CAPÍTULO 1
Carolina Oliveira
(Algumas semanas antes... São Paulo)
Eu saboreava um sunday de chocolate com morango, salpicado com M&Ms e tudo o mais que eu tinha direito, era sábado após uma semana extremamente estressante no escritório eu precisava de um doce como aquele. Delicioso e inegavelmente calórico, a dieta que eu havia escolhido para aquele mês estava me matando. Esse negócio de dieta líquida era uma verdadeira tortura.
Infelizmente meu metabolismo já tinha se dado conta de que eu não era mais aquele tipo de garota que pode comer de tudo sem engordar. Não... eu não era mais dessas... Meu reflexo refletido na boutique dizia aquilo. Quadril largo, manequim quarenta e dois, beirando os quarenta e quatro, seios fartos e pesados, eu não me importaria em diminuir uns bons números de manequim, mas o que mais me incomodava era a barriga, e a gordurinha que se acumula em um pneuzinho insistente que parecia ter chegado para ficar.
Na adolescência eu era um palito, quando encorpei, lá pela casa dos vinte foi tranquilo, mas agora que eu iria completar trinta e um, parecia que minha bunda aumentava só de passar perto do McDonalds.
ꟷ E aí bunduda!ꟷ A voz de Matt foi seguida pelo estalo da palmada que ele dera em meu traseiro.
Ele era o único que tinha a coragem para fazer aquilo. E pra me irritar mais ele adorava fazer isso em público, o que lógico, eu detestava.
Luis era meu colega de faculdade, e meu amigo de longa data. Nós havíamos cursado direito juntos. Eu tive uma queda por ele no início. Eu e todas as garotas da minha turma, era difícil não prestar atenção em um homem como ele, seus olhos azuis extremamente claros, as sobrancelhas escuras, o brilho do cabelo negro bem cuidado, a pele branca impecável, e o corpo de um verdadeiro Deus. Isto sem falar em seu senso de moda. O cara não errava uma. Ternos sob medida, fazia eu e todas as outras salivarem por uma provinha daquilo tudo.
Lógico que eu me aproximei dele, o queria para mim a qualquer custo.
Mas descobrir que ele era gay foi um banho de águia fria no inverno.
Luis era bom demais para ser verdade. Seu único "defeito" era estar em um patamar inalcançável para nós pobres mulheres mortais. Era divertido estar em sua companhia, eu lhe apelidei de Matt devido a semelhança entre ele o ator americano Matt Bommer.
ꟷ Já está nos doces. Assim essa sua bunda não vai parar de crescer. ꟷ Ele brinca e sorri exibindo dentes brancos perfeitamente alinhados.
Reviro os olho e lhe mostro o dedo do meio, com a mão que não está segurando o Sunday. Aquele era um ritual nosso, apesar de termos cursado Direito juntos, fui trabalhar no escritório de advocacia de meus pais e ele apesar da oferta generosa feita pelo meu falecido pai, Matt seguiu um outro rumo e passo em primeiro lugar para promotor de Justiça. Sim, o cara era sexy, lindo e ainda por cima inteligente. Pô Jesus, aquilo era uma puta sacanagem...
Nos sábados nos encontrávamos no shopping para o dia de mulherzinha, muitas compras e cinema e no domingo, íamos ao spa, tratar das unhas, pele e cabelos. Nós fazíamos um belo par.
Ele se inclina em minha direção e me dá um selinho leve. Quando se afasta vejo as vendedoras da loja com os olhares voltados para o Ken Malibu que me acompanhava.
ꟷ Vamos sair logo daqui, ou a baba das vendedoras vai escorrer sobre aqueles sapatos lindos.
Ele riu e me puxou pela cintura, andamos abraçados, conversando sobre tudo. Quando finalmente paramos na praça de alimentação, ele optou por uma refeição mais leve, salada e filé de salmão grelhado, e como eu naquele dia já tinha mandado minha dieta para o inferno, comi dois burguer kings com bacon extra.
ꟷ Cala boca. Se abrir essa sua boca eu jogo minha Coca-cola no seu terno armany.
Ele riu e fez sinal de que estava fechando um zíper invisível prendendo seus comentários, guardando-os só para si.
ꟷ Falei de você para um colega meu. ꟷ Ele diz aquilo com certa empolgação, como uma criança que confessa uma arte para a outra.
ꟷ Caramba Matt, já disse para você que eu não preciso que ninguém fique arranjando encontros para mim! ꟷ O repreendi com rispidez, aquela não era a primeira vez que falava para ele que eu não estava aberta a relacionamentos.
Por que aquilo era tão difícil entender?
ꟷ Você andou falando com a minha mãe, não é?! ꟷ Largo o hambúrguer e tomo um gole do refrigerante gelado.
