordasse com toda a minha memória de volta, virasse outra vez a Bridget de noventa e nove, sabendo exatamente o que tinha me levado a cada escolha que tinha feito, ainda continuaria no mesmo caminho.

Porque sabia que ela teria orgulho de mim. Sabia que me agradeceria por ter tomado as decisões difíceis, deixado o que não me agradava e reaprendido a começar do zero. Eu tinha certeza de que ia no caminho certo, uma certeza leve que jamais pesaria sobre meus ombros, porque já não queria voltar no tempo. Não precisava da minha memória. A amnésia já não era mais uma vilã, só um detalhe em minha vida.

Sorri para o professor, enquanto ele me observava balançando a cabeça.

"Quando ouvi sobre o que aconteceu com você, não consegui acreditar," confessou. "Não desejaria isso a ninguém, muito menos a você, Thorne."

Ele não sabia do que eu tinha acabado de pensar.

"É só mais um obstáculo," respondi. "Mas eu preciso da sua ajuda."

Já tinha também desistido de desejar recuperar todas as lembranças das matérias que tinha perdido, mas não a ponto de abandonar a carreira. Em todas as minhas anotações, Professor Montgomery era o único nome da universidade que eu repetia. Encontrei tantas menções a coisas que ele tinha dito, que sabia que era atrás dele que precisava ir. E, nos primeiros minutos depois que o conheci de novo, já gostava dele.

"O que eu puder fazer," ofereceu.

"Eu perdi praticamente tudo que aprendi durante o curso," expliquei, "então queria saber se consideraria me dar algumas aulas particulares e se tornar meu mentor pelo tempo que precisar para eu conseguir um emprego no escritório da promotoria."

Ele pareceu pensar por um segundo. Ainda não sabia se a minha relação com ele durante a universidade tinha sido próxima o suficiente para pedir algo assim, mas é claro que seria remunerado. Ele mesmo já tinha tido o emprego que eu queria, saberia me orientar. Não tinha nada que eu queria mais do que sua testa franzida se desfazendo e dando lugar para um sorriso.

"É muita coragem da sua parte," foi o que disse, me pegando completamente desprevenida.

Até então, ninguém nunca tinha falado isso para mim, ou sobre mim. Nunca tinham me visto como corajosa, nem soube como responder.

"Mas precisa entender que não é fácil e nem vai ser rápido rever tudo assim..."

"Eu sei," falei. "E é exatamente por isso que eu vim atrás do senhor." Senhor? Por que eu estava sendo tão formal? "Pelo que pude descobrir sobre sua carreira, tanto no escritório da promotoria, quanto aqui na universidade, o senhor entende exatamente a importância de sempre estar aberto a aprender coisas novas. Se me der essa chance, te garanto que não vou te decepcionar!"

"Não é um emprego que dê muito reconhecimento ou dinheiro."

"Ótimo," respondi. "Não estou à procura de nenhum dos dois."

Seus olhos focaram outra vez em mim, enquanto ele se inclinava no encosto de sua poltrona, apoiando as mãos na mesa entre nós. Claramente devia saber que antes eu trabalhava na Schmidt Harrison e Lockwood e duvidava de minhas intenções em um emprego teoricamente bastante abaixo.

"O que procura então?" Quis saber, me observando como a criatura mais curiosa do universo.

Essa pergunta era fácil de responder. "Ter orgulho do que eu faço."



No final da tarde, algumas horas depois da entrevista e só uma e meia depois de eu ter entrado no trem para Rosedale, me deixei observar o sol se pôr no horizonte. Exatamente uma semana atrás, na última sexta-feira, eu estava fazendo aquele mesmo caminho, sem ter ideia de que pensar tanto em Thomas significava, sem conseguir adivinhar o que estava para acontecer, ainda que torcesse para aquilo.

Agora, a casa onde eu cresci não estaria vazia. E eu não estava sozinha.