A expressão de euforia de seu rosto desapareceu e foi substituída por um ar de preocupação.
ꟷ Você sabe que nós só queremos o seu bem.
ꟷ O cara é um gato, inteligente, polido. ꟷ Ele tira o celular do bolso do blazer e o encaro fuzilando-o com o olhar.
ꟷ Luiz! ꟷ Enfatizo que estou braba o chamando pelo nome, coisa que nunca faço. ꟷ Não me importa se ele é a encarnação do adônis. Eu não quero me envolver com ninguém, pelo menos não por agora.
ꟷ Carol, você me diz a mesma coisa a anos. Por que não deixa mais ninguém chegar perto de você? ꟷ Aquele tom preocupado me irrita, sua voz é tão parecida com a de Carlos, e lembrar dele me causa uma pontada de dor.
ꟷ Eu não posso substituir seu irmão. Eu o amava e pelo amor de Deus: Parem. De. Me. Atormentar.com isso!
O casal da mesa ao lado nos olha quando meu tom de voz se eleva.
ꟷ Eu não quero e não vou. Foi doloroso demais. Tenho malditos trinta anos, acho que posso decidir o que fazer nessa altura da minha vida.
Matt larga os talheres ao lado do prato e limpa os lábios com o guardanapo.
ꟷ Meu irmão morreu a cinco anos. Mas ele não tem o direito de levar minha melhor amiga para o túmulo com ele. Se afundar em trabalho e gastar o que não pode. É dessa maneira que você vai viver ?
Como ele ousa pedir para que eu seguisse em frente?
ꟷ Carol você ganha cinco mil por mês e gasta dez. Essa conta não fecha. Meu anjo, você se consola fazendo compras e afastando todos de você. Eu sei que você pode amar de novo, se deixar que alguém se aproxime.
ꟷ Obrigada pelos conselhos, doutor. Não sabia que além de promotor também era psicólogo e conselheiro financeiro. ꟷ Me levanto abruptamente e a cadeira cai atrás de mim.
Não me importo em juntá-la, apenas pego minhas sacolas e bolsa e saí pisando duro sem olhar para trás. Mesmo sem olhar para trás sei que ele está vindo atrás de mim.
ꟷ Espera Carol.
Sinto as lágrimas pinicando meus olhos. Não quero chorar.
Eu não vou chorar!
Entro no banheiro feminino e passo na frente da fila de mulheres que esperam sua vez por uma cabine privada. Assim que a porta se abre, eu entro e me tranco lá! Ignoro os xingamentos das outras e largo as minhas compras no chão.
Meu celular vibra na bolsa.
"Carol, sai daí. Desculpa. Vamos conversar." Dizia a mensagem mais recente no whatsapp.
Escondo minhas lágrimas, mesmo que ninguém possa vê-la ali. Meu choro é contido. Sentada no vaso sanitário. Debruço minha cabeça sobre minhas pernas e fico ali perdida no tempo esperando que as lembranças sejam abafadas mais uma vez. Esperando que Matt pare de me mandar mensagens e vá embora, para que eu possa sair daqui sem que ele veja a minha cara de choro.
Fico na mesma posição durante um bom tempo. Os soluços do choro já desapareceram. O celular também parou de vibrar. Respiro fundo, fico de pé e recolho minhas compras, destranco a porta do banheiro e vou até o balcão de granito e agradeço pelo banheiro estar vazio. Lavo e seco o rosto. Retoco minha maquiagem, escondo as marcas do choro. Encaixo a bolsa no ombro e percebo uma pequena mancha no couro.
Droga.
Eu nem havia terminado de pagar pela bolsa e já precisava de uma bolsa nova! E daí que eu tinha uma coleção de sapatos?
Me diz. Quem teria alguma coisa haver com isso?
Aquilo era só entre mim, o visa e o máster card! Não deveria ser tão difícil de entender. Decidi não remoer nada daquilo ou a raiva voltaria mais uma vez! Saí do banheiro e Matt estava lá escorado na parede o blazer sobre o ombro, uma mistura de social mas com um toque despojado.
Ele havia me esperado ali por horas a fio.
ꟷ O que você quer? ꟷ Indaguei com uma nota de estupidez na voz.
ꟷ Pazes. ꟷ Ele balançou os ingressos do cinema no ar.
Dei alguns passos me aproximando para ver o filme que ele havia escolhido.
Cinquenta tons mais escuros!
ꟷ Ok. Mas você paga a pipoca! ꟷ Arranquei um dos bilhetes de sua mão e saí rebolando com a cabeça erguida.
Claro que o delicioso senhor Grey acalmaria meus nervos. E com sorte eu sonharia com ele essa noite.