"Adoro essas cidades pequenas," Savanah falou, me fazendo olhar para ela, curiosa. "Me fazem apreciar Manhattan mais."

Revirei os olhos, rindo do seu jeito.

Poderia respondê-la, mas o trem começava a parar na nossa estação, além de que eu estava um pouco mais introspectiva do que o normal.

Não tinha me deixado pensar em Thomas nos últimos dias, não queria reviver toda a dor de ter descoberto a verdade, mas tudo à minha volta era um lembrete dele. Ainda que não pensasse em palavras, nas coisas que ele tinha dito ou naquela que eu não o tinha deixado dizer, mas agora queria tanto ouvir, sentia o quanto ele ainda importava para mim em todo meu corpo. Era como se ele estivesse sempre presente, no fundo da minha mente, mesmo quando eu tentava fingir que não estava. Cada passo que dava para fora do trem, na plataforma ou em direção ao táxi que nos levaria para a casa dos meus pais me lembrava dele. E em cada parte de nossa pequena cidade que cruzávamos, mais lembranças dos anos que ainda guardava em mim.

"Não sei como você conseguiu crescer em um lugar tão minúsculo," Savanah disse, olhando para as mesmas lojas e praças que eu, mas as vendo de um jeito totalmente diferente.

"Cresci muito bem," respondi.

"Pelo menos o jantar vai ser de comemoração."

Quando nós tínhamos marcado, ainda não tinha propósito. Para mim, já queria celebrar que meus pais tinham se reconciliado e que Leanne tinha conseguido comprar uma passagem para vir nos ver. Mas ainda existia a possibilidade de fazermos aquele jantar virar uma grande festa trágica, em que todos tentariam me consolar caso meu professor negasse meu pedido.

Mas ele tinha aceito. E agora eu só tinha razões para comemorar.

Bom, até certo ponto.

Assim que viramos a esquina na rua da minha casa, eu o vi. Se levantou na hora que avistou o carro, ficando de pé na frente da minha casa e acelerando meu coração.

"Uh, oh," Savanah disse, se inclinando para cima de mim para vê-lo.

Ela fez o favor de pagar o motorista e me empurrar para fora do carro.

"Vou deixar vocês conversarem," disse depois, indo até a porta. "Hãn, devo tocar a campainha?"

"Só entra," falei, sem olhar para ela.

Podia ouvir o barulho da conversa dentro da casa, mas meus olhos se focavam só no chão. Parte de mim esperava - com esperança, não expectativa, - ver Thomas ali. Eu tinha ignorado seus e-mails e telefonemas, mas não queria que ele desistisse de mim.

Quando minha vida estava toda errada e eu me sentia fadada a nunca ser feliz, ele tinha conseguido iluminar tudo para mim. Ele tinha sido as cores em um mundo preto e branco. E, agora que tudo finalmente parecia se alinhar e me dava esperanças de que daria certo, ele era a única coisa errada, a única parte que ainda me dava vontade de chorar. E eu não sabia como consertar.

Era difícil olhar para ele, difícil ver em seu rosto o quanto ele também tinha passado aquela semana mal. Eu já não o odiava, não conseguiria. Não quando só estar de pé na minha frente me dava vontade de abraçá-lo e nunca mais largar.

"Imagino que não queira me ver," começou a falar, "mas será que a gente pode conversar?"

Eu assenti, indo me sentar com ele nas escadas da entrada. Não falei nada, deixei que ele respirasse fundo e passasse as mãos pelos cabelos antes de continuar:

"Não quero que ache que eu não sei o quanto errei, Bridge. Só queria uma chance de te explicar como foi para mim," seus olhos azuis buscaram uma reação minha, mas eu só abaixei os meus para não ter que encará-lo. "Eu sou bem pior do que você imagina. Não foi só por medo de você não acreditar em mim que não falei a verdade. Nem porque eu não queria estragar seu noivado por algo que você nem lembrava de quase ter feito. Foi egoísmo meu mesmo. Eu sabia que, quando te contasse, você não só me odiaria, como continuaria me vendo do mesmo jeito."

"Como assim?" Foi tão difícil de perguntar, que senti como se não abrisse a boca há anos.

Ele balançou a cabeça, olhando para baixo. "Eu sempre fui invisível para você e, por muito tempo, estava satisfeito com isso. Estava satisfeito em te ver todas as semanas naquele mesmo bar, mesmo que você não me visse também. Mas você tem que entender que aquela noite mudou isso para mim. Você me deu esperanças," por que meus olhos já estavam lacrimejando? "Não estou te culpando, só estou falando a verdade."

"Eu sei."

Sua mão estava logo na linha dos meus olhos, e tive que me segurar para não a pegar.

"Aquela noite me fez pensar que talvez eu não precisasse ser invisível," continuou. Quis falar que ele nunca tinha sido invisível para mim, mas sabia que seria mentira. "Não queria ter que encarar que a vida era cruel o suficiente para finalmente me dar esperanças e acabar com elas logo depois. Apesar de que agora aconteceu de novo, então talvez eu só tenha que aceitar e deixar de ser idiota."

Até o jeito que ele riu de sua tragédia me deu vontade de chorar. Mas outra questão apareceu em minha mente naquela hora.

"Depois da batida," falei, "o que você fez?"

Ele olhou de lado para mim, respirando fundo antes de me responder. "Você sabe onde foi?"

Sim. Tinha sido só a alguns quarteirões do hospital.

Assenti.

"Você ficou desacordada por um tempo, mas, assim que a ambulância chegou, parecia ter acordado," explicou. "Eu já tinha te examinado como podia e te tirado do carro caso ele pegasse fogo," fez uma pausa para balançar a cabeça, como se lembrar daquela noite fosse doloroso demais para ele, tão doloroso quanto era para mim. "E você não me reconheceu. Eu bati logo o seu lado do carro e estava bem o suficiente para ninguém me questionar quando disse que vi o acidente por acaso e que fui ajudar por ser médico. Mas a verdade é que só menti, porque vi que você já não se lembrava daquela noite. Não sabia de quanto tinha se esquecido, mas mesmo assim..."

Demorei alguns segundos para responder e acabei só fazendo uma pergunta:

"O carro pegou fogo?" Não era uma piada, mas uma tentativa de deixar o assunto menos pesado.

Ele balançou a cabeça, sorrindo, mesmo que não me encarasse. "Não. Acho que é daquele tipo de coisa que só acontece em filme."

Ri também, nem que fosse bem pouco. Não ajudava muito a deixar o clima entre nós mais leve, mas era um começo.

"Eu confessei," ele continuou, quando percebeu que eu não sabia mais o que falar. "Fui até a delegacia."

"Ouvi dizer."

"Eles falaram que você não quis me denunciar, mas pode me processar se quiser," falou, se virando agora para me encarar, e eu o olhei de volta. "Na verdade, deve me processar. Eu roubei dez anos da sua vida."

"Você acha mesmo que eu conseguiria te processar?" Cada pequena demonstração dele de ainda ser o mesmo Thomas me dava ainda mais vontade de chorar.

"Da última vez que te vi, você parecia conseguir até mesmo me matar, quem diria processar," não havia graça no que tinha dito, não para ele.

Mas eu sorri. "Eu realmente achava que você era a única pessoa no mundo que nunca me machucaria."

Ele assentiu. "E eu achava que você nunca nem olharia para mim."

"Não fala assim."

"Bridget," ele se virou ainda mais para mim, determinado a me fazer prestar somente atenção a ele, "eu estou longe de ser perfeito, principalmente comparado a Max Warner, e tenho certeza de que ainda vou decepcionar muita gente durante a minha vida, mesmo que eu tente evitar. Sei que ainda vou cometer muitos erros, ainda que nenhum chegue aos pés desse, mas preciso que você saiba que eu-"

"Espera," em um impulso, o interrompi colocando minha mão sobre sua boca.