Chegamos no meu apartamento quase dez da noite. E como prometido, Matt não tocara mais no assunto de tentar me arrumar um namorado. Na verdade, conversamos sobre a ótima forma física do Jamie Jordan e como a Anastácia era uma mulher de sorte.
ꟷ Meu deus mulher?! ꟷ Ele exclamou de maneira teatral assim que abri a porta. ꟷ Cadê sua empregada!? Morreu no meio da sua bagunça?
Fingi rir da piada sem graça e larguei as sacolas sobre o sofá. Ele bateu a porta e deixou os calçados na entrada e empurrou algumas roupas para o chão para atirar-se no outro sofá.
ꟷ Faz dois dias que ela não aparece por aqui. Algo com o marido, com dengue, dei um mês de férias adiantadas para ela.
ꟷ Pelo caos aqui instalado eu diria que ela não vem a mais de um mês.
Ele ri e desabotoa a camisa um pouco mais para ficar a vontade.
ꟷ Não exagera. O complicado mesmo está na cozinha.
Lembro da luta na noite anterior com a barata voando atrás de mim, e um arrepio desagradável me sobe pela espinha.
ꟷ Então... é sobre isso que eu queria falar com você. ꟷ Sirvo uma taça de vinho para mim e outra para ele.
ꟷ Preciso que tome conta do Gideon e do Grey para mim por alguns dias.
Matt pega a taça e reclama enquanto balança o vinho antes de degusta-lo.
ꟷ Você sabe que eles me odeiam. Porque não os deixa em um hotel. Eu pago. ꟷ Sugere com naturalidade.
Gideon e Grey eram dois gatos obesos pretos com belos olhos verdes, meus bebês, mas sempre que Matt aparecia no final de semana eles sumiam em um protesto silencioso.
ꟷ Nãaao! Eles são muito temperamentais. É melhor que fiquem aqui, só preciso que você venha uma vez por dia para colocar ração e água fresca. Eu não vou me demorar lá.
Sento-me ao lado de Matt e estico as pernas sobre seu colo. Recosto no sofá e ele retira meus scarpins azuis e sinto um alívio nos pés quando ele começa a massageá-los.
ꟷ Hummm. ꟷ Gemo de olhos fechados.
ꟷ E você tem certeza que vai se enfiar no meu do mato para entrar na briga com o tal Henrique Brandão?
Querer querer eu realmente não queria.
ꟷ Ele colocou para correr um dos advogados da empresa de papai. Eu mesma vou lidar com a peça, colocar esse peãozinho em seu lugar. ꟷ respondi, abrindo os olhos.
Matt bebericou e franziu o cenho.
ꟷ Você não acha estranho seu pai deixar a fazenda para vocês dois? Por que ele faria uma coisa dessas?
ꟷ Lógico que eu acho, e esse é mais um motivo para eu ir investigar pessoalmente.
Bebo o vinho de uma única vez e sinto a acidez adocicada da fina bebida brincar em meu paladar. Aquele vinho valia cada centavo, mesmo que a garrafa custa pouco mais de dois mil reais.
ꟷ Sabe que ele já está se achando o dono da fazenda? Quando meu advogado chegou lá, e entregou os papéis falando sobre a divisão e venda de tudo. O fulaninho o colocou para correr e mijou nos papéis.
Matt riu alto.
ꟷ É óbvio que o homem deve ser um selvagem ignorante, eu vou até lá sim, e até o final da semana que vem esse assunto de fazenda e mato já estará mais que resolvido.
ꟷ E o que vai fazer quando conseguir convencer o Bruto? ꟷ Debochou.
ꟷ Bom... depois que vendermos tudo, pretendo comprar um apartamento em Paris, ou Nova York, ainda não me decidi.
ꟷ A sua vitória sobre o Bruto. ꟷ Ele ergueu a taça pela metade, em um convite para um brinde.
ꟷ Esta já está ganha. ꟷ Sorrio triunfante.
Eu ainda não sabia que poderia estar mais errada, mas como dizem por aí, a vida é uma vadia impiedosa e está a espreita para me dar mais uma bela rasteira.
Carol Carol... acho que domar o peão não vai ser tão fácil quanto você imagina :) Concordam comigo?
Lógico que quero saber a opinião de vocês agora que conheceram um pouquinho mais da nossa protagonista , me contem nos comentários.
E outra coisa, quem quer que o capítulo de amanhã seja pelo ponto de vista do BRUTO?
Espero que vocês estejam curtindo ler, tanto quanto eu estou gostando de escrever. <3
E pelo amor de Bruto, não esqueçam de votar e chamar as amigas pra ler também <3 Grande beijo e até amanhã!