Ele me olhou completamente abalado, como se aquilo significasse outra vez que eu não o deixaria falar aquelas palavras - as que eu estava torcendo para serem as próximas a saírem de sua boca.

"Me deixa falar primeiro," pedi, não que ele tivesse muita escolha. Até respirei fundo outra vez, abaixando minha mão, antes de começar. "Você diz que roubou os últimos dez anos da minha vida, mas eu tenho certeza agora de que você me deu um presente, na verdade. Um presente bem estranho, mas, mesmo assim, um presente. Não tenho ideia do que poderia ter acontecido depois daquela noite, não sei se teria seguido o mesmo caminho, mas sei quem eu sou agora. E tudo que aconteceu desde então, por mais complicado que tenha sido, valeu a pena. Ainda que tenha demorado para perceber e entender que eu podia mesmo, como você falou, fazer esse meu presente ser do jeito que quisesse, agora sei que não mudaria nada. Talvez," pausei para olhar em seus olhos e morder meu lábio inferior por certa apreensão do que estava para dizer, "nem o fato de você ter mentido."

Ele franziu sua testa até o limite, completamente confuso com o que eu tinha acabado de dizer e me fazendo sorrir. Como podia ser tão adorável? Como eu podia amá-lo tanto?

"Não me lembro de muita coisa, mas me lembro da noite do acidente," continuei. "É verdade que eu te via, Thomas, mas não como você queria. Naquela noite, você era minha válvula de escape, e tenho a forte de impressão de que teria te deixado de lado no dia seguinte." Que dó que me deu quando seu rosto foi tomado por uma expressão terrivelmente dolorida. "Se tudo isso não tivesse acontecido, se você não tivesse mentido e me deixado te conhecer de novo, se tivesse só voltado a ser invisível, eu não estaria sentindo o que sinto agora. Meu coração não bateria como se tentasse sair pela minha boca; cada centímetro da minha pele não estaria arrepiado só pela sua proximidade," me dei o direito de segurar em sua mão agora, sentindo a eletricidade que só seu toque me trazia; "eu não teria que recuperar meu fôlego toda vez que olhasse ou simplesmente pensasse em você; o mundo inteiro não estaria balançando embaixo de mim e eu não sentiria o medo mais profundo e esperançoso que alguém poderia sentir! Se eu não tivesse perdido os últimos dez anos da minha vida, talvez nunca tivesse descoberto como é me apaixonar por alguém, principalmente alguém como você."

Sem conseguir controlar, meus olhos embaçaram com lágrimas e piscaram em seguida, as fazendo escorrer pela minha bochecha.

Thomas não hesitou em se aproximar ainda mais de mim, segurando meu rosto com sua mão livre e usando um dedo para secar minha lágrima.

"Eu te amo," falou, antes que eu pudesse. Riu em seguida, como se percebesse o que tinha acabado de dizer. "Sempre quis falar isso. Eu te amo. Amo a Bridget de oitenta e nove, a da faculdade, a que nem conseguia me ver naquele bar e a que estava planejando me descartar no dia seguinte," tentei rir, mas as lágrimas vinham cada vez mais rápidas e constantes.

"Eu queria falar primeiro," resmunguei, sem conseguir entender se meu coração explodia dentro de mim de felicidade ou medo do quanto eu teria a perder a partir daquele momento.

"E, mais ainda," ele continuou, chegando tão perto do meu rosto que eu contava os milésimos de segundos para que meus lábios encontrassem os seus, "eu amo a Bridget desse exato instante. E sei que vou amar para sempre."


Nota da autora: Esse é o último capítulo! Agora só tem mais um epílogo que eu vou postar nesse final de semana, amanhã ou domingo!
Quero saber o que vocês acharam! Sei que não é das minhas melhores histórias, mas me diverti bastante escrevendo e estou muito feliz de ter conseguido terminar!

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